Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 6
Algumas Explicações


Notas iniciais do capítulo

Cada vez que eu recebo um feedback positivo sobre essa história, eu me inspiro cada vez mais. Eu já a amava simplesmente por ser um pedacinho da minha imaginação que eu tive coragem de compartilhar com vocês, mas vendo as visualizações aumentarem me motiva a escrever ainda mais!
Eu pretendia postar semanalmente, mas sempre arranjo um jeito de terminar o capítulo antes de 7 dias de tão empolgada que estou em escrever. Obrigada mais uma vez!
Boa leitura!



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Já era mais de meia-noite quando saí do apartamento deles. Meu pai já devia estar surtando em casa. 

Tentei ignorar o olhar de Jonas que pesava intensamente sobre mim quando passei por ele. Precisávamos conversar outra hora para eu perguntar qual era o problema dele.

Tinha me despedido da Sra. Roberts com um aceno e curiosamente enquanto me acompanhava até o táxi, Jonathan não falou uma palavra.

Como eu esperava, meu pai estava acordado e bem preocupado, mas também não perguntou nada. Apenas me despachou para o quarto e foi para o dele. Provavelmente já tinha feito toda a ronda checando tudo pela casa.

Dormi sem coragem de ver qual era a hora, pois sabia que um resmungo sairia imediatamente da minha boca. Para me sentir bem disposta durante o dia, eu precisava de no mínimo 10 horas de sono. 10 horas! Porém, como o dia só tem 24, tinha que me contentar em dormir apenas 8; o que claramente não aconteceria naquela noite devido a hora que chegara em casa. Dormi com um sorriso nos lábios saboreando a pequena vitória que conseguira naquele dia.

Quando acordei, chequei meu celular para ver a hora e qual não foi a minha surpresa ao ver uma mensagem de Jonathan.

"Evan disse para não vir hoje."

Além de toda a história de antropofobia ele também era bipolar? Não tinha sido ele quem me perguntara sobre ir trabalhar no dia seguinte?

Ainda que tenha sido a Sra. Roberts que tenha me contratado, e que claramente tudo isso era contra a vontade de Evan, eu achava melhor não forçar tanto as coisas com ele para que pudesse se adaptar a uma nova pessoa aos poucos, por isso, achei por bem ouvi-lo e não ir naquele dia.

Xinguei a mim mesma por ter me importado mais com o fato de não ir trabalhar do que voltar a dormir. Sacudi os pensamentos inúteis da noite anterior que já ameaçavam a me atormentar cedo pela manhã e fechei os olhos.

Acordei sentindo alguém me sacudir de leve, então um soco acertou meu braço.

— Ouch! Qual o seu problema, Kelly? — Resmunguei ainda de olhos fechados.

Ouvi ela batendo o pé no chão impaciente. Minha amiga era total e completamente diferente de mim, não só pelo pé que ela podia bater e eu não, mas em muitos outros aspectos.

— Não começa essa história de psych de novo — deduções lógicas eram consideradas poderes sobrenaturais para Kelly. — Como sabia que era eu?

Abri os olhos e rolei para o lado para encará-la.

— Porque meu pai não me acorda socando o braço e você é a única pessoa que vem a essa casa.

Eu tinha parentes como tios, tias e primos, mas eles moravam em outras cidades e todos os meus avós haviam falecido. Mesmo que todos morassem perto ou estivessem vivos duvidaria muito que tentariam me acordar com um soco.

— Tá, chega dessa coisa de Sherlock Holmes. Eu vim para perguntar qual é o seu problema.

Sentei-me na cama recostando na cabeceira. 

— Pelo visto meu pai já te contou. Não acredito que ele não consiga guardar uma fofoca dessas — fingi um tom de chocada.

Kelly apontou um dedo para mim com a unha perfeitamente pintada.

— "Ele" está aí de novo! — Acusou.

Ela voltou com a história do sarcasmo.

Suspirei cansada. Tinha acabado de acordar, mas em 5 minutos Kelly sugou de mim o equivalente a 11 horas de reposição de energia.

— Era uma emergência — tentei me defender.

Ela colocou as mãos na cintura e me encarou em silêncio.

— O que poderia ser tão urgente que só você poderia resolver e ainda por cima às 11 horas da noite?

Sorri cansada.

— Dever de casa? 

Kelly abriu a boca em um perfeito "O" e apontou para mim os dois dedos indicadores.

— Eles estão fazendo lavagem cerebral em você! Eu quero a Sarah de volta! Ela era chata, mas eu gostava dela.

Revirei os olhos. De todas os possíveis cenários, ela sugeria o mais impossível. Rainha do Drama devia ser o título dela. Até que eles combinavam bem: Kelly, a Rainha do Drama e Jonathan, o Galinha.

— Claro, e eles me obrigaram a nomear todos que conheço para irem atrás também. E você é a próxima da lista para a lavagem.

Kelly colocou as duas mãos na cintura e fechou os olhos respirando fundo, seu cabelo castanho escuro preso em um coque ameaçava cair a medida que balançava a cabeça levemente negando alguma coisa. Eu a tinha como uma irmã. Éramos inseparáveis desde o ensino médio e nada mudou após concluirmos o último ano.

Porém ela era insana.

Tinha algo muito errado no cérebro dela.

Kelly sentou na minha cama e me encarou séria.

— Sassy* — começou, era assim que me chamava desde sempre —, me conta o que está acontecendo. De verdade.

Esfreguei a mão na testa tentando arranjar uma desculpa rápida, mas já sabia que nada iria adiantar. Eu era uma péssima mentirosa pelo simples fato de não mentir com frequência. Ambos Kelly e meu pai sempre sabiam quando eu tentava enganá-los. Não era também como se que quisesse mentir, não gostava de ter que fazer isso.

Por outro lado, eu não podia contar a verdade. 

— Evan está passando pelos mesmo problemas que eu passei — respondi com cautela para não deixar escapar nada além do necessário.

— Santo flamingo dançando tango, Sarah! — Minha amiga falava nomes de animais em situações bizarras ao invés de xingar. Mais uma vez, ela era insana. — Ele sofreu um acidente? Há quanto tempo ele está sem andar? 

— Evan não está em uma cadeira de rodas — suspirei e escolhi com cuidado o que dizer a seguir. — Kel, não é que eu não queira contar todos os detalhes. Eu não posso, é um segredo que não é meu. Um dia você vai saber de tudo, eu prometo, mas agora preciso que confie em mim e tenha paciência.

Ela me encarou com toda a fúria que um filhote de panda poderia transmitir.

— É tudo culpa daquele maldito Galinha.

Franzi o cenho sem entender por um segundo e então quando finamente compreendi, vi que ela mesma havia me dado uma oportunidade para mudar de assunto.

Pigarreei dramaticamente colocando a mão fechada em punho na boca.

— Todo esse show era uma introdução para saber sobre Jonathan e não sobre mim, huh?

Ela encenou perfeitamente uma expressão de ofendida e desentendida.

— Não sei do que você está falando! — Dissimulou olhando para o lado.

— Certo. Então também não vai se interessar em saber sobre o que eu descobri sobre ele.

— O que...

Meu celular interrompeu Kelly. Antes que eu pudesse alcançá-lo, ela o pego primeiro e arregalou os olhos quando viu quem me ligava. Ela atendeu e colocou no viva voz. 

Abusada.

— Bright? — A voz de Jonathan ressoou pelo quarto.

As mãos de Kelly apertaram forte a minha colcha.

— Perfect timing**, Jonas — respondi fitando minha amiga que ainda não havia me olhado.

— E por que seria?

Kelly então voltou-se para mim e fez uma súplica silenciosa com as mãos para não falar nada sobre ela.

— Estava entediada.

Sorri para ela que parecia começar a ficar irritada. Ele gargalhou do outro lado da linha.

— Aparentemente vocês dois estão em sincronia.

Franzi o cenho sem entender.

— Do que você está falando?

— Não do quê, de quem — corrigiu-me, sua voz tinha um tom de excitação. — Evan saiu daquele maldito quarto para almoçar e Carla me disse que o pegou lendo um livro.

Suspirei um pouco decepcionada. Havia pensado que era alguma coisa importante. Claro que ele precisava comer, mas não era como se ele nunca tivesse comido na vida.

— Não é grande coisa.

Ele estalou a língua claramente discordando.

— Eu acho que é. Fazia 4 dias que ele não comia nada — explicou.

Kelly colocou uma mão na boca assustada. 

— Isso sim é grande coisa — ela sussurrou tão baixo que tinha certeza que ele não tinha ouvido.

Então de repente tudo fez sentido. Fitei a minha amiga com os olhos arregalados. 

Mas é claro!, pensei.

A resposta para o que acontecera entre Kelly e Jonathan estava na minha frente o tempo todo desde de que eu soube sobre o problema de Evan. 

Como eu não pensei nisso antes?, repreendi-me.

— Jonathan, quando foi a última vez que você esteve com uma mulher? — Eu precisava perguntar, precisava confirmar.

Ele riu.

— De tudo o que você poderia me perguntar, não poderia ter escolhido nada mais aleatório.

— Quando foi? — Repeti impaciente.

Eu sabia que ele não se importaria em me dizer, não era o tipo de pessoa que ficaria embaraçado com algo desse tipo.

Ouvi ele soltar um suspiro frustrado.

Ha ha!, pensei triunfante.

Já sabia a resposta antes mesmo dele falar.

— Três meses atrás — ele riu mas não havia humor. — Talvez nem possa contar essa como última.

O tempo todo eu falava com ele sem desviar a atenção de minha amiga. Os olhos dela já deviam começar a arder pelo tempo sem piscar. 

— O que aconteceu?

Conseguia imaginá-lo passando as mãos pelos cabelos.

— Evan teve um ataque quando estávamos na melhor parte.

Kelly fechou a boca que esteve aberta esse tempo todo e pude observar seus olhos umedecerem. Ela me encarou suplicando por uma pergunta. Aquela que ela estava sofrendo para saber há muito tempo.

Assenti e sorri para ela tentando confortá-la. 

— E por que não saiu com mais ninguém depois? Isso foi há algum tempo, poderia ter arranjado outra garota.

Ele não respondeu imediatamente. Estiquei o braço para segurar a mão de Kelly. Eu sabia que era doloroso falar sobre isso, mas ela precisava ter esse problema resolvido e isso era tudo o que eu podia fazer por eles.

Contudo, eu se eu não estava enganada, Jonathan me responderia exatamente o que eu esperava.

— O azul.

— "O azul"? — Repeti.

— Droga! Aqueles malditos olhos não me deixam a cabeça, Sarah! É como repelente de mulher. Não consigo mais chegar perto de ninguém sem que aquelas chamas azuis não me torturem e atormentem!

Sorri triunfante enquanto me divertia com a expressão de Kelly. Seus olhos azuis desviaram-se dos meus para fitar o meu celular como se ela estivesse vendo o próprio Jonathan.

— Então por que não procura ela de novo?

Ele bufou zombando.

— Sim, claro, e explicar o quê sobre Evan? Eu moro com ele, você sabe. Ninguém pode saber sobre ele, pelo menos por enquanto. Ter trazido ela para cá naquele dia foi um erro...

Tentei pensar em uma solução para aquilo tudo.

Desde quando virei cupido?

— Se ela for tão especial quanto parece ser, tenho certeza que vai entender e esperá-lo até poder contar toda a verdade.

Ele ficou em silêncio, não havia um único ruído atrás. Devia estar em seu escritório trabalhando.

— Preciso ir agora, Bright — desconversou, mas algo me dizia que ele teria muito o que pensar.

Apertei um pouco mais forte a mão de Kelly antes de soltá-la e pegar o celular na cama.

— Ok, Jonas. Nos vemos depois.

Quando desliguei ouvi minha amiga expirar sonoramente. Aparentemente, esteve segurando a respiração por muito tempo.

— Preciso ir agora, Sassy. Meu turno começa daqui a 20 minutos.

Kelly trabalhava em uma padaria perto do apartamento dela e de Kyle, seu irmão mais velho. Morava com ele desde que mudou para o centro de New York para estudar. Os pais dela moravam no interior do estado, por isso se viam apenas duas ou três vezes no ano.

Pela manhã ela tinha aula de defesa pessoal e à tarde trabalhava na cozinha fazendo toda sorte de delícias, desde o mais simples como pães até bolos, sonhos, cupcakes, etc. Ela ainda estava distribuindo currículos para conseguir um emprego na área de administração, que era o curso que havia se formado na faculdade, mas até o momento ainda não havia sido chamada para nenhum lugar.

Sorri maliciosamente.

— Não sem me explicar o que ele quis dizer com "a melhor parte".

Ela desviou o rosto que eu tinha certeza devia estar totalmente vermelho.

— Foi o pedido — respondeu timidamente.

— Que pedido?

— Ele estava me pedindo em namoro!

Não consegui esconder a surpresa.

— Eu pensei que vocês estavam no quarto dele.

Ela colocou as mãos no rosto tentando esconder o embaraço.

— Nós estávamos no quarto dele. Ele estava usando só uma boxer... — ela respirou fundo. — Bom, no Joe's ele tinha me dito que queria sair dali e ir para outro lugar, mas como já eram quatro horas da manhã, não tinha nada aberto. Se eu voltasse para casa essa hora Kyle ia me matar. Eu tinha dito para ele que ia passar a noite aqui. Também não queria vir aqui e acordar você e o Sr. Wright, por isso eu fui para casa de Jonathan. Eu sei que sou louca, não sei o que deu em mim para ir para a casa de um estranho, mas eu fui. Ele disse que não tinha quarto de hóspedes e que eu podia dormir no quarto dele porque o outro estava ocupado. 

Três meses atrás quando tudo tinha acontecido, Kelly apenas me disse que havia ido para a casa dele e que na última hora ele resolveu mandar ela embora. Eu não sabia exatamente o que tinha se passado entre eles.

— Evan — eu disse —, provavelmente era ele quem estava no outro quarto.

Ela afirmou com a cabeça.

— Eu tenho certeza que era ele — respondeu endireitando as costas; sentou ereta e me encarou: — Quando fomos para o quarto dele, ele me prometeu que não iria me tocar sem que eu quisesse, mas disse que iria tirar a camisa e a calça porque só sabia dormir nu — ela corou com a ideia enquanto que eu fiz uma careta; era como imaginar um irmão pelado. — Obviamente, eu disse que ia sair imediatamente se ele fizesse isso, mas ele disse para ficar tranquila que ele não ia tirar... Bem, tudo. Ele ficou só de boxer. Nós deitamos na mesma cama, mas ele não colocou um dedo em mim. Então ele me pediu. Ele me pediu em namoro, Sarah! Disse que queria sair comigo para outros lugares além do pub, queria me ver durante o dia, disse que queria me tratar como eu merecia — fez uma pausa corando ainda mais. — Disse que queria que eu dormisse mais vezes na cama dele.

Não pude evitar que um sorriso se alargasse pelo meu rosto. Eu sabia que Kelly estava apaixonada por ele, mas não sabia que ele fazia o tipo romântico. 

Fiz uma anotação mental para tirar com a cara dele depois.

— Tudo soa muito bem até agora, Kels — constatei.

Fungando um pouco, ela disse:

— Sim, tudo estava perfeito. Eu não sei bem o que aconteceu, não sei se foi o celular que tocou ou o barulho...

— Que barulho?

— Logo depois de Jonathan ter dito tudo aquilo, o celular dele tocou acusando uma mensagem, enquanto ainda estava lendo, um barulho bem alto como que de alguma coisa caindo veio do quarto ao lado. Ele ficou branco na hora, não se mexeu por um segundo na cama. Depois levantou colocando a calça e disse que era para eu ir embora.

— Evan.

Kelly assentiu.

— Sim, agora que sei que ele mora junto com Jonathan, só podia ter sido ele no quarto ao lado. Sabendo que ele tem algum problema, seja lá o que for, agora entendo porque Jonathan se comportou tão estranho — me fitando intensamente, ela disse: — ele deve amar muito o irmão.

Sorri concordando, mas meus pensamentos estavam voltados para outro ângulo. Realmente, Jonathan amava muito o irmão, mas isso não era algo surpreendente.

Não.

A incógnita em toda essa história era: Por que Evan confiava no irmão, mas não na própria mãe?

 

*Sassy: apelido em inglês dado por Kelly. A palavra traduzida que dizer "atrevida", "petulante".

**Perfect timing: tradução (não literal) do inglês: Na hora certa.


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Notas finais do capítulo

Nossa Sarinha é uma pequena gênia. A cabeça dela sempre funciona a mil e não tenho como não admirá-la. Quero muito ser como ela quando eu crescer! hehehe
Espero que vocês a amem ao longo da história como eu a amo.
Leitores novos, se gostaram, favoritem e se gostaram muito mesmo comentem! É sempre um bálsamo para mim ler o pensamento de vocês!
Bye bye!



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