Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 15
O Que Realmente Aconteceu


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpem de novo pelo mega atraso! Acho que nunca fiquei tanto tempo sem postar...
A faculdade está me sugando até o caroço. E a maior prova disso é que eu postei o capítulo 15 ontem na minha outra história. Se eu não tivesse checado agora ainda estaria lá. Preciso de férias! hahhahahahaha
A boa notícia é que hoje é o último dia do período, graças a Deus! O que significa postagens mais regulares. Deixei um recadinho com boas notícias na página da minha outra história, Her Wealth and His Misery, para aqueles que estão acompanhando.
Boa leitura!



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Déjà vu*.

Quando acordei, permaneci de olhos fechados enquanto sentia a mesma cama, os mesmos lençóis e... Minha nossa, aquele perfume único que era só dele! Mas ele não estava lá.

 Eu lembrei que já havia estado em uma situação parecida antes e me encontrei surpresa por em tão pouco tempo já ter dormido na cama de Evan duas vezes.

Pareço uma promíscua! Entortei o nariz com esse pensamento.

Eu nunca havia dormido na cama de outro homem que não fosse a do meu pai, mas eu sabia que não havia feito nada de errado. Na noite anterior, o jeito que Evan me tocou, as coisas que me falou... Eu era culpada por ter deixado as coisas irem tão longe, mas eu estava cansada, ele estava delirando de febre a tal ponto que não sabia o que falava, nem fazia e... 

Era isso! Mas é claro!

Um sorriso se esboçou nos meus lábios.

Evan estava apenas delirando por causa da febre! Ele realmente não quis dizer o que disse ou fazer o que fez. Talvez até mesmo nem se lembrasse de nada do que havia acontecido... Por algum motivo, senti uma pontada no peito ao considerar essa possibilidade.

— Pensamentos impuros logo de manhã? — Acusou-me o culpado de todos os meus problemas.

Suspirei em frustração. Sentei devagar e com a ajuda das minhas mãos pus as pernas para fora da cama. Ao me espreguiçar, um bocejo escapou pela minha boca e vi um sorrisinho irritante surgir no rosto de Evan.

Era incrível a capacidade que ele tinha de conseguir me irritar tão rápido.

— O que é? — Perguntei seca.

Ele andou em minha direção até parar na minha frente. Era tão alto que não pude levantar a cabeça sem sentir meu pescoço doer. Ele agachou na minha frente apoiando todo o peso do corpo nas pontas dos pés. Seus braços ficaram cada um de um lado meu na cama.

Por uma fração de segundo vi seus olhos demorarem um pouco mais nas minhas pernas e então voltar para os meus olhos. Não entendi o que aquilo significava, não havia nada de errado com elas — nada além do fato de eu não conseguir mexê-las sozinhas, obviamente. 

Aquelas duas enormes avelãs me encarando era intenso demais para eu conseguir sustentar sem corar, mas eu ainda tinha alguma dignidade e portanto, não desviei meus olhos dos dele. Outro sorriso tomou conta do seu rosto.

— O que vamos fazer? — Perguntou. Pisquei algumas vezes sem entender. Ele viu minha confusão, mas não tentou explicar. Parecia estar se divertindo com toda aquela situação. Falou por fim: — Como eu disse: pensamentos impuros.

Senti meu rosto queimar de raiva e bufei. Desvei os olhos dos dele para o ambiente ao meu redor e então parei de respirar.

Não havia nada.

Nada.

Absolutamente nada no quarto de Evan.

O fato de que na outra vez em que eu estivera ali bem como na noite anterior estava tudo completamente escuro,  impediu-me de observar como era o lugar que havia praticamente se tornado o refúgio dele.  Além da cama na qual eu estava sentada, havia a pequena cômoda com três gavetas com o abajur em cima.

Mais nada.

Na parede oposta a da cama havia uma porta pela qual Evan saira, provavelmente o banheiro. Na parede ao lado direito da cama estava a porta por onde eu havia entrado e a do lado esquerdo tinha uma persiana com blackout* que impedia a passagem de luz exterior. Estávamos embanhados em luz artificial através de uma lâmpada única no centro do teto.

E só.

Quando terminei de percorrer todo o cômodo com os olhos e voltei os meus para os de Evan, ele me encarava com um sorriso diferente. Parecia um sorriso cansado, como se dissesse "é assim que eu prefiro ficar". Encaramos-nos por um bom tempo em completo silêncio, sentia como se estivéssemos conversando, mas sem em nenhum momento pronunciar qualquer palavra. Não pude evitar de observar que o arranhão na bochecha dele parecia melhor, mas a gaze permanecia no supercílio bem como a faixa em volta da cabeça. 

Um suspiro saiu da minha boca. Eu não conseguia entender como Evan conseguia me fazer perder a objetividade tão facilmente. Eu nem ao menos havia perguntado sobre o que acontecera no dia anterior e estava tratando tudo como se nada tivesse acontecido. Da mesma forma, na noite passada eu dormi irresponsavelmente sem nem tentar controlar a febre dele.

Eu perdia o foco. Sempre.

— Ainda está com febre? — Sussurrei.

Não sabia por que estava falando tão baixo. Apenas pareceu o tom certo para se falar.

Com o olhar ainda fixo no meu, ele pegou a minha mão e a levou ao próprio rosto. Um suspiro de alívio saiu dos meus lábios ao sentir a temperatura normal na pele dele. De repente, seu rosto se tornou sério e parecia estar pensando em algo não muito agradável. Talvez fosse forçar um pouco a situação e eu bem sabia que pela última vez que tentei forcá-lo a falar de algo que não queria eu acabei sendo enxotada para fora do apartamento, porém aquela era uma situação diferente. 

— Evan, o que foi que...

Fui interrompida por uma batida um tanto brusca e impaciente na porta. Desviei os meus olhos daquelas avelãs intensas e me concentrei na direção do som. Evan permaneceu na mesma posição e não parecia fazer qualquer menção de deixar ninguém entrar.

— Não vai atender? — Perguntei ainda sem olhá-lo. Como não obtive resposta voltei a atenção para ele, mas parecia entediado, talvez um pouco irritado. Nunca conseguia entender o que se passava na cabeça dele. Resolvi responder à segunda batida: — Entre.

Não demorou um segundo para um Jonathan completamente agitado entrar no quarto. Ele segurava o celular nas mãos apertado como se fosse ouro.

— Sarah, você... — quando nos viu na posição em que ainda estávamos: eu de frente para o Evan e ele agachado me emprisionado com ambos os braços, Jonathan hesitou por um breve instante antes de um sorriso muito estranho e assustador surgir no rosto dele.  — Eu sab...

— Não! — Eu cortei já sabendo o que ele ia dizer. — Não é o que você está pensando e não estou com humor para explicar. — Suspirei realmente expandindo os pulmões, precisaria de um longo fôlego para o que quer que viesse a seguir. — O que você quer?

O sorriso irritante não deixou o rosto de Jonathan.

— Precisamos conversar — respondeu. Como ninguém se moveu, acrescentou: — A sós.

Senti as mãos de Evan se fecharem em punhos em meus dois lados. Sua pele roçava suavemente o jeans da minha calça, mas ainda conseguia sentir o calor irradiando de sua pele. .

Foco, Sarah!

Não sei explicar o porquê, pois foi um movimento automático do meu próprio corpo. Quando percebi o que estava fazendo, minha mãos haviam repousado nos punhos cerrados de Evan como uma forma de acalmá-lo.

— Ok — respondi —, eu só preciso jogar uma água no rosto e já saio.

Vi um lampejo atravessar os olhos de Jonathan, como se tivesse acabado de ter uma ideia. Ele veio em nossa direção e pôs a mão em meu ombro direito.

— Precisa de ajuda com a cadeira?

Evan levantou da sua posição e espantou a mão do irmão do meu ombro. Sem que Jonathan ou eu mesma pudesse processar toda a cena adequadamente, Evan serpenteou o braço direito em minha cintura e envolveu minhas pernas com o outro braço me levantando do colchão. 

Por alguns segundos a minha mente ficou em branco. Então um turbilhão de pensamentos vieram com força total. Sarah, reaja!, minha voz interna gritou comigo. Ele está fazendo o que bem quer com você!

Eu empurrei o peito largo — e muito forte, absurdamente ridiculamente estupidamente forte — querendo me soltar.

— Evan me solta! Eu sei muito bem me deslocar para sentar na minha própria cadeira.

Sem me escutar como a cabeça dura que ele é, pôs-me na minha velha LT e apoiou-se em ambos os meus apoios de braço me enjaulando novamente. Seu rosto se aproximou do meu e senti pequenos choques em toda a área da minha bochecha onde sua barba por fazer a roçou. Seus lábios tocaram de leve o lóbulo da minha orelha quando os abriu para falar:

— Tudo vai ser diferente a partir de agora.

Dito isso ele se afastou o suficiente para me encarar por alguns segundos e então saiu do quarto sem olhar para trás, mas não fechou a porta deixando a mim e a Jonathan claramente embasbacado sem palavras. Senti todo o meu rosto esquentar com o enrubescimento. Em parte eu estava embaraçada que Jonathan tivesse visto toda essa cena, mas em parte eu estava mesmo com muita raiva.

Ele se achava o todo poderoso cuja vontade era suprema. 

— O que que foi isso? — Jonathan sussurrou em um tom desentendido e fofoqueiro.

Não pude evitar de rir. Ele tinha um dom.

— O que quer falar? — Fui direto ao ponto.

— Depois de tudo o vi aqui não acho que o que eu tenho para falar seja mais interessante — revirei os olhos para o comentário. — Não seria polido de minha parte ocupá-la antes que possa ter seu próprio tempo para higiene pessoal e um bom café da manhã.

Eu ri por toda a falsidade no discurso hipócrita dele. Porém, dito isso ele saiu do quarto também e me deixou só para que pelo menos pudesse escovar o dente ou pentear o cabelo — que eu nem queria pensar de que tamanho estava.

Encontrei o banheiro de Evan com as mesmas características do quarto. Além da pia, do box — que era enorme, todo feito em mármore com portas de vidro temperado —, um vaso sanitário e um pequeno cesto de lixo não havia mais nada. A cor era branca, na pia havia apenas o suficiente com uma lata de desodorante — que eu duvidava muito que fosse o motivo de todo o perfume que emanava dele — fio dental, uma escova de dentes e uma pasta de dente. 

E havia algo mais, algo que eu já havia visto antes na sala.

Um pequeno vidrinho aromatizador com varetas que saiam de dentro estava no canto da pia longe dos outros utensílios. Peguei o recipiente em minha mãos e levei-o ao meu nariz, o aroma era fraco pois não havia mais líquido dentro dele, já tinha secado. Porém, reconheci ser o mesmo aroma do que estava na sala. Era um cheiro que me lembrava muito a minha mãe e do abraço dela e não soube explicar o porquê de Evan ter aquilo consigo.

Não havia mais nada naquele banheiro, um espaço tão grande que bem podia ter duas vezes o tamanho do meu quarto, e não havia nada para preencher.

Liguei a torneira e joguei um pouco de água no rosto. Avistei duas toalhas penduradas perto da pia que não havia reparado antes. Uma era de rosto e a outra de corpo inteiro. A maior parecia molhada e senti meu rosto corar ao pensar que Evan a havia usado mais cedo. Enxotando pensamentos inapropriados para minha lixeira mental, peguei a pequena toalha e enxuguei o rosto.  Minha cara devia estar acabada e meu cabelo péssimo, mas não pude confirmar por mim mesma pois não havia nenhum espelho por perto. Desistindo de tentar parecer minimamente apresentável, sai de lá.

Evan ainda não estava no quarto, então fui para a sala que também não tinha ninguém. Quando cheguei na cozinha encontrei-o sentado em uma cadeira de frente para a de Jonathan na mesa de jantar, ele tinha os braços cruzados e parecia estar em um péssimo humor.
Jonathan por outro lado estava ignorando completa e conscientemente a aura assassina que emanava do irmão e comia uma torrada concentrado. Quando me aproximei ele desviou os olhos da comida e abriu um largo sorriso para mim. Piscando um olho ele acenou para o espaço aberto do lado dele, com certeza ele havia removido a cadeira que tinha ali para que eu pudesse me encaixar.

Passei pelo lado de Evan já me dirigindo próximo do irmão dele quando senti minha cadeira ser puxada para trás e parar exatamente ao lado da dele. Encarei-o com irritação, mas não pareceu surtir efeito. Ele estava me tratando como um brinquedo! Quanta infantilidade querer disputar atenção com o irmão mais velho.

— Se me dá licença... — eu disse entredentes para que ele soltasse a LT.

— Você senta aqui — ordenou.

Sorri ironicamente e empurrei a mão dele para longe do guia da cadeira. Obviamente só consegui fazer isso porque ele estava de guarda baixa, nunca seria capaz de disputar força com ele. Tinha experienciado isso muito bem na noite anterior.

— Eu sento aonde eu quiser. E nesse momento coincide de ser ao lado de Jonathan.

O mesmo me encarava como se eu tivesse acabado de fazer um truque de mágica. Evan parecia ainda mais enfurecido. Ignorando ambos, peguei uma torrada do prato que estava em cima da mesa e tomei um gole de suco. Carla entrou na cozinha pouco depois com um balde e uma vassoura nas mãos. Seus olhos brilharam ao me ver.

— Sarah! — exclamou.

— Oi, Carla — sorri feliz em vê-la. — Como está Hernández?

Ela parecia um pouco sem graça para falar sobre o assunto na frente dos rapazes. Sorri ainda mais incentivando-a, sabia que ela estava apenas com medo de falar demais de si e seus problemas para a família que tanto a ajudou.

— Oh, ele está bem — respondeu ainda um pouco hesitante. — Minha mãe me ligou hoje cedo e me disse que ele já tinha acordado. Ela tinha saído para tomar um café e quando voltou ele estava de pé perguntando para uma enfermeira onde estava o uniforme de trabalho dele.

As bochechas dela coraram ao me contar a história. Não pude evitar soltar uma risada baixa. Aquilo era mesmo a cara de Hernández.

Pelo canto dos meus olhos vi Evan me fitar com uma expressão que não soube decifrar, mas que por algum motivo me fez sentir um friozinho bom no estômago.

— Mande para ele um abraço por mim. Espero que tenha uma boa recuperação porque parece que a sua mãe vai ter muito o que falar no ouvido dele.

Ela riu baixinho e com um aceno de cabeça dirigiu-se para a área de serviço. 

Jonathan tinha os braços cruzados no peito e me encarava muito estranho. De novo. Sem desviar os olhos do prato de torradas à minha frente, já levando outra a boca, eu disse:

— Os dois me encarando assim me faz quase perder o apetite — Ambos permaneceram quietos. Com um último gole naquele suco de melancia maravilhoso que eu sabia que havia sido feito por Carla, limpei a boca, voltei meus olhos para Jonathan e falei de novo: — Não queria conversar comigo?

Ele levantou da mesa ainda sem responder e foi em direção à sala. Seguindo-o pelo mesmo caminho, fui parada por Evan que segurou na roda da minha cadeira quando passei por ele. Não falou nada, apenas me fitou por um longo momento com uma mistura de sentimentos nos olhos que fizeram meu coração apertar. 

Apesar de ainda estar um pouco irritada com a atitude dele de mais cedo, não consegui ser dura com ele como queria.

— Eu já sei o que nós vamos fazer — respondi. Ele pareceu confuso. — Meu teclado está na sala com as minhas coisas. Vamos precisar de alguns papeis, um lápis e uma caneta. Me espere lá.

Ainda sem entender o que eu queria com aquilo, senti seu aperto afrouxar nos aros da roda e tomei a deixa para seguir a mesma direção que Jonathan. Ele havia entrado no escritório pois vi a porta entreaberta e a luz acessa. Era plena manhã ainda, mas tinha certeza que lá dentro a cortina deveria estar cobrindo qualquer luz solar.  Entrei no cômodo e fechei a porta atrás de mim. Ele estava sentado em uma das poltronas no centro do escritório com os braços apoiados nos cotovelos.

Quando me viu sorriu como um convite para me aproximar, mas senti algo por trás daquilo tudo que fazia subir calafrios na minha espinha. Desde à noite anterior eu já sabia que algo não estava certo e por algum motivo sentia que estava prestes a descobrir o que era.

— Então? — Perguntei logo que me pus a frente dele. 

Uma pequena mesa de centro de mogno nos separava. Seus olhos que antes pareciam imersos em alguma preocupação, reluziram imediatamente.

— É sobre Kelly — respondeu.

Ergui uma sobrancelha. Por essa eu realmente não estava esperando.

— O que tem ela?

Ele passou os dedos pelo cabelo bagunçando-os ainda mais e recostou na poltrona.

— Já há alguns dias venho tentando chamá-la para sair. Ontem mesmo eu tinha ido no trabalho dela quando o turno havia acabado. —Pisquei surpresa. Não sabia que Jonathan sabia correr atrás ou que ele era capaz de correr atrás. — Depois de muitos "nãos" e muito mais insistência minha, ela cedeu. Hoje ela me disse sim.

Fez sentido então a imagem de mais cedo dele segurando o celular nas mãos. Kelly provavelmente devia ter literalmente acabado de aceitar ir em um encontro com ele; e ele por sua vez, queria me contar imediatamente.

Jonathan parecia verdadeiramete feliz com a conquista e eu não poderia ter ficado mais feliz pelos dois cabeças duras... mas eu não era tão inocente a ponto de achar que as coisas acabavam ali. Ele não me chamaria no escritório para conversar a sós só para me dar uma boa notícia como aquela.

— Então, qual é o problema no qual precisa da minha ajuda? — Eu inquiri.

Ele suspirou ainda sorrindo e esperou alguns segundos antes de falar, como se estivesse escolhendo as palavras certas.

— Tenho medo de estragar tudo de novo... — respondeu por fim. — Talvez seja egoísta da minha parte querer um relacionamento e ser feliz enquanto o problema de Evan ainda não se resolveu. Mas cada dia que passo sem vê-la sinto que vou ficando cada vez mais maluco — ele gargalhou, mas eu sabia que não havia nem um pouco de humor. — Se fosse apenas isso, talvez eu até conseguisse lidar, como consegui durante esses quatro meses sem vê-la. 

— Mas...? — Incentivei.

Ele, que tinha a atenção presa no tapete embaixo da mesa de centro, voltou os olhos para mim.

— Mas aquele dia em que nos encontramos no Joe, e em menos de 30 minutos já tinha meia dúzia de homens atrás dela, fez meu sangue ferver porque eu havia sido estúpido o suficiente para não pensar que se ela não estava comigo, então algum dia estaria com alguém — seus olhos se estreitaram de dor com esse pensamento; senti meu coração se aquecer a cada palavra que dizia. Só estava ficando cada vez mais certa de que eles realmente deveriam ficar um com o outro e não me arrependi de ter sido a culpada por fazer ele pensar que havia mesmo meia dúzia de homens atrás de Kelly. — Eu não sei como lidaria com a situação se a viesse na rua com outro homem, Sarah. Eu tenho medo do que seria capaz de fazer.

Rolei a cadeira para o lado de Jonathan e segurei a sua mão.

— Eu não posso falar por Kelly, mas algo me diz que ela agiria da mesma forma se te visse com outra mulher na rua — ele abriu um sorriso cansado, mas foi genuíno. — E acredite em mim porque digo por experiência própria, com ou sem você ela já é louca por natureza. Eu entendo que você sinta receio de experimentar felicidade enquanto Evan ainda não pode, mas isso não é ser egoísta porque você não vai abandoná-lo. Eu não contei nada do que está se passando para Kelly, mas ela já sabe que se trata de algo na sua família que está além do seu controle, então se qualquer dia você precisar sair correndo para socorrer Evan, ela vai entender.

Jonathan piscou surpreso, provavelmente não esperava nenhuma das palavras que saíram da minha boca.

— Kelly pode ter uns neurônios a menos, mas ela nunca teve uma vida fácil. Problemas familiares é algo com o qual ela está muito bem acostumada, por isso não se preocupe. Apenas dê uma chance para vocês dois e tenho certeza de que não vão se arrepender.

Ele sorriu mais abertamente e apertou as minhas mãos nas suas trazendo-as aos lábios para beijá-las.

— Você é incrível, Sarah — elogiou-me. — Sinto como se tivesse ganhado uma mãe muito sábia.

Tirei minhas mãos das suas e bati de leve no seu braço. Não pude deixar de rir também.

— Por falar em mãe, a sua não pareceu muito feliz comigo... Tenho a impressão de que fiz alguma coisa errada, mas não sei bem o que é.

Jonathan suspirou pesadamente e recostou na poltrona de novo entrelaçando os dedos no colo.

— E isso me leva à outra coisa que eu queria discutir. 

Balancei a cabeça concordando. Eu já sabia o que era e precisava mesmo falar sobre isso com alguém porque obviamente Evan não parecia que iria me contar por si só.

— O que foi que aconteceu ontem, Jonathan? Como foi que Evan acabou daquele jeito?

— Ontem depois que você foi embora, Carla me contou que vocês tinham tido um desentendimento, só não sabia o porquê. Evan se trancou no quarto a tarde por horas. Já no final da tarde minha mãe me ligou enquanto eu ainda estava na empresa me informando sobre o que acontecera com o motorista particular dela...

— Hernández — cortei-o.

Ele assentiu.

— Sim, Hernández. Ela me disse que eu precisava voltar para casa porque ela estava passando para buscar Carla e levá-la ao hospital e obviamente não poderíamos deixar Evan sozinho — disse coçando a nuca. — Aparentemente, Carla havia recebido a ligação da mãe dela contando tudo o que acontecera e ficou desesperada. Na hora que isso aconteceu, Evan estava saindo do quarto e a viu naquele estado. Sei bem que ele não é de se importar com o que as outras pessoas estão passando, mas Carla me disse que ele perguntou a ela se estava tudo bem e para ele ter feito isso era porque ela realmente não devia estar lidando com a notícia do pai da melhor forma. Ela não conseguiu dizer coisa com coisa. Apenas falava nomes soltos e bastou Evan ouvir o seu nome e saber que você estava no hospital para que todo o mal-entendido começasse.

Conforme Jonathan me contava mais e mais, senti a cor deixar o meu rosto e minhas mãos gelarem. 

Por favor, não seja o que eu estou pensando. 

— Carla não conseguia falar direito e Evan também não estava tentando entendê-la. Para ele, na hora, imagino que só pensou que algo havia acontecido com você e que por isso você estava internada no hospital — apertei o apoio de braço da minha cadeira tão forte a ponto de sentir meus dedos dormentes. — Ele não esperou muito mais do que um segundo depois de ouvir o que Carla disse e disparou porta a fora. Acredito que tenha sido fácil essa parte porque só tem o nosso apartamento nesse andar. Mais tarde me contaram que ele tinha descido pelas escadas, provavelmente evitando o elevador para não ver ninguém. Até aí tudo bem, mas se ele realmente pretendia sair do prédio ele teiria que ver um monte de pessoas na rua, não tinha como evitar.

Jonathan pausou para recobrar o fôlego.

— Mas isso não chegou a acontecer. Pelo menos a parte em que ele saiu do prédio. Enquanto descia as escadas, um casal que mora uns andares à baixo do nosso, segundo a recepcionista, estava brigando... — Ele passou a mão no rosto como se não soubesse o que fazer. — Eu não sei como foi que aconteceu tudo. Só o que o casal contou foi que viram Evan rolando escada a baixo. Quando o médico chegou aqui disse que ele devia ter pedido a consciência e por isso caiu. Ele abriu o supercílio e metade da cabeça, mas todos os pontos já foram dados e o médico disse que em uma semana ou duas já vai poder tirar...

Senti todo o ar sair dos meus pulmões. Não consegui mais ouvir o que Jonathan estava falando. Aquilo não podia ser verdade. Evan havia saído de casa por mim? Ele estava encavernado naquele apartamento há três anos sem sair uma vez, nem mesmo havia visto Carla que trabalhava ali o tempo todo até algumas semanas atrás e fui eu quem o fez sair de casa?

Não, não, não... Isso era importante, mas o ponto principal naquilo tudo que fez meu coração angustiar foi outro: fui eu quem o fez se ferir?

*Déjà vu: expressão francesa para a sensação de que já passou por uma situação semelhante.

**Blackout (neologismo: blecaute): é uma espécie de cortina de poliéster que tem como função impedir a entrada de luz e calor solar. 


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Notas finais do capítulo

Nossa, que confusão!
Fico com pena de Sarah porque a cada capítulo a vida dela só se complica mais...
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários (se não for pedir muito) para que eu possa saber o que pensam.
Bom final de semana!



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