A Dádiva do Tempo escrita por Lua Chan


Capítulo 5
O fardo de Rose Tyler




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Após andar por alguns quarteirões, o Doutor chegou na casa dos Tyler. Ainda havia uma luz acesa, por isso sentiu-se aliviado. Ao entrar, contemplou o silêncio da sala e suspirou, a pequena Emma deveria estar dormindo a esse ponto. Ansioso para falar com Jackie sobre Rose, ele subiu as escadas como um raio, indo em direção ao quarto da luz acesa. Sem querer esperar mais um segundo, gritou pelo nome da mulher.

— Jackie! Jackieee! Onde você está?

De repente, uma voz de dentro do quarto pediu que ele fizesse silêncio. Aquela, definitivamente, não era Jacqueline, pertencia a alguém mais jovem e que ele conhecia muito bem. Era Rose. O Doutor esperou que ela fosse ao seu encontro, mas se surpreendeu com quem saiu do quarto. Era um homem nos seus 30 e poucos anos e um pouco mais baixo que o Doutor. Não deveria ser mais atraente do que ele, mas sua postura emitia segurança e uma sensação de paz inimaginável.

— Será que poderia fazer silêncio, por favor? - diz o estranho da sua frente - Rose está colocando a bebê pra dormir.

— E quem seria você?

Antes que o homem pudesse responder, Rose saiu do quarto e se encontrou com os dois. Ela possuia duas olheiras bem salientes. O Doutor foi invadido por uma sensação de pena que não conseguia compreender.

— Oi, Eleven. - ela o cumprimentou - Esse é Joshua Morris, meu... 

— Namorado. - Joshua completou, mas pela expressão de Rose, ela estava desconfortável com o comentário.

— É. Meu namorado.

Aquela fora a gota d'água. De repente, tudo pareceu mais pesado. Era essa a sensação de ciúmes que os humanos tinham? Por que ele tinha que sentir isso? Era um sentimento tão desprezível e injusto.

— Namorado? Sério? - Eleven foi o único a rir daquilo. Parte de sua reação veio do desconfortável desejo de amenizar a situação.

Enquanto o Doctor tentava absorver as informações com um tom de humor detestável, Rose o encarou com os braços cruzados, assim como Joshua Morris. Os olhos da garota fuzilavam os do Doutor Maltrapilho, que reprimiu a risada no mesmo instante

— Algum problema, Eleven? - pergunta Rose, obrigando o Doutor, pelo tom que usou, a se comportar. 

— Não... talvez não.

O clima ficou ainda mais tenso, os dois homens colaboraram para que isso acontecesse. Ninguém disse nada durante exatos 24 segundos, a situação tinha ficado incrivelmente mais constrangedora. A primeira pessoa a romper o silêncio foi Joshua, que parecia bem incomodado e confuso.

— Bem... acho que eu devo ir embora. Te vejo amanhã, Rosie.

— Tchau, Josh.

Ele beijou o canto da boca da garota bem na frente do Doutor, como se quisesse mostrar que Rose era realmente sua namorada. Ela esboçou um fraco sorriso, Eleven esperançosamente pensou que Rose não tinha gostado do beijo. Forçado a manter a postura, o Doutor abriu um pequeno e falso sorriso, enquanto Joshua carregava uma expressão séria e ranzinza. O ombro do homem se chocou contra o do Doutor antes de sair. Eleven deixou um gemido de dor escapar.

— "Rosie"? - exclamou o Doutor, indignado com a intimidade dos dois - Você só pode estar brincando.

— Algum problema, Eleven? - Rose volta a pergunta, assustadoramente usando o mesmo tom que da última vez. Eleven se obrigou a não se sentir atingido por ela e apenas sorriu.

— De maneira alguma.

— Então acho que você deveria ir embora. 

Rose adicionou, praticamente empurrando o Doutor para as escadas. Antes que ela pudesse prosseguir, porém, Eleven parou no meio do caminho e permaneceu estático. Rose tentou empurrá-lo de novo, até perceber que aquilo estava sendo ridículo. 

— Qual é seu problema?!

— Só estou pensando.

— Então pense lá fora!

Rose persistiu em afastá-lo do quarto de sua Emma, mas então foi abordada pela pergunta que menos esperava vir do estranho Eleven.

— Joshua é o pai da Emma?

Dessa vez, foi a loira que permaneceu estática, sem saber o que dizer ou fazer. Tentou pronunciar algo, mas não funcionou. Fez isso mais duas vezes e o mesmo efeito se sucedeu. Que tipo de poder aquele homem tinha sobre a mente dela? Era como se ela estivesse hipnotizada.

— Tem algo a me dizer, Rosie?

Rose Tyler, pela primeira vez desde que o Doutor a conhecera, adquiriu uma aparência de derrota. Ela sempre fora valente, destemida e a divertida mulher pela qual se apaixonou estupidamente desde sua 9° regeneração. Agora lá estava ela, tão fechada, tão triste. Tão humana. Sim, Rose Tyler fora a primeira companion que menos se parecia humana. Humanos eram muito frágeis, pelo menos era o que o Doutor pensava. Rose não era assim. A garota olhou para ele com um olhar perdido.

— Não, Joshua não é o pai da Emma.

— Legal.

— Legal? - Rose arrebitou o nariz, sem abandonar a postura de desconfiança. O homem à sua frente era realmente muito estranho e curioso. Eleven limpou a garganta e fingiu não estar interessado, mas não sabia mentir muito bem.

— É. Emma seria muito feia se fosse filha do tão querido "Josh". - Rose riu do comentário, assim como o Doutor. Ele ficou feliz por fazê-la sorrir novamente.

— Ah, fala sério. Ele não é tão mau assim. 

— Ele é, sim. - os dois pararam de rir por um momento e o Doutor olhou para os próprios pés, desjeitosamente.

— Eu conheci o pai da Emma há um bom tempo. - Rose quebra o silêncio, olhando para um ponto fixo da parede, sorrindo de maneira nostálgica - Ele era maravilhoso e me amava tanto quanto eu o amava. Na época, nós só namorávamos, mas depois de alguns anos, ele me pediu em casamento.

— Se não for grosseria demais da minha parte, poderia me dizer onde ele está nesse exato momento?

Rose fechou o sorriso e se virou para o estranho homem. Ela estava triste, uma lágrima escorreu pela sua bochecha e a garota logo limpou, tentando disfarçar sua dor.

— Ele está morto pra mim. - revela, com a voz embargada, mas um pouco séria - Um homem que abandona a própria família não merece a minha preocupação.

— Sinto muito...

— Será que podemos falar sobre outra coisa? - pergunta a loira, fingindo estar melhor. O Doutor conhecia aquela técnica muito bem para ser enganado. Ele não devolveu o sorriso, ainda estava preocupado com ela.

— Talvez em outro momento. Agora eu preciso voltar para minha... casa.

— Achei que não tivesse uma casa. - disse ela, observando o estranho e intrigante homem descer pelas escadas.

— Achei que não se importasse. - Eleven mostrou-lhe um sorriso malicioso, mas contagiante, Rose logo estaria rindo dele. Com um aceno, o Homem Maltrapilho se despede dela - Boa noite, Rose Tyler.

Rose sequer se mexera. Eleven a deixava confusa, e ela nem sabia o por quê.

[. . .]

O ambiente ainda estava frio e pouco convidativo, nesse horário era difícil encontrar alguém pelas ruas, com exceção de dois ou três bêbados que estavam próximos à TARDIS. O Doutor olhou de soslaio para eles, tentando entender o motivo de pessoas como eles ficarem vagando pela cidade à essa hora da noite. Antes de entrar em sua nave, o Doutor fez um breve carinho na madeira da cabine azul, o que arrancou gargalhadas dos homens mal vestidos.

Quando finalmente abriu a porta de sua Velha Garota, sentiu o ar mais denso. Era como se algo estivesse completamente errado com a TARDIS, ou pior: como se alguém estivesse lá dentro.

— Você deveria tomar mais cuidado com sua TARDIS, Doutor. - diz a mesma voz sombria que Eleven ouvira hoje mais cedo. 
O homem que tanto fascinava o Doutor, desde sua primeira aparição, caminhou até sua frente - ele havia se escondido por trás do painel de controle da nave -. A postura, as vestimentas e até o rosto eram idênticos à sua antiga versão. Foi difícil não ficar assustado.

— John Smith! - exclama Eleven, como se tivesse acabado de encontrar um velho amigo - Mas que surpresa desagradável.


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