Alfred retorna à batcaverna e verifica que a tigela de Bruce ainda está cheia, enquanto o próprio o encara trêmulo e com as feições mais sérias que de costume.
— O que foi, patrão?
— Porque não disse logo o que estava no carro?
— Achei que fosse melhor o senhor descobrir sozinho. Sei como esse assunto sempre o deixa perturbado.
— O Coringa fugiu do Arkham. Tem ideia de como foi difícil pegá-lo da última vez?
— O senhor não o pegou patrão, o senhor deixou de ser o Batman e ele simplesmente se deixou ser capturado em uma barraca velha no leste do país - Pennyworth observa os computadores e olha para o uniforme surrado do vigilante - Não acha que já tem problemas suficientes para querer ir atrás do Coringa?
— Eu sei como ele é. Se eu for atrás dele, provavelmente vai perceber pelo fato de eu deixar as outras investigações de lado. Se eu não começar a caçá-lo desesperadamente, ele irá sossegar o facho.
— Então o senhor simplesmente vai deixá-lo à sorte e torcer para que não mate ninguém?
— Não foi o que eu quis dizer. Eu irei atrás do Coringa, mas só depois que eu acabar com aquele miserável.
— Do que está falando?
— Ele virá a Gotham para tentar me impedir.
— Quem?
— Superman. O salvador da pátria.
— Então seria um bom momento para agir mais cautelosamente.
— Não.
— Como não? Ele pode te matar antes que consiga respirar - Observa o mordomo espantado.
— Eu sei, mas já fiz testes suficientes para ter certeza da eficácia desse produto. Aquilo que peguei na mansão de Lex estava em um caminhão da LuthorCorp que descarrilou há alguns meses, a primeira vez que o Superman falhou em público, segundo dizem. Eu coloquei no batmóvel para o caso dele tentar se aproximar e as imagens da câmera traseira provam o que eu queria saber. Esse mineral pode enfraquecer kriptonianos, exatamente como descrito no relatório da LuthorCorp.
— Você quer mesmo enfrentá-lo? - Questionou Pennyworth comendo a comida largada por Wayne - Com qual propósito?
— Quero saber se ele é quem acho que é ou se é quem a mídia diz que é.
— Não tem como você vencer. Mesmo que consiga enfraquecê-lo, teria de estar no mesmo patamar que o dele.
— Sei do que está falando, foi por isso que aproveitei minha parceria com a LuthorCorp para me beneficiar com algumas engenharias reversas e material alienígena, o qual apliquei em um traje anti-kriptoniano.
— Traje anti-kriptoniano? Você voltou á ativa tem dois meses, como arranjou tempo para construir essa coisa?
— Eu trabalho nisso desde a destruição de Metrópolis - Revelou o bilionário ativando um protocolo que junta diversas partes mecânicas espalhadas pela caverna.
— Isso está saindo do controle.
— Saiu do controle e tudo que eu pude fazer foi ficar olhando enquanto - Ele contém as memórias que permeiam seus pensamentos, então mexe em algumas pastas digitais - Aquela armadilha me deixou mais perto de uma prova do envolvimento de Lex nesse esquema criminoso. Nosso caro Doug tem o que precisamos. Ele contatou Lex há uma semana, o que indica uma proximidade notória - Bruce se vira para o mordomo, que estava boquiaberto sem saber o que dizer perante tudo o que vê - Você acha que não sei de nada, mas estou no controle de tudo, Alfred. Em breve vou desmascarar Lex, mas antes preciso colocar aquele kriptoniano no lugar - As semanas passam e Lex está isolado em seu escritório quando Sun Yo entra aflita.
— O que foi dessa vez? - Questiona Luthor se olhando apreensivo para o espelho.
— Senhor Luthor, o doutor Ivo quer conversar com o senhor sobre seu projeto especial.
— Mande ele entrar e espero que não conte a ninguém sobre esse projeto.
— Sim senhor - Enquanto espera a chegada de seu parceiro, Lex tira mais fios de sua cabeça olhando para um retrato com seu pai.
— Lex?
— Doutor, a que devo a honra dessa visita?
— Tive progressos depois de nossas recentes tentativas e acredito que possa funcionar de verdade antes do fim do mês.
— Excelente - Ivo observa o estado de Luthor e percebe um injetor em cima da mesa.
— A impressa não costuma deixar passar uma mudança súbita de estado físico. Se eu fosse você rasparia a cabeça antes que eles percebam sua doença - Ao terminar de falar, o cientista decide deixar Lex sozinho, mas este o impede sem realizar grande esforço com um dos braços.
— Quando meu protótipo ficará pronto?
— Em breve. Preciso que vá ao laboratório para me ajudar com detalhes que não entendo muito bem.
— Acha que já podemos testar ao menos uma vez? - Luthor aperta o braço do doutor com força, deixando o colega de campo intimidado.
— Será doloroso, mas podemos tentar - Lex sorri em tom de deboche antes de soltar o doutor e arrumar seu terno, fechando botões e pegando uma máquina dentro de sua gaveta. Intrigado, Ivo se vira para Luthor e questiona - Para que isso?
— Não foi você que sugeriu que eu raspasse? Pois então - O dia está frio e o tempo fechado, mesmo assim Superman sobrevos as ruas de Gotham tentando em vão encontrar um sinal do morcego. Ele sabia quem ele era, mas já havia passado na torre Wayne vestido como Clark Kent e descobriu que o bilionário não estava em casa, então restava sobrevoar em círculos os arredores da cidade, até que ele escuta o ruído familiar de um motor. Ele persegue o som até uma rua movimentada, então usa seu raio-x para verificar se havia um piloto, mas o veículo estava no piloto automático. Imaginando o que poderia ser, Superman continuou seguindo o carro até um terreno baldio, onde este para subitamente, o que espanta o Homem de aço. Assim que freou, o batmóvel explodiu e espalhou uma fumaça nebulosa, que abala a visão do herói, este tenta enxergar de outros modos, mas sente uma fraqueza tomar seu corpo subitamente. Batman se aproxima do Superman com cautela enquanto larga o controle que usou para levar o batmóvel até ali.
— Soube que estava atrás de mim - Embora esteja sentindo leves perturbações, Superman se concentra em sua visão, o que lhe diz claramente onde se encontra o vigilante.
— Bruce, eu não consigo entender. Passei noites e dias sem conseguir fazer nada tentando encontrar uma resposta para o que você faz. Você tem dinheiro, casa, carro, pode ter o que quiser. Não sei se tem uma mulher, mas pode ter se quiser. Por que alguém abriria mão de tudo isso para lutar contra o crime? Ferir as pessoas, assustar as pessoas com sua pose. Você pode ajudar tanto com tudo o que tem, por que não faz desse jeito?
— Porque eu vi que enquanto pessoas tentarem ajudar pessoas, haverá aqueles que colocaram tudo a perder e vão encardir o que você tenta construir.
— Eu sei como você se sente, também era assim comigo. Eu tentei ajudar o mundo mas acabei estragando tudo e agora estou aqui. Sabe porque estou aqui, não sabe?
— Porque um bando de corruptos diplomatas mandou você acabar comigo justo quando estou perto de descobrir uma máfia cheia de pessoas desse calibre.
— Eles não querem mais você nesse mundo, Bruce. Seu tempo já passou. Este mundo é diferente, precisa de novos rumos e perspectivas.
— Palavras falsas e vazias que devem ter saído da boca de alguém tão imundo quanto. Se você suportar um dia nessa cidade, eu deixo de ser o Batman, caso contrário, teremos um impasse - Superman se recupera e empurra o morcego para fora da neblina.
— Você não está em posição de exigir nada - Batman se levanta e sorri ao ter um lapso de memória com os Mutantes.
— Já me disseram isso uma vez. Algumas vezes, na verdade - Bruce fecha os punhos e encara o kriptoniano.
— Você é bem teimoso - Superman levanta voo e pula na direção do Batman, nesse momento ele percebe que o vigilante está usando uma armadura enorme, acertando o morcego em cheio no tórax para derrubar seu adversário. Clark se levanta confuso com o que tinha acontecido, só então percebe que Batman já estava do seu lado, pronto para o ataque, mas opta por injetar um líquido verde em seu pescoço. O herói tenta manter o equilíbrio depois de se livrar da seringa, enquanto uma dor lancinante e uma tontura sem comparação com seus demais episódios tomam conta de seu corpo - O que você fez?
— Sabia que iria perguntar isso. Está um pouco atrasado, Super. Eu já estou muito à sua frente - Superman se levanta e ataca seguidamente o morcego, que apara os golpes do kriptoniano sem dificuldades antes de usar suas habilidades de combate para deixar o Superman abatido. Ele distribui socos pelo rosto e pelo peitoral antes de chutar suas pernas e derrubá-lo no chão com uma rasteira. Batman levanta o Superman do chão, mas o kriptoniano se desvencilha do oponente com uma facilidade absurda antes de jogá-lo nos escombros de um prédio. Bruce se levanta e, assim que o Superman chega perto o bastante, ele ativa um mecanismo que libera uma série de armas supersônicas, que ensurdecem e atrapalham os sentidos do alienígena em questão de segundos.
— Quanto tempo seu corpo leva para desintoxicar seu sangue? - Questiona o Batman com frieza antes de chutar o adversário para longe, correr em sua direção e começar a esmurrá-lo sem piedade, derrubando uma centena de prédios velhos antes de chegarem em um local repleto de espelhos, onde tanto o Homem de aço quanto o Cavaleiro das trevas perceberam se tratar de uma antiga sala de espelhos, o que faria daquele lugar um ótimo divertimento não fosse o momento. Ignorando a dor crescente em seu corpo, Superman parte para cima do Batman e devolve todos os socos com a mesma voracidade, embora sua força esteja quase humana, não fosse sua resistência, ele não aguentaria bater tanto no morcego, ainda mais para começar a amassar a armadura. Batman se esquiva do último soco antes de revidar, jogando o Homem de aço no meio de um estacionamento abandonado. Ele se aproxima do herói e percebe que há uma montanha de carros a poucos metros do kriptoniano, então decide jogar uma granada na base, derrubando todos os carros em cima do adversário. Quando a fumaça abaixa, Bruce joga os carros para longe um de cada vez com a ajuda de mecanismos de impulso até encontrar o Superman. O kriptoniano o encara quase sem fôlego, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo. Batman pisa na mão do Superman antes de segurá-lo pelo colarinho cheio de fúria ao se lembrar do que havia acontecido em Metrópolis dois anos antes.
— Se você vai fazer isso, que seja rápido - Pede o Superman fechando os olhos, certo de seu destino, mas o lorcego afrouxa a mão e simplesmente tira seu capacete para olhar Superman nos olhos.
— Eu não matar você, pelo menos ainda não. Não sei quem você é ou deixa de ser, mas sei que não é um completo canalha, só está se deixando levar. Se você acredita em algo, vai com isso até o final, senão para no meio do caminho. É por isso que faço o que faço. Isso e por que alguém tem que desenterrar a sujeira - Ele solta o Superman aliviado - No entanto, se você sair dos trilhos ou entrar no meu caminho de novo, saiba que eu irei te enfrentar de novo. Se pensar em seguir para o outro lado, saiba que tem alguém aqui que pode te impedir. Saiba que se não me matar, vai condenar a si mesmo - Assim, Bruce chama outro batmóvel, que se apresenta em alguns segundos. Wayne desmonta a armadura e a coloca em um compartimento especial do veículo antes de encarar o herói derrotado. Ele entra no carro e dá partida no motor, saindo dali sem pressa enquanto Clark se senta para tentar entender o que tinha acabado de acontecer.