WSU's: Zenith escrita por Lucas, WSU


Capítulo 8
Capítulo VIII - Não Era um Sonho


Notas iniciais do capítulo

''Teus jovens seios brilhavam ao luar
Mas arremeti o gelo frio
Da pedra gélida do ciúme
Contra o rio Que refletia o Dançar de tua nudez na riviera
Pelo esplendor do estio.''



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— É aqui, Bory Castle... Cara a entrada, não acha? — proferiu com o olhar perdido em meio a toda acachapante arte que lhe cercava.

— Quarenta euros por um acervo histórico como este? Vale a pena. 

Deslumbrara-se conforme sua percepção mudava. Cada desvio do olhar para qualquer lugar que fosse resultava na expressão encantadora da garota.

— Essas esculturas... — disse enquanto via cada uma — Se encará-las por um tempo te levam ao passado.

— É estranho, não é? — retrucou Zagan.

— O quê é estranho?

— Ter a sensação de regressão.

— Não. — respondeu Mia andando um pouco mais à frente — Neste caso, não. Olha, é tudo um mundo novo, é a história que eu não vivi. — posteriormente, parou diante de duas estátuas — Carlos I, Rei da Hungria e Francisco José I, não fazem você imaginar como era viver no Império Austro-Húngaro?

— Eu cresci em um Império, não há nada bom num sistema onde a diferença de classes exista. 

Os dois elaboraram um plano muito simples à seguir: Tinham o conhecimento que ele havia lutado na Segunda Guerra, então, com o conhecimento que Mia tinha naturalmente, procurariam sobre a maior figura húngara na época: Miklós Horthy. 

— Mia... — Zagan a chamou e sinalizou para uma escultura ao outro lado do salão.

— Miklós Horthy de Nagybánya. — ela foi lendo uma pequena placa — Kenderes, dezoito de junho de mil oitocentos e sessenta e oito... Estoril? — assustou-se — Ele morreu em Portugal?!

— Morreu como nasceu, um eterno anti-comunista. — intrometeu-se o guia caracteristicamente ruivo atraindo a atenção de Mia e Zagan — O Regente era um extremo patriota.

— Isso é o que aprendi na escola, exceto sobre ele ter morrido do outro lado da Europa... Você trabalha aqui? — Mia perguntou.

Cavalheiro, ele gentilmente à cumprimentou. 

— Sou um dos guias daqui. Danko Huzaczi!  

— Vikernes, Miandrya — devolveu.

— Será um prazer ajudá-los. E ele, é seu irmão? 

— Sou o Bjorn, Danko. Irmão dela sim. — o próprio Zagan respondeu.

— Como eu dizia, foi condenado por crimes de guerra, cumpriu pena em Nuremberg... — Danko apreciou a escultura — Antes do julgamento da liderança nazista, o Tribunal Militar Internacional pediu à Miklós que os passasse informações reveladoras, mas ele não chegou a depor pessoalmente. O Regente ficou preso de Setembro à Dezembro de quarenta e cinco. Acabou que cinco anos mais tarde, o filho dele conseguiu com diplomatas portugueses exílio no litoral de Portugal, na cidade de Estoril.

 

— Se não fosse incômodo, eu gostaria de saber mais sobre o Exército húngaro em si... Os homens envolvidos na guerra, que estavam ali no dia-a-dia. Sei que Miklós promoveu um armistício com a Inglaterra em meio a batalha contra os sovietes... Foi um dos pilares, não foi? Hitler tomou conhecimento, ordenou que invadissem o territória da Hungria... — Mia tentou ir direto ao ponto.

— Sim. Menina, você sabe mais do que muitos aqui, não acha, rapaz? 

— É... pois é, né? — disse Zagan avulso.

— Miandrya, quase um milhão de pessoas morreram, combatentes vivos? Reduza-os a taxa de zero por cento. Quando os soviéticos intensificaram as ameaças, Miklós assinou o armistício e as consequências recaíram sobre a família, teve o filho sequestrado pelo alemães, o que fez ele voltar atrás quanto ao acordo... 

Danko continuaria; Mia interrompeu-o. 

— Foi então que o depuseram! E começou o governo fascista, de Ferenc Szálasi, ele tinha um grande jogo de interesses com os alemães!

— Exato. 

— E não há nenhum registro? Nenhuma cópia de relatório? — ela se exaltou gradualmente a cada palavra.

— Mas por quê tanto desespero? — duvidou.

— Eu preciso saber os nomes dos homens envolvidos nisso. É importante. — acalmou-se.

— Nós não temos ligação com ninguém, mas existem memoriais dedicados aos combatentes daqui da região, a Igreja Cistercian possuí uma lápide com os nomes de alguns soldados... — Danko falava descrente — Se der sorte, pode encontrar algum familiar orando por lá.

Eles tinham o que precisavam, uma resposta. Qualquer que fosse o avanço, os ajudaria. Sempre pensando em uma maneira de descobrir sobre o mistério à qual estava envolvidos.

Mia compactuou mentalmente com Zagan que deveriam prosseguir a partir da possível possibilidade de uma nova descoberta.  

***

Ela poderia decidir livremente o quê fazer com o tempo que lhe foi dado. Escolheu agir. Imaginava que as oportunidades eram demarcadas, e que existia um limite de ações a serem tomadas dentro delas. 

— Agora sabre sobre uma Igreja... Consegue fazer sozinha? — questionou Zagan de braços cruzados. Os dois estavam à beira de uma pequena ponte que cortava Székesfehérvár

— Eu não sei... — ansiosa — E se alguma coisa der errado?

— Eu mato você e nada de mais acontece...

Ficaram entrelaçados por um silêncio constrangedor.

Riram juntos.

— Tente! — recapitulou Zagan — Eu confio em você.

Mia concordou com o olhar. Zagan repassou para ela o mesmo crucifixo horas antes destruído. 

— Este é o seu totem. 

A inevitável escuridão abrupta. Ela tem seus cabelos marejados pelo vento, cerra punhos e concentra-se na alma. As mais intensas forças emulam de um único lugar, o mais poderoso, a mente.

— Mortem. Zero. Homem. — começou a propagar mais intensamente — War. Mortem. Homem. Semita. Nayti. Ecclesia. Homem...

***

E eis que ela retorna ao reino escuro. Era a toca do coelho, e como se bem imagina, não se sabe até onde vai. Mia anda no vazio. Cambaleando, avista um banco com um homem ajoelhado. Uma cruz de contornos azuis é suspendida pelo ar, a reprovação é imediata. Córneas vermelhas e flamejantes, dentes que rangem.  

Condicionou a atenção ao monumento cristão, que começou a tremular. Fez a simbólica cruz virar-se para baixo, e em seguida berrou.

— ODIUM! — a tão citada cruz explodiu.

Aproximou-se ao homem que rezava.

''Mi Atyánk, aki a mennyekben vagy, szenteltessék meg a Te neved, jöjjön el a Te országod, legyen meg a Te akaratod amint a mennyben, úgy a földön is...'' Recitava ele.

Encarou-o desprezadamente na media em que retorcia o próprio pescoço.

— Nihil fit, Deum non salvantem. Suus 'omnibus mendaciis. — recitou Mia, sua voz é comparável ao urro de uma onça.

O rapaz terminou as preces, desjuntou as mãos e olho para Mia. Era o mesmo soldado-lobo de antes. Ela o apanhou pelo pescoço, sufocando-o. 

— Deixe-a fechar as portas! — ele clamou.

Acabara-se o sonho.

***

O eterno retorno de Mia, era seu destino voltar ofegante.

— Que orgulho, já pegou o jeito. — disse Zagan perante a feição assustada dela.

— Quanto tempo?! — Mia se preocupou.

— Um minuto e seis... Olha só pra onde trouxe a gente...

Lá estavam. Muito bela a Igreja Cistercian, a arte civil antiga jamis poderá ser considerada obsoleta, os gênios que a estruturaram desde os tempos antigos merecem o reconhecimento máximo.

— Eu não vou entrar. — Zagan decidiu.

— Como? Vai entrar sim! — ela o puxou pelo braço. 

— Solta! - desgarrou-se — É humilhação de mais para seres igual à mim ter que entrar nessa porcaria. 

Se entrassem juntos, adeus igreja. Então, Mia foi sozinha. A maior diferença ali dentro não mostrava-se ligada a arquitetura, mas ao clima. Cistercian era leve, importante, muito mais do que um lugar reservado a reza e adoração, levava junto a cada tijolo uma história.

Mia necessitava aprender a agir sozinha. Sua presença traz angústia, é mal encarada por alguns poucos religioso ali presentes. Igrejas não são estabelecimentos propícios a ajuda, ela procura perdida em meio aos irritantes sussurros de orações e imagens idólatras. Sem resultados e quase desistindo de encontrar o que procurava, Mia por um milésimo cogitou a desistência. Porém, enquanto dava as costas, notou à seu noroeste, entre duas sórdidas estátuas de gesso de Emérico e Santa Isabel, uma fosca placa metálica grudada na parede. Caminhou até tal com a intensa curiosidade aflorada ao peito, somada ao insaciável desejo aventuresco.  

Grafados ali exatamente 33 nomes por ordem alfabética com os respectivos números de identificação. Um gigante reconhecimento feito aos honrados defensores húngaros. Letras que há bastante tempo foram douradas reluzentes, hoje se resumem à meras cascas deterioradas. Lembrava-se claramente do que havia visto, "V. Mereszész - Katona - 033", portanto fez questão de pular os nomes com as vinte primeiras letras. Direto ao "V".

"Vasily Zdryzsckzy - Intendáns - 002"

"Valjko Wedrelész - Intendáns - 004"

"Verman Maindoinch - Intendáns - 008"

"Viacheslav Jedrzckyck - Katona - 021"

"Viadesco Varzahész - Katona - 024"

"Viktor Mereszész - Katona - 033"

— Achei! — comemorou 'gritando baixo' — Muito bem... — olhou para o interior da igreja ao seu redor — Vamos lá. — repetindo gestos, colocou o dedo médio e indicador sobre o nome marcado.

E lá se foi, mais uma vez.

***

"Eu te amo" Declarava a voz masculina.

Mia se perdia com a dissipação do eco. Para seu azar, nenhum lobo, cruz, homem ou qualquer outra imagem que pudesse guiar os acontecimentos dentro daquele glóbulo espectral negro.

"Adeus meu amor" "Eu não vou prometer" 

Ela andava devagar, racionando concluiu que tratava-se de uma despedida. Não era um 'até mais', 'até logo', 'tchau'. 'nos vemos amanhã'. Não. Era um adeus. Representava o esfacelamento de uma duradoura relação. 

"Você é a lua da minha vida"  

Caminhando e rodando o corpo de um lado para o outro, ela concluiu mais: Não era ambíguo e, por decorrência, não era consensual. Apenas um se despedia ali.

"Isto é tudo o que eu sei, e tudo que preciso saber"

Então teve outra certeza, a de que não era apena um físico, mas transcendental. Pois não há um limite para o saber, assim como não há cota de conhecimento. 

"Se isto for um sonho, matarei o homem que tentar me acordar"

Com essa, Mia definiu que não estava ouvindo um amor apenas platônico, mas também insano. Ela ouviu bem, o entoamento da voz entregava que aquela fala não estava em sentido figurado. O homem iria embora para proteger sua amada de suas próprias catástrofes interiores, uma decisão difícil ter que deixar quem você ama, ainda mais sendo uma decisão forçada, é doloroso. Portanto, se todo aquele sofrimento fosse parte de um simples sonho, Morfeu haveria de ser morto. Agora sim figurativamente. 

"Amarei-te sempre e para sempre"

Todo o som que era confortante e adorável deu lugar aos gritos de desespero, aos espelhos se quebrando, as paredes sendo arranhadas, ao sofá que fora arremessado ao teto, ao lustre que se suicidou junto ao chão. Pobre Mia, foi atropelada pelas costas e jogada ao chão através dos braços da criatura e desacordou-se. 

"Não quero ser o que sou"

"Pai nosso que estais no céu" "Santificado seja o vosso nome"

"O quê somos perante o mundo?"

"E o quê o mundo é perante o Universo?"

"Esse aqui é nosso lar, um dia ele será todo seu"

***

— Admiro que, ainda tendo um trabalho, você consiga levar uma vida mais interessante que a minha. — dessa maneira Viktor cumprimentou Deszo, que jogava golf. 

— Grandioso Viktor Mereszész! — alegrou-se ao ver.

— Conseguiram inflacionar até o preço dos voos fretados, qual o problema do governo atual? — disse sarcástico.

— "Qual o problema do governo atual?" Rapaz, todo dia algum jornalista me pergunta isto. — ele guardou o taco em uma pequena bolsa bege pendurada num carrinho — Enfim, vamos entrar!?

***

Abrigaram-se na sala de estar saturada pelo marrom que cobria as quatro paredes. Cabeças de animais expostas como troféus, decks de bebidas, quatro poltronas de madeira com assentos de couro puro e um charuto para cada. 

— Escondendo bem o nome, primo?

— Báthory se perdeu no tempo... Foi ótimo termos deixado de lado, seria um fardo desnecessário à ser carregado. — disse e tragou.

— Nada que tenha impedido ela de me achar... — falou Viktor, também tragando.

— 'Ela' quem, Viktor? — Deszo fez-se de desentendido.

— Não, não tente fingir, não tente se fazer de burro... Somente uma pessoa no mundo conseguiria descobrir o vínculo familiar entre nós.

— Quer pular direto para esta parte? Não quer discutir sobre a situação econômica do país? Sobre o aumento de grupos neo-nazistas em Ferencváros? — desdenhando.

— Me preocupei tanto em desaparecer, em ter o que era meu, qualquer coisa capaz de fazer eu esquecer o passado... De repente, quando consigo tudo o que queria, você vem atrás de mim... Pra mim isso é tão previsível.

— Eu não vou lhe obrigar à nada.

— Sei, é claro que não, mas vai querer me convencer. — tragou.

— Posso tentar, ainda que soe estúpido, não é? Convencer alguém que já possui ciência completa do que está havendo não faz sentido...

— A ciência aqui é de que minha ex-mulher procura por mim... Nada mais, nada menos. O que ela quer? Eu conheço ela, Deszo, ela fez parte da minha vida, e é provável que jamais me esqueça. Mas, se teve a oportunidade de conversar com Kertész, deve saber que aquilo não é flor que se cheire. — Viktor conhecia muito mais do que o imaginado.

— Não tenho disposição alguma para ir muito além com este diálogo, primo... Como já deve ter deduzido, Erszébet quer uma visita de seu ex-cônjuge, resta à ele dizer que aceita ir... — como todo bom político, Deszo era pai das falácias.

— Isto não parece tão difícil de se decidir, depende de mim... O quê você acha?

— Eu? Meu rapaz... Eu tomo decisões sem a menor certeza. Se me favorecerem, muito bem... Caso contrário, não. — contou na expectativa de convencer Viktor.

— Mas preciso ter certeza antes... Não tenho a chance de saber como será, não posso decidir nada na hora!

— Um castelo impenetrável, uma linda e autêntica mulher, proteção à você, proteção à ela, à família, certamente uma vida mais interessante... — continuara o processo de convencimento.

— Disso só não tenho uma vida muito interessante. Tenho uma linda e autentica mulher, proteção à mim, à ela e à minha família, herdei até um castelo na Eslováquia...

— Então aceite pelo reencontro, pelo confraterno.

— Não sei se isso é confiável — "relutou" Viktor — O que você está ganhando em troca?

— Apenas o prazer de conhecê-la — Deszo apagou o charuto e colocou-o no cinzeiro — Ela está à poucos quilômetros daqui, só por uma noite, vá... Revê-los, o prazer da amizade que ainda podem conservar! Ninguém nunca recusou um pedido dessa mulher, Viktor... É improvável que logo você, tão importante durante a vida dela, recuse.

— Têm razão... Ninguém nunca recusou um pedido dela, eu gostaria de ser o primeiro, mas não posso... — ele não portava-se da capacidade de ignorar aquilo que mais o marcou.

— Por favor. Ela me atormentou por isto, estava desesperada, trinta e quatro anos de procura, Viktor. Meu Deus, é uma vida, seu pai morreu com essa idade!

— Não precisa apelar para a família, primo... 

— Pensa que não há para onde fugir?

— Não é fuga, é precaução. Mas a história nos pressiona.

— De sempre em sempre, Viktor. De sempre em sempre a história nos pressiona... Esses fardos chatos à serem carregados caem em seu colo quando menos espera, e agora é a hora. Você vai, direi à ela que topou, direi que quer vê-la. — Deszo pressionou-o, mas não ser fizera mais necessário. Viktor ainda resguardava amor por Erszébet.

Quando ficou sozinho, Viktor mediou suas decisões através do momento, o que iria acontecendo ditadamente ao longo dos dias era o que o fazia decidir. Quis o "acaso" que um desses dias fosse a chance de um novo encontro com a ex-mulher. 

Mulheres, se quiserem, são capazes de dominar qualquer ser sobre este mundo. A Rainha prova o conceito. Impera desde os felinos e afilhados até o fugitivo líder da alcateia. Mulheres, se quiserem, ditam o a direção das marés do oceano. 

 


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