Poucas coisas tinham o poder de animar tanto uma moça quanto a perspectiva de um baile.

Desde que o senhor Darcy autorizou o baile em Pemberley e marcou a data, o assunto que predominava em quase todas as conversas era sempre o mesmo.

A empolgação de todos era evidente, principalmente entre as moças que agora discutiam o que vestiriam, que calçados usariam, com quem dançariam... Enfim os tópicos para assuntos eram tantos que motivos para alegria era o que não faltava.

No entanto, para Elizabeth o futuro baile significaria muito mais que músicas, danças e vestidos. Ela decidiu que seria naquele dia que declararia seus sentimentos para o senhor Darcy, então aquele dia teria um significado mais especial para ambos.

Ela ainda sentia-se uma tola por ter percebido seus sentimentos tão tardiamente. Os sinais estavam todos ali, claros como água, mas ela foi cega demais para não os reconhecer antes. 

Mas agora que ela tinha consciência dos próprios sentimentos, ela podia afirmar que estar apaixonada era a melhor coisa que havia lhe ocorrido. 

Sendo assim, logo que Elizabeth se descobriu apaixonada pelo senhor Darcy, seu ímpeto era de naquele mesmo momento revelar isso a ele. Porém, ela não o fez. Depois de pensar por mais um tempo ela decidiu que aquilo deveria ser feito em uma ocasião especial e como o baile ocorreria no final de semana, dali a cinco dias, ela achou que aquele seria o momento ideal. Quem sabe o momento ideal para também marcarem a data do casamento, pensava ela. 

Obviamente ela estava muito ansiosa, então para se acalmar um pouco ela desviou toda a sua ansiedade para os preparativos da festa.

E os preparativos eram muitos. Organizar a lista de convidados, a decoração, as músicas... Ela nunca havia se envolvido na preparação de um baile antes, e nunca imaginou que fosse tão trabalhoso. Mas era bom que assim fosse, pois desse modo ela ficaria com a mente e o corpo bem ocupados até que o grande dia finalmente chegasse. 

Até mesmo o senhor Darcy estava mais empolgado com a ideia. Começou a pensar que seria bom reunir seus amigos, e assim Elizabeth poderia se familiarizar com eles e o círculo ao qual o senhor ele pertencia antes do casamento.

No entanto, ao passo que todos estavam animados, a empolgação de Jane Bennet era inversamente proporcional a deles.

A princípio ela havia ficado alegre com a ideia, pois ela também adorava bailes. Porém a alegria dela foi embora quando ela lembrou-se de que Charles Bingley era o melhor amigo de seu futuro cunhado, logo a probabilidade de toda a família Bingley estar presente no baile era grande. 

Embora Jane já não pensasse mais nele com a mesma frequência e intensidade de antes, ela não poderia negar que seu coração se apertava só por vislumbrar a possibilidade de reencontrá-lo. No entanto, ao ver como todos estavam felizes com a futura festa, Jane fez seu​ melhor para não demostrar seu descontentamento e não ser uma estraga prazeres. 

Por mais que Jane fosse uma das pessoas mais discretas que Elizabeth conhecia, ela não tardou a notar que sua irmã não estava bem. Ela já suspeitava quais seriam os motivos de sua irmã e então por estar preocupada com ela, Elizabeth a chamou para um passeio no jardim e assim poderiam conversar em particular sem ter nenhuma interferência.

Os assuntos fluíam com naturalidade entre as duas e enquanto Elizabeth procurava uma maneira de entrar no assunto que desejava, Jane iniciou uma conversa.

— Como estão os preparativos para o baile? — Perguntou ela olhando para sua irmã enquanto andavam.

— Tudo está dando certo. — Elizabeth contou sorrindo. — Eu nunca pensei que organizar um baile fosse tão trabalhoso. Mas os bailes públicos devem ser mais fáceis de serem organizados, acredito eu. — Comentou em tom de divertimento e Jane soltou um pequeno riso.

— E os convites? Já foram enviados? — Jane perguntou forjando um tom desinteressado.

Mesmo que ela já imaginasse que o senhor Bingley estaria presente, ela precisava ter a certeza.

Nesse momento Elizabeth parou de andar e olhou nos olhos de sua irmã. Jane nunca serviria para ser atriz, pensou ela. Por mais que Jane tentasse disfarçar, estava como que bordado na face dela o motivo de seu incômodo. Esse motivo tinha nome e sobrenome. Charles Bingley.

— Sim. Foram enviados hoje a tarde. — Elizabeth finalmente respondeu e Jane assentiu. A mais nova então deu uma curta pausa antes de continuar a falar. — O senhor Darcy convidou a família Bingley. — Disse ela e Jane a olhou, depois olhou para baixo, engoliu em seco e então voltou a andar. 

— Eu já esperava por isso. — Jane murmurou e então sorriu, apenas para disfarçar o torpor que aquela informação lhe causara. 

— Irmã eu sinto muito. Se fosse apenas por minha vontade eu não os convidaria. — Elizabeth falou olhando nos olhos de sua irmã. — Mas se quiser, eu posso tentar falar com o senhor Darcy... — Começou ela, porém Jane prontamente a interrompeu.

— Elizabeth não! Nem pense nisso! — Jane falou com firmeza. — Seria muito indelicado da parte de vocês se não os convidassem. Ele é o melhor amigo do senhor Darcy. E além do mais, você mesma disse que os convites já foram remetidos. — Falou ela e Elizabeth ficou em silêncio, ponderando sobre as palavras dela. Sabia que Jane estava com razão. — Por favor não se preocupe comigo. Eu poderei suportar uma noite na presença dele. Não será tão difícil. — Continuou a mais velha tentando convencer a Elizabeth, bem como a si própria, de que tudo ficaria bem.

Jane havia notado o quanto aquele baile seria importante para sua irmã, então a última coisa que ela queria era de algum modo estragar a noite de Elizabeth. E os sentimentos de Elizabeth não eram muito diferentes dos de sua irmã. Ela não se sentiria bem e completamente feliz, se sua irmã estivesse sofrendo. Porém não via nenhuma solução prática para aquele dilema. O senhor Bingley era convidado para o baile e não havia o que fazer sobre isso.

— Eu sinto muito por isso. — Disse ela. — Gostaria que você nunca tivesse​ conhecido o senhor Bingley. 

— Se eu nunca tivesse conhecido o senhor Bingley, você provavelmente nunca teria conhecido o senhor Darcy. — Jane argumentou sorrindo de canto. Imaginar nunca ter conhecido o senhor Darcy não era nenhum pouco agradável para Elizabeth agora. — Além do mais, aqueles foram bons tempos. — Jane continuou. — São boas lembranças, as quais posso recorrer quando estou triste. 

— Você ainda sente algo por ele? Ainda o ama? — Elizabeth perguntou-lhe depois de alguns segundos. 

— Já faz tanto tempo. — Jane falou e sentiu a própria voz falhar alguns tons. — O amor precisa ser estimulado para continuar vivo. Creio que se ainda existe algum sentimento por ele dentro de mim, ele está quase morto. 

— Oh Jane, eu queria tanto que fosse diferente! — Disse Elizabeth segurando as mãos de sua irmã entre as suas.

— Eu também queria. — Falou Jane e parou por alguns segundos antes de continuar. — Mas infelizmente não somos nós quem escolhemos por quem vamos nos apaixonar, ou quem amaremos, e sim o nosso coração. Meu coração escolheu o senhor Bingley, mas eu não fui escolhida pelo coração dele. Paciência. — Disse ela dando de ombros e segurando a vontade que tinha de chorar.

Era impressionante que mesmo com o coração partido, Jane continuava sendo doce e bondosa como sempre foi. Ela parecia não ter nenhuma raiva ou rancor, apenas mágoa, pelo homem que havia partido o seu coração.

Elizabeth, por sua vez, agora que entendia como era estar apaixonada por alguém, conseguia colocar-se no lugar de sua irmã e dimensionar o quanto ela havia sofrido por conta daquele abandono. Naquele momento Elizabeth sentiu muita raiva pelo senhor Bingley. Uma raiva nunca sentira antes por ninguém.

— Ele nunca mereceu seu coração. — Elizabeth falou automaticamente com um rancor quase palpável.

— É. — Jane assentiu. — Eu creio que não.

Elas voltaram a ficar em silêncio e então Elizabeth tratou de achar outro assunto mais alegre para conversarem. Não queria mais ver sua irmã sofrendo, ainda mais por um homem que não merecia aquela consideração. Então enquanto elas caminhavam pelo jardim, Elizabeth decidiu que faria de tudo para que sua irmã esquecesse o senhor Bingley.