Primeiro Mês

O primeiro mês, foi o mês da descoberta...

O time oito havia terminado mais uma missão, mas desta vez, Hinata estava muito cansada. A fadiga havia tomado conta dela durante todo o tempo, mas tentara disfarçar, afinal, ela não sabia quando aconteceria novamente de sair em missão com seus amigos.

Já fazia algum tempo que ela pensava em parar com as missões, em ser uma ninja que ajudaria com os assuntos internos, como Kakashi lhe ofereceu. Ela e Naruto, em breve teriam filhos, ou assim esperava, e não queria ter dificuldade em largar essa vida para ser mãe.

Kiba e Shino notaram o estado da Uzumaki e imediatamente a dispensaram. Estavam preocupados e, por isso, fizeram com que Hinata prometesse que iria ao médico ver se estava bem — ainda que fosse apenas um resfriado bobo — e que se cuidaria. Eles entregariam o relatório ao Hokage.

Apesar do prometido, e que esperava cumprir em breve, Hinata não foi imediatamente para o hospital. Antes, porém, seguiu para a sua casa. Esperava encontrar seu marido lá.

Sempre que pensava no título que Naruto tinha em sua vida, ela sorria. Eles tinham completado um ano de casados há pouco tempo, mas tiveram que se separar mais uma vez por conta de uma missão. Cada um ficou encarregado de cumprir uma parte e, por isso, ela não sabia se ele já havia voltado.

Assim que passou pela porta, soube que estava sozinha no local. Naruto não havia deixado suas sandálias próximas à porta, como de costume, o que significava que ele não estava. Com um suspiro, Hinata retirou as próprias sandálias e as deixou no lugar de sempre, subindo as escadas que levariam para o seu quarto.

A casa estava toda fechada e da mesma forma como deixou ao sair dias antes. Era, para ela, apenas mais uma prova que Naruto ainda não tinha chegado. Ele tinha a enorme habilidade de tirar tudo do lugar e não saber como colocar novamente, por mais que tentasse. E ele tentava. Foram inúmeras as vezes que ela o viu, no último ano, tentando manter tudo no mesmo lugar... E falhando.

Por mais que fosse cansativo algumas vezes, Hinata gostava de cuidar de suas coisas. Ela havia sonhado tantas vezes em poder morar com Naruto e ser sua esposa que agora, mesmo quando ele apenas tentava se manter mais organizado, ela não conseguia dizer para ele que não estava, de fato, conseguindo.

Enquanto tomava banho, lembrava-se de como ele pareceu feliz quando ela disse que ele estava sim se saindo muito bem enquanto arrumava os pergaminhos antigos no lugar. Era, inclusive, um momento que os dois compartilhavam e que ela sempre acabava rindo de algo que ele dizia e, também, acabavam em olhares ou mesmo beijos mais íntimos.

Ela vestia uma roupa confortável, que usava quando estava em casa, quando se lembrou da despedida dos dois antes da missão. Estavam na frente do portão, junto com seus amigos, quando Naruto voltou correndo e a puxou para seus braços.

A missão com os antigos times eram muito raras, ainda mais quando estavam tão acostumados a fazer sozinhos ou com apenas mais um integrante, logo, não conseguiriam negar mesmo que quisessem. Assim, Kiba soltou uma gargalhada ao ver a cena. Eles estavam juntos há um ano, assim como muitos de seus amigos também estavam casados, mas agiam como se ainda namorassem.

Naruto lhe beijou rapidamente, mas com carinho, dando um beijo em seu rosto logo em seguida. Ele se afastou, erguendo o braço e acenando. E Hinata ficou ali, parada, olhando e sentindo seu rosto esquentar como há muito não acontecia. Naquele momento, o time oito estava exatamente igual como há alguns anos antes.

Quando terminou de se vestir, Hinata não resistiu e deitou na cama. Sabia que precisava cumprir sua promessa, mas ainda estava cedo e ela precisava descansar um pouco. O sol nascera há pouco tempo, o que significava que ela já teria acordado em um dia comum, mas ali, naquele momento, ela estava dormindo.

Qual foi sua surpresa quando acordou e encontrou não apenas o sol brilhando alto no céu, indicando que já passara da hora do almoço, como também um par de olhos azuis safiras lhe encarando de perto, acompanhados de um grande sorriso.

De início Hinata se assustou e notando aquilo, Naruto chegou um pouco para trás, dando uma risada sem graça. Ele se ergueu, já que estava abaixado ao lado da cama, e coçou a nuca. Aquela era uma ação que mesmo passado os anos, ele não mudara.

— Hinata... Desculpe, eu não quis te acordar... Nem te assustar, claro... Eu...

Mas antes que pudesse terminar de falar, sentiu a esposa o abraçando com carinho. A cabeça de Hinata estava em seu peito e os braços ao seu redor. Automaticamente, ele passou os braços ao redor dela também, a prendendo com carinho ao seu corpo e fechando os olhos por alguns segundos. Sentira mesmo muita falta dela.

— Tadaima... — ele sussurrou baixinho, abrindo um sorriso.

— Okaerinasai — no mesmo tom de voz, Hinata respondeu.

— Que bom que está em casa, eu não imaginava que você já tinha chegado. Faz muito tempo?

— Não... Espera, que horas são? — Assustada, Hinata procurou pelo relógio e a sua surpresa não pôde ser contida. — Cheguei pela manhã e não imaginei que fosse dormir tanto...!

— Está dormindo desde cedo? — Naruto sabia que Hinata não era de dormir tanto, o que, imediatamente, lhe indicou que talvez ela não estivesse muito bem. — Você se sente bem?

— Sim... Digo, mais cedo tive um surto de exaustão e prometi a Kiba e Shino que iria para o hospital, mas decidi descansar um pouco antes... Acho que estava mais cansada do que pensava.

— Vamos agora para o hospital. Eu já passei meu relatório para o Kakashi-sensei.

— Naruto...

— Você prometeu e eu acho que é melhor, você não se sentiu bem...

— Naruto...

— Não quero que fique doente.

Enquanto falava, Naruto a puxava pela mão e falava. Hinata o acompanhava e tentava chamar sua atenção chamando seu nome, mas parecia que não surtia qualquer efeito.

— Naruto! — ela o chamou mais alto e, por fim, ele parou já à porta, a olhando. — Estou com roupas que só uso em casa. Além do mais, estou com fome. O que acha de comermos e depois irmos?

— Tem certeza...? — Ele não parecia muito certo sobre aquela decisão, mas seu estômago roncou também. Hinata acenou, confirmando e o pegou pela mão para que pudessem subir novamente. — Então eu vou tomar um banho rápido, você troca de roupa e nós vamos comer no Ichiraku!

Ela sabia que ele deveria estar sentindo falta do lugar, afinal, as saídas que eles faziam ao menos duas vezes por mês para o lugar tinham falhado por causa da missão. Não pensou duas vezes antes de confirmar e ganhou um sorriso e um selinho do marido.

Ele fez como disse, correndo para o banheiro, se livrando das roupas no caminho, mas voltou, com um sorriso sem graça no rosto e apenas de cueca, juntando as peças de roupa e levando consigo para o banheiro, onde tinha um cesto de roupas sujas. Hinata riu, pois daquela vez ele lembrou bem a tempo.

Ela se trocou, colocando uma saia longa e uma camisa meia manga, uma vestimenta muito comum para ela. Quando Naruto saiu, ainda um pouco molhado, ela estava sentada na cama e olhando para a janela. Assim como ela, ele vestiu suas roupas comuns e simplesmente passou as mãos pelo cabelo curto.

— Vamos? Estou morrendo de fome! — Ela tinha certeza que sim, por isso, acenou e se ergueu.

Mas assim que ficou de pé sua visão ficou turva e Hinata se alarmou. Aquilo, realmente, não era normal. Percebendo que a esposa não se encontrava bem, Naruto se aproximou, também alarmado, e graças a isso ele a conseguiu pegar, pois Hinata desfaleceu segundos depois.

Desesperado, ele a pegou no colo e correu com ela em seus braços até o hospital. Se culpava por não ter insistido que ela fosse ao hospital imediatamente, se culpava por ter deixado que ela chegasse àquele ponto. E estava com medo. O que será que Hinata teria? Ela era sempre tão forte...

Durante o ano que estiveram juntos ela nunca adoeceu. Ela sempre estivera cuidando dele, lhe mimando. Com esses pensamentos e desespero foi que chegou ao hospital e, para seu alívio, Sakura estava bem a vista.

— SAKURA-CHAN! — ele gritava, atraindo a atenção de todos. — HINATA NÃO ESTÁ BEM. ME AJUDA. CUIDA DELA. FAZ ELA ACORDAR!

— Cala a boca, Naruto! — Apesar de seu tom de voz ser mais elevado para que o amigo a ouvisse, Sakura tentava se conter por estar no trabalho. — Venha, vamos colocá-la em uma cama e eu a examinarei. Enquanto isso você me conta o que aconteceu, mas sem gritar.

— Eu cheguei de missão e ela estava dormindo. Hinata nunca dorme até tão tarde. — Os dois caminhavam para o quarto mais próximo, onde Sakura indicou que Naruto deitasse a mulher na cama, e assim ele fez. — Ela disse que sentiu exaustão e que viria aqui. Mas disse que queria comer primeiro e a gente ia no Ichiraku. Só que quando a gente estava saindo, ela desmaiou. O que ela tem?

— Eu só vou saber quando a examiná-la. — Sakura tentava medir a pulsação de Hinata apenas com o toque em seu pulso, mas o amigo estava tão inquieto que lhe irritava. — Sai. Anda, sai da sala. Não dá pra fazer nada com você aqui.

— Mas, Sakura-chan...

— Anda, Naruto!

De cara emburrada e muito a contra gosto, Naruto saiu da sala. Ele não achava certo ter que se afastar de Hinata apenas porque estava preocupado, mas sabia que Sakura iria dar um jeito de tirá-lo de lá de qualquer jeito. Ficou então ao lado da porta, pronto para ouvir qualquer coisa, mas, ao que parecia, Hinata ainda estava desacordada enquanto Sakura fazia todos os procedimentos.

Outra enfermeira entrou na sala e saiu de lá com alguns pequenos fracos na mão. Naruto tentou ver se o que ela carregava era mesmo sangue, quando ouviu a voz de Hinata lá dentro. Mesmo sem saber se poderia, ele entrou na sala e viu sua esposa apenas de sutiã enquanto Sakura ouvia seus pulmões.

­— Qual a parte de que era pra ficar lá fora você não entendeu? — a amiga falou, mostrando-se já sem paciência.

— Ela acordou e você não me chamou, Sakura-chan! — Naruto acusou e ignorou a fúria da amiga, se aproximando de Hinata. — Você está bem? O que houve?

Ele segurava a mão da esposa entre as suas e o seu olhar mostrava a preocupação que sentia. Tanto era que Sakura não conseguiu mais brigar com ele.

— Eu estou bem agora, Naruto-kun... — Apesar do casamento, Hinata às vezes ainda tinha o hábito de chamá-lo daquela forma carinhosa e ele parecia gostar. — Vamos deixar a Sakura terminar os exames, tudo bem?

— Eu não vou sair — ele confirmou, mas avisou.

— Que seja, só cale a boca e não fique passeando pelo quarto — a outra avisou, voltando a examinar a Uzumaki.

Naruto ficou apenas olhando e foi conforme seu desespero e preocupação passavam que ele notou como Hinata realmente estava. Ela havia se encolhido quando ele entrou e assim permanecia, afinal, estava apenas de sutiã. O rosto do Uzumaki ficou vermelho como o da mulher e ele se virou de costas, ainda mais envergonhado de sair e mostrar que havia percebido como ela estava. Causar mais desconforto em Hinata seria imperdoável.

Tentou parecer distraído com um quadro sem graça na parede, mas a visão dela na cama daquele jeito lhe pegara desprevenido. Já a havia visto, claro, mas agora estavam na frente dos outros, não era o correto.

Quando ouviu Sakura falando novamente, ele arriscou olhar e percebeu que Hinata já se vestia. Suspirou aliviado e se aproximou delas para prestar atenção.

— Você está com os pulmões perfeitos, Hinata, assim como todo o resto. Vamos esperar o resultado do exame de sangue e, caso precise, fazemos os exames mais demorados, tudo bem?

— Claro, obrigada, Sakura.

— Vou ver se o resultado já saiu, não demoro — ela avisou mais para Naruto, por ver o rosto vermelho do amigo, e saiu.

— Vai ver você estava com fome. — Apesar de estar sem graça pelo ocorrido, Naruto tentava mudar o foco.

— Sim, pode ser. Dormi demais. Mas e você, não quer ir comer?

— Não vou sem você. Fiquei muitos dias longe e quero aproveitar ao máximo o nosso tempo juntos. — Naruto falava apenas o que sentia, sem querer soar romântico ou demasiado atencioso, mas era exatamente por isso que ele soava desta forma.

Hinata pegou sua mão e apertou com carinho. Apenas pelo olhar ela o agradecia e, naquele momento, o desconforto anterior sumira, dando lugar a cumplicidade.

Apesar do silêncio que se estendeu por alguns minutos, não foi desconfortável, pelo contrário. Quando Sakura entrou, ela sentiu o peso daquele momento que interrompia no ar. Mas ela tinha um grande sorriso no rosto, o que só poderia significar para o casal que tudo estava bem, afinal.

— Tenho uma boa notícia para vocês. Naruto, senta! — E apesar de não gostar de cumprir ordens dessa forma, foi exatamente o que ele fez sem pestanejar. — Estou muito feliz em ser a pessoa que vai dar essa notícia para vocês. Hinata... Você está grávida!

A Uzumaki sentiu o coração acelerar no mesmo instante e seus olhos se encheram de lágrimas. Sua tontura e sono se deviam a um bebê. Um filho. Um filho seu e de Naruto. Não poderia estar mais feliz, não poderia ser mais feliz.

Quando ela olhou para o lado, estranhando o silêncio de Naruto, o encontrou agora fitando sua barriga ainda lisa. Mas os olhos azuis estavam marejados. Ele, assim como ela, não conseguia conter a emoção em saber que um filho seu estava chegando.

Hesitante, o loiro estendeu a mão e tocou a barriga da esposa. Naquele momento só existia os dois naquela sala. Sakura era apenas uma expectadora feliz por presenciar tal cena. Ela era a única que via o primeiro momento que Naruto percebeu que ele e sua família estavam crescendo, que um dos seus sonhos estava se tornando real.

— Um filho... — ele sussurrou e olhou para Hinata que, com um sorriso nos lábios, acenou com a cabeça em confirmação e deixou as lágrimas de emoção escorrerem por seu rosto. — Um filho! — ele disse mais alto e se levantou. Hinata se assustou, mas riu ao perceber o sorriso. Naruto caminhou até ela, do outro lado da cama, e a abraçou. — Eu vou ser pai! Obrigado, Hinata!

Com aquele agradecimento, assim como ele fizera quando ela mostrou que sentia o mesmo que ele, o mesmo amor e carinho, ele agradecia por ela estar lhe dando mais uma parte de uma família. Ele não poderia ser mais feliz.