Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 10
Traída


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii!
Semana de provas vai começar próxima segunda. Prevejo muito café e noites mal dormidas.
Ahh... Queria agradecer muito, muito mesmo aos novos tripulantes nos ships dessa história que favoritaram recentemente. Sejam todos oficialmente bem-vindos!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741091/chapter/10

Quando eu acordei, não sabia dizer se ainda era noite ou se já era manhã. Tudo estava escuro, não conseguia ver nada. Levantei me sentindo relaxada, meus olhos me pediam para fechá-los e voltar a dormir. Um aroma  forte que se tornara familiar emanava dos lençóis onde estava.

A realidade me acertou como um soco no estômago.

Evan.

Esses deviam ser os lençóis dele.

Essa devia ser a cama dele.

Esse devia ser o quarto dele.

Porque esse definitivamente era o perfume dele.

Estava impregnado por todo o lugar, lembrava da noite na qual estivera no quarto dele. O que eu estava fazendo ali? A última coisa da qual lembrava era um filme de comédia na sala. Evan estava sentado ao meu lado no sofá, o sono quase me alcançando... Como tinha parado na cama dele?

Praguejei baixinho por não estar com o meu celular. Não tinha luz alguma por ali e minha cadeira provavelmente ainda estava na sala.

Odiava essa parte em que eu era dependente de alguma coisa, mas mais ainda de alguém. Era tão difícil para mim pedir ajuda porque eu simplesmente não conseguia lidar com os olhares de pena que as pessoas me direcionavam. Já não era fácil quando eu estava bem, mas precisar de ajuda tornava tudo pior. Fazia-me lembrar de toda dificuldade que passei com o meu pai no início. Logo após o meu acidente, tarefas tão simples como levantar da cama, ir ao banheiro, tomar banho, tudo me tornava dependente, precisava que ele me locomovesse de um cômodo para outro e como se não fosse suficiente, ainda tinha que me esperar terminar o que quer que estivesse fazendo para me levar para outro lugar de novo.

Antes que a raiva pudesse me dominar, decidi me concentrar. Precisava sair dali primeiro, depois decidia o que fazer depois. Tateando até achar a beira da cama, como uma lesma, tentei descer primeiro com os braços para depois escorregar o resto do corpo. Se colocasse as pernas para fora primeiro para depois descer o tronco a queda seria pior. Eu sabia por experiência própria.

Porém, o que eu não esperava era o erro de cálculo. Por algum motivo acreditei que a cama de Evan tinha a mesma altura da minha à qual já estava acostumada, mas eu estava enganada, ela era muito mais alta. A consequência disso foi eu caindo de cara no chão com um baque surdo.

Um resmungo de dor saiu dos meus lábios, eu sabia que ia ficar um enorme galo na minha testa. Isso acontecia muito nos primeiros dias que eu tentava descer da cama em casa sem usar a cadeira. Tentei me levantar com os braços para pelo menos sentar; na metade do esforço, ouvi a porta se abrir violentamente.

Uma luz fraca vinha do corredor, provavelmente da sala. Ainda não tinha certeza, mas parecia ser madrugada.

Evan acendeu a luz, o que me fez fechar os olhos imediatamente, pois minha retina acostumada com a escuridão estava sensível.  Quando voltei à realidade, ele já estava à minha frente.

Como tinha se aproximado tão rápido? 

— Pode trazer a minha cadeira, por favor? — Murmurei.

Ignorando completamente o que eu havia pedido, ele segurou meu rosto com a palma da mão enquanto esfregava o polegar na minha testa onde eu havia batido a cabeça. Senti um arrepio subir a minha espinha, faíscas elétricas se desprendiam da minha pele me espetando por dentro em toda a região que sua pele tocou a minha.

Vi seus em olhos um tipo de sentimento que não soube descrever. Eu não sabia descrever o que eu estava sentindo! Era só um maldito toque! Não era como se nunca tivesse sido tocada por um homem! Eu já havia abraçado Kyle algumas vezes e até mesmo Jonathan havia me erguido da cadeira.

No entanto, em nenhuma dessas vezes eu havia sentido algo sequer simliar ao toque de Evan.

Afastei, talvez um pouco brusca demais, suas mãos, mas não me arrependi. Lidar com algo com o qual eu não fazia ideia e muito menos tinha controle era assustador para mim. Se ele percebeu minha ação aspéra, não se importou, pois o que fez a seguir terminou de tirar todo o ar que ainda restava em meus pulmões.

Erguendo-me no ar como se eu pesasse nada mais que uma pluma, ele caminhou em direção à porta. Minha perplexidade me impediu de ter uma reação adequada: que era gritar com ele.

Seu cenho estava franzido, como se estivesse preocupado.

— Evan, me ponha no chão! Só quero que me traga a minha cadeira!

Ele parou na altura do batente da porta, parecia irritado com alguma coisa. Como se a culpa fosse minha ter caído no chão! Para início de conversa se fosse me colocar no quarto, o mínimo que teria que ter pensado era em pôr a cadeira ao lado da cama para quando acordasse.

Preferi jogar a culpa toda nele, mas sabia que a culpa não era de ninguém; ele não tinha que ter esse tipo de consideração, não devia ter que saber como lidar com a minha situação. Ninguém tinha.

— Quer que eu te solte aqui mesmo?

Não precisei olhar para baixo para saber que um chão duro me esperava se ele me soltasse ali. O fato dele ser estupidamente alto, não me ajudava a considerar as minhas possibilidades.

Bufei sem responder e cruzei os braços. Aos poucos, vendo que eu cedera, seu rosto desanuviou da carranca e um sorriso malicioso brincou nos lábios. Antes de eu falar qualquer coisa, senti seu aperto em volta de mim se afrouxar e meu corpo ceder. Como reflexo, envolvi meus braços em seu pescoço apertando-o com toda a força que tinha, mas a queda não veio. Demorei um segundo para perceber que ele estava me... provocando! Seus braços estavam ainda mais fortes em volta do meu corpo. Com meu rosto em seu cabelo e o nariz roçando o seu pescoço, o perfume era potencializando mil vezes mais. Senti-me bêbada sem nem sequer ter ingerido uma gota de álcool.

Ele riu baixo.

— Achou mesmo que eu iria soltá-la? — seu hálito fresco roçou a pele de meu rosto me fazendo esquecer por um segundo onde eu estava. Minha cabeça repetia sua fala como um disco quebrado, como se ele significasse com isso mais do que aquele momento. Como se ele estendesse uma promessa para fora daquela situação... Joguei esses pensamentos para o abismo da mina mente, preferindo não pensar em quão insana eu estava me tornando.

Caminhando em direção ao sofá, parecia que ele estava demorando mais do que o necessário. Forcei-me a reclamar comigo mesma, mas não conseguia odiar aquilo tudo. Ódio era totalmente o contráriodo que quer que eu estivesse sentindo.

Quando me depositou no assento de couro preto do sofá, senti o frio ocupar o lugar de seus braços. Fitou-me por alguns segundos, então pegou a minha bolsa que estava em cima de uma cadeira e me entregou.

— Aquilo que você fez hoje mais cedo... Faça de novo — sentia minha cabeça cheia de neblina, não estava raciocinando bem. Ele pareceu perceber a minha confusão e explicou: — a música que estava tocando.

Tentei esconder a minha surpresa. Ele estava ouvindo tudo? Eu tinha colocado o volume baixo para não incomodá-lo.

Evan sentou ao meu lado, seu calor tão próximo que parecia palpável. Tentando não pensar muito e aliviar toda a tensão que sua proximidade estava me causando, desenrolei meu teclado para fora da bolsa e depositei-o na mesinha de centro. Fiz menção de descer para sentar no carpete, porém quando ele viu o que eu tentava fazer, imediatamente me transferiu do sofá para o chão. Ele fazia aquilo com muita facilidade, parecia que eu não pesava nada. 

Tentando me concentrar, depois de ligar o teclado na tomada e ajustando o volume e efeitos que queria, comecei a tocar a melodia que tanto amava. Não consegui evitar fechar os olhos trazendo à memória todas aquelas doces lembranças que tive com a minha mãe. Ela sempre pedia para pentear meu cabelo antes de dormir enquanto me perguntava sobre o meu dia. Lembrava da primeira vez em que tivemos a nossa conversa sobre garotos, era tão constrangedora. Sempre tentava me fazer passar vergonha, e na primeira vez em que conheceu Kyle não tinha sido diferente. Ela sabia que nós nos víamos apenas como amigos, mas sempre arranjava uma piada sem-graça sobre nós dois para me irritar. Principalmente, para irritar meu pai; ela adorava perturbar ele e tentar tirá-lo do sério. Ele por sua vez já estava acostumado, mas sempre que o assunto era o sexo masculino ficava mais suscetível às essas provocações. 

Sorri ao pensar na reação que ela teria se conhecesse Evan. Já sabia até mesmo o que falaria. 

Sentia tanta saudades dela, sentia falta do seu abraço e provocações. Sentia falta da comida que só ela sabia fazer e das nossas sessões de cinema. Tive que fazer um esforço enorme para não deixar as lágrimas transbordarem, seria vergonha demais para eu suportar.
Quando terminei, permaneci ainda alguns segundos de olhos fechados. Ao abri-los, voltei-me pra o lado e encontrei um Evan que me fitava intensamente. Pela primeira vez, não consegui sustentar seu olhar, desvei os olhos para as teclas à minha frente como se fossem subitamente interessantes.

Ele não sabia o que significava olhar disfarçadamente?

— Foi por isso que me pediu para passar à noite aqui? — Perguntei.

Ele suspirou, parecia frustrado. 

— Toque de novo.

Franzi o cenho irritada. Qual era a dele com esse negócio de ficar mandando? Ele nem falava por favor.

— Não sem antes me responder.

Ele passou os dedos pelas teclas tocando-as aleatoriamente. Demorou tanto para falar, que pensei que não me responderia mais.

— A noite não é exatamente a minha parte preferida do dia — murmurou com os olhos perdidos, sem focar nada em particular.

Ele não parecia dormir bem, as olheiras de antes eram a evidência da insônia que sofria. Fitei-o curiosa, o que mais poderia haver nele para me surpreender? Quando aprendia algo novo sobre ele, era sempre alguma coisa inesperada.

— Essa música te ajuda... A relaxar? 

Ele voltou-se para mim e sorriu fracamente.

— Você realmente é alguma coisa.

Senti meus pelos se arrepiarem, mas não desviei os olhos. Foi após longos segundos que tive uma ideia.

— Eu posso gravar enquanto toco e te passar o arquivo depois. O que acha?

Ele pareceu surpreso.

— Faria isso?

— Claro. Não é como se eu fosse dormir aqui toda noite para tocar para você...

Logo após falar isso me arrependi. Ele sorriu maliciosamente e, apoiando o cotovelo no assento do sofá e descansando o rosto na mão em punho, disse:

— Entendo. Seu pai não gostaria que você dormisse na casa de sua "amiga" com tanta frequência. Ainda mais quando ele descobrir de que tipo de "amiga" se trata.

Senti meu rosto queimar e tive que desviar os olhos para que ele não me visse enrubescendo.

Tentei mudar de assunto.

— Só mais uma vez — eu disse, referindo-me a música.

Não sabia quanto tempo havia se passado. Sem ter noção de quantas vezes havia repetido a música, parei quando meus dedos estavam doloridos. Chequei Evan para saber por que estava tão quieto e não consegui conter um sorriso. Ele estava de braços cruzados e a cabeça baixa com os olhos fechados. Não tinha ideia de quando pegara no sono, mas achei melhor não acordá-lo. Olhei meu relógio de pulso e fiz uma careta.

Já eram quase seis horas da manhã, mais algumas horas e Carla chegaria. Um bocejo longo saiu da minha boca e me espreguicei. Estava cansada e minhas costas estavam me matando pelo tempo que fiquei na mesma posição. Joguei a cabeça para trás recostando-a no assento do sofá. Talvez se eu cochilasse só por alguns minutos, não haveria problema.

Quando acordei a primeira coisa que vi foi o teto branco do apartamento. Uma leve dor de cabeça me atingiu assim que tentei levantar, provavelmente efeito do galo que obtivera mais cedo. Não sabia como havia ido parar deitada no sofá com uma enorme colcha me cobrindo. Evan não estava em nenhum lugar que meus olhos alcançavam.

Carla estava passando um pano úmido no chão, quando viu que eu tinha acordado, sorriu mostrando todos os dentes.

— Bom dia, senhorita.

Espelhei sua ação.

— Bom dia, Carla. Que horas são?

Meus olhos estavam um pouco desfocados, não quis me forçar a olhar meu relógio e arranjar uma dor de cabeça pior. Ela verificou o celular que estava no bolso, o que me lembrou de perguntá-la sobre algo.

— São duas e quarenta.

Esfreguei os olhos sem acreditar. Eu estava quarenta minutos atrasada para o trabalho, mas considerando que eu dormira onde trabalhava, talvez não fosse um grande problema.

Foquei na pergunta que precisava fazer.

— Carla, quando foi a primeira vez que viu Jonathan?

Ela pareceu tão surpresa com a pergunta que demorou mais do que o normal para responder.

— Foi quando eles estavam para se mudar. A Sra. Roberts havia perguntado ao meu pai se ele conhecia alguém de confiança que pudesse trabalhar e guardar o segredo da família. Na época eu tinha 18 anos e havia acabado de me formar no colégio.

Ela pareceu curiosa sobre o porquê de eu trazer esse tópico de repente, mas não disse nada.

Carla parecia ter por volta dos 20 anos, era bem nova, então não devia ter sido há muito tempo.

— Isso foi há quanto tempo?

Ela pensou por um segundo e então disse:

— Há uns três ou quatro anos mais ou menos.

Assenti, só queria confirmar o tempo que Jonathan me falara sobre o que acontecer com Evan.

— E Evan? Há quanto tempo o conhece?

Ela corou e desviou os olhos, como uma criança que havia sido pega no flagra com a mão no doce.

— Há sete anos mais ou menos.

Meu sorriso murchou. Não acreditei no que havia ouvido.

— O quê?

— A primeira vez em que vi o Sr. Evan foi há uns sete anos — repetiu. Eu não sabia o que pensar, minha cabeça deu um nó e fiquei muda talvez por muito tempo, pois ela perguntou preocupada: — Algum problema, senhorita?

Tentei sorrir e disfarçar um pouco, mas tinha certeza que não conseguiria enganá-la.

Eu era uma péssima mentirosa.

— Não, só preciso de um copo de água. Estou com sede.

Prontamente ela foi para a cozinha para atender o meu pedido, deixando-me alguns segundos imersa em mim mesma. Um conflito entre dois sentimentos embatia dentro de mim. Se eu visse a situação do lado de fora, racionalmente, teria dito sem dúvida alguma que acima de qualquer coisa a surpresa teria sido o sentimento maior naquele momento.

Mas não foi.

O sentimento que apertava meu peito e dava pontadas no meu estômago não era trazido pela surpresa, mas pela traição.

Jonathan havia mentido para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo 10!!!!!!!!!!
Quase não acredito que cheguei tão longe, estou tão feliz de ter terminado mais um e de você ter lido até aqui.
Muito obrigada mesmo!
Se gostou, favorite a história e se quiser, deixe um comentário para que eu saiba o que pensa. Vou responder o mais rápido que puder.
Boa semana a todos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Pain - Love Doesn't Have Legs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.