Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 19
Impremeditável


Notas iniciais do capítulo

*Sai detrás do sofá cautelosamente* Oi?
Pra compensar todos esse tempo sem postar esse cáp tá enooooorme e bombástico.
O cáp 20 vai ser o último da parte dois dessa história e então entraremos na terceira parte e reta final.
A foto que eu coloquei é só pra ilustrar como é o vestido que as garotas vão usar, nem preciso dizer que não é pra levar as modelos ao pé da letra já que a mulher que representa o vestido de Sarah está em pé e a nossa Sarinha, bem, não.
Boa leitura!



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Minhas mãos brincavam com o convite enquanto meus olhos se mantinham fixos do lado de fora da janela. O táxi no qual estava dirigia um tanto quanto rápido demais para meu nível de conforto, mas minha mente estava em uma velocidade tão superior que eu já estava parando de me importar. Meus pensamentos voltavam e rodavam inevitavelmente toda a cena que se passara no escritório da Sra. Kendrick.

Eu lia e relia a data como se estivesse escrito em grego e eu não pudesse entender.

— 27 de agosto é daqui a três semanas — constatei algo que já era óbvio.

A Sra. Roberts se remexeu na cadeira um pouco desconfortável, sabia que era à ela que meu tom discrédulo se dirigia.

— Eu queria ter tido mais tempo para avisá-la, Sarah — disse a Sra. Kendrick, amável como sempre. — Porém, devido a alguns contratempos que não convém agora mencioná-los, a Sra. Roberts e eu decidimos de última hora não deixar passar essa tradição anual tão esperada e ansiada pelas crianças por causa de problemas que nem mesmo as concernem.

Eu não conseguia desgrudar os olhos da caligrafia elegante de Jonathan. 

— Eu entendo que as crianças deveriam ser as últimas a pagar por causa de nossos... Problemas — comecei, talvez mais nervosa do que queria aparentar, — mas elas não merecem ser expostas ao ridículo por isso também! Pouco tempo até a Confraternização significa pouco tempo para ensaio e humilhação para as próprias crianças! Sra. Kendrick, me admira a senhora ter aceitado isso sem me consultar! A senhora mais do que ninguém sabe que eu estou trabalhando no momento e que meu tempo para o ensaio é ainda mais reduzido! 

Eu sabia que estava sendo dura, mas precisava deixar claro o quão impossível seria para mim dar conta de tudo sozinha.

Todo ano as crianças participavam da Confraternização da Roberts Vermont Coporations, todas juntas, como um lindo e afinado coral para finalizar o evento. Algumas crianças, as que tinham algum talento artístico como tocar instrumentos, cantar e recitar poesias eram o entretenimento durante a solenidade. Eu mesma presenciei uma menina, Jane, ter sido escolhida por um presidente de uma gravadora famosa ao ouvi-la cantar e tocar violão em uma apresentação solo na Nona Confraternização. Era uma oportunidade única para arrecadar fundos para o Orfanato e para apresentar o talento das crianças a muitas pessoas importantes no mundo da arte e da música. 

Eu, tanto quanto a Sra. Kendrick, queria ajudar as crianças o máximo e era por isso que eu as visitava quinzenalmente para dar aulas de artesanato e ensinar alguns instrumentos, sendo a flauta doce a mais comum. Algumas vezes até mesmo de literatura e pintura. Era um sábado inteiro que eu ficava no orfanato para cumprir essas tarefas e apesar de chegar em casa exausta no final do dia, era sempre  revigorante para mim poder fazer isso. Esses encontros se intensificavam dois meses antes Confraternização que era sempre em agosto.

Três meses atrás, entretanto, a Sra. Kendrick havia me confirmado e reconfirmado cinco vezes de que esse ano não teríamos a Confraternização devido a razões além do seu escopo.

Aparentemente o "escopo" dela era a Sra. Roberts e a mesma deu o aval para que tudo corresse como se nada tivesse acontecido.

— Srta. Wright — Evelyn Roberts estava visivelmente incomodada, não parecia mais feliz do que eu com toda a situação. — Eu entendo que seja tudo muito abrupto e que perfeição requer seu devido tempo. Nós vamos entender se não quiser ensaiar as crianças por medo de elas mesmas sofrerem qualquer agravo, mas... — Ela trocou um olhar breve com a Sra. Kendrick, mas não passou despercebido por mim. —  Quando eu perguntara a Vilma se conhecia alguém que pudesse me indicar para dar aulas a Evan e ela me indicou você eu não tinha ideia de que era a mesma pessoa que ensaiava as crianças para a Confraternização. Sendo a anfitriã do evento, me sinto terrivelmente mal por nunca ter te procurado para dizer o quanto o seu trabalho todos esses anos tem sido mais do que perfeito.

A Sra. Kendrick contornou a mesa e ajoelhou à minha frente de forma elegante, o que parecia impossível com aquela saia justa que estava usando.

— Querida, não há ninguém que essas crianças amem mais do que você — meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu consegui contê-las. Ela sorriu ternamente e segurou meu rosto com as mãos. — Uma coisa eu sei e é que se tem alguém que é capaz de fazer essa tarefa quase impossível de acontecer, esse alguém é você.

Eu não estava prestes a chorar pelo o que elas falaram. Bom, em parte, sim, mas era como se toda a pressão que eu estava sentindo dos últimos dias tivesse caído sobre mim ali mesmo. Mesmo assim, Evan ainda conseguia ser o culpado pela maior parte da minha dor.

Suspirei pela milésima vez pensando em como eu iria dar conta de todo o ensaio mais o meu trabalho com Evan. A Sra. Roberts sabia que seria sobrehumano para mim trabalhar e ensaiar com as crianças também diariamente, por isso ela contratou uma equipe inteira para me ajudar com os ensaios. Ela colocou profissionais capacitados como meus subordinados! Eles teriam que seguir expressamente todas as minhas ordens. 

Ela também havia decidido que durantes essas três semanas de preparo eu estaria suspensa de minhas atividades com Evan três vezes na semana. Ou seja, eu o veria apenas duas vezes a cada sete dias. O mais incrível era que eu deveria estar muito feliz de poder ficar longe daquela arrogância andante, mas o fato era que eu não estava nem um pingo feliz.

Não saber como lidar com tudo o que tinha que fazer em apenas 21 dias também estava me comendo por dentro.

Foi quando eu estava quase chegando em casa que uma ideia me ocorreu. Mandei mensagem para Kelly pedindo o contato de Lana, talvez essa também fosse uma ótima oportunidade para ela se destacar. 

Naquela noite conversei horas a fio com Lana discutindo ideias para a Confraternização e como organizar as crianças para terem disciplina. Ela tinha feito um curso extra durante a faculdade relacionado ao treinamento de crianças para o palco, ela não só sabia dirigir uma peça com crianças como também entendia um pouco da psicologia infantil para lidar com o medo de enfrentar o público. Em todos os cinco anos em que eu havia participado daquele grande evento sempre havia o caso de uma ou duas crianças talentosas que não se apresentavam por estarem muito nervosas, bem como erros durante apresentação.

Alguma coisa me dizia que eu poderia muito bem ter pedido a Sra. Roberts para contratar alguém que pudesse fazer esse trabalho, mas ter alguém conhecido como Lana perto de mim durante toda aquela loucura poderia me ajudar a ficar mais tranquila.

Meu pai, ao contrário do que eu havia imaginado, ficara muito feliz por eu ter sido considerada tão importante a ponto de ter me tornado "chefe" de uma equipe profissional. A visão dele sobre a Sra. Roberts mudou da água para o vinho quando soube que fora ela quem arranjara tudo, e a partir de então, sempre que tinha oportunidade ele tecia elogios a ela. A imagem de dondoca que tinha foi totalmente esquecida.

*******

Os dias que se seguiram foram muito piores do que eu imaginava. Eu chegava em casa um caco e acordava pior ainda. A parte irônica da situação era que eu fazia tudo sentada.

Meu pai estava dividido entre me dar bronca ou resmungar. Ele não estava feliz que de que tudo aquilo estava me consumindo, mas parecia orgulhoso de como eu estava lidando com a situação. Talvez mais orgulhoso de que finalmente minha vida tenha deixado de ser tão monótona por causa da minha condição física e tenha se tornado tão agitada quanto como a de uma pessoa da minha idade.

Meu tempo com Evan havia sido encurtado para apenas duas horas por encontro e por mais que fosse humanamente impossível repassar todo o conteúdo com tão pouco tempo, com ele isso não chegava nem mesmo a ser difícil. Não importava a matéria ou a dificuldade, ele já sabia tudo e resolvia os exercícios com uma expressão de tédio no rosto. Cada dia mais eu percebia o quão inútil eram as minhas visitas àquele apartamento e o quanto Evan não precisara de mim. Nunca precisou.

Nossa relação ainda estava estranha desde o dia em que ele havia me beijado. Eu ainda não o havia perdoado, mas ele não se comportava como se estivesse arrependido.

Alguns dias antes da Confraternização, eu já estava no meu limite de exaustão. Certa tarde eu havia saído do orfanto logo após o almoço me sentindo mole e um pouco febril. Por precaução eu havia tomado um comprimido de dipirona que a Sra. Kendrick me dera, mas uma hora e meia havia se passado e eu ainda não sentia o remédio fazer efeito.

Evan e eu estávamos sentados na mesa da cozinha, ele resolvia alguns exercícios de física que eu passara para ele. Se eu tivesse sorte, ele demoraria apenas vinte minutos para resolver aquelas vinte e sete questões. Estava me sentindo tentada a usar esses minutos para benefício próprio e descansar a cabeça na mesa, mas não quis demonstrar qualquer sinal de fraqueza perto dele. Eu ainda estava magoada pelo que fez e disse, por isso meu orgulho estava em cem por cento. 

Porém, meus olhos estavam ficando cada vez mais pesados e minha visão começou a desfocar. Pisquei fortemente algumas vezes tentando me manter consciente. Tomei um copo inteiro de café que Carla fizera, mas não estava surtindo efeito. Eu não conseguia ver mais nada além de borrões. Meus ouvidos quase não captavam nenhum som.

— Sarah? — A voz de Evan soava distante.

Eu tentei responder, mas a minha voz não saia.

— Sarah! — O tom parecia desesperado, mas o volume era bem baixo. 

Não estava mais conseguindo me manter consciente e aos poucos fui cedendo a escuridão. Antes de perder total ciência da realidade, senti meu corpo se tornar leve como uma pluma e ser circundado por algo firme e forte.

Quando abri os olhos um sentimento de vigor e renovo lavou todo o meu corpo. Eu sentia como se tivesse recuperado todas as minhas forças, não somente física, mas mentalmente também. 

Tudo estava quase que completamente escuro à minha volta, apenas uma luz fraca vinda da porta entre-aberta do escritório permitindo me permitia olhar um pouco à minha volta. Era óbvio que eu estava na sala de estar do apartamento. Por algum motivo eu estava no sofá de couro preto macio e havia algo mais... Alguém mais.

Senti um laço forte me segurar no lugar enquanto meu peito esmagava-se a uma superfície bem definida. As minhas costas estavam pressionadas contra o recosto do sofá e toda a frente do meu corpo estava impossivelmente próxima Evan. Segurei a respiração por alguns segundos ao ver o largo peito dele subindo e descendo à minha frente. A sua perna direita estava sobre as minhas, os seus braços envolviam a minha cintura e costas em um aperto inquebrável. Enquanto que seu queixo descansava sobre o topo da minha cabeça.

Tentei me mover para sair dos seus braços, mas minhas ações tiveram o efeito oposto, pois durante o sono ele me trouxe para ainda mais próximo de si.

— Evan — sussurrei tentando acordá-lo. Ele se moveu um pouco, mas voltou a uma posição confortável. Chamei um pouco mais alto: — Evan!

Ele abriu os olhos de repente me assustando, voltou a atenção para mim e pôs a mão no meu rosto. Quando seus olhos focaram em mim ele respirou aliviado.

— Sarah, está tudo bem? Como se sente? 

Eu fiquei feliz que quase tudo estava escuro, pois sentia todo o sangue do meu corpo se concentrar onde a mão dele estava tocando me fazendo ruborizar.

— Eu estou bem. O que aconteceu?

Ele suspirou, parecia aliviado por algum motivo.

— Você desmaiou na cozinha — disse, seus olhos ainda eram aquelas avelãs que pareciam me despir de tão intensas. — Eu não sabia o que fazer na hora e fiquei desesperado. O médico disse que foi apenas fadiga, algumas horas de sono ininterrupto e você melhoraria.

Fiquei desconcertada pelo que ele disse.

— Você chamou... Um médico? — Perguntei hesitante.

— É claro que eu chamei um médico! Você estava desacordada na cozinha e mal respirava, o que queria que eu tivesse feito?

— Você falou com um médico? — Perguntei ignorando totalmente o que ele dissera.

Evan respirou fundo e me encarou por alguns segundos em silêncio, finalmente entendendo o que eu queria dizer.

Ele falou pessoalmente com outra pessoa? E a antropofobia?

— Eu pensei que fosse algo grave, que... — Senti sua mão que estava nas minhas costas se fechar em punho segurando a minha blusa no processo. — E se você não acordasse?

Desviei o olhar sem ter qualquer força para sustentar o dele. Por que ele estava dizendo tudo aquilo? Já não tinha deixado bem claro que não sentia nada por mim? Que era eu a única interessada ali, e interessada apenas no dinheiro dele? De certa forma eu estava feliz que ele tivesse tomado a iniciativa de falar com outra pessoa e de que tinha sido por minha causa, mas ele havia errado feio comigo e até que se desculpasse eu não poderia agir como se nada tivesse acontecido.

Esse pensamento me deu novas forças e tentei sair mais um vez do seu enlace.

— Mas eu estou bem, vê? Agora me deixe sair. Eu preciso voltar para casa. — Ele apenas me fitava enquanto todos os meus esforços para nos separar eram inúteis. 

Eu estava ficando cada vez mais irritada. Irritada porque ele não me ouvia e porque no fundo eu não queria ter que sair dos braços dele. 

— Evan! — Exclamei frustada.

— Sarah, eu... — Por um segundo eu achei que ele fosse pedir desculpas, que o que havia dito sobre eu dar o golpe do baú foi dito no calor do momento enquanto relembrava coisas dolorosas, que o beijo que tivemos significava tanto para ele quanto para mim... mas ele não disse mais nada.

E isso para mim dizia tudo.


*******

Já fazia seis dias desde o dia em que desmaiara de cansaço no apartamento deles e desde então eu não voltara lá. A Sra. Roberts havia me liberado de ter que ir trabalhar nos dias que precediam a Confraternização.

Trabalho, pensei com sarcasmo. Eu nunca havia considerado um trabalho me encontrar com Evan.

E então chegou o dia tão esperado... que começou extremamente agitado. As meninas haviam dormido na minha casa na noite anterior, mas apenas Lana e eu acordamos às cinco da manhã e fomos para o orfanato para fazermos um ensaio geral com as crianças. Logo após o almoço fizemos uma grande roda com todos e falamos informalmente sobre o nervosismo, sobre dar o melhor de si e não entrar em pânico se fizessem algo errado na hora. 

O sorriso das crianças e o abraço de cada uma delas compensou todas as horas perdidas de sono e todo o cansaço que estava sentindo.

Lutar pelas crianças sempre vale a pena.

Isso foi algo que eu aprendi da forma mais bela possível.

Suspirei enquanto Lana tentava ajeitar meu cabelo. Até que a louca da minha amiga começou a colocar mais pó na minha cara.

— Kelly, para! — Exclamei exasperada.

Já era a terceira vez em que ela insistia em retocar a minha maquiagem enquanto esperávamos a limousine.

Eu havia dito a Sra. Roberts que não seria necessário me buscar, mas tanto ela quanto Jonathan não me deixaram escolha. Ele havia feito questão de enviar um motorista particular em nada mais nada menos do que uma limousine. Apesar de ter ficado um pouco incomodada com isso devido a todo o dinhiero que ele estava gastando com a gente — primeiro foram os vestidos e sapatos e então a limousine —, eu tinha que admitir que tudo parecia bom demais para ser verdade. Ao contrário de mim, desde o início Kelly estava mais do que excitada com tudo. Apesar de ser tão pobre quanto eu, ela se comportava como se tivesse nascido para ser rica e mimada, e talvez seja exatamente isso que aconteça agora que as coisas parecem estar finalmente caminhando bem para ela e Jonathan.

Ouvimos a campainha tocar e nos preparamos para sair. 

— Droga! A câmera! — Kelly exclamou e correu para o meu quarto que nem louca atrás da sua câmera fotográfica, ela tinha dito que seria a minha paparazzi.

— Quando foi que a Sardinha deixou de ser a minha menina para se tornar uma mulher tão bela? — Meu pai disse se ajoelhando à minha frente. 

Seus olhos estavam marejados e cheios de emoção.

— Pai, é só uma festa. 

— Mas você nunca se arruma pra sair — reclamou apertando a minha bochecha. — Você tem um espírto de velha tão chato que seu pai nem precisa dizer pra tomar cuidado e se comportar.

— Pai! — Protestei, mas acabamos por rir da situação.

Mas eu sabia que ele estava certo. 

Era verdade também que eu nunca me preocupava em me arrumar para sair, mas eu tinha que admitir que o vestido vinho que as meninas haviam escolhido para mim era de fato deslumbrante. Era frente única com as costas totalmente aberta, com certeza a roupa mais ousada que eu jamais havia vestido na vida.

Kelly faltava brilhar no vestido azul royal de cetim que tinha um decote muito aberto na minha opinião, mas que na dela ela estava perfeito. Lana usava um vestido parecido com o meu, exceto que era rosa bem claro e mais folgado no torso enquanto que o meu se ajustava perfeitamente ao tórax.

Eu me sentia linda e essa era uma sensação que fazia anos eu não sabia como era. Precisava agradecer a Jonathan por ter nos emprestado seu cartão de crédito sem limites.

Um chauffeur nos esperava do lado de fora em frente ao carro. Bom, era um insulto chamar aquilo de carro. Eu não conhecia marca de automóveis, mas sabia só de dar uma olhada que aquele dali valia mais do que a minha casa e tudo o que tinha dentro. 

 Lana e Kelly davam gritinhos sobre isso e aquilo que viam enquanto eu apenas observava meu pai dar um sermão sem fim no coitado do homem sobre cuidar de mim e das meninas, o que me fez ter muita pena dele. Foi quando finalmente saímos da frente da minha casa e pegamos a estrada que eu me permiti observar melhor o interior da limousine. Deixei meus olhos vagarem pelo estofado de couro e pela pequena cabine que as meninas já haviam aberto para bisbilhotar. Outro gritinho veio junto a descoberta de uma garrafa de champagne importado. Havia também alguns aperitivos e doces para acompanhamento.

Porém o que as deixou completamente fora de si foi o controle remoto que fazia uma barreira de vidro separar o nosso ambiente do do chauffeur. O controle também subia e descia as janelas, acendia, apagava, diminuía e aumentava a intensidade do jogo de luzes do teto. Um outro controle era responsável por ligar e desligar música em som estéril, além de fazer descer do teto uma TV de tela plana com vários filmes e séries.

Teria sido um longo percurso da minha casa até a Gardens Wield, mas com tantas distrações tudo acabou sendo rápido. 

Todo ano os Roberts escolhiam um lugar diferente para realizarem o evento, a Garden Wield era nada mais do que o hotel mais famoso de toda a New York. Famosos, executivos, diplomatas, toda espécie de gente rica se hospedava nesse hotel, segundo o que Kelly lera na Forbes. O que me chamou a atenção assim que chegamos foi o engarrafamento no início da rua do hotel. Carros e mais carros de valores inestimáveis estacionavam por alguns segundos apenas para saírem pessoas tão belas que pareciam ser modelos de capa de revista — nesse caso talvez até fossem.

Depois de esperarmos uns bons vinte minutos para chegarmos à entrada do hotel, finalmente conseguimos. O chauffeur saiu imediatamente e abriu o porta-malas para tirar a minha cadeira, nunca fui tão grata ao meu pai por ter me dado aquela cadeira nova. Teria sido simplesmente humilhante entrar naquele lugar que tinha "luxo" estampado por todo lugar usando a LT.

As meninas me esperaram pacientemente do lado de fora enquanto eu tentava passar do banco para a cadeira. Alguns paparazzi tiravam fotos nossa, mas a maioria deles estava focada no carro atrás do nosso. Dele saiu uma mulher simplesmente linda. Ela tinha pernas longas e bem definidas, seu cabelo loiro parecia ser extremamente cedoso. O homem que havia aberto a porta para ela também parecia uma estátua esculpida em mármore, ele tinha os cabelos castanhos e os olhos verde esmeralda. O smoking que usava mal conseguia conter os músculos dos braços e peito. 

Ambos eram simplesmente perfeitos e juntos só realçavam a perfeição um do outro.

— Santo grilo cantando ópera! — Kelly tinha as duas mãos na boca tentando abafar um grito excitado.

Eu estava prester a rolar os olhos pelo exagero dela quando vi Lana claramente observando o casal surpresa também.

— O quê é que eu estou perdendo aqui? — Perguntei confusa.

Lana piscou alguns segundos e então se beliscou. Lentamente ela voltou a atenção para mim e disse:

— O casal Blackwood — apontou discretamente com o queixo na direção do homem e da mulher. Levantei uma sobrancelha ainda sem entender.

— Esqueça, Sarah nunca lê as notícias — Kelly suspirou e deu um tapinha no ombra de Lana. Eu estava prestes a protestar dizendo que assistia, sim, notícias, mas só as que eram, de fato relevantes, e não sobre fofocas de famosos, mas ela continuou: — O casamento de Keith Connor e Aiden Blackwood é a notícia mais quente do momento, Sarah. A garota praticamente veio do nada e ganhou o coração do bilionário num estalar de dedos. Parece que ela está escrevendo um livro sobre a história deles e deve lançar ano que vem.

Lancei um olhar furtivo na direção dos dois novamente. Ela não parecia com alguém que veio do "nada", praticamente transpirava riqueza.

As aparências enganam, uma voz falou na minha cabeça.

Dei de ombros e cutuquei as garotas para começarmos a fazer o nosso caminho para dentro do hotel. 

Foi quando o chauffeur tinha acabado de subir comigo na rampa e estávamos a apenas um metro da porta que eu ouvi a multidão de paparazzi ir à loucura. Se eu achava que a quantidade de flashes em cima do casal Blackwood era absurda, naquela hora eles superam e passou a ser insana. Tantos repórteres apinharam em volta de um carro esporte que havia acabado de chegar que eu nem mesmo conseguia ver quem estava dentro. Até mesmo eu que não meu interesso por celebridades estava curiosa. Nunca se sabe, vai que era o presidente?

Só consegui mesmo ver alguma coisa quando a pessoa que estava do lado do motorista saiu do carro. 

Jonathan.

Respirei aliviada enquanto que Kelly prendeu a respiração. Tentei segurar o riso, aparentemente para ela ver Jonathan era melhor do que conhecer pessoalmente algumas celebridades. Porém, eu tinha que confessar, ele estava deslumbrante em um smoking preto com uma gravata borboleta dando o toque final.

Ele deu a volta no carro e parou em frente a porta do carona. 

Foi então que eu perdi a capacidade de respirar.

Para mim tudo aconteceu em câmera lenta, mas talvez não tivesse sido. A única coisa que os meus olhos conseguiram captar foram cabelos cor de areia saindo do carona e elevando-se à sua total estatura: alguns centímetros maior do que o irmão. 

— Evan — sussurrei tão baixo que talvez nem mesmo as meninas tivessem me ouvido, mas foi no exato momento em que o seu nome saiu dos meus lábios que os seus olhos encontraram os meus. 

Um sorriso malicioso dançou no canto de sua boca e foi apenas questão de alguns segundos até que todos os flashes das câmeras voltassem para mim.


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Notas finais do capítulo

Oooooooooooook, não sei o que dizer.
Encontro vocês no próximo capítulo.
Stay Strong, you are beautiful!



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