Eu estava deitada lembrando daquela cena. Benjamin implorando quase de joelhos por uma segunda chance. Uma parte minha dizia que eu deveria aceitar suas desculpas,mas outra parte,que é meu orgulho diz que ele não merece ser perdoado.

Minha cabeça latejava descontroladamente. Cheguei em casa ás 21:58 enquanto meus pais já haviam terminado o jantar. Fui ao banheiro da suíte do meu quarto e liguei o chuveiro.

Tirei o cansaço do meu corpo. Sentia a água escorrer pela minha pele e o vapor quente que deixava uma névoa no box de vidro. O chão de mármore estava coberto de água quente,junto com espuma azul do shampoo.

Quando terminei de tomar banho,coloco uma toalha no corpo e no meu cabelo que agora era curto,então vou escovar meus dentes aparelhados com borrachas brancas. Seco meu cabelo no secador e coloco um pijama em seguida.

Ligo a TV do meu quarto e me deito no puff. Horas depois,acabei pegando no sono e apaguei sem me lembrar como.

Ao acordar na minha cara,o sol bate diretamente em meus olhos. Um pouco de dor de cabeça me consome,eu levanto e olho o relógio.

6:30. Eu estava atrasada.

As pressas,eu visto uma roupa básica e saio de casa correndo sem tomar café da manhã ou qualquer coisa do tipo. Se eu faltar aula,meu título de representante de turma vai por água'baixo.

(Ponto de vista)Benjamin

Acordo confuso comigo mesmo. Ontem eu tomei um belo porre para afogar as mágoas. Minha cabeça estava a ponto de explodir e eu precisei tomar um banho de água gelada e café forte para poder dirigir.

Sim,eu precisei pegar o carro do meu pai emprestado pois se eu pegasse o ônibus iria demorar e o Uber nem se fala. Meus pais brigaram comigo por mim ter bebido,mas com muita insistência eu pude tocar na chave do carro.

Durante o caminho,passei na rua da casa dos Smith,os intocáveis ingleses. Angel estava saindo de casa correndo,com os cabelos bagunçados vestindo sua jaqueta com pelos na touca e fechando-a,depois colocou o capuz da mesma por causa do frio. Em seguida,abre a mochila e checa se está tudo correto enquanto andava rapidamente sem olhar para onde.

As árvores cobertas de neve eram bonitas,ao que a loira respirava o vapor quente saía de seus lábios delicados. Vagarosamente eu me aproximei com o carro até ela e buzinei. A britânica quase deu um pulo por ter se assustado,mas pisca algumas vezes quando vê o "dono" do veículo cor de prata.

—Quer carona?-Perguntei com um sorriso no rosto. Ela entra rapidamente e coloca o cinto no banco do passageiro.

Silêncio.

Começo a dar velocidade ao carro e Angel abre o vidro depois de colocar a mochila no colo.

—Me desculpe.-Iniciei um assunto. Ela olha pra mim passando a mão nos cabelos.

—Por que eu deveria te desculpar?-Levantou uma das sobrancelhas. O sinal fica vermelho e eu a olho nos olhos.

—Porque eu te amo.-Afirmo sem desviar meus olhos dos seus. Angel nega com a cabeça.

—Se isso fosse verdade,você acreditaria em mim,não em uma foto editada. Aliás,eu estou bem melhor depois de tudo oque aconteceu.

—Eu não. Eu só queria você perto de mim o tempo todo,mas você não acredita.-Desabafei dando partida no carro novamente. Ela revira os olhos e respira fundo.

—Você sabe o quanto eu tentei,o quanto eu queria que desse certo. Se você provasse suas palavras com ações,eu poderia pensar em dar uma chance. Uma das coisas que você não faz mais comigo é me manipular.-Esclareceu olhando para frente.

Aquilo foi um pouco rude da parte dela. Mas eu precisava provocá-la.

—E quais são as coisas que eu consigo fazer com você?-Sorrio malicioso. A loira arregala os olhos e cora feito pimentão.

—Pervertido! Eu quero descer da merda desse carro agora!-Gritou tão alto que meus ouvidos ficaram apitando.

—Mas você vai chegar atrasada!-Contrariei prestando atenção no trânsito. Ela fez eu parar e desceu do carro.

Merda.

Pelo menos a escola já estava perto e Angel não iria se atrasar. Eu deixo o carro do meu pai no estacionamento e entro no colégio.

Vejo Aiko entrando na sala. Antes dela ir falar com a Angel,eu me levanto e vou rapidamente falar com a coreana,que estava com uma blusa com capuz azul.

—Aiko,pode fazer um favor pra mim?-Pergunto segurando em seu braço. Sua sobrancelha se levanta devagar.

—Que favor?-Questiona desconfiada. Para uma garota simpática,ela sempre está com um pé atrás.

—Diga para a Angel que eu quero provar minhas palavras com ações. Se ela não acreditar,diga que eu implorei que ela dissesse sim.

—Você gosta da minha amiga!-Falou alto e todos da sala voltaram a atenção para a garota pequena.

—Hum,muito legal essa música nova de... K-pop.-Tentei disfarçar e todos voltaram ao normal como se nada tivesse acontecido.

—Eu falo. Mas se ela não aceitar suas desculpas esfarrapadas o problema não é meu.-Finaliza indo para sua carteira. Angel estava focada demais anotando rapidamente no caderno do representante para se preocupar com oque estava acontecendo em volta.

(Ponto de vista)Ashley

Benjamin pode não ter reparado,mas eu estava no meu lugar ouvindo a conversa dele e da Aiko.

Quando Aiko foi falar para a Angel,a loira olhou para Benjamin,pensou por um tempo pequeno e assentiu algo com a cabeça.

Ela aceitou. Isso não pode dar certo,ou se não a única forma dos meus pais pensarem que sou hétero vai por água'baixo.

Eu não queria fazer isso. Mas Angel me obrigou.

Esperei a terceira aula acabar. Os alunos saem da sala impiedosamente,correndo como se não houvesse amanhã. Os pisos em formato de paralelepípedos não eram visíveis pela quantidade de pés escondendo o chão.

Quando estava perdendo a britânica de vista,percebo que devo ir atrás dela. Persegui-la. apunhalar a garota pelas costas.

Quando ela foi colocar as coisas no armário,sorrateiramente eu me aproximo e a empurro dentro do armário,trancando o mesmo em seguida.

—Ashley!-A loira exclamou batendo na porta de alumínio.

—Eu não vou te soltar tão cedo. Eu sei que você e o Ben iriam ficar juntos.-Falei olhando pelo buraquinho da porta. Ela suspira.

—Entenda. Eu gosto dele.-Sorriu abobalhada. Eu revirei meus olhos entediada.

—Falando sério,eu não sei oque você vê naquele garoto. Você é muita areia pro caminhãozinho dele. É mais burra do que parece,francamente.-Finalizei deixando a loira gritando sozinha presa no armário minúsculo.

Eu fui para perto da escada,onde o alemão idiota estava ouvindo música.

Sinceramente,uma garota bonita como a Angel não merece um babaca como o Benjamin. Mas ela é ingênua demais para parar de correr atrás do nórdico.

Me aproximei com receio do loiro.

—Oi.-Cumprimentei. Ele olhou pra mim de canto.

—Oi.-Respondeu.

—Esperando alguém?-Questionei cinicamente. Ele assente desapontado.

—Sim. Acho que ela não vem.-Diz olhando para a tela do celular.

—Ela? É uma garota?-Me inclino para olhar melhor em seus olhos azuis da cor do céu.

—Sim. Angel.-Acrescentou amistoso. Céus,ele não detectou o tom cínico na minha voz. Estava mais do que na cara que eu o estava manipulando.

—Parece que a Angel não virá,não é mesmo?-Digo me aproximando dele enquanto ele levanta uma das sobrancelhas.

—Ashley,calma.-Pediu se afastando. Eu ajo por impulso e dou um beijo forçado,que herdou um empurrão e um xingamento da parte do loiro.

—Você é doente.-Ele afirma antes de se levantar.

—Aonde vai?-Gritei pelo motivo dele já estar no final do corredor.

—Bem longe de você!-Declarou já indo para qualquer lugar.

Por mais que eu não ligue para oque Benjamin ache,tenho que impedir qualquer aproximação dele e da Inglesa linda,ou se não eles ficarão juntos de qualquer jeito.

(Ponto de vista)Angel

Eu cansei de gritar por ajuda. Minhas cordas vocais estavam escassas e cansadas. 

O silêncio reinava no corredor. Até um momento exato que começo a ouvir passos vagarosos no mesmo.

Quando os passos se aproximam,eu bato na porta do armário,então vejo os olhos azuis observando os buraquinhos da porta.

—Angel...?-Pergunta inerte. Benjamin basicamente ficou me encarando até eu dizer para ele fazer algo. Acho que nesse curto período de tempo que fiquei dentro desse armário,desenvolvi uma séria claustrofobia.

—Abre aqui? Eu já estou agoniada.

Ele assente e abre o armário com a chave que estava no chão. Eu saí da pequena lata de sardinha e me senti livre.

—Me explica como você foi parar dentro do próprio armário.-Levantou a sobrancelha e eu sinto meu rosto esquentar.

—Mesmo que você não acredite... Foi a Ashley.-Falei baixo.—O que foi?

O loiro me olhava atento.

—Eu acredito em você,blondie.-Sorriu sem desviar o olhar,apontando confiança.

—Vocês brigaram? O que houve? Geralmente você acredita sempre nela e não gosta que eu coloque a culpa na Ashley. Alguma coisa rolou.

—Bom,é uma história um pouco mais complicada que isso. Não rolou apenas uma discussão,Ashley é um pouco doente demais. Ela simplesmente acha que ainda temos algo,isso é tão... Ridículo.-Explicou com um ar de frustração.

—Hum,vocês brigaram feio e teve treta brava?-Pergunto calmamente e Ben ri da minha pergunta.

—Eu gritei com a Ashley na verdade. Não foi uma treta brava,mas acho que ela não vai nos incomodar por um bom tempo. Afinal,quem disse que temos que nos importar com ela?-Ri fraco. Eu infelizmente tenho que concordar.

—Tem razão. Amigos?-Pergunto estendendo a mão para ele apertar.

—Não. Nunca.-Nega sério com os braços cruzados.

Meu desapontamento estava nítido.

—Namorados.-Acrescenta.

Benjamin pega minha cintura e me aproxima de si,me dando um beijo lento na minha boca e depois no meu pescoço.

—Ben,aqui não pode fazer isso.-Repreendo. Ele olha tudo em volta e me puxa para dentro do armário junto com ele,então fecha a porta do mesmo.

—Aqui ninguém vê.-Deu de ombros. O armário é minúsculo.

—Agora eu quero ver para sairmos daqui.-Opinei. Ele ri antes de me beijar de novo 

—Isso pouco importa,smurf.