Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 9
Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Quase que não consigo publicar ainda hoje, mas consegui!
Semana de provas está quase chegando pra me derrubar, vamos torcer pra que isso não aconteça.
Boa leitura!



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Fitei Evan tentando achar uma desculpa que funcionasse, mas já sabia que não tinha jeito. Eu fiz um acordo — excelente, por sinal —, mas o preço que eu tinha que pagar ainda era caro.

Suspirei desistindo. 

Teria que mentir, eu não queria fazer isso, mas não tinha escolha. Pegando o celular em mãos disquei o número de Kelly. Após dois toques, ela atendeu.

— Sarah?

— Preciso de um favor — pedi encarando a origem de todos os meus problemas; seus olhos denunciavam confusão, ele não sabia o que eu estava fazendo. — Preciso que me cubra hoje. Não vou poder ir para casa e preciso que diga ao meu pai que vou passar a noite aí.

— Sem problemas, pode vir a hora que quiser. Hoje Lana não vai vir aqui e Kyle...

Fechei os olhos buscando paciência.

— Não, Kelly — cortei-a  — preciso que você diga ao meu pai que eu vou dormir aí, mas eu não vou.

Ela ficou muda por alguns minutos. 

— Ah, sim... Espera... Você quer o quê?! — Berrou tão alto que quase explodiu meus tímpanos. — Além de mentir para o Sr. Wright você ainda vai dormir fora de casa em um lugar que não seja aqui?! Posso saber pelo menos onde pretende passar a noite?

Isso estava ficando cada vez pior, mas mentir para o meu pai já era muito para eu fazer, mentir para Kelly também seria passar da minha cota de mentiras para as pessoas.

— Digamos que eu vá fazer umas horas extras no trabalho — respondi acidamente, ainda fitando o perpetrador de tudo aquilo. Não acrescentei o pequeno detalhe de que não estaria ganhando a mais por isso porque aí sim ela perderia a cabeça em mil ideia malucas. Nenhuma verdadeira, obviamente,

Evan parecia estar se divertindo.

Revirei os olhos, Idiota.

— Você... Aonde?!! — Gritou.

Tive que afastar o celular do ouvido. De novo.

— Vai me ajudar ou não, Kelly? — Eu estava começando a ficar impaciente.

Conseguia imaginá-la fechando os olhos e tentando controlar a voz.

— Espero que saiba o que está fazendo e que amanhã não saia na capa dos jornais a manchete de uma professora particular morta em apartamento luxuoso na Upper East Side.

Revirei os olhos, ela sempre conseguia se superar no quesito drama.

— Como se você mesma não tivesse vindo aqui no meio da noite... — Evan parecia confuso de novo. Ela resmungou alguma coisa do outro lado, mas não parecia convencida. Tive que jogar sujo: — Não me faça apelar para minha carta na manga, Kels.

— Ah, tá, sei... Como se tivesse algo do tipo...

— Jonathan — respondi apenas, sabia que seria o suficiente para ela entender.

Evan levantou uma sobrancelha.

Ignorei-o.

— Você é uma peste, Sarah!

Sorri vitoriosa.

— Peste ou não, você ainda me deve um favor. Vou ligar para o meu pai e colocá-lo na linha.

O telefone mal deu um toque, meu pai já havia atendido.

— Oi, pai.

Evan ainda em pé a minha frente pareceu ficar mais atento ao que dizia.

— Sr. Wright — Kelly chamou a atenção dele.

— Sarah? Kelly? Vocês estão juntas?

Cada mentira doía meu coração, pois eu sentia que essa não seria a última. Sentia que mais algumas viriam no caminho.

— Sim, pai. Vou passar à noite na casa dela. Meu turno nos Roberts já acabou há algum tempo e... decidi vir para cá assistir a alguns

filmes e... é... fazer coisas de garotas.

Isso só está ficando pior! Desde quando eu falo em fazer coisas de garota?

Antes que ele percebesse a mentira óbvia, Kelly foi em meu socorro:

— Não se preocupe, Sr. Wright. Sabe que Sassy sempre está em boas mãos aqui em casa.

Senti vontade de beliscá-la pelo atrevimento de enfatizar o aqui. Porém, ela realmente havia soado convincente. Meu pai sempre sabia quando eu mentia, mas tendo Kelly como suporte era uma ajuda a mais a convencê-lo da história.

— Tudo bem, meninas — cedeu. Ele tinha acreditado; soltei a respiração que até então não sabia que estava segurando. — Tomem cuidado e divirtam-se. Não hesite em me ligar se acontecer qualquer coisa, Sarah.

Eu sabia que ele não gostava quando eu dormia fora de casa, sempre se sentia muito sozinho. Era por isso que eu evitava ficar na casa de Kelly.

Depois que ele desligou, ela acrescentou:

— Você vai me explicar tudo depois, entendeu?

— Boa noite, Kels — despedi-me já desligando.

Não queria prometer algo que provavelmente não cumpriria.

Encarei o culpado disso tudo tentando transmitir toda a irritação que sentia no momento.

— É só uma noite fora de casa — desdenhou. — Você já tem quanto? 30 anos? E ainda precisa da permissão do pai para ficar fora?

Não consegui responder nada por um tempo, de tão perplexa. Não sabia se era mais pelo fato de achar que eu era tão velha ou pela total falta de compreensão da palavra "respeito" com os pais.

— Antes de mais nada, eu tenho 23 anos — falei entre dentes. — Segundo, eu não pedi permissão. Eu avisei que estaria fora e isso se chama respeito por uma autoridade maior que são os pais. Terceiro, ainda que tivesse que pedir permissão, eu não veria problema algum.

Antes que ele pudesse responder, ouvimos a porta da frente se abrir e alguns passos se aproximarem. Um surpreso Jonathan apareceu através do corredor.

— Bright? O que faz aqui ainda? — Perguntou. Quando chegou mais perto, viu que Evan estava à minha frente. — Ev? Saiu da caverna finalmente? — Ele encarava a nós dois maravilhado. Um sorriso malicioso começou a dançar nos lábios. — Milagres realmente acontecem.

Evan virou-se para ir em direção ao quarto, mas eu o interrompi. 

— Você aí, pode parando. Nós fizemos um acordo e se não estou enganada, nenhuma das cinco horas acordadas foram cumpridas hoje. A partir de agora você tem que passar o tempo estipulado aqui fora e como já são mais de nove horas da noite, o que não cumprir hoje vai ter que compensar amanhã.

Ele trincou os dentes e me encarou com raiva.

— Quem você pensa...

— Jonathan, chame um táxi para mim, por favor — cortei-o, estava começando a ficar boa nesse negócio de drama.

Finalmente ser amiga de Kelly por todos aqueles anos aturando os seus shows estava me servindo de alguma coisa. Jonathan confuso alternava os olhos de mim para o irmão.

Ainda me fulminando com os olhos, Evan disse:

— Avise Carla para colocar mesa para três.

— Quatro — corrigi-o, ele levantou uma sobrancelha. — Ela também vai jantar conosco.

— Não mesmo.

— Sim mesmo.

— Por quê?

Dei de ombros.

— Ela é minha amiga.

— Ela é minha empregada — enfatizou a última palavra.

— Ela é minha amiga — repeti.

Evan cerrou os punhos ao lado do corpo como tantas vezes o vira fazer, mas sabia que não era por medo. Só estava dando o showzinho de garoto mimado. Eu sabia que era forçar um pouco a barra fazê-lo interagir com tantas pessoas ao mesmo tempo depois de passar anos sozinho enfiado no quarto, mas a pirraça que estava fazendo não era por causa da doença e sim, por arrogância.

E se tinha algo que eu detestava tanto quanto a mentira era a arrogância.

— Eu posso pelo menos tomar um banho? Ou vai querer convidar todo o prédio para assistir?

Assenti com desdém.

Assim que ele saiu para o banheiro, Jonathan sentou no sofá afrouxando a gravata e olhando-me ludicamente.

— Sarah, você não para de me surpreender — sorri tentando não deixar o ego me dominar. Eu realmente havia feito algo. — Como fez para tirá-lo de dentro daquele quarto?

Dei de ombros.

— Eu não fiz nada. Ele saiu sozinho.

Ele me fitou estupefato e então sorriu como se soubesse de algo que eu não sabia.

— Me conte o seu segredo para domá-lo. Posso precisar disso futuramente.

Lembrei-me de algo importante.

— Te conto se me contar o porquê de ter tirado foto naquele dia que Evan caiu em cima de mim.

Ele encostou no sofá e colocou o braço no recosto.

— Algum dia eu posso precisar para conseguir o que quero, como um coringa — traduzindo: chantagem. Acho que era o tipo de coisa entre irmãos que eu nunca iria entender. Disse então: — Sua vez de me responder.

Não soube como minimizar o que tinha para falar, então deixei a bomba cair assim mesmo. Por essa tinha certeza que ele não estava esperando.

— Ele me pediu para passar a noite aqui... — parecia que os olhos iam explodir para fora da cabeça dele. — O quê?

— ... E eu disse que isso ia custá-lo cinco horas fora do quarto. Todo dia.

A expressão que fez me deu vontade de rir. Parecia que eu havia pintado a cabeça de vermelho e colocado uma melancia no corpo enquanto dançava hip hop sentada.

— Ele concordou com isso?

Assenti. 

Sem aviso prévio ele explodiu em uma gargalhada.  Sobressaltei-me com a súbita reação, pois não estava esperando. Ele segurava a barrigada de tanto rir e vi uma lágrima despontar em um olho.

— Não tem como vocês fazerem mais barulho? O primeiro andar ainda não deve ter ouvido — apareceu Evan ainda com o cabelo molhado. 

Ele usava uma bermuda poliéster azul marinho com uma camiseta branca dando um ar de surfista. Ele parecia um pouco magro para o porte físico que tinha, mas nada tão grave. Como ele conseguiu tantos músculos no braço se já estava há três anos enfurnado naquele quarto? Aquilo era totalmente irracional. A camisa de tecido fino e os cabelos cor de areia ressaltavam toda a sua figura.

Engoli em seco e desviei os olhos apenas para achar Jonathan me encarando de forma curiosa.

Droga.

Pigarreei tentando colocar os pensamentos em ordem e agir normalmente.

— O humor dele é sempre assim? — Tentei demonstrar indiferença.

— Ultimamente tem estado pior...

Ignorando a nossa conversa, Evan reclamou:

— Não acha que cinco horas é demais? O que eu vou ficar fazendo aqui fora esse tempo todo?

Respirei fundo. 

— Não acho, não — rebati. — Pouco me importa o que vai fazer com o seu tempo. Só não está permitido entrar no quarto até que tenha cumprido o horário.

Ele estava seriamente me irritando e parecia que sentia o mesmo que eu porque uma aura assassina emanava dele.

Jonathan levantou e começou a empurrar minha cadeira para a cozinha. 

— O que está fazendo?

— Vamos comer! Trabalhei o dia todo e estou muito cansado e faminto para começar uma discussão.

Resmunguei comigo mesma. Ambos os irmãos eram iguais, achavam que o queriam era absoluto e tinha que ser do jeito deles.

Ainda imersa em a minha rabugice, fui erguida no ar por alguns segundos apenas para ser colocada na cadeira da mesa de jantar imediatamente.

— O que pensa que está fazendo? — Reclamei com Jonathan.

Ele rolou a minha LT para a sala enquanto eu esperava na cozinha com um Evan claramente surpreso e... enfurecido? Assumi que fosse por causa da discussão que tivemos.

— Essa sua cadeira velha vai me dar indigestão — respondeu Jonathan quando entrou na cozinha de novo. Ele aproximou-se de minha orelha e sussurrou para que só eu pudesse ouvi-lo: — Só estou retribuindo o favor do outro dia.

Ele se referia ao dia em que fomos ao pub? Eu não sabia o que tinha acontecido entre Kelly e ele depois que saíram, pois ela sempre se esquivava e mudava de assunto.

Sorri com as possibilidades. Então tudo estava bem entre eles.

Evan sentou-se com um estrondo na cadeira à minha frente. 

Irônico.

Até uns dias atrás não queria ver ninguém, nem sair do quarto, e ali estava se comportando como uma criança que queria atenção. Francamente, não tinha como entendê-lo.

Apesar da minha insistência para que Carla jantasse conosco, ela se negou terminantemente. Como não queria forçá-la, nem fazê-la se sentir desconfortável, cedi. Eu estava inconformada, principalmente pelo sorrisinho irritante de vitória que Evan mostrou. Tive vontade de pegar o garfo que comia e...

Foco, Sarah, estapeei-me mentalmente.

Carla saiu pouco depois de começarmos a comer, pois dissera que havia ocorrido uma emergência. Perguntei para ela o que tinha acontecido, mas ela tentou disfarçar dizendo que não era para me preocupar, pois era coisa de família. Senti orgulho de Jonathan quando ele prontamente chamou um táxi para ela, dando-lhe o dinheiro da corrida para que chegasse a seu destino o mais rápido possível.

Apesar de tudo o que aconteceu, o jantar foi tranquilo. Fiz uma nota mental de que sempre poderia contar com Jonathan para acalmar meus nervos, ele conseguiu conduzir uma conversa interessante e divertida que me fazia gargalhar ora ou outra enquanto Evan parecia permanentemente de mal-humor. Não falou uma palavra durante todo o tempo em que estivemos comendo.

Mesmo eu insistindo muito para que deixasse eu lavar a louça, da mesma forma irritante de antes, Jonathan me pegou no colo e me colocou no sofá. Resmunguei sobre saber chegar sozinha aonde queria, mas ele apenas sorriu e voltou para a cozinha.

Evan sentou-se na parte mais afastada do sofá ainda com uma carranca enorme. Tentei ignorá-lo para não estragar o bom-humor que o irmão dele me ajudara a recuperar. Voltei minha atenção para a enorme TV, que me seduzia implorando para ligá-la. Não conseguia deixar de imaginar como seria assistir Frankenstein nela. 

— Tenho medo de que vá cair da parede se continuar encarando por mais tempo, liga isso logo — disse asperamente.

Suspirei. 

Ele era bom em testar minha paciência.

— Não estou na minha casa — sussurrei, não tive a intenção de fazê-lo ouvir.

Ele levantou para pegar o controle remoto, que mais parecia um tablet, e após ligar a televisão jogou-o em minha direção. Depois caiu onde estava sentado antes. Quase deixei o controle escapar de minha mãos, meu coração batendo rápido. Ele era maluco? Se aquilo quebrasse, quanto deveria custar? Não tinha um botão sequer nele. Havia apenas uma tela na qual eu podia apertar alguns comandos. Eu não sabia como mexer naquele troço, tudo parecia complicado e tinha medo de desconfigurar alguma coisa. Se fosse meu, eu mexeria em tudo até entender como funcionava, mas como não era, não quis arriscar.

Ouvi um riso zombeteiro escapar de seus lábios. Senti meu rosto ficar quente de raiva. Eu estava pronta para rebater quando ele levantou do lugar em que estava e sentou-se ao meu lado pegando o controle da minha mão e encarou a TV. 

— O que quer assistir? — Sua voz estava grave e rouca.

Por um longo segundo eu não soube o que responder. Aquele perfume... Eu havia sentido no dia em que ele caíra sobre mim, não parecia ser colônia, pois era um pouco fraco e ao mesmo tempo tão masculino.

Minha mente ficou em branco por mais tempo do que o normal, pois ele desviou os olhos da TV para pousá-los em mim. Eu tinha ficado quieta tempo demais para disfarçar.

— Qualquer coisa serve — murmurei voltando a minha atenção para frente.

Pelo canto dos olhos pude vê-lo sorrir maliciosamente por alguma coisa.

Evan escolheu um canal de filme de comédia. Nenhum de nós dois rimos com nenhuma piada, eu estava um pouco tensa demais para prestar atenção por muito tempo no que estavam falando. Mal pude apreciar a oportunidade única que tive de assistir alguma coisa naquela televisão monstruosa. 

Não sabia ao certo quanto tempo havia se passado. Jonathan realmente estava demorando para lavar uma louça de apenas três pessoas. Ele ainda não havia passado pela sala e não sabia o que tanto fazia naquela cozinha.

Senti meus olhos começarem a ceder, tentava me manter acordada. Minhas piscadas estavam ficando mais e mais longas, mas não conseguia arranjar uma posição confortável. Até que fechei os olhos por uns segundos a mais e senti minha cabeça repousar em algo firme no qual se encaixou perfeitamente. Um doce calor me envolveu, e senti meu corpo e mente cederam. Estava muito cansada para abrir os olhos e verificar o que estava me relaxando, apenas deixei um forte perfume masculino inundar minha cabeça tornando todos os meus pensamentos em fumaça.


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Notas finais do capítulo

Outro capítulo com o qual me diverti muito.
Parece que muitas faíscas estão saindo dessa relação entre Sarah e Evan! hahahha
Mas se em um relacionamento um não irritar o outro, qual é a graça?
Espero que tenham gostado!
Boa semana!



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