Narração Marie

Aumentei o volume do MP3, sentindo meu coração sincronizar com a batida da música. Era uma das milhares que tinham no pequeno aparelho de Victoria que eu roubava algumas poucas vezes.

Incrível, nem parece que se passaram cinco semanas desde que chegamos na mansão. Se eu dissesse que eu e minhas irmãs já nos sentíamos em casa, eu estaria mentindo. Mas o lugar já parecia bem mais familiar do que antes. Já era habitual ver algumas cenas que ocorriam na casa, como Sofie lendo algum romance enquanto Ayato a implora pra fazer takoyaki, Sarah encolhida perto da irmã desenhando qualquer coisa enquanto Kanato falava com Teddy o quanto ela era talentosa ou que daria ‘’uma ótima boneca’’(o que isso significava era um completo mistério),Victoria ouvindo música enquanto escrevia e Reijii dando um sermão na mesma porque ela não estava estudando, Lua fazendo piadas sobre carros e TPM para o albino enquanto ambos estavam passeando pela casa(Devo dizer que isso causou alguns erros nas paredes...) E Nikki bufando e limpando seu fuzil enquanto Shu reclamava do barulho enorme que estávamos fazendo com os olhos fechados, fazendo a de cabelos azulados sempre revirar os olhos pro loiro. E eu... bom, eu sempre estava mexendo no celular enquanto Laito colocava as mãos nas minhas coxas e tentava alguma coisa comigo, sendo rejeitado em todas as tentativas.

—Vocês irão pra uma escola noturna- Reijii falou, interrompendo o tumulto. Eu retirei meus fones de ouvido, enquanto Sarah e Victoria tiraram os olhos do que estavam produzindo, Nikki retirou o olhar do teto para pousar no de óculos, Lua rapidamente calou a boca e Sofie fechou seu livro.

—E por quê?- Victoria perguntou.

—Porque, já que vocês são hóspedes nessa casa, devem viver como nossos hábitos mandam.

—E quando nós iremos dormir?- Foi minha vez de perguntar.

—Durante o dia, loira burra- Ayato disse, dando um sorriso quando viu o olhar assassino de minha irmã se dirigindo a ele.

—Mas... e quanto as nossas matrículas? Não precisaríamos dos nossos pais aqui pra isso?- Sarah parecia curiosa enquanto se encolhia um pouco mais com sua pasta de desenhos ao lado de Sofie.

—Não se preocupem- A voz de Lilith apareceu, fazendo nossos olhos se vidrarem para a mulher com um vestido tomara-que-caia verde até as panturrilhas, que era adornado por um pequeno casaco de tecido da mesma cor, parada no primeiro degrau da escada- Eu já conversei com seus devidos pais e eles já resolveram tudo o que vocês precisam, incluindo a documentação.

Depois de olhar fixamente pra cada pedaço do corpo da mulher de vinte e um anos(E finalmente aceitar o fato de que ela tinha um corpo perfeito), suspirei de alívio, admito que viver com meu pai era uma coisa um tanto quanto complicada, não gostaria de ter que vê-lo novamente.

—E quanto sua viagem, Lilith?- Subaru perguntou, apoiando um dos pés na parede.

—Lilith vai viajar?- Nikki parecia tão confusa quanto qualquer uma de nós na sala.

—Sim- ela deu um sorriso fraco- Ontem fui chamada por um povoado chamado AlphaBetta para ajudar em uma coisa. Um certo garoto tem que encontrar sua família.- Ela falou, com um sorriso de canto na última frase.

Um garoto sem família? Isso me soa um pouco familiar.

—Partirei amanhã- Ela fez uma pequena reverência.

Depois de todas nós termos dado algumas reclamações sobre como a mulher havia ficado pouco tempo conosco, resultando em uma risada de Lilith e reclamações dos meninos(não por conta da partida da prima, mas sim porque nós éramos muito dramáticas), Lilith me chamou para um canto.

Ela se aproximou do meu ouvido, pude ver seus lábios pintados de um batom roxo se moverem antes de falarem comigo:

—Marie, quando eu for embora, por favor vá até a biblioteca. Tem um livro que eu quero que você leia.

Quando ela se afastou,somente concordei com a cabeça.

Achei estranho tudo aquilo, eu era bem boa em geografia e nunca ouvi falar de um povoado chamado Alphabetta, e também havia me lembrado de Laito no dia em que nos vimos pela primeira vez, nos chamando de ‘’belas meninas humanas’’ e agora existia esse lance de livro estranho...

Será que ele daria as respostas para as perguntas que tanto passeavam pela minha cabeça?

—Então, por que não vamos a sala de jogos para nos divertirmos um pouco?- Lilith disse animadamente.

Quando chegamos á sala de jogos, pude ver os meninos já ficarem mais agitados do que o normal, de alguma forma, Reijii e Lilith se sentaram nas poltronas confortáveis enquanto tomavam alguma coisa numa xícara e conversavam sobre alguma coisa aleatória, Laito, Kanato e Ayato começaram a se desafiar na sinuca, e Shu(milagrosamente acordado) marcava alguns pontos com dardos. O único que não parecia tão animado assim era Subaru, que se jogou num dos sofás perto de mim e das meninas, reclamando como aquilo era chato.

No meio de tanto tumulto, eu e as meninas conversávamos baixo perto de uma mesa da sala, ainda estávamos nos acostumando umas com as outras, apesar de tudo.

—Enfim, é verdade que vocês todas ainda cantam e tocam instrumentos que nem quando éramos crianças?- Victoria estava quase dando pulinhos enquanto falava.

Todas nós concordamos com a cabeça, nos olhando com um brilho maior nos olhos...

Antigamente, nós todas fazíamos aulas de canto e tocavamos algum instrumento musical, lembro que já chegamos a fazer apresentações juntas de música. Nossa mãe morria de orgulho de nós, já que a mesma amava música.

—Porque um dia não marcamos de cantarmos juntas de novo?- Eu soltei, sem me importar nem um pouco que nossos instrumentos musicais só chegariam daqui a uns meses, de acordo com Reijii(Ou ‘’Pombo’’, como diz Victoria)

—Sem instrumentos musicais?- Sofie perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Depois de um tempo em silêncio, foi a vez de Nikki falar:

—Hey, não sei se vocês se lembram, mas a última música que nós cantamos foi sem instrumentos- A de cabelos azuis deu um sorriso leve, coisa que era muito raro vindo da mulher-macho da família.

—Eu me lembro disso!- Foi a vez de Lua falar- Esse vídeo está no meu computador, e eu trouxe ele pra cá!

—Você tem um vídeo nosso no seu computador?- Eu perguntei.

—Hey, era a única forma de eu não me esquecer de vocês!- Ela sorriu.

—Deuses, como eu não lembro disso?!- Sarah disse, parecendo mais animada do que todas, se é que isso era possível.

—Meninas!- Lilith nos chamou, quebrando completamente nosso assunto- Hoje um caminhão de mudanças veio pra cá e ele deixou algumas coisas pra vocês aqui. Elas estão no meu quarto, assim que eu for embora, podem apossar dele o quanto quiserem!- Ela sorriu, fazendo nós fazermos o mesmo.

—Tem certeza que é só o seu quarto que você quer que elas apossem, Lili-chan?- Laito disse, em tom de brincadeira.

—Eu sempre soube que você jogava nesse time- Ayato continuou.

—Deixem de ser idiotas.- Lilith revirou os olhos- Diferente de vocês, eu sou uma moça de família.

E a conversa continuou dali... Porém eu não conseguia prestar atenção em mais nada, a não ser no que Lilith havia me contado.

O maldito livro ainda não saía da minha cabeça.

Logo depois que o ‘’encontro’’ acabou( E admito, aquelas brincadeiras na sala de jogo até fizeram nós parecermos amigos) Eu avisei para Laito que iria fazer um favor que Lilith havia me pedido e fui direto para a biblioteca, pronta para ler o misterioso livro.

—Bitch-chan? –Ouvi a voz de Laito cantarolando do meu lado- Onde você está indo?

Ai meu Deus...

Não, eu não podia contar sobre o livro pra Laito...

—Eu...-eu disse, procurando uma desculpa- Eu estava indo beber uma água.

—Oy,Oy, Bitch-chan...- Ele continuou, rindo- A cozinha é no primeiro andar.

—Oh, perdão- Eu disse, dando um sorriso falso- Eu me enganei.

E desci as escadas, me culpando por não ter sido mais esperta.

Ok, eu teria mais chances...

Eu espero.