Narração Lua

De todas as coisas que eu estava esperando de acontecerem no dia da nossa fuga, Kanato atacar Sarah bem na nossa frente foi o mais surpreendente. Quer dizer, não tanto quanto ele ter teletransportado a si mesmo com a nossa irmã pra sabe-se-lá onde. E talvez não tanto quanto Sarah ter chegado com um garoto(Incrivelmente mais alto do que eu) desconhecido na sala do quarto. A morena olhava curiosa para o menino, já Kanato olhava-o com raiva.

O tal desconhecido me lembrava muito de Nikki, seus cabelos eram preto-azulados como os dela e até seu tom de pele era parecido. A única diferença no rosto de ambos eram a cor dos olhos. Os do garoto eram azuis. Ele usava uma camiseta branca(com um rasgo no peitoral, o que poderia ser muito deleite para algumas mulheres) com uma jaqueta de couro preta. Além disso, utilizava uma calça jeans clara e tênis brancos já velhos.

Aquele garoto me encantou logo de primeira por seu estilo, devo dizer. Além disso, ele emanava uma sensação de proteção e segurança pra mim que eu não conseguia explicar.

Naquele exato momento, nós seis e Kanato estávamos reunidos na sala de estar da Mansão Sakamaki, observando o tal desconhecido, que olhava nervoso para Sarah, que parece ter entendido qualquer coisa que ele estivesse tentando dizer com aquele olhar.

Me descobri á pouco tempo admirada por essa capacidade de Sarah, compreender os outros por somente um olhar. Ela com aquele jeito fofo conseguia conversar com qualquer pessoa. De acordo com ela, funcionou com Sofie, pelo menos

—Hm... Kanato, você pode nos deixar conversar... á sós

Ele fez um barulho estranho com a garganta(O que eu imaginava demonstrar raiva) antes de falar um ‘’Tá bom’’ e subir as escadas.

Bem, como diz Nikki, quanto menos maníacos existirem no nosso campo de visão, melhor. Não é verdade?

—Uh... Tenho permissão de dizer uma coisa?- Victoria falou, o que fez todos olharem pra ela, curiosos.

—É óbvio, idiota. Ela é sua irmã mais nova- Marie bateu na testa de Victoria, fuzilando a morena com o olhar.

Depois de Victoria xingar mentalmente sua irmã mais velha, ela continuou:

—Devo dizer só que temos uma evolução aqui, não é mesmo? Do Kanato pra esse menino aí, existe uma...GRANDE diferença- Victoria olhou da cabeça aos pés o menino- Principalmente no quesito de altura.

Vi Sarah e o menino desconhecido corarem até ficarem da cor do cabelo do Ayato ao mesmo tempo.                               

—N-não é nada disso! Ele não está aqui... com esses própositos- Sarah tentou se explicar, cobrindo seu rosto com as grandes marias-chiquinhas.

—E então porque ele está aqui?- Sofie perguntou- E, o mais importante, quem é ele?

—Sou Jackson. – O menino finalmente falou alguma coisa- Desculpa por chegar tão de repente assim, mas Lilith me enviou o endereço pra cá e...

—Espera aí, você disse Jackson?- Marie falou, olhando com descrença o tal Jackson.

—E você conhece a Lilith?- Foi minha vez de perguntar.

Sinceramente, o fato dele aparecer com Sarah na mansão Sakamaki e ainda por cima a mando de Lilith não era extremamente estranho.

Marie sussurrou alguma coisa no ouvido de Victoria, que fez um barulho de surpresa( que mais assustou a nós do que tudo)

—Espera, qual é o teu sobrenome?- Victoria disse, começando a dar mini-pulinhos, junto com Marie.

Eu, Nikki e as gêmeas olhamos sem entender nenhum pingo do motivo da animação das nossas irmãs mais velhas.

O que diabos elas estavam fazendo?

Ele ficou um minuto em silêncio, antes de dar um meio-sorriso:

—Herbert. Eu acho que a esse ponto não preciso mais explicar quem eu sou, não é mesmo?

Ouvi dois gritos e pulei de susto, junto com Sarah.

—PAREM DE GRITAR, CARAMBA!-  Nikki gritou- ESTÃO ESTOURANDO MEUS TÍMPANOS!

—A gente não fez não nada, irmãzinha!- Victoria disse, com um sorriso mais idiota que o meu  no rosto- CARAMBA, A GENTE ACABOU DE ACHAR NOSSO MEIO-IRMÃO E VOCÊ TÁ NORMAL?

É O QUÊ?

—Puta, puta merda- Sarah disse, o que fez Marie olhar pra ela com reprovação- Desculpa Marie,  mas que história é essa de IRMÃO?

Eu não estou entendendo é nada.

—Gente se acalma, pelo amor de Deus- Sofie bufou- A gente precisa ser racional e...

—Você é gay?- Marie perguntou-Sabe... eu sempre quis ter um irmão gay e tals...

—MARIE!- Todas nós gritamos ao mesmo tempo.

—Se acalmem, garotas- Jackson riu- A história é muito grande, então eu irei resumi-la:  eu tenho 14 anos, sou o sétimo filho da família Herbert. Filho de Molly com Chronos...

—Você é meu irmão de sangue então?- Eu disse- Espera aí, você é mais novo que eu?

Ele concordou com a cabeça.

—E... com essa altura?- Nikki olhou de cima a baixo para ele, com uma expressão chocada em seu rosto.

—Então... sobre isso...- Jackson começou a falar, mexendo em seus cabelos de uma forma mais desengonçada

—Espera um segundo, você é o sétimo filho, certo?- Sofie interrompeu o garoto, apontando um dedo pra ele- Eu posso somente estar blefando mas... Não tem um conto no mundo humano sobre o sétimo filho menino após seis meninas?

—Eu lembro dessa lenda!- Eu disse, me animando mais do que deveria- Meu pai também dizia que as seis filhas antes do filho menino tinham forças diferentes: A primeira era a mais fraca e a sexta a mais forte.

—E o sétimo filho é um lobisomem.- Sarah completou o nosso raciocínio, e contando a parte’ mais importante da lenda- Mas lobisomens existem?

—Bom, quando eu cheguei aqui, eu nem acreditava em vampiros, mas olha pra mim agora!- Marie disse, erguendo as mãos pra cima em sinal de redenção

—Não reclame, você não foi mordida. Ainda.- Nikki suspirou, recebendo (outro) olhar reprovador de Marie- Hm... Irmão... A lenda por acaso, é verdade?

Jackson ficou em silêncio por um tempo, mas finalmente falou:

—Deixem-me continuar. Sim, a lenda é verdade. E, como vocês devem imaginar, eu sou um lobisomem. Nossa mãe teve que me dar para uma alcateia quando eu ainda era bebê porque eu representava perigo pra vocês.

—Que alcateia? E como assim, perigo?- Victoria perguntou.

Mesmo que eu não falasse nada, as mesmas perguntas rondavam minha mente.

Aquilo era definitivamente a parte mais estranha da noite.

—Eu não fiquei chateado com isso, é um bom motivo. Um lobisomem novo sem nenhuma base da mesma raça é bastante... feroz. E ela me entregou para a alcateia da tribo Alphabetta. Lilith foi para lá poucos dias atrás, foi convocada para me enviar. Mas parece que ela vai ficar por lá mesmo.

—Por que você diz isso?- perguntei, confusa.

Como assim Lilith iria ficar na alcateia?

Jackson fez somente um sinal de ‘’esqueça’’

—Eu... espero que vocês não tenham ficado sobrecarregadas com tanta informação- Ele disse, seu sorriso triste finalmente transparecendo no rosto.- Deve ter sido muita coisa pra vocês digerirem nessas últimas semanas.

—Nem me fale...- Nós seis falamos em coro.

Ele estendeu um papel e o entregou para Marie.

—Me liguem a qualquer hora. Eu não quero ser mais um fardo pra vocês. Se acostumem com os vampiros primeiro, depois tentem se acostumar com o seu novo irmão lobisomem.

Ele deu um beijo na testa de cada uma de nós e depois foi embora.

Eu provavelmente estava com uma cara de idiota nesse exato instante.

—Caramba, nós por acaso estamos presas em Crepúsculo?- Eu disse.

—Por que você fala isso, irmã?- Nikki perguntou. Seu olhar também era um pouco mais... feliz.

—Sabe, temos vampiros e lobisomens aqui...- Eu dei uma risada quando vi Nikki e Sofie revirarem os olhos enquanto Marie, Victoria e Sarah davam uma risadinha- Eu poderia até mudar o disco e dizer que era parecido com Vampire Knight, mas lá não existem lobisomens.

—Deixe de ser idiota, garota.- Sofie disse, mas vi um sorriso em seu rosto.- Vamos todas pros quartos, já é segunda-feira amanhã.

Todas foram embora, mas eu pude ver que eu e Nikki ainda estávamos lá. Ela estava quase saindo do cômodo, mas eu a chamei:

—Nikki. Você está feliz com nosso irmão?

Houve uma pausa.

—Eu estou, Lua.- Ela se virou pra mim e sorriu- Todas nós estamos.

E então ela desapareceu na escadaria.

Quando bati a porta do quarto atrás de mim, a primeira coisa que ouvi foi a voz de Subaru:

—Desistiu da ideia do acampamento?- Ele parecia extremamente desinteressado em qualquer resposta que eu desse.

Eu dei um sorriso idiota.

—Nem sei se vou ser capaz de dormir hoje á noite- Eu estava tão feliz que estava com um sorriso constante.

—Aconteceu algo, garota?- Ele virou a cabeça pra me olhar.

Eu dei de ombros:

—Você nem acreditaria se eu te dissesse.