DeH; Os Brutos escrita por P B Souza


Capítulo 6
05; Julgamento




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Ellor terminou de lavar seus braços e mãos. Secou-se nas próprias vestimentas. Olhou o reflexo no espelho e então olhou para o menino que se chamava Seyrãn.

— Vamos. — Disse então.

O menino era pouco mais novo que o próprio Ellor. Abriu a porta para o rei que saia ajeitando a coroa em sua cabeça.

Viraram no corredor da estalagem e estavam no salão aonde na mesa era servido uma refeição digna. Ainda era manhã e eles desjejuavam.

— Bom dia Senhor Yvísimono. — Ellor disse puxando para si uma cadeira.

Seyrãn se colocou a servir, tal como sua mãe havia lhe ensinado a fazer.

Letrüssio estava sentado na mesa, sozinho. Sua família já havia comido e ido embora, de volta aos quartos. Ellor queria conversar com ele e Sohrab apenas.

— Há alguma chance de eu viver?

— Não! — Ellor respondeu de imediato. — Mas não seria justo lhe matar sem explicar. Sem julgar. Aprendi isto recentemente.

No salão estavam alguns guardas de Ellor, incluindo um que se sentou ao lado dele para o desjejum. Outro apenas pegou uma malga e comeu encostado ao lado na parede.

Ao lado de Letrüssio estava Sohrab apenas.

Quando terminou de servir, Seyrãn apenas se distanciou, mas manteve-se alerta, pois se alguém pedisse algo, ele devia servir novamente.

O Rei Ellor mastigava um pedaço de pão com queijo enquanto olhava para Letrüssio, quando terminou engoliu com certa força os pedaços grandes e bebeu um copo de leite de uma só vez.

— Eu tenho acompanhado por cartas seus feitos. Achei que daria um bom Lorde, por isso a oferta em Porto Botero, mas você a recusou... Por quê?

— Já sabia que havia perdido. Render-me então seria fácil demais para você...

— Sabia que eu iria ganhar? — Ellor debruçou-se na mesa.

— Imaginava que sim, por ora. Sua vitória é como a areia que vem na sua bota. Enquanto molhada com a água do mar, pesa e parece impossível de se livrar. Mas assim que secar, dado tempo, o vento levará embora do maior ao menor dos grãos, e será como se nunca tivesse estado aqui.

— Entendo. Pretendia fugir por tempo o bastante para que os inimigos de Javargh tomassem Barri de volta, ou forçassem meu retorno para a capital, assim tirando as tropas daqui e possibilitando que vocês reassumissem o controle. Então retornaria, como Lorde, afinal, Beswor entregou o trono de Heger, são estes os nomes? — Perguntou para o homem sentado ao seu lado.

— São sim.

— Então parece que seu plano falhou, exatamente porque eu sabia que fugiria, eu sabia que os Brutos lhe escoltariam, e então vim até aqui, procurando por você! — Apontou então para Sohrab, que enrugou a testa e olhou para Letrüssio que então pareceu tão confuso quanto Sohrab estava. — Senhor Yvísimono, seus crimes são contra o reino, contra o reino de Javargh e o reino de Barri. Traiu e conspirou contra seu lorde e o irmão dele, para usurpar o trono de Porto Botero. Por suas ordens a guarda da cidade foi massacrada em um desnecessário combate e também sobre ti pesa a morte do General Ertug, o furto do tesouro real de Porto Botero e dezenas de crimes menores de tráfico e desvios. Por tais crimes eu lhe condeno a morte! A sentença sera executada ainda hoje, antes do almoço. Sua esposa, filha e sobrinho estão no andar de cima, Mihay, acompanhe o Senhor Yvísimono, por favor.

— Sim. — Mihay se levantou e foi até o outro lado da mesa. Olhou para Letrüssio que se levantou também.

— Terei direito de escrever algumas cartas?

— Quantas quiser. As lerei e decidirei se serão enviadas então. — Ellor disse olhando para Letrüssio, então olhou para Sohrab. — E agora você...

— Poderia te matar daqui antes que qualquer guarda chegasse perto...

— Majed falava tão grosso quanto você, mas ele era novo e forte. Você é velho! — Ellor rebateu vendo a expressão de surpresa no rosto de Sohrab. — Não me assusta com essa conversa. Majed me assustava, mas eu não vi nenhum corpo empalado no seu rastro, já no dele... Os Brutos parecem agora uma gangue de contrabandistas e não um grupo de mercenários. Até mesmo um rei pode, de vez em quando, deixar a justiça de lado em favor de uma vingança pessoal.

— O que aconteceu com Majed?

— Eu nasci dentro de uma caverna. — Ellor disse para Sohrab. — Eu cresci criado por uma mulher, sem saber lutar, e de onde eu venho, todos temos de lutar, os que não forem bons o bastante se tornam comida de dragão. Eu não era bom o bastante, sabia disso. Então fugi.

— Por que está me contando isso...

— Eu andei por uma terra desolada com os dragões atrás de mim, mal sabia que os dragões não eram o problema. Fora daquele mundo recluso da caverna eu encontrei pessoas no Deserto Vermelho, pessoas ruins. Encontrei Majed, Aspotiri, e sua corja. Eles me torturaram e tentaram me afogar, eu e mais um... engraçado, lembro do rosto, mas nunca consigo me lembrar do nome dele! Fugimos, mas Majed empalou o outro. Apenas eu sobrevivi. Sobrevivi o bastante para ser aprisionado novamente, agora por uma companhia de Javargh, isso foi no Mar de Terra. Fiz meu nome ali como lutador, por sorte eu diria, afinal, nunca soube lutar. Mas aprendi depressa. Dali escapei assim que pude e fugi para o Lamaçal de Julyguh aonde conheci o poder, o dinheiro, foi aonde descobri meu destino. Enriqueci com as gemas preciosas e me mudei para Javargh na casa de um lorde que eu mesmo matei. Escalei degrau por degrau no jogo de poder daquela cidade, até cair nos esgotos, literalmente, me escondi nos túneis do oásis quando fui perseguido, e de lá armei a revolução que culminou com a queda da dinastia Karsem, me casei com a mulher mais poderosa que já vi, ela domou um dragão. E ela é a Imperadora por direito do maior império do Sul. Mesmo assim, com todas essas vitórias, estamos repletos de inimigos, ao norte, ao sul, ao leste... Moogul, o Karsem foragido, os Falkognar, todos querem eu e Lyris mortos, mas antes de cuidar desses inimigos eu precisava terminar isso. Os Brutos acabam aqui, acabam hoje!

— Você matou Majed? — Sohrab olhou de canto para Ellor. — Não parece certo...

— Não o matei, mas ele esta morto, provavelmente. Ele queria o tesouro do Vulcão. Eu mostrei o caminho antes que ele empalasse o outro, ele deve ter dizimado meu povo, minha família, mas o vulcão explodiu, tudo e qualquer coisa ao redor morreu, incluindo Majed. Os Brutos, no entanto, persistem. — Ellor então parou de comer e se levantou olhando para Sohrab com algo próximo a misericórdia. — Eu aprendi tudo sobre vocês, os Oetzell, você influenciando a cabeça de Majed, o contrato de Majed com Letrüssio e a sede dele por poder, a traição e o assassinato de Ahskym para que você assumisse. O golpe de estado não muito diferente do que eu fiz em Javargh, a queda tão rápida quanto a ascensão. Foi uma aventura, não há como negar, mas acabou. Tem algum último desejo?

Sohrab se levantou então. Olhou para Ellor, cruzou a mesa e ergueu a mão para ele.

Ellor abaixou a cabeça olhando os dedos esticados de Sohrab, então olhou para o rosto do homem.

— Um mercenário vive e morre pelo ouro, eu fiz que fiz porque pensava ser esperto, era um bom plano, pensava no sucesso inevitável. Mas você... merece esse momento! — Sohrab disse por fim. — Previu cada passo, acertou cada passo. Que seus inimigos sejam mais espertos que eu, ou esta guerra nem terá graça!

Ellor então apertou a mão de Sohrab, que olhou para a porta.

— Decapitado?

— Corda. — Ellor respondeu.

Então da escada desceu Letrüssio junto de um guarda e o menino Seyrãn.

— Estão com ele. — Letrüssio disse para Ellor ao ser escoltado para fora.

Todos foram levados para debaixo de uma árvore com grossos galhos como dedos quebrados apontando ao céu. Cordas haviam sido preparadas, várias delas. Em baixo, os banquinhos aguardavam os condenados.

Mihay junto dos outros soldados de Ellor prenderam as cordas nos pescoços de Letrüssio, Sohrab, Roau, Hylog, Desaro, Zigor e Cázo.

— Eu, Ellor da casa Kognar, Rei de Javargh e conquistador do Reino de Barri, sentencio-os a morte por enforcamento. Alguém possuí últimas palavras?

Ninguém disse nada. Então um soldado foi ao banco de Hylog e puxou-lhe dos pés. O corpo começou a se debater. O próximo foi de Cázo, que estralou o pescoço de uma só vez com o tranco. Em seguida puxaram o banco dos pés de Desaro que gritou algo, mas a voz foi interrompida pela corda no pescoço e o grito tornou-se um indiscernível grunhido.

Quando foram puxar o banco dos pés de Letrüssio ele olhou para Ellor com olhos de ódio.

— É o fim dos Brutos, Rei Ellor, mas não é o fim dos Yvísimono. Lembre-se, e tema!

Ellor olhou fixamente para Letrüssio se debater em seguida, olhou enquanto todos eram enforcados, e de todos, Sohrab foi o único que sorriu. De alguma forma a vitória agradara Ellor, mas quando olhava para Sohrab, sentia-se derrotado.

Quando os corpos já não se mexiam, Ellor olhou para Mihay.

— A viúva e as duas crianças devem ser mandadas para Javargh. — Ellor disse. — Quanto aos corpos, enterrem. Qualquer coisa de valor dos mortos deve ser dada ao dono da estalagem. Retornarei para Barri. Ainda precisamos lidar com Oldrich.

— Sim. — Mihay anuiu. — Será feito.

— E Mihay... — Ellor olhou ao redor, então sorriu para Mihay, pensou em tanto, mas absteve-se. — Nada!

Virou, montou em seu palafrém, e retornou para a guerra que estava apenas no começo.


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