Eu acordo da anestesia com uma luz forte no meu rosto e uma enfermeira sentada numa poltrona lendo uma revista da turma da Mônica. Eu estava me sentindo estranha,estava sentindo um vazio.

—Ah,você já acordou! Tenho boas notícias!

—Eu vou poder ir embora logo?

—Não... Na verdade você teve muita,muita sorte.

—Por que? Primeiro de todas as perguntas... Como se chama?

—Lindsay Cooper.

Pelo nome já pude saber que é parente do Mark.

—Angel Smith. Que boas notícias você tem? Aff,acho que isso nem interessa muito. Tipo não vai mudar nada,o Andy não vai volt...

—Não diga isso!

Ela me interrompeu antes de mim falar,então continuou.

—Você teve muita sorte porque ele está vivo!

—Vivo? Mas... Isso não é possível! Eu não acredito.

—Eu também não tinha acreditado quando o doutor falou. Na verdade essa é uma longa história... Primeiro o estagiário colocou anestesia em você. Então você foi realizar o procedimento pois o Andy de fato estava morrendo. Aí quando eu entrei na sala,o doutor estava... Ele estava examinando o Andy,daí quando ele me viu disse pra mim me aproximar.

Ela dá uma pequena pausa para colocar a mexa de cabelo atrás da orelha.

—E aí?

—E aí que ele perguntou se eu também estava vendo o seu bebê respirar e por incrível que pareça,ele estava sim,mas o coração dele estava parando... Eu achei que o Andy não iria conseguir sair dessa,mas o coração dele não parou.

—Nossa,agora eu tenho história pra contar! Mas... Ele tá bem,não tá?

—Olha,como ele é prematuro de seis meses isso fica bem mais complicado.

—Ele corre risco de vida?

—Eu não vou mentir,ele é muito frágil.

Por uma hora eu fiquei muito,muito feliz. Mas por outra eu fiquei preocupada. Bem... Pelo menos não foi tão ruim quanto eu pensei  que fosse. Eu por um momento achei que tinha perdido o Andy pra sempre.

(Ponto de vista)Touby

Meu nariz tá sangrando muito... E minha cabeça está com uma enxaqueca terrível,eu não sei se eu não vou ter que tomar algum medicamento.

Eu vou para a sala,mesmo que os meus pais ainda estejam discutindo. Desço os degraus e chamo a atenção dos dois...

—Mãe,pai! Parem de brigar!

Ambos olham para mim e mamãe ficou meio em pânico... Eu nem sei direito o motivo.

—Touby,você está pálido! Seu nariz está sangrando!

—Eu sei mãe,isso não é nada. Mas parem de brigar,por favor...

Nesse momento,eu senti um desequilíbrio e seguro forte no corrimão da escada,pois senti que iria cair. Mas então chega uma mensagem no meu smartphone.

Touby,avisa a mamãe e o papai que está tudo bem

Angel,era mensagem da Angel.

Mamãe se aproxima de mim. Ela me ajuda a descer as escadas e a me sentar no sofá.

—Touby,você está bem?

—Estou,mãe... Aliás,a Angel mandou avisar que tá tudo bem.

—Como assim tudo bem? Ai ai... O que será que aconteceu pra ela dizer que tá tudo bem?

—Eu não sei,vai ver o Andy renasceu das cinzas igual a uma fênix.

—Pare de bobagem,isso é sério.

—É rir pra não chorar,mãe.

Minha cabeça dá outra martelada. Assim não dá... Eu tenho que tomar medicamentos.

—Mamãe,você tem remédio pra dor de cabeça?

—O que houve? Você não é de tomar remédio!

—É que a minha cabeça tá doendo a beça.

—Olha,eu tive uma ideia. Que tal irmos pra Los Angeles ver se tá tudo bem mesmo com a Angel e ver o que é essa sua dor de cabeça?

—Por mim,tanto faz. Desde que essa enxaqueca enviada do Lord Valdemort acabe,tá tudo bem pra mim.

—Assistindo muito Harry Potter,né... E você,Robert?

Papai apenas mexe a cabeça confirmando. Demorou umas nove horas para chegar em Los Angeles,pois mesmo que seja aqui na Califórnia,é um pouco longe da cidade de Redding. Chegamos em Los Angeles quando eram cinco horas da tarde em ponto. A Angel me explicou onde ficava o hospital que ela estava e eu e meus pais vamos lá.

Chegando lá,haviam muitas pessoas enfermas(Nossa,sério?). Ficamos na sala de espera e eu com aquela dor de cabeça... Sobrou pra mim. Eu fui falar que eu era irmão da Angel Smith e "aqueles" são os pais dela.

Mas o tédio acaba quando a enfermeira chega. Ela nos chama e eu pude ouvir sua voz doce e um pouco rouca.

Tudo ficou tão quieto quando eu olhei pra ela... Ela é ruiva,tem olhos castanhos acinzentados e tem o rosto meigo e suave. Era difícil acreditar que ela é uma enfermeira,pois geralmente as enfermeiras têm o olhar forte e intimidador. Eu me levanto e me aproximo dela.

—Qual é o seu nome?

—Eu sou a enfermeira Lindsay. Vocês podem ir ver a Angel,agora é horário de visitas.

Eu continuo a olhando,não consegui parar de encará-la. Ela deu um sorriso de canto e depois faz uma expressão que transmitia preocupação.

—Tá tudo bem com você,rapaz?

—Eu... Eu estou bem...

—Seu nariz está sangrando.

Eu rapidamente coloco meus dedos abaixo do meu nariz e vejo que era verdade. Minha cabeça dói novamente e eu solto um grito não muito alto.

—Pode me seguir,por favor. E Senhor e Senhora Smith... Sala 45,no segundo andar.

Mamãe e papai se vão. Eu sigo a enfermeira até a sala de exames. Eu vou ficar sozinho com a enfermeira gatinha adolescente...

Foi oque pensei até ver uma médica de uns 80 anos com cabelos brancos e pele mais enrugada que um pug na banheira.

—Com licença,Doutora?

A médica nos encara,tinha o olhar assustador.

—Quem é? Temos horário marcado?

—Ele é um garoto que começou a gritar de d...

—Temos hora marcada ou não?

—Não.

Lindsay abaixa a cabeça e a médica faz um sinal com a mão para nós sairmos. Quando estávamos no corredor,Lindsay olha tudo em volta para ver se havia alguém e então começa a falar.

—Vem comigo,eu vou ter que te examinar.

—Mas você não é só a enfermeira?

—Estou fazendo medicina na faculdade de Los Angeles. Eu sou uma estagiária em treinamento.

—Legal!

Eu a sigo até uma sala vazia,onde havia uma maca e alguns aparelhos,incluindo uma máquina de raio-x.

—Sente-se,por favor.

Eu faço oque ela me pede.

—Como é seu nome?

—Touby Smith.

—Touby com I ou com Y no final?

—Y. Antes que você pergunte,eu tenho 15 anos.

—Era exatamente isso que eu ia perguntar á você!

Nós rimos,o riso dela é escandaloso e alto.

—Desculpe.

—Você não tem com que se preocupar.

Nos entreolhamos e ela se distrai,mas então continua.

—É... O que você tem sentido ultimamente?

—Dores de cabeça,desequilíbrio,quedas súbitas,perda de força,falta de coordenação para caminhar quando levanto da cama...

—Touby...

—O que?

—Eu não tenho certeza disso,mas eu acho que você tem um coágulo no cérebro.

Eu não estava acreditando. Na verdade,não estava entendendo oque aconteceu. Eu teria que me manter calmo.

—Você vai chamar outro médico?

—Sim,você precisa de um médico formado e não de uma estagiária.

Ela se levanta da maca e sai do quarto de hospital,me deixando sozinho e esperando o médico chegar. Se ela estiver certa,eu não sei oque eu faço.