Messias não poderia me salvar naquela situação. Ou melhor, ninguém poderia.

Fui patética ao achar que o Paraíso realmente existisse, fui mais idiota ainda ao acreditar que alguém poderia tirar toda a dor que eu poderia sentir futuramente.

Eu me pergunto... O que poderia ter acontecido se eu tivesse aceitado de primeira? O que eu teria enfrentado seria pior do que a minha situação? Se eu só tivesse colocado a senha pra abrir o maldito apartamento e não me pagasse de burra alguma coisa diferente teria acontecido ou no final de tudo eu acabaria vindo pra cá?

Agora aqui estava eu, trabalhando como assistente do garoto desconhecido, que por vez trabalhava como “adorador do novo Messias”. Seja lá quem fosse aquela pessoa, eu já não gostava dela.

Eu me sentei no sofá duro, que parecia ser revestido com couro de algum animal, enquanto observava Unknown a frente de uma tela brilhante. Seu cabelo branco curto e seus olhos cor de menta sendo iluminados pela luz que irradiava do aparelho.

Eu não precisava ir muito longe pra saber o que ele estava fazendo: Como uma “boa assistente”, eu sabia que ele estava vendo as conversas de um grupo secreto onde o irmão estava. O motivo? Eu não sabia, de verdade. Provavelmente ele estava querendo leva-los até esse lugar de paraíso.

Coloquei meus pés descalços no chão, e senti um arrepio percorrer todo meu corpo quando o frio me atingiu. Unknown não tirava os olhos da tela, mas também não era burro. Seus olhos cor de menta se viraram em minha direção:

—Onde você pensa que vai?

Não me virei pra trás, nem respondi. Apenas mexi nos fios soltos de minha franja que estava presa por uma presilha e segui em frente, fechando a porta atrás de mim sem fazer o mínimo barulho.

A cada passo, um mais silencioso que outro, que eu dava eu sentia o nervosismo infiltrar em minhas veias. Eu já podia sentir meus dentes rangerem por conta do frio e meu corpo todo tremer por causa do frio somado ao medo. Eu não fazia a mínima ideia do lugar pra onde eu estava vindo.

Quando vi, eu estava na parte de trás de um lugar estranho. Uma das únicas coisas que eu conseguia ver era uma cadeira grande, muito parecida com um trono, exibindo sua cor roxa forte e seus detalhes dourados que pareciam  brilhar. Nele, estava sentada uma mulher.

Ela não parecia ser muito mais alta do que eu. Sua pele, no entanto, era bem pálida e seus cabelos longos e loiros a davam um ar poderoso. Eu não podia ver bem, mas ao que parecia seus olhos eram verdes.

Logo ao seu lado estava parado um homem com cabelo azul mentolado e um óculos escuros. Eu duvidava muito que ele conseguia enxergar alguma coisa, naquela situação.

—E pensar que eu te veria de novo...- A mulher sorriu, numa feição que se contorcia em gentileza e loucura ao mesmo tempo- Já faz algum tempo, não é?

Alguém empurrou uma outra pessoa para meu campo de visão. Esse tinha cabelos loiros e olhos violeta. Ele utilizava uma espécie de coleira ao redor de seu pescoço.

—Mas... O que você está fazendo aqui?!- O tal garoto, por sua vez, parecia desesperado. Eu podia ver uma mescla de saudade e confusão em seus olhos.- Você... A RFA... O que...?

A mulher fez um sinal de silêncio sob seus lábios:

—Não temos tempo pra falar sobre isso, querido- E novamente, um sorriso psicótico se formou em seu rosto- Você quer proteger a novata da RFA, não quer? Então me permita de apresentar seu novo lar: O paraíso. O paraíso onde eu sou a salvadora de todos aqui e a dor não existe. Nunca mais.

Ah, então ela é o tal “Messias”.

Eu não sabia se deveria ficar chocada pelo fato de que acabei de descobrir quem “A Salvadora” que a Mint Eye acreditava era ela ou pelo fato de que Unknown já havia achado uma vítima. Uma vítima que havia caído em sua armadilha e feito tudo o que ele havia mandado. Uma que seguiu o destino que eu deveria ter tomado.

Senti duas mãos fortes me agarrarem pela cintura e me puxarem pra trás, quando olhei pra trás, Unknown era o dono das mãos e eu pude o sentir me apertando mais forte:

—Você dá muito trabalho- Unknown disse, sua voz sempre soava quase robótica, mas agora ela me dava um sentimento estranho- Aproveite o Paraíso, já que tem a chance. Não são todos que podem fugir de um mundo tão sujo e distorcido.

Eu tentei perfurar minhas unhas em suas mãos numa tentativa de fazê-lo parar de me tocar. Porém a tentativa foi completamente em vão.

—Os que propagam a dor- Unknown continuou, um sorriso tão psicótico quanto ao da mulher vista anteriormente aparecendo em seu rosto- Merecem sofrer nesse mundo. Os que sofrem tem a chance de conseguir fugir dele. É assim que o mundo funciona, meu amor.

E então eu olhei para seu rosto, meu olhar provavelmente cheio de medo encarando o olhar psicótico do homem.

E então eu encarei bem fundo em seus olhos, como se tentasse mentir pra mim mesma que eu não tinha medo dele.

Seus olhos cor de menta me afogaram, e eu simplesmente apaguei.

Mas não sem antes ouvir um grito masculino. O dono? Eu simplesmente não sabia.

Eu só conseguia me lembrar dos malditos olhos cor de menta.