Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 16
Revelação


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último capítulo que vou postar nesse ano e gostaria de agradecer a todos por todo o suporte que me deram para chegar até aqui. Desde os leitores que comentam e ficam excitados com a história até os que leem, mas não preferem se pronunciar, a todos, gente, muito obrigada!

Que quando houver a virada no ano novo vocês possam pensar em tudo o que aconteceu esse ano como um aprendizado para ter uma vida melhor. Eu sei que não foi um ano fácil, sei que muitos choraram (eu aqui!), muitos gritaram (eu de novo!), muitos queriam estrangular algumas pessoas (ops!), mas sei também que muitos cresceram. Uma vez, quando ainda era adolescente, eu li um livro de romance em que a personagem havia passado por vários problemas ao longo da história e no final ela disse "depois de tudo, eu amadureci e quer saber? Não doeu nada". Eu queria deixar bem claro que isso é uma TREMENDA MENTIRA. Não existe amadurecimento sem sofrimento, não existe crescimento sem dor, simplesmente porque esses processos requerem MUDANÇA e não há nada mais difícil na vida do ser humano do que mudanças.

Vejam esse ano que passou como mais um degrau que vai te levar ao topo cujo prêmio é uma vida de paz com as pessoas a sua volta e principalmente consigo mesmo. Não busquem nos outros, nos pais, nos amigos, no (a) namorado (a) a fonte da sua felicidade porque todas esses pessoas estão na sua vida para te ACRESCENTAREM ALEGRIA, mas a verdadeira felicidade vem quando você se encontra bem consigo mesmo (a). Não culpe os outros por serem a causa da sua infelicidade, eles bem podem ser a causa da sua TRISTEZA, mas a infelicidade só vem quando você não está satisfeito com a pessoa que você é.

Por fim, desejo a todos vocês um ano de mais desafios e de mais dificuldades, sim, dificuldades! São elas que nos tornam pessoas melhores quando tomamos as decisões certas. Sempre que precisarem de ajuda, seja para desabafar, aconselhar, ou apenas para gritar com alguém, não hesitem em me chamar. Sintam-se livres para me mandarem quantas mensagens quiserem seja por aqui ou pelo meu email (tellesgabby@gmail.com).

Muito obrigada de novo por todo carinho, suporte e amor. Encontro vocês de novo ano que vem!

Boa leitura!



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Fora eu quem o machucara. Eu.

Por minha causa ele havia decidido sair de casa... Mas por quê?

Eu estava tentando colocar os pensamentos em ordem, mas as palavras de Jonathan ao fundo estavam começando a me desconcentrar. Eu não conseguia prestar atenção nele o suficiente para o entender e nem conseguia me concentrar para pensar como queria.  Mas naquele momento, eu sabia que não seria capaz de chegar a nenhuma conclusão sozinha mesmo que ele calasse a boca. Eu precisava de respostas e só uma pessoa podia me dá-las.

— Jonathan — chamei.

Ele parou de falar.

Levantei os olhos do chão e fitei-o.

Ele suspirou, mas assentiu. Já sabia o que eu queria.

Levantou-se da poltrona à minha frente e saiu. Poucos minutos depois ouvi a porta abrir de novo e então se fechar. Eu não o estava vendo, mas todo o meu corpo sentia a sua presença. Era incrível como eu conseguia ficar tão abalada por causa dele. 

Eu sinceramente, não estava mais suportando o fato de não ter respostas.

Eu preciso de respostas. Por quê? Por quê? Por quê? Eu já estou cansada disso.

Com o olhar vidrado na mesa de centro, sem nem ao menos piscar, eu ouvi minha voz soar fraca:

— Por quê? — Eu o senti se aproximar até o ver se colocar à minha frente.

Levantei a cabeça para ver o rosto dele. Ele sentou na mesa de centro, que apesar de estar em um nível mais baixo que a minha cadeira, ainda assim o deixava com os olhos na direção dos meus.

— Sarah... — Ele sussurrou, mal pude ouvir a sua voz.

— Por quê? — Eu repeti.

— Eu não sei...

Franzi o cenho. 

— Como assim você não sabe? Você saiu do apartamento no qual está se escondendo há três anos e do nada sai e sofre um acidente e não sabe o porquê? — Soltei tudo de uma vez. A verdade é que eu não sabia se estava com raiva ou confusa, era uma profusão de sentimentos que eu nunca havia sentido antes e não sabia como explicar. Como ele se manteve calado, só sentia meu rosto queimar ainda mais de raiva. — Evan! Eu estou falando com você! Por que se pôs a tamanho perigo desnecessariamente?!

— Eu não sei! — Ele aumentou a voz a tal ponto que me fez recuar na poltrona assustada. Vi arrependimento surgir em sua face imediatamente. — Eu não sei o que deu em mim. Eu também não consigo explicar... Quando Carla disse o seu nome e disse que você estava no hospital, eu concluí que havia acontecido alguma coisa com você. Isso me deixou louco, eu achei que seria capaz de pular desse mesmo andar se fosse necessário... Eu senti uma urgência descontrolável em vê-la. Eu queria saber se você estava bem.

Minha cabeça começou a latejar com tudo aquilo. Evan havia sentido exatamente a mesma coisa que senti quando soube o que acontecera com ele. O que aquilo tudo queria dizer? Por que estávamos sentindo a mesma coisa? Qual era a razão daquilo tudo?

Sem perceber como ou quando, Evan agachou aos meus pés. Ele pegou a minha mão direita do meu colo e a envolveu com as suas que eram muito maiores. Ele virou a minha palma e a pôs no rosto reclinando-se sobre ela. 

— Evan... — a barba dele roçando na minha pele me fez cócegas. Com a mão esquerda toquei de leve o curativo do supercílio. — Dói? — Perguntei voltando meus olhos para os dele.

Ele sorriu sem mostrar os dentes.

— Não — parecia estar sendo sincero.  — Sarah?

— Sim?

— Por quanto tempo você vai ficar?

Não sabia se havia entendido muito bem a pergunta, então respondi o que pareceu ser o mais certo:

— Até você se formar, eu acho. Se a sua mãe não me demitir antes por quase matar o filho dela — senti ele apertar minhas mãos um pouco mais nas suas ao mencionar a Sra. Roberts. Ele não parecia ter gostado daquilo. — Evan, prometa-me que não vai sair de novo inconsequentemente? Nem mesmo se eu for a pessoa a ser internada no hospital? — Ele focou os olhos nos meus e permanecemos assim por não sei quanto tempo. — Evan?

Ele então quebrou o contato visual e estendeu a mão para pegar uma mexa de cabelo meu levando as pontas para o nariz; ele fechou os olhos ao inspirar o aroma.

— Você sabia que exala canela? 

Senti meu rosto ficar vermelho lembrando da noite passada. Ele havia dormido com o rosto enterrado nos meus cabelos.

— Essa não é a resposta para a minha pergunta... — resmunguei.

Seus olhos estavam tão intensos que eram quase palpáveis.

— Você pode ficar? — Perguntou.

Ri de sua pergunta fora de hora.

— Claro que vou ficar, temos algumas lições para hoje e você ainda precisa cumprir com as cinco horas fora do quarto...

— Você pode não ir nunca? 

— Não ir para onde?

— Para casa.

— Mas é claro que não! — Respondi exasperada. — Se eu moro na minha casa, eu preciso voltar para ela. Meu pai deve estar morto de preocupação nesse momento...

Não era tão verdade, ele provavelmente estava pensando que eu ia passar mais outro dia na casa de Kelly, mais ainda assim...

— Não.

— Sim!

— Não.

— Evan, você sabe que eu vou de qualquer jeito.

— Eu sei.

O fato de seus olhos não desgrudarem dos meus nem por um segundo enquanto me respondia só me fazia ficar mais embaraçada.

— Então porque insiste?

— Porque eu não quero que você vá.

Abri a boca para rebater, mas quando o significado das palavras dele assentou na minha mente, eu não pude falar. Precisei respirar fundo umas três vezes para não deixar o que ele tinha falado me levar a ter outros pensamentos.

— É certo que eu não vou embora enquanto não tivermos um mínimo de progresso — suspirei conforme a realidade me atingia; já fazia praticamente um mês que eu tinha sido contratada para ajudar Evan com os estudos e tudo o que aconteceu entre nós durante esse tempo não tinha nada a ver com estudar. — Precisamos recuperar o tempo perdido. Rápido.

Dito isso pus as mãos nas rodas da minha cadeira e fui em direção à porta. Na metade do caminho, senti o trabalho de empurrar a cadeira ser aliviado conforme Evan alcançava o guia por trás. Em silêncio nós saímos dos escritório e fomos para sala. Jonathan não parecia estar em nenhum lugar por perto, nem Carla. Quando chegamos próximo ao sofá, o meu teclado assim como algumas folhas e uma caneta que estavam em cima da mesa de centro capturaram minha atenção.

Ele havia arrumado tudo como eu havia pedido e me encontrei um pouco surpresa. Não estava realmente esperando que ele fosse fazer o que eu tinha pedido, talvez meu subconsciente já estivesse se acostumando ao fato de que ele era orgulhoso demais para fazer até mesmo um favor.

Desafiando ainda um pouco da minha sorte, apontei para o espaço entre o sofá e a mesa de centro, o mesmo lugar onde eu antes havia sentado por duas semanas tocando a melodia de minha mãe tentando lembrar sua origem e disse:

— Sente ali.

Ele pareceu um pouco hesitante atrás de mim, pois não fez o que mandei imediatamente. Parecia um pouco incomodado de ter sido mandado e tive que segurar um suspiro.

Francamente!

Mas no final ele fez o que falei e se sentou no lugar ordenado. Levantou uma sobrancelha sem entender onde eu queria chegar com aquilo.

— Toque — eu disse apenas.

Ele franziu o cenho sem entender.

— Eu não sei tocar.

Balancei a cabeça discordando.

— Ah, não. Você sabe, sim. Toque.

Ele passou os dedos suavemente por cima das teclas como se fosse de veludo, tão suave que nem um som saiu, ainda que a luz do botão de ligar do teclado claramente mostrasse que o aparelho estava ligado. Sem olhar para mim, ele testou algumas notas aleatórias atento ao som que emitiam. Pareceu satisfeito o suficiente, pois logo em seguida seus dedos começaram uma série de notas que fizeram meus lábios se curvarem em um sorriso vitorioso. Em meio a algumas notas erradas e outras que foram puladas, pude distinguir a famosa melodia de Pur Elise* se formar aos poucos, porém ele não foi muito longe e logo parou.

Ainda com as mãos no teclado e sem me olhar ele disse:

— Como sabia?

Senti uma onda quente subir até o meu rosto me fazendo lembrar do que me levou a chegar à conclusão de que ele sabia tocar. Toda vez que Evan me tocava, os calos de suas mãos eram evidentes. Eu não sabia que ele tocava. Na verdade, foi só uma suposição na hora, mas se eu tivesse demonstrado incerteza ele não teria me obedecido e tocado.

— As suas mãos — respondi por fim. — Os calos na maioria das vezes ou são por trabalho árduo ou por muito treino em instrumentos musicais. Obviamente eu excluí a primeira parte como possibilidade.

Evan então riu de forma tão relaxada e natural que me fez segurar a respiração diante da raridade que eu estava presenciando. Quando seus olhos encontraram os meus, transmitiam tanto calor que me senti subitamente quente.

— Fazia anos que eu não tocava uma tecla sequer. Nem sabia que lembrava algumas notas de Beethoven... — Seus olhos então se perderam aquela vitalidade de antes e pareciam duas bolas de vidro frias como que lembrando de algo não muito agradável.

Antes que pudesse deixar a oportunidade passar e ele se fechasse de novo, acrescentei:

— Ontem... — Comecei, ele pareceu voltar a realidade e logo seus olhos eram de novo aquelas enormes avelãs intensas. — Você saiu do quarto com o meu teclado nas mãos, estava treinando alguma música?

Ele sorriu lembrando-se de alguma coisa.

— Aquela música que você estava tocando... Eu tentei reproduzir algumas vezes.

Logo eu também me juntei a ele e sorri pela tranquilidade que a nossa conversa estava transmitindo. Era tão bom não estar me irritando ou me preocupando demais com ele, que eram exatamente as duas únicas coisas que havia acontecido entre nós desde que eu o havia conhecido.

— E conseguiu? 

Com as mãos a postos para tocar e com um sorriso travesso ele me lançou um último olhar.

— Quer ouvir?

Senti-me subitamente excitada com a expectativa. Apenas assenti com a cabeça.

Ele começou a tocar e então não consegui me aguentar. Uma explosão de risos saiu de mim, algo que não era muito comum. Senti minha barriga doer cada vez que ele tocava mais e mais notas, estava tudo tão errado. Com exceção de algumas poucas notas certas no meio que me lembravam da doce melodia que ele tentava tocar, aquela definitivamente parecia ser outra música. Uma muito ruim, por sinal.

Não sabia quanto tempo fazia desde de que eu rira tanto. Tive que secar algumas lágrimas que tentavam escapar dos meus olhos.

Não sabia em que momento exatamente ele havia parado de tocar, foi só após alguns segundos à minha crise de risos que meu cérebro captou Evan me encarando com um sorriso tão largo e sincero que bem podia chegar de um canto a outro do rosto.

— Eu acho que você errou algumas notas — verbalizei o óbvio.

Eu não sabia explicar como, mas sabia que ele entendeu o que eu faria a seguir e tudo fluiu tão naturalmente que nem mesmo assustada eu fiquei. Estendi minhas mãos para ele que se aproximou e segurando-me firmemente pela cintura com as duas mãos como seu eu não fosse nem um pouco pesada, ajudou-me a descer da cadeira e não me soltou até que estivesse ajustada no chão ao seu lado.

Ele chegou um pouco para o lado me dando espaço para ficar de frente para o teclado. Estalei os dedos dramaticamente e lancei um último sorriso na direção dele.

— Posso?

Ele cruzou os braços no peito e apenas sorriu de volta como resposta.

Quando coloquei as mãos nas teclas a minha mente já tinha começado a se concentrar. As notas começaram a tilintar como o canto de um pássaro, já não tinha mais nenhuma dificuldade de lembrar de como tocar aquela melodia.

Assim que terminei me contive para não pular para trás com o susto que a voz de Evan me causou.

— Como sabia que eu não tocava outro instrumento? Violão, por exemplo? 

Ele não ia desistir enquanto não ouvisse o que queria. Apenas dessa vez, resolvi dar a ele esse gosto.

— Eu não sabia. 

Estava estampado bem grande na cara dele um "eu sabia", que me fez querer rir. Após alguns minutos de silêncio, eu o ouvi perguntar:

— Por que sempre tenta saber tudo? Controlar tudo?

Ele já não tinha mais nenhum tom de brincadeira na voz, estava de repente, sério demais. Senti meus olhos desfocarem da imagem de Evan para fitar o nada enquanto era inundada por todas as lembranças de negação que me atravessaram nos primeiros meses após meu acidente.

— Porque não posso ter controle sobre aquilo que eu mais queria ter — respondi batendo de leve nas minhas próprias pernas. Voltando a atenção para a realidade, capturei seu olhar sobre mim e sorri fracamente. A pergunta que cruzou a minha mente logo a seguir me fez pensar que a resposta para o que eu queria saber talvez fosse devido à natureza também controladora de Evan, mas não pude deixar de perguntar: — por que isso te incomoda?

Não é como se fosse muito legal ter uma pessoa ao seu lado tentando controlar tudo, mas eu não era esse tipo de pessoa. Eu não tentava controlar os outros, apenas o que acontecia comigo.

Ele desviou os olhos e pensei que não fosse responder, pois minutos se passaram em um silêncio pesado. Quando voltou a falar, encontrei-me surpresa pelo quão rouca sua voz estava e o quanto isso me dava uma sensação boa no estômago.

— Porque me lembra Evelyn.

Franzi o cenho ao ouvir o nome, mas logo o reconhecimento caiu sobre mim: Evelyn era o primeiro nome da Sra. Roberts.

— A sua mãe? 

Ele fez uma careta como se tivesse acabado de comer tamarindo.

— Ela não é a minha mãe.

Eu pensei que não tinha ouvido direito. Aquela foi a primeira vez que entendi o que significa ficar em estado catatônico

— O quê?

As duas enormes avelãs me fitavam de novo, mas não havia mais um tom doce nelas.

— Evelyn Roberts não é a minha mãe — repetiu.

 

 

 

*Pur Elise (tradução: Para Elise): é uma das composições mais famosas de Beethoven, é a clássica melodia das caixinhas de música que tem uma boneca bailarina.


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Notas finais do capítulo

Feliz Ano Novoooooooo!



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