Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 4
Infantil


Notas iniciais do capítulo

Hey, de novo! Como semana que vem vou começar a ficar mais atarefada, sábado parece ser a melhor opção para as postagens em vez de às terças-feiras. Já que o capítulo 4 já estava pronto, não quis esperar até amanhã para publicar.
A partir de agora a história vai finalmente andar, então espero que se divirtam muito com Sarah, Evan, Jonathan e Kelly!



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Antes de mais nada murmurei um rápido "já estou saindo" para o meu pai e desliguei sem ouvir o que ele disse depois.

A mandíbula de Evan estava cerrada, os músculos do braço tensos e os punhos tremiam tanto ao lado do corpo que por um momento eu realmente acreditei que iria ter um ataque ali mesmo. 

— Calem a boca — murmurou tão baixo que não tinha certeza se tinha ouvido certo.

Jonathan provavelmente desviara os olhos de Evan e focara em mim, pois senti seu olhar pesar sobre mim. Voltei minha atenção para ele também. Vi em seus olhos confusão misturada com divertimento e curiosidade.

Algo não estava certo.

— O que você fez? — Perguntou.

Ergui uma sobrancelha sem ter nenhuma pista do que ele queria dizer.

— O que você quer dizer? — Rebati.

Pude sentir Evan nos fulminando com os olhos. Além de não saber do que Jonathan estava falando, também não sabia porque ele havia resolvido que devíamos conversar e ignorar Evan.

— Calem a boca! — Repetiu.

Eu realmente não estava gostar daquilo. Jonathan suspirou ainda absorto em algum pensamento. Sua atenção sobre mim já estava começando a me deixar desconfortável.

— Incrível! — Disse maravilhado.

Abri a boca para perguntar se ele tinha batido a cabeça em algum lugar, mas um barulho de vidro estilhaçando pelo chão chamou a atenção de nós dois.

— Ca-lem a bo-ca! — Repetiu lentamente, enfatizando cada sílaba.

— Nós ouvimos a primeira e a segunda vez, Evan — mantive meu tom de voz calmo e sustentei o seu olhar.

Era a primeira vez que eu falava com ele diretamente e por algum motivo o seu nome fez cócegas na minha língua quando o pronunciei. Não fazia muito sentido falar formalmente com ele visto que era 4 anos mais novo do que eu e estava se comportando como se tivesse 4 anos de idade.

Deslizei a cadeira pelo carpete me afastando de Jonathan até parar em frente a ele. Vi suas pernas tremerem e por um momento pensei que ele iria cair. Em seus olhos, aquele sentimento estranho havia voltado.

Medo. 

Atrás de mim, Jonathan quebrou o silêncio da forma mais inesperada.

— Não olhe para baixo, Ev.

Seu alerta foi inútil para nós dois. Ao mesmo tempo, ambos olhamos para baixo e o porta-retrato que Evan jogara no chão tinha espalhado cacos para todo o lado. Ele estava ilhado por vidro até que então reparei em uma linha fina escarlate que começara a se desenhar no carpete. Ele havia machucado o pé, mas não parecia grave, apenas superficial.

— Não se mova — ordenei.

Tirei meu casaco da bolsa e enluvei a minha mão para tentar tirar um pequeno caco que havia encravado em sua pele e fazia o sangue escorrer em filetes.

— Evan! — Ouvi Jonathan exclamar e se levantar atrás de mim.

Quando olhei para cima, para Evan, vi a cor deixar seu rosto e seus lábios se tornarem extremamente pálidos. Seu corpo balançou; ele estava perdendo o equilíbrio.

Estava perdendo a consciência.

Ele caiu para frente em minha direção e em um reflexo rápido de tentar amortecer a queda dele, abri os braços para apoiar seus ombros largos com as palmas das mãos antes de seu corpo cair sobre o meu pesadamente. Felizmente eu ainda não havia pegado o caco de vidro, senão teria encravado-o no ombro dele acidentalmente.

Seu peito me cobria totalmente, sua figura engolfou todo o meu tronco e sua cabeça pendia em meu peito. Mesmo estando sentada e ele de joelhos à minha frente, ainda assim, era mais alto do que eu. Seu perfume era inebriante e me encontrei surpresa. Inconscientemente, eu havia imaginado que ele não devia fazer higiene pessoal com regularidade podendo de alguma forma acarretar em certos odores desagradáveis. Porém, não foi esse o caso. Havia um cheiro diferente nele que me fez perder o foco por um segundo.

— Jonathan — grunhi.

Era estranho que Jonathan não tivesse corrido para me ajudar imediatamente. Tentei olhar para ele e então captei-o com o canto dos olhos logo atrás de mim. Quando levantei a cabeça não soube reagir ao que estava vendo.

Ele estava com a câmera do celular apontado para mim, para nós. Franzi o cenho em reprovação e irritação.

— O está fazendo? — Inquiri.

Ele guardou o celular no bolso da calça e postou-se à minha frente, atrás de Evan.

— Coletando dossiê — respondeu com um sorriso malicioso.

— Falamos sobre isso depois.

Deu de ombros e se posicionou para me ajudar. Ele fez o que pareceu ser um esforço enorme para erguê-lo de cima de mim e pô-lo no sofá.

— Nossa, Ev, isso é o que eu chamo de peso-morto — reclamou com o irmão, ainda que soubesse que ele não podia ouvi-lo.

Esfregou o antebraço na testa secando gotas inexistentes de suor e expirou um som de alívio. Como era dramático... Lembrava-me muito de alguém. Uma certa amiga.

— Está claro que você não tem a menor condição de carregá-lo até o quarto dele — constatei o óbvio.

Ele sorriu como se um pensamento o estivesse divertindo.

— E por quê deveria? 

Levantei uma sobrancelha e apontei para o sofá com a cabeça.

— Vai deixar ele dormir aqui?

Ele foi para a cozinha e serviu-se de um copo de água.

— E por quê não?

Suspirei. Ele não tinha jeito.

— Vai responder tudo com perguntas?

Ele veio até mim trazendo um copo também com água e estendeu a mão. Peguei e sorvi agradecida.

— Algum problema? — Ele disse.

Revirei os olhos. Não tinha jeito mesmo.

— É melhor colocá-lo no quarto dele.

— Por quê? Você pretende carregá-lo?

Obviamente ele continuaria me respondendo com perguntas. Desde que havia conhecido Jonathan — o equivalente há dois dias — tive vontade de bater nele pelo menos umas 10 vezes. Eu definitivamente entendia Kelly.

Definitivamente.

Supirei antes de responder:

— Porque é o único lugar que ele se sente seguro — olhei para Evan deitado no sofá. 

Ele parecia tranquilo, seu peito subindo e descendo devagar. Seu corpo estava relaxado, totalmente diferente de uns segundos atrás. Voltei-me para Jonathan que levantou uma sobrancelha.

— Como sabe que ele também surta naquele quarto? 

Sorri para ele sem um pingo de humor. Sorri porque eu também conhecia aquele sentimento. De alguma forma, mas do que eu pudesse sequer imaginar, em dois dias eu havia sentido mais empatia por Evan do que jamais senti por ninguém. Nem mesmo no orfanato onde eu costumava doar algumas roupas e tocar piano para as crianças ou no asilo que visitava duas vezes ao ano. Tantas histórias eu já havia ouvido, compartilhado as dores daquelas crianças e idosos e ainda assim, meu coração nunca havia se identificado tanto com a situação e sentimentos de uma pessoa como eu havia sentido com Evan.

— Porque é impossível alguém passar por tamanho estresse físico e mental e não ter um refúgio — respondi finalmente. — Ele está lidando com algo que está fora de seu controle. O fato de ser teimoso e arrogante só piora o sentimento de impotência que tem. Dificilmente ele teria aguentado até agora se não tivesse um refúgio.

Jonathan passou os dedos pelo cabelo perfeitamente penteado.

— Está dizendo que se não fosse por ele ficar enfurnado naquele maldito quarto 24/7* ele teria se matado?

Assenti.

— Ou perto disso.

Ele sentou ao lado de Evan e olhou para o irmão.

— Jesus, Evan! — Murmurou perplexo.

— Eu não sou psiquiatra, então não posso dizer exatamente o que poderia ter acontecido. Também nunca passei pelo mesmo problema que o seu irmão — comecei. — Mas tudo o que ele está sentindo desde o desespero, fúria, impotência, tudo isso eu já senti e é esmagador. — Silêncio se estabeleceu por alguns minutos até que desci meus olhos para o meu colo e vi meu celular, lembrei-me de meu pai imediatamente. — Preciso ir agora, Jonathan.

Ele olhou para mim e assentiu.

— Eu te levo.

Balancei a cabeça.

— Não, eu posso ir sozinha. Você coloca Evan no quarto. Se ele acordar em um ambiente que não seja onde se sinta confortável pode causar mais estresse.

Ele cruzou os braços.

— Quando ele acordar, vai saber que não foi parar no quarto voando. Vai saber que alguém pôs ele lá e se tem algo que eu sei sobre tudo isso mais do que você é que ele odeia muito mais ser tocado do que falar com outras pessoas.

Ponderei por alguns segundos antes de obter a melhor resposta.

— É verdade, mas acredito que ele vai saber que terá sido você a carregá-lo e alguma coisa me diz que ele não vai se importar tanto.

Não era uma suposição difícil de se fazer.

— Você realmente é alguma coisa, Srta. Bright. Bright definitivamente combina com você, até seu cérebro é brilhante — ele sorriu balançando a cabeça. — Será que posso chamar um táxi?

Ri do seu sarcasmo e aceitei o favor. 

Ele não tentou explicar o motivo da confiança de Evan, mas também não negou.

No caminho para casa, tentava colocar os pensamentos em ordem. Eu sabia muito bem porque eles moravam em outra casa além da do Sr. e Sra. Roberts. No dia anterior, pensando na cama antes de dormir, concluí que quando ela havia me dito para conversar ao telefone ao invés de pessoalmente, ela não queria que eu soubesse ou suspeitasse do problema de Evan a menos que eu desse certeza de que aceitaria o trabalho. Provavelmente com medo de eu vender informação para a imprensa; por isso que havia me pedido sigilo antes de eu ir embora. Devia ser estressante para ela manter as aparências. Contudo, por algum motivo que eu ainda não sabia, ela mudou de opinião e decidiu me encontrar.

O que havia me deixado mais surpresa na proposta dela foi exatamente o fato de ter me convidado para ser professora de Evan enquanto que a revista que eu tinha lido na casa de Kelly dizia logo na primeira página "O segundo solteiro mais cobiçado de New York sai do país para fazer viagem internacional por tempo indeterminado". Eu não mencionei esse detalhe para Sra. Roberts em nenhum momento pois não queria que pensasse que desperdiçava meu tempo com revistas de fofocas femininas, mas minha amiga e eu achávamos muito estranho o fato de eu ter que subitamente ajudar com "os deveres de casa" do mais novo dos Roberts quando nem mesmo a imprensa havia anunciado a volta dele ao país — Kelly fez questão de pesquisar todos os tablóides e confirmou que não havia nada sobre ele ter voltado. Tudo, porém, fez sentido quando soube de toda a situação: ele nem havia pisado os pés fora de casa depois do que quer que tenha acontecido, muito menos ido ao exterior. Foi tudo uma mentira para que o público não soubesse do problema que enfrentava. 

Eu não sabia de muita coisa ainda, mas algumas peças já haviam se encaixado na minha cabeça: primeiro, devido à antropofobia, Evan provavelmente não se sentia bem com todos os empregados da mansão deles, além dos próprios Sr. e Sra. Roberts, logo, ele precisaria de um tempo de reclusão onde poderia se recuperar: o novo apartamento. Segundo, o caso de Evan era tão sério a ponto de deixar uma mulher visivelmente equilibrada como a Sra. Roberts totalmente desesperada a ponto de deixar o filho doente morar sozinho; mas, de fato, ele não estava sozinho, morava com Jonathan e por algum motivo isso não parecia ser problema para ele. O que me levou ao terceiro e mais importante ponto, que era o fato de Evan confiar em Jonathan quando nem mesmo na mãe confiava. Em momentos de desespero, o que se espera é que a primeira pessoa em quem alguém pensaria em estar junto seria a mãe, mas Evan apoiava-se no irmão e eu sentia que isso se relacionava com o que quer que o tenha deixado assim.

Minha cabeça estava fervendo e senti todo o meu corpo pesar de exaustão ao tentar entender a situação, precisava dormir imediatamente para zerar por completo os pensamentos.

Meu pai abriu a porta antes mesmo de eu colocar a mão na maçaneta. Sorri para ele tentando disfarçar o cansaço. 

— Já jantou, paps? — Perguntei.

— Não tente mudar de assunto, Sarah.

Estava tão preocupado que as rugas de seus 54 anos se acentuavam.

— Nem começamos um assunto para mudá-lo — ri da expressão dele. — Pelo menos vamos entrar.

Fomos para a cozinha onde ele começou a preparar chocolate quente com creme para nós dois. Beberiquei o doce grata por começar a sentir meus músculos relaxarem.

— Você não vai mais trabalhar para eles — disse cruzando os braços. 

Ele me encarava tentando demonstrar irritação, mas seus olhos denunciavam apenas preocupação.

Sorri para ele e tomei outro gole do chocolate.

— Paps, não é o você está pensando. Hoje o dia foi tão produtivo que não damos conta do horário. Meia hora havia passado do meu tempo com Evan quando Jonathan chegou do trabalho. Quando viu que eu ainda estava lá, me convidou para jantar. Nós conversamos e perdemos a hora.

Não podia contar a verdade toda para ele. Nem mesmo Kelly sabia sobre o segredo de Evan e pretendia manter assim por um tempo. Eu não guardava nada que minha amiga não soubesse, nem mesmo meu pai, mas as circunstâncias não diziam respeito à minha vida pessoal e sim a de outra pessoa, por isso precisava manter o sigilo. Além do pedido da Sra. Roberts de não dizer nada a ninguém.

Meu pai pareceu relutante enquanto processava o que lhe dizia. Algo pareceu perturbá-lo, pois seus olhos e feições mudaram antes de falar. Ele limpou a garganta com um pigarro e perguntou:

— Esse Jonathan é um bom rapaz? Eu preciso conhecê-lo.

Pisquei algumas vezes antes de entender aonde ele queria chegar e gargalhei bem alto sem nem ao menos tentar me segurar. Algumas lágrimas escaparam pelos meus olhos e tive que colocar a caneca de chocolate na mesa para não derramar.  

Minha cabeça estava pesada e absorvida em pensamentos sobre todo a confusão que eu estava me metendo enquanto meu pai estava se preocupando com a coisa mais impossível de acontecer. Além de hilária. Eu sempre podia contar com ele para fazer o meu dia melhor e relaxar. A melhor parte era que ele nem fazia ideia dessa capacidade, o que o tornava ainda mais especial.

— Pai, não tem nada entre mim e Jonathan além de amizade — deslizei a cadeira para mais perto dele e estendi os braços para abraçá-lo. — Eu o conheço há apenas dois dias, mas já o vejo como o irmão mais velho que sempre quis ter, além do mais Kelly me mataria.

— Por quê?

Sorri entre seus cabelos grisalhos.

— Longa história. Pergunte à ela quando vier aqui esse final de semana. Ela adora contar o que aconteceu.

Ri de minha amiga. Tinha certeza que por dentro ela devia sentir uma pequena inveja de mim por estar trabalhando no apartamento de Jonathan.

Meu celular me tirou do transe em que estava e soltei-me do abraço de meu pai. Ultimamente, eu estava recebendo muitas ligações; algo bem incomum considerando que só cinco pessoas sabiam meu número.

Era a Sra. Roberts.

— Quem é? — Perguntou meu pai.

Ele não podia ler o nome no visor sem os óculos.

— É a Sra. Roberts — teria sido mais fácil falar que era Kelly, mas eu não queria mentir ou omitir mais do que o necessário. Poderia começar a me acostumar. — Esqueci meu livro na casa deles.

Precisava arrumar uma desculpa para não deixá-lo ainda mais preocupado com a "exploração" que eles estavam fazendo comigo. No entanto, não era mentira. Eu realmente havia esquecido o livro lá. Ele só não sabia que a Sra. Roberts além de não se preocupar em ligar por algo tão esdrúxulo como o meu livro, não morava no apartamento deles e que, além de Carla, éramos só eu e Evan o dia todo sozinhos. Ele no quarto dele e eu do lado de fora, obviamente.

— Srta. Wright? — A voz dela soava um pouco excitada, provavelmente não sabia do que tinha acontecido mais cedo.

— Sim, Sra. Roberts, em que posso ajudá-la? 

— Como foi hoje com Evan?

Pude sentir que não era exatamente sobre isso que ela queria falar.

— Nada além do esperado — respondi.

Achei melhor não mencionar o episódio para não preocupar nem a ela, nem a meu pai que escutava atentamente as minhas respostas.

— Acredito que tenha se enganado.

Levantei uma sobrancelha confusa.

— Perdão? 

Houve uma pausa.

— Evan quer te ver.

Pisquei atônita não acreditando no que estava ouvindo.

— Perdão? — Repeti estupidamente, então pigarreei. — Quando?

— Agora.

— O quê?

Eu definitivamente estava me tornando um vegetal. Senti meu cérebro derreter.

— Agora mesmo, Srta. Wright. Um táxi já está a caminho da sua casa. Esteja pronta em 15 minutos.


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Notas finais do capítulo

Aparentemente todo mundo quer mandar em Sarah! O que será que ela vai fazer agora?
Próximo capítulo será postado sábado que vem ou talvez antes, quem sabe...
Bom final de semana!



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