Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 17
"Conhece-Te a Ti Mesmo"


Notas iniciais do capítulo

Tutorial de hoje: Não fiquem mais de 24 horas sem dormir!

Eu sinto muito por não ter postado esse capítulo semana passada. Pra falar a verdade, 80% dele já estava completo, mas não tive tempo nem pra dormir: bati meu record e fiquei 40 horas direto sem dormir essa semana! NÃO RECOMENDO.
Mas o que tinha que ser resolvido já foi, graças a Deus.

Bom, gostaria de perdir desculpas também com relação à nova história que eu disse que já estaria disponível desde o capítulo passado, mas até agora não postei. O motivo é simples: ainda não tenho uma boa capa. Assim que resolver esse problema vou postar e disponibilizar o link aqui e em Her Wealth & His Misery, minha outra história.
Por hoje é só!

Boa leitura!



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Em minha mente então ocorreu um estalo que se fosse audível teria sido bem alto.

— É por isso que não se sente confortável perto dela? Porque ela é a Sra. Roberts, mas a sua mãe não? — Perguntei.

Eu realmente não sabia de onde vinha toda aquela ousadia, mas se Evan havia se aberto o suficiente para me contar algo como aquilo, então eu precisava tentar saber mais.

Eu queria saber mais.

Ele pareceu debater consigo mesmo, mas respirou fundo por fim. Quando seus olhos pousaram nos meus pensei ser capaz de derreter ali naquele lugar. Aquele aperto que havia sentido no peito antes voltou.

— Tudo foi um erro desde o início — seus olhos estavam desfocados, como que pensando em alguma outra coisa e não estivesse realmente me olhando. — Walter nunca foi um santo fiel, Evelyn sempre soube disso. De qualquer forma, não era como se ela tivesse tido alguma escolha já que o casamento deles foi um contrato feito pelas famílias Roberts e Vermont — permaneci imóvel, com medo de que qualquer movimento o fizesse se arrepender do que estava me contando e se fechasse novamente. Fiz uma nota mental para me lembrar de que o nome do Sr. Roberts era na verdade Walter. — Tanto o casamento quanto Jonathan fora planejado desde o início. Casar não era o suficiente, ela precisava dar um herdeiro para assumir os negócios. Sabendo que nunca houve qualquer sentimento, mas apenas ganância envolvida em toda a relação deles, Evelyn nunca pareceu se importar que Walter tivesse casos... 

Em todo o momento a voz de Evan permanecia monótona, como se ele não tivesse nenhum sentimento quanto ao que estava contando, porém, de repente, seus olhos se estreitaram e quando focaram em mim novamente, ali estava aquela sensação de novo. A dor era tão forte que parecia escorrer do seu rosto.

— A minha mãe não foi diferente dos outros casos — meu coração acelerou conforme as palavras saiam de seus lábios. — Exceto que as consequências vieram nove meses depois: eu.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Ele não parecia querer retomar a narrativa, mas eu sabia, eu sentia, que havia algo ali, muito mais profundo do que apenas aquela história. Tive a sensação de que aquilo era apenas uma pequena ponta do enorme Iceberg* de segredos que era aquela família.

— Me conta sobre ela... A sua mãe — pedi tão baixo que não sabia se ele havia escutado.

Um sorriso sem humor se esboçou no rosto dele me fazendo perceber que ele tinha ouvido.

— Ela era muito inteligente. Talvez no lugar dela você teria feito o mesmo — o tom de voz dele então mudou, e pude sentir que alguma coisa estava fora de lugar, as palavras dele não soavam como um elogio ou apreciação.

— O que quer dizer?

Ele virou o corpo totalmente para mim e apoiando o cotovelo no assento do sofá, reclinou a cabeça na mão e fixou os olhos nos meus.

— Me diz, Sarah — sua voz era um sussurro tão rouco que fez meu corpo tensionar involuntariamente. — Você realmente quer saber?

Fechei minhas mãos em punhos no chão apoiando meu peso neles. Eu não sabia o que ele estava prestes a me contar, mas pressenti que era algo que me faria ficar bamba — era ótimo que eu já estivesse no chão, dali não passaria.

— Sim — sussurrei no mesmo tom.

Com a mão livre, Evan pegou uma mexa solta do meu cabelo e levando-o ao nariz fechou os olhos e inspirou profundamente.  

Quando ele os abriu, um olhar feroz fixou-se em mim. Havia uma mistura de sentimentos que perpassavam seu rosto, todos uma confusão. Ele se inclinou em minha direção e a minha reação foi recuar o mesmo tanto. Ele continuou avançando e eu não tinha mais como chegar para trás sem que caísse deitada. Minhas pernas não podiam me mover para longe daquela situação e seu corpo já estava praticamente em cima do meu. Ele se aproximou ainda mais, então me vi caindo de costas no tapete. Ele estava sobre mim me prendendo com os braços e pernas ao lado do meu corpo. 

Evan encurtou o espaço entre nós até que seu rosto estivesse a menos de cinco centímetros do meu. Meu coração estava batendo como louco dentre da minha caixa torácica, parecia que queria sair voando de dentro de mim. As nossas respirações estavam misturadas e o ar de repente se tornou muito quente e insuficiente.

Ele sorriu aquele sorriso que era lindo e ao mesmo tempo malicioso que me irritava e me deixava mole. Então desceu a cabeça até que o seu nariz roçou em meu pescoço me fazendo tremer involuntariamente. Senti seu corpo se tensionou ao meu movimento, ele parecia estar tentando controlar alguma coisa. 

Foi então que senti seus lábios macios e úmidos pousarem na pele sensível logo abaixo da minha orelha. Arfei audivelmente perdendo completamente o fôlego e então tudo o que senti a seguir foram seus lábios pressionados contra os meus.

Arregalei os olhos paralisada no mesmo lugar. Não consegui mover um músculo, havia esquecido até mesmo de respirar. 

Seus lábios abriram-se exigindo-me ação e comecei a sentir todo o meu corpo e mente ceder para ele. Seu toque era tão delicado em meu rosto e sua língua acariciou meus lábios como se estivesse me pedindo entrada. 

Eu sabia o tempo todo que aquilo tudo estava muito errado e que provavelmente eu iria me arrepender depois de ter deixado meu lado emocional me controlar mais do que o racional.

Meus dedos, porém, moveram-se por si só e foram até seus cabelos de areia puxando-o para mais perto de mim. Um grunhido reverberou pelo seu peito fazendo meu corpo arquear em excitação grudando-se ao dele. Seus lábios tornaram-se mais exigentes e ferozes sobre os meus. Eu pude sentir pelo seu toque o quanto ele estava perdendo o controle de si e que eu já havia perdido o meu há muito tempo.

Porém, contraditoriamente, aos poucos Evan suavizou seus lábios sobre os meus e suas mãos já não pareciam urgentes sobre a minha pele. Ele ergueu-se sobre seus próprios braços e me fitou com aquelas avelãs intensas de sempre. Pela primeira vez fui capaz de identificar um brilho que eu nunca havia visto ali.

Mas havia algo mais. 

Alguma coisa não está certa.

— Vê, Sarah? — Disse, sua voz tinha um tom levemente ácido. Eu não estava entendo o que estava acontecendo. — Todas caem na mesma armadilha. Talvez seja alguma coisa no sangue dos Roberts, mas nenhuma mulher é capaz de resistir. Minha mãe não foi capaz. Nem você foi capaz.

Senti meu rosto se enrubescer, mas dessa vez foi de total e completa raiva.

O que ele está insinuando?

Empurrei seu peito largo pra que saísse de cima de mim. Ele se deixou levar pelo meu empurrão — por mim mesma, eu sabia que não teria força o suficiente para repeli-lo— e voltou à mesma posição de antes, sentando-se no tapete. 

— O que quer dizer?

Um sorriso amargo se retorceu no rosto dele. As avelãs de antes já não estavam inundadas de intensidade e desejo, mas de uma angústia terrível. A mesma dor que eu havia visto em seus olhos quando me expulsara do apartamento.

— Walter estava bêbado, vulnerável. Evelyn não estava em casa. A mulher que um dia foi a minha mãe viu a oportunidade perfeita de sair da lama em que estava, da barraca que chamava de casa — ele se mantia assustadoramente calmo enquanto falava. — Diga, Sarah, se você estivesse no lugar dela, não teria feito o mesmo? — Ele se inclinou na minha direção novamente, porém não recuei. Seus olhos se prenderam nos meus, tão cheios de fel. Seu hálito ventilou o meu rosto quando disse: — Não foi isso o que você acabou de fazer? Dando o golpe do baú?

Naquele momento senti meu sangue borbulhar dentro de mim. Quem ele pensava que era para me comparar com qualquer uma?! Golpe do baú?!

Esse foi o meu primeiro beijo, seu idiota!

Lágrimas subiram até os meus olhos fazendo-os arder impossivelmente. Eu queria dar um tapa na cara dele. Eu devia dar um tapa na cara dele, mas não consegui e eu sabia bem o porquê.

Porque aquilo tudo era culpa minha.

Embora ele houvesse retorcido tudo na mente doente dele e embora eu houvesse descoberto meus sentimentos por ele da pior maneira possível, tudo ainda era minha culpa. Eu jamais devia ter deixado aquela situação ir tão longe. No momento em que ele se aproximou demais eu o devia ter repelido, mas eu não quis. Eu fui gananciosa.

Eu quis mais. 

Eu não queria que ele parasse. Céus! Eu nem tentei pará-lo! Tudo o que eu fiz foi pôr mais lenha na fogueira e incentivá-lo mais.

— Sim — minha voz saiu arranhada, mas àquele ponto eu já não estava me importando mais. — Tudo isso foi minha culpa, Evan. Eu sinto muito — por um segundo, ele perdeu toda a compostura que eu sabia que ele tinha montado, minhas palavras pareceram surpreendê-lo mais do que se o estivesse estapeado. — Acredito que por hoje é só. Eu preciso voltar para casa.

Ele ainda estava me fitando como se eu tivesse duas cabeças. Eu não podia perder o controle da situação. Não de novo. Para sair dali eu precisaria engolir todo o meu orgulho, pois eu não tinha escolha. Por isso, pelo menos precisava ter controle de alguma coisa. Precisava.

Eu não saberia subir do chão para a cadeira sem parecer patética.

— Me ajude com a cadeira, por favor — pedi, a cada palavra meu coração quebrava um pouco, mas estando na situação em que eu estava, não havia espaço para algo tão caro quanto a dignidade de sair com as minhas próprias pernas e bater a porta atrás de mim. 

Evan hesitou por alguns segundos e então me ergueu do chão e me pôs na cadeira.

— Fique com o teclado. Treine o que quiser, a partir de amanhã as coisas vão ser diferentes — enfatizei cada palavra repetindo o que ele mesmo dissera.

Sim, tudo seria diferente a partir dali.

Evan queria provar que o meu interesse era o dinheiro? Pois eu provaria que uma vez que eu dou a minha palavra, eu a cumpro até o fim. Eu nunca prometera à Sra. Roberts que seria capaz de ajudar Evan, mas eu havia dito que tentaria, e até aquele momento eu não havia tentado nada. Muito pelo contrário, tudo o que fiz foi perder o foco e me deixar levar.

Engolindo o choro e todo o protesto do meu coração, ali mesmo em questão de minutos eu já sabia qual era decisão mais racional a se fazer. Eu nunca tive problemas em ver o lado racional das coisas mesmo quando meu coração berrava para ser ouvido. Aquela situação não foi diferente. Minha mente sabia muito bem o que deveria ser feito. Por mais que todo o meu coração estivesse me implorando para sair daquele lugar e nunca mais voltar, eu tinha responsabilidades e precisava cumpri-las. Eu havia deixado meus sentimentos me guiarem apenas aquela vez e tudo resultou em um desastre. Não iria deixar que eles me guiassem de novo. 

O que parecia doer tanto quanto o fato de ter sido usada por ele apenas para provar um ponto, era o fato de que eu finalmente achara que tinha conseguido a confiança de Evan o suficiente para que ele se abrisse comigo.

No final era apenas um teatro para o entretê-lo. 

Virei a cadeira até que estivesse de costas para ele. Mesmo tentando manter a voz firma, não queria que meu rosto me traísse e falasse o oposto das minhas palavras.

— Até amanhã — enfatizei cada palavra.

Queria ter acrescentado um "Sr. Roberts" no final, mas logo descartei essa ideia por ser dramática demais. Eu definitivamente estava passando muito tempo com Kelly...

Kelly!

Eu precisava ir para casa dela. Não podia voltar para casa ainda, meu pai nunca iria deixar passar quieto meu estado esgotado e muito menos as lágrimas empoçando meus olhos. 

Sem virar para trás uma vez sequer, saí do apartamento estupidamente aconchegante e belo cujo residente era estupidamente cretino e lindo.

Enquanto descia pelo elevador, tirei meu celular do bolso e disquei o número de minha amiga. Nem mesmo finalizou um toque e ela atendeu.

— Sarah Marrie Wright, você tem muita coisa pra explicar — advertiu seriamente.

Comecei a me sentir tonta. Tanta coisa havia acontecido nas últimas quarenta e oito horas que eu não tinha ideia do que Kelly sabia e do que não sabia. Provavelmente ela nem imaginava trinta por cento do que havia acontecido comigo e provavelmente eu não conseguiria mentir nem mesmo para esconder cinco por cento da verdade.

O percurso do apartamento deles para o de Kelly não foi muito longo, talvez em parte porque eu não estava prestando atenção em nada à minha volta dentro ou fora do táxi — uma atitude estranha a mim que estava se tornando muito comum — e sem perceber já estava no apartamentoz de Kelly.

Respirei fundo fitando a porta à minha frente, provavelmente eu não seria capaz de vestir a máscara "está tudo bem" por muito tempo, mas se conseguisse divergir a atenção dela talvez eu escapasse ilesa por uma noite.

Mal enviei uma mensagem avisando a minha chegada, a porta então se escancarou revelando uma Kelly descabelada e com as unhas visivelmente roídas. Levantei uma sobrancelha ante ao estado questionável de minha amiga apesar de já saber que ela normalmente ficava assim quando estava nervosa. 

— Kels, o que foi que aconteceu? — Perguntei enquanto rolava a cadeira para dentro.

Eles tinham uma decoração totalmente diferente da do apartamento de Evan e Jonathan. Tudo ali tinha um ar moderno em cores sóbrias que variavam não mais do que do branco gelo ao cinza claro. A sala tinha uma sacada para a rua que era de tirar o fôlego, mas o sofá de couro marrom no meio do cômodo era, para mim, simplesmente a melhor parte.
Minha amiga se jogou — literalmente — no sofá encarando o teto por alguns segundos, então se sentou e voltou a atenção para mim.

— Agora me conta o que foi que aconteceu com você para dar uma de adolecente louca e dormir no apartamento de dois homens solteiros?

Essa noite vai ser longa...

— Kelly, sente, por favor — pedi, precisava que os olhos dela estivessem no mesmo nível dos meus. — Jonathan me contou sobre como ele tinha ido até mesmo no seu trabalho para falar contigo. Como está tudo entre vocês?

Ela fechou os olhos e respirou fundo, quando falou, sua voz saiu calma, mas eu sabia que ela estava tentando se controlar:

— Sarah, por favor — era praticamente uma súplica e eu sabia que não conseguiria mais tentar enganá-la mudando de assunto.

Kelly está se tornando assustadoramente esperta.

Encolhendo os ombros me senti impotente e vulnerável depois de tantos anos. Eu não queria falar sobre aquilo, mas ela não me deixaria escapar.

— O que quer saber exatamente, Kels? — Minha voz saiu em um fio.

Ela abriu os olhos e os fixou em mim séria.

— Tudo, Sarah. Eu quero saber de tudo, mas eu sei que ainda tem... Ainda têm algumas coisas que você e Jonathan não podem me contar e por mais que isso esteja me comendo por dentro, eu posso aguentar mais um pouco. Mas eu sei que o que aconteceu esses dias vai além do que quer que seja que vocês não podem me contar. Você está diferente, distante e tenho certeza que isso não é só por causa desse tal segredo.

Vi os olhos dela marejados de lágrimas e me senti subitamente culpada por manter a minha amiga fora da minha vida e do que estava acontecendo. Eu sempre fui independente, mas tudo que acontecia comigo eu contava para minha mãe e Kelly, eu nunca tomava alguma decisão séria sem antes conversar com as duas. Depois do meu acidente, eu nunca mais fiz isso com Kelly. Eu não tinha mais minha mãe para conversar e por algum motivo havia decidido que deixar a minha amiga por fora era a melhor solução. Qualquer que fosse o meu problema, eu podia resolver sozinha sem preocupá-la. Eu só não tinha conseguido enxergar ou talvez não quis enxergar o quanto isso a magoava e a fazia se sentir mal.

Cheguei a cadeira para mais perto dela e me inclinei para frente abraçando a louca da minha amiga. Eu a amava muito apesar de sermos tão diferentes e talvez eu não demonstrasse como devia, mas ela era muito importante para mim. Minha vida seria definitivamente muito mais sem graça e entediante se eu não a tivesse por perto.

E isso me levou a tomar a decisão contra a qual eu estava lutando há tanto tempo: falar em voz alta qual era o meu problema.

Quando nos afastamos uma da outra ela fungou sonoramente na manga da camisa me fazendo rir e então sorrir levemente.

— Kels? — Chamei. Ela voltou os olhos para mim com muita atenção e curiosidade. — Acho que acabei me apegando demais ao meu problema.

— O que quer dizer?

Tive que juntar todas as minhas forças para pronunciar aquelas palavras que eu tanto lutara para reconhecer: 

— Eu estou terrivelmente apaixonada por Evan.

 

 

*Iceberg: é um bloco ou massa de gelo de grandes proporções. Normalmente só é possível ver uma pequena parte de um Iceberg porque a maior parte se encontra submersa.


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Notas finais do capítulo

Hohoho
Sorry, no comments.
Favoritem, comentem!

Boa semana!



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