O Caminho da Andorinha escrita por BadWolf


Capítulo 9
A Aparição de Lathlake


Notas iniciais do capítulo

Fim do mistério, galera!
Sem mais.

Boa leitura!



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Em seus dias de infância passados em Kaer Morhen, Ciri imaginava uma glamorosa e emocionante vida de Bruxo além daquela fortaleza de pedra cravada nas montanhas. Matar monstros difíceis e lendários, salvar pessoas pelo Caminho, além de fama. Dinheiro, talvez nem tanto, afinal nenhum daqueles Bruxos eram ricos, embora a menina Ciri suspeitasse que fossem os tais “vícios errantes” que vez ou outra ela ouvia Vesemir reclamar de Lambert. Talvez fosse isso que acabasse com o dinheiro dos Bruxos.

            Quando seu treinamento com Geralt acabou – na verdade, quando Ciri simplesmente decidiu pôr um fim a ele e seguir seu próprio Caminho sem o Bruxo de cabelos brancos – Ciri encarou pela frente a dura realidade: os monstros nada tinham de lendários. Geralmente, Ciri recebia moedas para matar afogadores e bruxas aquáticas que atrapalhavam embarcações, harpias que matavam ovelhas, carniçais que infestaram um cemitério... Vez ou outra aparecia um grifo, algumas vezes um lobisomem... A mais lendária criatura que Ciri enfrentou foi uma manticora, que segundos alguns estava próxima de entrar em extinção.

            Logo Ciri percebeu que mesmo se fossem santos, os Bruxos não seriam ricos. Jamais. As negociações pela recompensa do contrato geralmente acabavam em pechincha, com os solicitantes desvalorizando o trabalho, menosprezando o monstro... Ciri aprendeu um bocado com Geralt sobre como lidar com isso, e desde então, ela não teve problemas.

            E para fechar com chave de ouro, o trabalho de um Bruxo nada tinha de glorioso. Ciri arrastando um caixão cemitério adentro era prova disso.

            Arfando e com as mãos apoiadas no joelho – afinal, Lucius era jovem e magro, mas bastante pesado –, Ciri ergueu seu rosto. O céu ainda era negro da madrugada, mas não tardaria até que o sol começasse a nascer. Deixando o caixão perto de uma cova, Ciri ergueu sua espada Zirael. Já estava banhada em óleo de aparição, para lhe dar uma vantagem na hora do combate. Na bolsa, quatro bombas de pó de lua. Em Kaer Morhen, Ciri aprendeu sobre poções, mas seu organismo humano e sem mutações não as suportava digerir. Esta era sua única limitação no Caminho, mas seus poderes contrabalanceavam isso.

            Ciri controlou sua respiração. Sentiu o vento fazer zunir as folhas das árvores. Era como se a floresta falasse por um momento, ela pensou. Com a floresta zunindo insanamente, Ciri percebeu que o pingente da Escola do Gato atado em sua cintura tremia lentamente.

            A aparição está próxima.

            Ela se pôs em guarda. Não faria como o ferreiro e se esconderia em um arbusto. Ela se colocaria pronta para combater o monstro. O pingente começou a tremer ainda mais forte. Por fim, Ciri conseguia senti-lo bater em sua bolsa quando viu a luz. A tal luz, cegante. Sua primeira providência foi fechar os olhos. Usando seus poderes, Ciri se moveu para longe dela. Seu movimento pareceu ser ser o suficiente para a luz se cessar.

            Não era uma aparição, percebeu a Bruxa. Era Magia. Trabalho de um arcano encapuzado, tendo o rosto impossível de se distinguir, usando uma longa túnica azul marinho, como conclamou o ferreiro Adal e seu filho. E parece que Lathlake reserva umas surpresas bem interessantes, pensou Ciri, com a adrenalina a correr em suas veias diante da excitação de enfrentar um arcano.

            O arcano fez um gesto rápido com os dedos e logo surgiram dez arcanos. Verdadeiras cópias idênticas. Ciri mexeu levemente sua cabeça. Estava rodeada deles. Mas ela era rápida. Todos eles poderiam atacar ao mesmo tempo, se quisessem. Ela não se importava. Ela poderia mata-los em segundos.

            Poderia?

            Os arcanos ergueram um dedo. Ciri interpretou como um ataque, e pôs-se em guarda, como quem estava prestes a ser atacado, mas logo a Bruxa percebeu palavras ecoarem em sua mente, a ponto de deixa-la atordoada.

            “Abaixe a espada”, era o que dizia a voz, em um sussurro espelhado.

            Ciri sacudiu a cabeça, negativamente. Não iria obedecer, é claro. Para quê? Para ser atacada e morta na primeira oportunidade?

            “Não vou te atacar”, ela ouviu novamente. Droga. O arcano estava usando Magia para ler seus pensamentos? Ou seus pensamentos eram tão óbvios assim? O que ele queria, afinal? Um joguinho?

            “Não vou levar o corpo de Lucius”, disse a voz em sua cabeça, outra vez sussurrada. Ciri duvidava, apertando sua mão a espada Zirael. Ignorando os arcanos que a rodeavam, Ciri atacou a projeção que estava diante de si. Deu meia pirueta ao ar, golpeando dois arcanos quase que simultaneamente, e ao chegar com os pés no chão, rolou acertando mais um. Três arcanos em menos de três segundos. Com grande desgosto, porém, a Bruxa percebeu que sua Zirael golpeava o ar, pois as projeções se dissipavam em uma névoa esverdeada de Magia. E como se não bastasse, os arcanos dissipados se formavam novamente em outra posição.

A situação tornou-se mais crítica quando as projeções resolveram atacar. Mãos se erguiam rapidamente e raios energizados de Magia eram lançados contra Ciri. Mas estes raios acertaram nada mais que lápides e árvores, pois Ciri se desviava com destreza. Se não fosse por sua agilidade sobre-humana, certamente a Bruxa de cabelos cinzentos já estaria morta.

            Eram muitos, pensava Ciri. A Bruxa se ocupava em tentar acertar os arcanos e ao mesmo tempo desviar de seus ataques. Mas seus golpes não surtiam efeito. Há apenas um deles, pensou a jovem. Todo o restante é uma ilusão. Preciso achar o arcano certo.

Ciri permaneceu em sua luta acrobática, desviando e golpando o ar. A Bruxa não sabia ao certo quanto tempo passara assim, mas sabia que fora o bastante para deixa-la cansada. Tudo tornou-se mais sério quando Ciri sentiu sua pele queimar com o fogo da Magia. Ela não conseguiu desviar-se a tempo.

Enquanto analisava seu braço, os arcanos pararam de atacar. Encaravam Ciri, ainda que seus olhos estivessem ocultos por baixo do capuz. Em posição de defesa e sentindo seu braço arder, Ciri sentiu seus pensamentos invadidos por Magia outra vez. Agora ela sabia como Geralt se sentia.

            “Largue a espada. Agora.”

            As palavras sussurradas do arcano só davam ímpeto a Ciri. A Bruxa ergueu sua espada Zirael, ignorando a dor de seu ferimento, e mais uma vez lutou contra as projeções, em vão. Golpes e mais golpes dados ao marasmo, enquanto sua energia se dissipava em esquivas e golpes.

            O calor do combate fez sua mente se voltar para a distante Kaer Morhen.

            “Um dia, você pode lutar contra ilusões”, disse Vesemir, quando ela era uma adolescente rebelde. “Ilusões geralmente são criadas por feiticeiros. Um bom truque de arcanos para cansar o mais resiliente dos Bruxos, afinal, ele estará nada mais que lutando contra o vento. Mas há um jeito de encurtar o combate.”

            “Que jeito?”

            Vesemir riu. “Pó de lua. Espalha pó de lua na espada.”

            “E se for tarde demais para isso?”

            “Então, espalha pó de lua pelo ar. É infalível.”

            Infalível.

            Durante uma pirueta, para escapar de mais um dos raios lançados pelas projeções do arcano, Ciri puxou rapidamente de sua bolsa a bomba de pó de lua. Lançando a bomba ao ar, a Bruxo a cortou com sua espada, sentindo levemente mais uma queimadura. Desta vez, em suas costas. Ciri precisou receber um golpe para usar desta tática.

A bomba logo se espalhou pelo ar, deixando seus fragmentos brilhantes flutuando como cristais. Com a espada suja de pó de lua, Ciri golpeou a única projeção que estava brilhante de pó de lua. O golpe teria sido fatal, se o arcano não tivesse percebido a tempo seu truque a ponto de se desviar.

Mas ao menos foi o bastante para provocar um ferimento.

Ao aterrissar no chão, Ciri ouviu um grito de dor. Distante de si, estava o arcano, tentando conter desesperadamente o sangramento em sua barriga, causado pela espada Zirael. Ainda com sua espada em mão, Ciri caminhou rapidamente até o arcano para dar o golpe final. Acabou desviando de mais um raio atirado por ele, que forçou a Bruxa a rolar para o lado. Recompendo-se, Ciri ouviu outro grito de dor. Feminino, percebeu.

Então, não era um arcano, mas uma arcana...

Uma feiticeira, certamente.

Ciri levantou-se, erguendo sua espada Zirael em direção ao pescoço da mulher ferida. Queria mata-la, mas não sem antes ver o seu rosto. Queria também entender o que diabos ela estava fazendo ali, naquele cemitério, comendo entranhas de corpos. Seria para Magia Negra? Mil hipóteses zanzavam na cabeça da Bruxa, mas nenhuma delas seria melhor do que a verdade.

Logo que a feiticeira ergueu as duas mãos em rendição, Ciri puxou bruscamente seu capuz.

Era Turiel.

 

 

££££££

 

 

 

            Eu posso explicar.

            Ciri perdeu as contas de quantas vezes ouviu Turiel repetir a frase. Estava embasbacada demais para contar. Era muito difícil processar que a tão bem requisitada e admirada herbalista do vilarejo estava, na verdade, por trás de toda história de “fantasma” ou “aparição” que atacava corpos no cemitério.

            -Por que? – indagou a Bruxa, segurando firmemente na espada e pressionando- sua valiosa lâmina prateada na pele pálida de seu pescoço. Dependendo daquela resposta, a cabeça da elfa herbalista poderia voar a metros dali no segundo seguinte. Tendo a gélida lâmina de prata de Ciri recostada firmemente ao seu pescoço, Turiel engolia em seco.

            -Abaixe a espada.

            -Seria sinal de misericórdia. – retrucou Ciri, friamente. – E eu só demonstrarei misericórdia dependendo da sua resposta. Pela última vez, eu vou repetir. Por que?

            A elfa assentiu, no que era uma mera tremida de seu crânio. Aquela espada tinha a lâmina tão bem afiada que mais um pouco de movimento e ela mesma acabaria cortando o próprio pescoço.

            -Pesquisa. – respondeu Turiel, deixando Ciri ainda mais confusa.

            -Como assim, “pesquisa”?

            A elfa suspirou, cansada. – Por favor, abaixe a espada. É difícil falar com o pescoço estando a milímetros da morte.

            Ciri hesitou por alguns segundos em consideração, até por fim aceitar. Retirou a espada do pescoço de Turiel, deixando a elfa aliviada e suspirando forte. Mas a Bruxa não embainhou Ziral. Afinal, Turiel não era mais digna de confiança e ainda poderia ser uma ameaça.

            -Espero que não cometa gracinhas, pois já deu para perceber que sou mais rápida do que você. – avisou Ciri. Turiel não retrucou, se limitando a recobrar o fôlego.

A elfa voltou suas mãos ao ferimento em seu abdômen. Uma careta de dor se formou em seu rosto, e imediatamente a herbalista recorreu à sua bolsa, abrindo-a com as mãos trêmulas de dor. Seu gesto fez Ciri imediatamente pôr-se de guarda e mais uma vez a herbalista sentiu Zirael em seu pescoço.

            -Eu disse para não cometer gracinhas...

            -Essa “gracinha” se chama Andorinha.

Ciri não pôde deixar de arregalar os olhos. A Bruxa sabia que a poção Andorinha era mortal para humanos, e que apenas Bruxos poderiam toma-la sem problemas, graças ao seu metabolismo. Claro, há pessoas que sobrevivem, mas estes são casos raríssimos. No fim, o risco de ter uma morte lenta e dolorosa após tomar uma poção de Bruxo, mesmo a que restaura vitalidade, era tão grande que ninguém se arriscava, preferindo aceitar os métodos tradicionais da Medicina.

—Bela maneira de cometer suicídio. – zombou mordazmente Ciri. – Muitos outros prefeririam morrer sob uma espada do que beber uma poção para Bruxos.

—Se eu não toma-la e continuar aqui, com este corte profundo, irei sangrar até morrer. E não se preocupe, eu não vou morrer. Não terá sido a primeira vez que tive de recorrer a uma poção dessas.

Quando Turiel bebeu do pequeno frasco de vidro, seu semblante se distorceu. O processo não deixava de ser doloroso, claro, embora a herbalista clamasse que já havia sobrevivido a uma poção Andorinha. Por fim, Ciri voltou seus olhos ao abdômen de Turiel e percebeu que, lentamente, a ferida se fechava, restando apenas o rasgo no recido de seu vestido, umedecido de sangue.

Percebendo o assombro de Ciri, Turiel complementou.

—Eu nem sempre vivi aqui. Eu sou do Vale das Flores, ou Dol Blathanna, na Língua Ancestral. Vivia no vale, com outros elfos Aen Seidhe, isolada da civilização. Até que meus pais decidiram fugir da fome e partir dali. Eu ainda era uma criança. Estávamos na estrada, ainda nos arredores do vale, quando fomos atacados. Humanos, todos camponeses, enfurecidos porque os elfos das Montanhas Azuis estavam roubando seus grãos. Seus grãos. Quando, na verdade, nós é que fomos expulsos daquelas terras férteis e obrigados a viver nas montanhas, onde nada crescia e tudo morria. Meus pais foram mortos, e eu só não tive o mesmo destino porque um arcano que estava de passagem conseguiu enfrenta-los. No entanto, eu estava muito ferida. Um ancinho atravessou minha barriga. Mas ele me levou assim mesmo. Numa estalagem, fiquei deitada em uma cama e o assisti preparar uma poção à beira da lareira. Sem imaginar o que era, eu a bebi, e posso dizer que o que senti foi a dor mais insuportável que tive em vida. Uma dor que faz o parto parecer uma topada na porta, e nada mais. Mas contrariando todas as expectativas, eu sobrevivi, e sem sequelas.

            -E se tornou uma feiticeira. – concluiu Ciri.

            -Não fui educada em Aretuza, como as demais feiticeiras. Esse arcano era, na verdade, um Mago elfo. Ele percebeu minha vocação e me ensinou Magia em casa. Ele tinha uma visão muito conservadora e crítica quanto a formação de arcanas de Aretuza. Ele era um pesquisador e eu segui seus passos quando adulta. E já que estamos falando em pesquisa, sim. Sim, eu usei os corpos dos camponeses. Usei, mas juro pelos deuses de meus ancestrais, que eu não devorava os corpos, como os moradores dizem.

            -Então, o que fazia com eles? – interrogou Ciri.

            -Eu os estudava.

            -Estudar? Corpos? – pensou Ciri, imediatamente se lembrando das horas que passara submersa em estudos de Anatomia Bestial em Kaer Morhen, quando Lambert ou Eskel traziam à Fortaleza algum espécime curioso de monstro para estudo. Geralmente, algum monstro que agiu de modo incomum, ou tinha poderes excepcionais. De imediato, veio o cheiro dos compostos químicos que Vesemir os embalsamava, bem como todo o sangue que envolvia a tarefa.

            -Levar os corpos ainda “frescos” foi a única maneira que encontrei de estuda-los. Os camponeses considerariam a abertura de cadáveres uma profanação aos deuses.

            -Mas por que quer tanto estudar corpos humanos? – indagou Ciri. – Por que arriscar sua vida nisto?

            -Estou concluindo uma pesquisa. Uma pesquisa muito importante. Precisava de informações que só cadáveres humanos poderiam me fornecer. Mais do que isso, precisava de amostras. Amostras de sangue, tecido... Mas as pessoas estavam começando a perceber que os corpos estavam sendo movidos até o meu laboratório, então eu decidi assustar os camponeses com a criação do Fantasma.

            -E se envolveu em uma áurea de Magia para assustar o ferreiro e seu filho?

            -Sim, exatamente. Eu não os ataquei. Só quis assustá-los.

            -Mas o mesmo não aconteceu comigo. – assinalou Ciri. – Você tentou me matar.

            -Na verdade, eu pretendia apenas te derrotar. Fazer você desistir do contrato. Devo admitir, até a luta começar eu não te enxerguei como um grande desafio. Uma das minhas suspeitas era de que você era uma impostora. Alguém se passando por Bruxo para arrancar moedas de camponeses desesperados. Mas no fim, você excedeu minhas expectativas. Você pode não ter passado pelo Teste das Ervas, mas sem dúvida você é uma Fonte.

            Ciri sentiu um frio percorrer sua espinha ao perceber que Turiel sabia de seu segredo. Geralt sempre lhe disse, em seu treinamento, que ela precisava ter sempre muito cuidado, não demonstrando seus poderes em público, pois isso poderia atrair atenção indesejada outra vez, assim como atraiu da Caçada Selvagem.

            -Meu pai sempre dizia das Fontes e confesso, até o dia de hoje, achava tudo uma grande lenda. Mas estou impressionada. Jamais vi uma Fonte antes. Especialmente uma Fonte que sabe usar com maestria seus poderes.

—Fui treinada.

—Seja lá quem for seu mestre, merece parabéns, porque fez um grande trabalho. Mas então, o que fará comigo? Irá contar sobre minha identidade aos camponeses?

—Depende. – disse Ciri, hesitante. – Continuará a mexer no cemitério?

—Devo admitir que o meu último corpo seria o de Lucius. Ele é um jovem que está exatamente na faixa etária que procuro.

—Percebi que você escolhia apenas os mais jovens e que não tocava nos idosos que morriam aqui em Lathlake. Porque a idade é tão importante para você?

Turiel parecia hesitante. Ao perceber o olhar questionador e perigoso de Ciri, a elfa suspirou. Precisava seguir em frente, se quisesse manter a cabeça ainda sob seu pescoço.

—Fertilidade. Meu estudo é sobre a fertilidade dos elfos.

Ciri parecia confusa.

—Então... Por que não procura por cadáveres élficos?

Turiel riu levemente. – Porque os cadáveres élficos não possuem a resposta que eu procuro. Na verdade, estou tentando entender porque os humanos são tão férteis e os elfos não, mesmo tendo um organismo semelhante. Assim que definir com precisão a causa, irei partir para os elfos, mas não agora.

—E já conseguiu descobrir?

—Estou perto de uma resposta. Muito perto. Mas preciso do corpo de Lucius Jr.

Ciri parou para pensar, por um momento. Lembrava-se de passar por uma estrada na Redânia e avistar corpos estacados, enegrecidos pelo fogo. “Morte aos elfos traidores!”, dizia a placa. Por todo o Norte, os elfos se reduziam a cada ano. Não conseguiam se reproduzir com tamanha rapidez e facilidade como os humanos, e agora suas vidas estavam ameaçadas, por estarem de modo tão superado numericamente por uma raça que, embora não chegasse a um século de vida, sabia procriar como coelho.

E agora, Turiel parecia estar perto de pôr um fim neste suplício.

—Está bem. Lucius Jr. será o seu último cadáver. Mas fique sabendo que se voltar a agir e o vilarejo pedir meus serviços novamente, eu não mostrarei a mesma piedade. Entendido?

Turiel assentiu silenciosamente.

—Mas há uma ressalva.

—Sempre há uma ressalva. – retrucou Turiel, um tanto resignada. – Continue.

—Você arranjará uma cabeça de monstro para mim. Não posso aparecer diante do Magistrado sem nenhuma prova de que matei a aparição.

—Eu posso dar um jeito nisso. – disse Turiel, tendo já algo tramado em mente. Carregando o corpo de Lucius, Turiel apontou um dedo e imediatamente surgiu um portal. Um portal, como muitos que Ciri já viajara em sua vida. Enquanto observava a herbalista-feiticeira dar alguns passos em direção ao portal, pateticamente carregando o corpo de Lucius, Ciri sentiu desejo de fazer uma última observação.

—Seja rápida com a cabeça! – alertou. – Rápida e convincente, do contrário eu levarei a sua.

Turiel nada respondeu, imediatamente desaparecendo no portal, mas Ciri sabia que a herbalista havia entendido muito bem o recado. Iria ficar ali, no cemitério, esperando a herbalista voltar com uma prova convincente de que o Contrato do Fantasma foi concluído e que nenhum “monstro” assolava o cemitério de Lathlake. Suspirando, sabendo que tinha uma longa espera pela frente, Ciri percebeu que algo havia sido deixado para trás, no caixão de Lucius.

Uma pequenina bolsa de couro.

Curiosa, a Bruxa a abriu. Logo, seus olhos foram surpreendidos pelo conteúdo.

Páginas, em branco. Acompanhadas de um cheiro peculiar. Por instinto, Ciri as ergueu em direção aos olhos. Logo a Bruxa lembrou-se que o sol sequer havia nascido. O conteúdo daquela pequena bolsa era simplório, mas sua curiosidade a impedia de descarta-la. Sua intuição lhe dizia que ela deveria guarda-la.

“Sua curiosidade ainda vai te matar”, ela poderia imaginar Vesemir a dizer isso, se ele pudesse ver o que ela estava fazendo.


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal...

Acabou-se um mistério, começou-se outro..

Essa Lathlake, hein... Ô vilarejo para ter segredos. Ciri nem tem idéia.

Espero que tenham gostado e até o próximo cap!



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