Jonas e o Teleporte escrita por Izaias Maia


Capítulo 3
Capítulo: Três




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741565/chapter/3

 

Haviam quatro homens ali. O painel frontal de seu teleporte estava aberto, expondo uma série de fios, alguns coloridos, diversas placas de circuitos, com luzes piscando. De algumas placas saíam cabos de dados que se conectavam a pequenos computadores colocados sobre a mesa de centro. Uma pesada caixa de ferramentas jazia aberta e com seu conteúdo esparramado sobre o tapete indiano da sala. Três dos homens estavam em frente ao painel aberto do teleporte. Dois deles parafusavam uma tampa que estampava dois enormes símbolos: um deles, triangular e de fundo amarelo, era o símbolo para perigo de radioatividade; o outro, logo abaixo, de fundo branco, trazia um crânio humano desenhado sobre dois ossos longos cruzados.

O terceiro homem estava dois passos atrás, de braços cruzados, como se fiscalizando o trabalho dos outros dois.

O quarto homem no local carregava um equipamento portátil, algum tipo de detector. Cada vez que ele apontava o dispositivo para uma parede ou objeto, ouvia-se um bipe e alguns dados eram exibidos na tela do aparelho.

Na verdade Jonas não sabia afirmar que eram de fato homens. Todas as pessoas ali usavam roupas idênticas e bastante peculiares: Macacões largos, de tecido sintético, com capuz. Tinham ainda máscaras que cobriam todo o rosto, com duas lentes e um bocal com uma estrutura semelhante a um filtro de ar. Usavam luvas e botas emborrachadas e em seus ombros estava estampado o símbolo da Portal Tech.

Depois de alguns poucos segundos observando aquela confusão e tentando lembrar-se de onde conhecia o símbolo amarelo com as hélices pretas, Jonas foi notado. O homem que usava o detector de seja-lá-o-quê virou-se e sobressaltou-se ao ver Jonas ali parado.

— Olá... – disse o homem meio sem jeito, com a voz abafada pela máscara.

Os outros três viraram-se todos de uma vez, encarando Jonas pelas lentes das máscaras. Alguém deixou uma ferramenta cair ruidosamente no chão.

— Senhor Jonas! – Apressou-se um deles ao encontro do surpreso cliente, saltando sobre as ferramentas e os cabos espalhados pelo chão.

— Mas... o quê... – Jonas foi interrompido pelo homem que, desajeitado, empurrou-o para fora do apartamento fechando a porta atrás de si.

Ele retirou a máscara e puxou o capuz:

— Sou eu, Bergman! – exclamou, como quem encontrasse inesperadamente um velho amigo.

— Ah, sim... Mas o que era aquilo tudo?

— Ah, o quê? – apontou para a porta fechada do apartamento – Ah, não! É, não era nada. Apenas manutenção, procedimento padrão.

— Meu teleporte tem uma estrutura com um sinal de radioatividade? E aquele outro símbolo...

— Senhor Jonas! – Bergman deixou escapar um riso nervoso – Deixe que nós nos preocupemos com esses detalhezinhos bobos!

— A caveira significa perigo de morte...

— Olha, está tudo dentro do normal. Estamos terminando os reparos. Está tudo sob controle!

— ... E por que o teleporte usaria radiação?  

Bergman riu novamente. Um riso nervoso. O mesmo riso que Bergman deu quando sua primeira esposa o confrontou com evidências de seu caso extraconjugal, episódio que culminou em um divórcio litigioso com prejuízos tão significativos que estão sendo contabilizados até hoje. Bergman temia que este episódio terminasse com consequências tão drásticas quanto as de seu divórcio.

— Senhor Jonas! – o suor escorria pela testa do agente – Está tudo sob controle. Eu lhe asseguro. Não há motivo para pânico. Nenhum motivo. Mesmo.

— Pânico? Não estou exatamente em...

A porta abriu uma fresta e surgiu uma cabeça coberta pela máscara estranha, interrompendo o diálogo.

— Senhor... Está pronto. – e rapidamente voltou para dentro.

Bergman não conseguiu esconder seu imenso alívio.

— O teleporte? Posso ir ao trabalho?

— Claro senhor Jonas! Venha, vou acompanha-lo!

Bergman segurou-o pelo pulso com as duas mãos e começou a puxá-lo para dentro do apartamento. Foi então que Jonas sentiu-se estranho. A mesma estranheza que sentimos quando consideramos as possíveis consequências indesejadas e potencialmente fatais de uma decisão a ser tomada. Um pressentimento ruim.

Era o suor na testa de Bergman, o nervosismo em sua voz. E, principalmente as mãos frias que seguravam seu braço mais com a força de quem teme que ele fuja do que de quem o convida para entrar.

A estranheza tornou-se medo. Com um movimento rápido Jonas soltou-se de Bergman e afastou-se dele.

— Senhor Jonas...? – indagou o agente com seu sorriso nervoso.

O cliente encarou o agente de segurança e bem-estar do usuário por um instante. Sentiu-se ameaçado. Algo de ruim ia acontecer.

— Eu tenho que... Lembrei de um compromisso... – Tinha que sair dali agora.

Jonas virou-se e desceu apressadamente os degraus.

Bergman, já sem seu sorriso ensaiado, abre o zíper de seu macacão e põe a mão por dentro de seu paletó. Jonas não podia sair daquele prédio.

— Está tudo bem? – disse uma voz estranha.

Bergman tirou a mão do paletó e virou-se com seu sorriso usual. Era o vizinho da frente que surgira no corredor.

— Está tudo sob controle, senhor!

Não, não estava. Bergman sabia que estava tudo desmoronando bem à sua frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jonas e o Teleporte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.