WSU's: Zenith escrita por Lucas, WSU


Capítulo 6
Capítulo VI - Du Hast


Notas iniciais do capítulo

''Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.''



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Nina não desejava um conflito com seu marido, afinal, discórdia é o último recurso à qual mentes inteligentes apelam. O anseio dela era saber a verdade, toda mulher vive na paranoia de estar sendo enganada, e diante dos marasmos que o mistério familiar assolava sua relação com Viktor, não viu outra escapatória à não ser a busca por um fim.

— Resolva isto. — disse ela virada para a janela. Tinha seu corpo cortado pelas sombras.

— Tentarei... — ele respondeu, colocando o telefone sob a mesa de vidro.

— Não, elabore melhor suas respostas... Você resolverá, Viktor. Não use a tentativa como um meio de desculpas. — Nina se virou e olhou para ele — De jeito nenhum esse problema pode afetar minha família, você sabe o quanto prezo por vocês... ainda que isso não seja claro... 

— Eu sei... Certamente não é nada de tão importante, talvez uma proposta em relação aos bens dele... 

— O que ele disse?

— Sobre uma oferta que não poderia ser recusada... 

— Seu tio é o Don Corleone e você é o Johnny Fontanne, por acaso? — Nina foi até Viktor e o abraçou — Então não parta meu coração. Não parta meu coração. 

— Não partirei. — prometeu.

As relações humanas originam-se da esfera sentimental que habita o interior de cada um. Buscamos por boa parte da vida alguém, e quando encontramos temos a esperança de que nossos erros e fracassos pessoais sejam desfeitos e substituídos pelas qualidades daquele indivíduo que decidimos amar. 

Com o casal, Nina e Viktor, o ciclo ainda não havia se cicatrizado. Ele possuía a insegurança em seus genes, não era certo de nada.  

É neste ponto que se quebra a teoria da 'outra metade'. Nina também é insegura, ela tem medo do mundo, como se vivesse em uma bolha do alto de sua riqueza, mesmo demonstrando a firme autenticidade de uma mulher, e sendo uma clara defensora de sua família, ela, assim como Viktor, maquiava as falhas através de pseudo-ações admiráveis.  

Ele querendo ser o esteriótipo de homem tradicional, mas que no fundo é dominado por qualquer um devido a incerteza de seus ideais.

Ela por supervalorizar o seu valor. A questão é que não existe um valor, e Nina parecia não saber disto. Então, mediante a situações como essa, aflorava-se a vontade de agigantar sua condição. Tudo isso, é claro, municiado em razão da dubiedade.

— Cuidarei disto, Nina... sozinho. — disse abraçado à ela.

— É claro que sim... — Nina se desprendeu — São seus problemas, Viktor. Em nome de Deus, não deixe que te chantageiem, você é um grande homem...

— Nada nos separará... — ele pegou nas mãos dela — No fundo me sinto preocupado, por ter de abandonar vocês assim, de repente... Talvez demore uns dias... 

— Não seja por isso, meu amor. Você vai até lá, conversará com ele... Nós dois estaremos esperando por você. — Nina era capaz de confortar à mesma altura em que era capaz de ameaçar.

— Se for mais do que eu possa aceitar, Nina... Eu não consigo explicar a maneira que vejo o mundo lá fora, você e Deszo são os dois últimos resquícios do meu passado, somente vocês sabem sobre a minha desgraça pessoal. Pode ser algo irrisório, simples, que não faça diferença em nossas vidas e de nosso filho, pode até parecer um enorme exagero todo esse aparente drama que estamos fazendo... Mas é tudo por nos preocuparmos um com o outro, e baseado nisso, caso eu cometa algum erro, ou tome alguma ação que afete... Você ainda irá me amar? — Viktor discursou. No fundo de sua mente ele imaginava uma provável volta às origens.

— Sempre e para sempre, até vermes desfaçam meu corpo, até que Deus expurgue minha alma. Quando tudo acabar e o cosmo não mais restar, eu estarei te amando de onde quer que seja, mesmo que não seja de lugar nenhum. Sim, Viktor. Eu irei te amar. E você? Irá me amar? Se sim, por quê considera uma provável medida prejudicial contra mim? 

Liev Tolstoi, Franz Kafka, Jaroslav Seifert... Ela foi em busca de influências, por isso  era tão boa com palavras românticas.

O pai de Nina chegava em casa, era costumeiro que já se ouvisse o barulho de tudo se quebrando. Ela ficava com medo, pulava a janela do quarto, ia para os fundos, subia pela escada e chegava ao telhado, levava consigo uma mochila cheia de livros. Livros estes que eram achados em meio a pobreza intelectual humana, história e mais histórias jogadas aos cantos como lixo. 

Talvez explique o mundo ser o que é nos dias de hoje.

Cada biblioteca é um novo universo. Cada livro é um novo planeta à ser descoberto. Cada folha é uma nova experiência. Cada história é uma vida.

***

— Então... Por que David Bowie? — perguntou Mia curiosa.

— Hum? - Rotten Boy não prestava atenção à nada — Ah, claro... é! David Bowie... O verdadeiro e único artista.

— Iggy Pop? Don McLean? 

— Talvez Iggy Pop. Ele é a cópia da Laura Bozzo. Yah, eu gosto de Iggy Pop, é bom, hum... não tanto quanto Bowie, mas é... Ah, Don McLean têm só uma música... Não, Don McLean é uma merda...

— Elvis? Michael Jackson? Bob Dylan? Hendrix? Billy Idol? — o diálogo entre tornara-se cômico. Zagan observava do banco de trás.

— No futuro ele serão lembrados como... produtos! Hum, sabe o que eu acho? Um dia tudo será arte... Ah, é isso, é... Nada vai mudar, yah!? — disse ele, de voz irritante e arrastada.

— Rammstein, Scorpions, Helloween... Essa é a arte alemã? — Mia começou a ver o álbum de CD's.  

— De nós, é o que sobrou... E é o melhor que temos? Yah, é sim! 

— Yah! Eu concordo. O que a Alemanha tem agora? Fertig, Los? — ela conseguiu entrar no ritmo da conversa.

— Os americanos odeiam Rammstein, sabe por quê? 'Amerika' escancara a realidade! Scheisse! Você conhece a letra? — ele ligou o rádio - This!

Lasst euch ein wenig kontrollieren; Ich zeige euch wie's richtig geht — cantou ela — Eu quero que toquem Rammstein no meu funeral.

— Mirra — Rotten Boy não conseguia pronunciar 'Mia' — E sobre a Noruega? 

— Jamais abandonarei Burzum, Mayhem e Darkthrone!

— Varg Vikernes é um puta babaca extremista, mas eu gosto dele... Hum, yah! Isso ficou estranho... 

A filosofia de vida de Rotten Boy era mais complexa que o esperado. Viajava com objetivos, porém não sabia quais.  

— Uma coisa, yah!? — falou ele.

— Diga. — respondeu Mia.

— Minha teoria sobre tudo é: O sentido está ligado à ausência de sentido. Yah?

— Isso tem lógica. Pouca, mas tem. — disse Mia, rindo. 

— Hum... é... Os sentidos não são relativos, ou seja, são distorcíveis. Yah? Tudo o que já fizemos está em uma linha do tempo atemporal que pode ser modificada, já que o espaço e tempo não existem, na verdade. — jogou o cigarro pela janela — As letras e números não existem, eles são criados somente para simplificar a vida e tentarmos entender uma coisa inexistente que consiste de atemporais indefinidos, yah!? Tudo é modificável independente do resultado, e algumas coisas só podem ter um resultado imodificável... Independente das bilhões de junções de diferentes métodos feitos.— Rotten Boy dissertou.

— Ou seja...? — é provável que Mia não tenha entendido.

— Foda-se. Tudo vai acabar de um jeito ou de outro. Deus é o Doutor Frankenstein... E a gente é a cobaia. — ele expôs um pouco mais sobre sua visão geral.

— Yah, Rotten Boy, yah.

— Por que vão até Fejér, Mirra? 

— Estou procurando por... — abriu a blusa e retirou a foto que havia recebido — este homem!

— Yah!! Esse cara é o... — Mia arregalou os olhos, Zagan puxava um sádico sorriso no canto da boca 

— Conhece ele!? — gritou ela.

— Nah! Esse cara é o James Dean na versão europeia... Parece bastante, yah? 

— É, acho que é... — Mia se decepcionou.

— Velha esta foto, procure nos cemitérios de lá, yah? Com certeza irá encontrá-lo. 

— Quer ajudar a gente?

— Não posso, tenho que chegar à Escócia logo, hum, acho que a gasolina vai dar.

— Rotten Boy, o Reino Unido é uma ilha. — disse Zagan.

— Yah, tudo bem... Eu também posso ir nadando, Bjorn. 

O caminho era curto. Uma hora bastava para que chegassem ao epicentro. Mia pensava estar somente no começo da história, pensava errado, já completara dois terços.

Ato I: Conheceu a Rainha Erszébet Kertész e aceitou os afazeres ela lhe passou.

Ato II: Iniciou o processo. Aqui não há regras a serem seguidas. Mia e Zagan saem em busca do que a Rainha pediu. Ainda que não seja direcionado por exigências, é necessário que haja uma conclusão bem sucedida, essa parte deve ser obrigatoriamente cumprida.

Ato III: Pós-Conclusão. Espaço vago de explicações até que Mia volte e os desejos da Rainha sejam atendidos.

Como se percebe, a Rainha é a catalisadora. O primórdio é causado pela decisão dela em contactar Mia. A sequência gira em eixo ao desejo dela. Se a Rainha não objetificasse o que deveria acontecer, nada disso existira. No último ato, invariavelmente, ela será a organizadora do clímax.

***

O veículo preto estaciona perante ao grande palácio. Não existem políticos contidos, o poder traz a arrogância. Mihai manobra, ele teve de aprender tudo sozinho, todos os afilhados da Rainha tiveram, ela ensinou a meritocracia à eles. 

O carro fúnebre para. Petrov abre a porta, pega na mão de sua criadora e a ajuda a sair. Nunca faz sol em Budapeste, o frio é o dono, vampiros vivem tranquilamente ali.

— Deixe-a comigo, irmão. — diz Vlad saindo da última porta. O veículo é uma limousine, aparentemente.

Vlad, então, ajudou a Rainha a subir as escadas.

— Eu odeio ter que sair de casa... — resmungou ela.

— Puderas ter convidado ele para ir até o Castelo. — disse Vlad.

— Não é qualquer homem que entrará na minha casa.

Um dos seguranças esperava ao portão.

— Apenas ela entra. — legislou.

Então, apenas ela entrou.

O caminho até a residência de fato era longo. Inúteis campos de golf que nada agregavam. Ou inúmeras fontes que apenas desperdiçavam água. Uma vegetação artificial, que blasfemava contra a naturalidade de onde a Rainha vivia. Ela não trocou uma palavra sequer com o segurança, ora, ele também não seria louco de tal façanha.

Os deuses repudiam. Fizeram a Rainha andar vinte metros. Ainda que o pulmão falhasse e o coração ameaçasse parar, ela chegou.

Do lado de dentro, a empregada tomou a frente e guiou-a.

— Queira me acompanhar por gentileza, senhora. — simpaticamente.

A Rainha nada falou, muito menos fez contato visual.

Ela aconchegou a Rainha numa bonita sala composta por duas poltronas e muitos enfeites.

Rapidamente, a empregada mestre de cerimônias saiu e deu lugar ao homem de média altura, caucasiano, de terno marrom batido. Uma horrenda vestimenta. genuíno péssimo gosto.

— Deszo Báthory, o melhor do políticos húngaros. — alegrou-se a Rainha ao vê-lo.

— A única Erszébet Kertész. — devolveu ele.

— Eu mesma, eu própria.

— Presumo que está preocupada, certo? — Deszo se sentou — Uísque? 

— Por favor.

Ele serviu dois copos, entregou nas mãos dela e voltou à seu assento.

Há um lugar especial no Inferno reservado para aqueles que desperdiçam um bom scotch. — Deszo falou com os olhos voltados para o fundo do líquido.

Deliciaram-se no silêncio. Deszo não sabia nada. A Rainha sabia de tudo. Balançaram seus crânios positivamente e abriram um sorriso sincronizadamente.

É assim quando você sabe que encontrou alguém especial. Quando você pode simplesmente calar a boca por 1 minuto e confortavelmente desfrutar do silêncio. — disse ela. 

— Não me envergonhe, Erszébet, quem me dera ser especial para você... — Deszo proferiu tímido, na esperança de receber uma resposta contrária. 

— E não é mesmo, é bom que saiba disto. Somente cinco coisas são especiais para mim, Ministro. Primeira: Eu. Segunda: Eu e minha inteligência. Terceira: Eu e meu amor próprio. Quarta: Meus afilhados. Quinta: Lobos, Morcegos e Demônios. — a resposta dela deixou Deszo ainda mais sem graça.

— Qual o prazer nisso? Quer dizer, você realmente se satisfaz pisando nas pessoas e se colocando acima de tudo?

— Não, Ministro, não tente exacerbar minhas atitudes, elas representam a obviedade. Falar não faz diferença, é um acréscimo desnecessário, sabe por quê? — a Rainha queria incendiar a conversa.

— Por que? — retrucou Deszo.

— Porque, meu querido, a dialética é meu último modo de apelo. Eu ouço mais do que falo, eu penso além do limite, eu guardo a minha raiva, Ministro... É a pior medida que alguém pode tomar, ódio interior, desprezo correndo pelas veias, rancor anabolizando o cérebro... Eu ignorei, pois precisava estudar a natureza universal, dependeria dela certamente... E hoje dependo. Sim, sou uma iconoclasta. Por méritos próprios me tornei a mulher mais poderosa do mundo. — ela improvisou. 

— E o que te faz acreditar?

— Que sou a mulher mais poderosa do mundo?

— Sim.

— Eu me faço acreditar. Eu sei do que sou capaz. Eu me fiz uma mente genial. Eu sou o que todos querem ser mas não buscam se tornar. — deduziu.

— Tão genial que não superou a perda de um homem... — contra-atacou Deszo.

— Exato. Ainda tenho que comprovar minha teoria sobre o amor. 

— 'É uma doença psíquica socialmente aceita' Você me disse pelo telefone.

— Vamos ao que interessa. Conversou com Viktor? — após a aula de soberba, ela finalmente foi as vias de fato.

— Conversei e convenci. Não foi difícil. Ele tenta fugir, dar as costas... Mas sei que há interesse.

— Como vai a família? 

— É ela quem manda ainda, não perguntei nada sobre, fui direto, precisava convencê-lo rápido e honestamente, sem enrolações, sem a necessidade de querer humilhá-lo, não é? — Deszo deixou a ponta solta.

— Se tivesse coragem, com certeza teria perguntado e poderia me responder agora. Mas...

— Fiz a primeira parte do quê você pediu, fiz com que ele viesse para cá.

— Sim, o convenceu, congratulações, Ministro. Porém, terá que convencê-lo de novo. Afinal, foi o combinado. — A Rainha pareceu ameaçar.

— Combinado este que ainda se mantém? — ele não podia deixar os interesses de lado.

— Olhe para mim. Eu aparento não cumprir minhas promessas? Não, não aparento.

— Eu preciso que mascare tudo...

— O senhor acha que tenho poder para isso? Seja sincero.

— Acredito... Não entraria em um jogo como este para enganar-me e conseguir o que quer. — sobressaiu-se Deszo. 

— Boa resposta. Ótima, na verdade. Amo ele, e só vou perdê-lo se for para mim mesma... É um preço barato à ser pago, você está certo, Ministro, tranquilize-se.

A Rainha detinha o controle das ações, somente ela poderia mudar o curso do rio de histórias. Se ela vai ou não fazer é relativo, o raciocínio dela funcionava variavelmente dependente da situação e da emoção. 

***

— E Bad Religion?— disse Mia.

— Nada mal, yah? — opinou.

— Pioraram com o tempo, mas faz parte.

— Tudo piora com o tempo. — mostrou a tatuagem do antebraço esquerdo: Le Temps Détruit Tout. 

— Irreversível? Não é dos melhores que já assisti...

— É a porra do melhor filme da sociedade! — exclamou, acendendo mais um.

— Não é ruim, mas também não é ótimo, entendeu? — justificou ela.

— Yah... ok...Donnie Darko?

— Sim! Este sim é ótimo!

— NEIN, NEIN, MIRRA! Donnie Darko é uma merda! Yah!!? Só usaram LSD e escreveram! — gritou.

— Assistiu errado. Assiste de novo!

— SCHEISSE! Um coelho que prevê o fim do mundo? Hum? 

— Qual o problema nisso?! E um filme sobre estupro, violência e homofobia?? Isso sim é uma merda! 

— É a insanidade das pessoas sendo representada, yah!! É nossa sociedade, Mia!! Ou você já conversou com coelhos videntes?? — definiu ele.

— Tudo bem, tudo bem... Pulp Fiction? — Mia continuou.

"Say what again! I dare you! I double dare you motherfucker!"

— Eu amo esse filme, é tão brutal. O quê aconteceu com o John Travolta? Ele está vivo? Ele tinha tudo e perdeu, não é mais famoso... É isso que Hollywood faz quando o lucro não vem?   

— Yah! É claro que é famoso! Todo mundo conhece o John Travolta, Mirra. As únicas pessoas que não conhecem o John Travolta são os espermas do John Travolta, porque eles estão dentro do John Travolta! — teorizou.

— Você nasceu assim mesmo ou as drogas transformaram? — Mia esforçou-se para dizer, já que ria como uma hiena.

— Não sei explicar, talvez tenha nascido com erros de programação. Ou talvez eu seja o normal em meio aos anormais, yah!? — diminuiu o tom de voz — Eu posso ser louco, não é ruim, se tiver a oportunidade de ser louca, seja louca, yah!? Aceite tudo que seja não-convencional, a vida é melhor assim.

— Eu não posso ser louca, devo parecer o mais normal possível.

— Você pode ser tudo o que quiser.

Então, a conversa perdeu o carisma.

— Eu quero ser vazia de emoções. — disse ela. 

— Nah, as emoções são o que há de mais puro dentro de nós, não pode repugná-las, yah? Algum dia esse desejo virá, de uma forma ou outra todos virão, e um desejo não agradável traz uma consequência desagradável.

— ''Dentro de nós''? ''Pureza''? Não, cara... Nunca fomos e nunca seremos... 

— Sabe a maior injustiça já cometida? — perguntou Rotten Boy.

— Qual?

— Irreversível não ter ganho o Oscar.

Mas não por muito tempo.

— O Oscar não significa nada. — disse Mia.

— Mas significa alguma coisa, yah!? 

— Significa uma estátua na sua estante, é isso. Cães de Aluguel? O Iluminado? A Cor Púrpura? Um Sonho de Liberdade, caralho, sete indicações e nenhum prêmio! Blade Runner foi muito mais revolucionário que Matrix. Resultado: Nenhum prêmio para um, quatro para o outro!

— Tá, entendi sua revolta, Mirra... Já assistiu A Invenção de Hugo Cabret? Nele se diz que Georges Méliès foi o primeiro a reparar que filmes poderiam mostrar mais do que a realidade, eles poderiam mostrar os sonhos... 

— Sim... Mas se filmes podem representar sonhos, o quê dizer dos livros? — Mia imaginou.

— Eles te mantém na realidade, mas a deixam livre para imaginá-la como quiser.

— Me explique a diferença entre uma realidade livre e um sonho.

— Eu diria que alguma mão invisível limita sua realidade, mesmo ela sendo livre... Até certo ponto, yah! Faça! Depois dele não é mais possível se alcançar. Um sonho... bem... Você sabe muito bem o que é um sonho, yah!? Todo mundo sabe... É o estado que a mente das pessoas preserva, cada sonho para cada pessoa é único... Desculpe, ninguém pode explicar o que é um sonho. — Rotten Boy idealizou algo que Mia nunca havia notado.

Somos o que somos e o que temos, do ponto A ao ponto Z. Do começo ao meio, tudo é extremamente útil. 

A, B, C, D, E, F, G, H, I, J... Cada letra é um estágio, comece lá com amizades, amores e termine com trabalho e responsabilidades. Está ao alcance. 

Mas, a realidade é o tipo de paradeiro incerto. Ela se estremece, é inconstante e funciona relativamente. Então, K, L, M, N, O, P, Q, R, S e T, são as costumeiras dificuldades que enfrentamos, ou seja, ainda parte da crua realidade, ainda muito comuns.

U, V, W, X, Y, Z. São a desconstrução da realidade, o declínio final, o erro crase. O fim da capacidade empática, o ego, a morte, a ilusão que, diferente do sonho, é causada pela falha mental.

Pode-se perfeitamente dividir a realidade em um alfabeto de três terços. Nesse mesmo método, o sonho seria o C Cedilha. Ele existe, mas não está na linha do real.  

Sim. Seja um C Cedilha. Ainda que pareça ridículo, seja um C Cedilha.

***

Fecha-se o cerco.

Ela não pode fugir.

O tempo formula a promessa.

Tudo será revelado.


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