O Caminho da Andorinha escrita por BadWolf


Capítulo 1
A Vida no Caminho


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Finalmente, minha fanfic sobre a Ciri começa a sair do papel!!!

Bom, quem jogou "The Witcher 3" e leu a sinopse, deve fazer idéia de que esta fic se passa considerando o final de Bruxo de Ciri. Pois bem, é isso mesmo. Outras decisões tomadas por Geralt também devem ser consideradas, mas elas serão reveladas pouco a pouco. E quem leu minha fanfic "Broken Blades" irá rever aqui alguns personagens e a continuação de suas histórias. Quem sentiu falta de Turiel, Anais, Saskia e aqueles dois turrões (Iorveth e Roche) terá uma boa oportunidade de matar as saudades deles por aqui,

Bom, agradeço em especial a força dos que acompanham, e desde já dou boas-vindas aos novos leitores!
Quem conhece meu estilo de escrever sabe que teremos uma longa jornada pela frente... Põe longa nisso rs.

Bom, sem mais rodeios. Boa leitura!



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Teméria, 1279.

Vilarejo de Lathlake

            Chovia fraco, mas a capa de Ciri estava pesada, encharcada pelos pingos de chuva. Ela já estava há horas na estrada. Nuvens pesadas tampavam o céu, cobrindo o sol. Apesar disso, Ciri sabia que era quase fim de tarde. Andando pela Teméria  e suas estradas que cortavam plantações e pastos, a jovem avistou ao horizonte um pequeno vilarejo, bem aos limites do reino que seu mapa dizia se tratar de Cidaris. O vilarejo parecia espremido em meio a bosques fechados. Como Geralt lhe ensinou, fonte de renda garantida para um bruxo no Caminho.

Tal como Geralt, Ciri havia adquirido uma quase aversão pela vida agitada da cidade, onde um bruxo só não passaria fome se recorresse a monstros de esgoto como Afogadores, que nunca rendiam boa recompensa. Montada em sua égua Pandora, Ciri seguia o exemplo de Geralt e optava pela vida na estrada, caindo de vilarejo em vilarejo, dormindo por vezes ao relento, sob o luar, ou em uma estalagem barata, quando havia algum dinheiro em seus bolsos, na maioria das vezes, vazios. Por mais incerto que parecesse esse estilo de vida, Ciri jamais se sentiu tão à vontade, feliz com tão pouco.

Atravessando as montanhas de Mahakam até a Teméria e passando por alguns Cavaleiros Negros pela estrada, Ciri percebeu que não visitava a Teméria há muito tempo. Passara um tempo em Skellige, revivendo tempos de sua infância, e também aproveitou para conhecer melhor Aedirn e, é claro, desfrutou de um bom descanso nas calmas montanhas de Dol Blathanna, o reino dos elfos. Muita coisa havia mudado na Teméria desde sua visita mais recente, há quase três anos atrás, quando a bruxa passou uma breve estadia na casa do Barão Sanguinário, em Velen. Era de seu desejo visitar o homem que lhe ajudou quando ao lado de Geralt nos ensinamentos do Caminho, e lá ela pôde vê-lo, vivo e bem, apesar de sua esposa apresentar sinais de demência, provavelmente pelos tempos passados ao lado das Moiras. Só o que acalentava Ciri era saber que as Moiras não mais eram as Senhoras da Floresta – apesar de uma delas ter escapado com o Medalhão de Lobo de Vesemir, para sabe-se lá aonde. Mas ao menos as Moiras não mais dominavam Velen.

Deixando os pensamentos sombrios do passado para trás, Ciri desceu de seu cavalo, já nas proximidades de um vilarejo pobre, anunciado como “Lathlake” por uma placa de madeira enegrecida pelo tempo. Um arqueiro temeriano sonolento fazia a guarda solitária na entrada do lugar. O arqueiro parecia desejar abordar Ciri quanto à sua identidade, afinal ela estava coberta por uma capa, mas desistiu de fazer qualquer comentário ao ver as duas espadas em suas costas. Decerto ele já sabia que ela era uma bruxa. Quando usando uma capa, muitos confundiam Ciri com um homem. E se não recebeu hostilidade por ser “bruxa”, era sinal de que havia algum trabalho ali, concluiu com otimismo Ciri. Apesar de estar no Caminho há três anos, ela já compreendia as diversas reações que um bruxo poderia causar.

Ao se aproximar do mural de avisos, Ciri decidiu parar para lê-los. Afinal, sua estadia em um vilarejo dependia consideravelmente do trabalho que havia por ali.

Além de avisos medíocres como “alguém viu minha cabra?” e aulas de costura para jovens donzelas, havia também a menção de uma herbalista chamada Turiel, numa choupana ao norte do Carvalho Velho. Ciri anotou mentalmente o local, caso precisasse de ervas para o preparo de óleos para sua espada.

E lá estava o que ela procurava. “Procura-se um bruxo para cuidar de um Dragão”. Os olhos verdes de Ciri se arregalaram, e imediatamente a Bruxa arrancou o aviso dali. Iria lê-lo com mais calma, mais tarde. Embora fosse um senso comum de que bruxos não matavam dragões, Ciri sentia-se capaz de combater um monstro lendário. Na verdade, a bruxa desejava ser desafiada. Nos últimos tempos, ela só enfrentara monstros medíocres, nada que que se constituísse de um grande desafio à sua espada Zirael. E Ciri queria mais.

Mas agora, tudo que desejava era pernoitar e comer alguma coisa. O dragão poderia esperar um pouco.

A melodia animada e o cheiro de comida exalado de um casebre largo avisou Ciri de que aquela deveria ser a taberna do vilarejo. A placa dizia “O Porco de Três Cabeças”, típico nome grosseiro de uma taberna do interior. Trazendo ainda algumas moedas do último contrato, Ciri decidiu pernoitar por lá e também comer uma refeição quente. Amarrando seu cavalo à cerca, a Bruxa seguiu para dentro do local, sendo recebida pelo calor quente do ambiente. A taberna não carregava o nome de Porco à toa, pois bem à moda de Skellige, havia um porco sendo assado em um espeto, inteiro, ali. Isso a fez desconfiar se, por obra do destino, o dono daquele estabelecimento provinha das Ilhas do Oeste do Continente. O porco já estava pela metade, mas seus membros superiores e inferiores ainda eram visíveis. Havia um homem com um alaúde e outro com flauta, cantando uma cantiga animada e repleta de gracejos.

Sentando-se em uma mesa distante, Ciri decidiu não retirar a capa, para ter, ao menos, parte de sua privacidade garantida. Homens bêbados costumavam se assanhar diante de uma mulher sozinha em uma taberna, e tudo que Ciri não queria era uma confusão semelhante a que enfrentara em Vengerberg no ano passado, forçando-a a abandonar a cidade às pressas.

Logo uma moça com um generoso decote e jeito faceiro se aproximou.

—Quer alguma coisa para...? Oh. Você é uma mulher. – foi a afirmação abobada da jovem servente.

—Eu quero umas fatias de carne de porco e um copo de destilado temeriano, se tiver. – disse Ciri, ignorando o último comentário.

—Temos sim. – disse a servente, tentando se recompor de sua surpresa. Antes que ela pudesse sair dali, Ciri interveio.

—Vocês tem um quarto por aqui? Para alugar?

—Sim, nós temos um quarto. Cama de solteiro. Interessada?

—Sim.

—Irei falar com Lucius, o estalajadeiro. – disse a moça, passando por uma mesa cheia de homens. Um deles, de modo grosseiro, deu um tapa na bunda da moça, fazendo-a rir. Ciri rolou os olhos. Ah, se fosse com ela... Esse homem nojento perderia a mão.

Logo a moça voltou, levando uma bandeja e desviando da mesa repleta de homens. Colocou com admirável rapidez sobre a mesa de Ciri um prato generosamente cheio de fatias de carne de porco, e também uma caneca com o destilado temeriano.

—Aproveitei que meu patrão está distraído e coloquei duas fatias a mais pra você.

—Muita gentileza sua, er... Como é mesmo o seu nome?

—Dora. Meu nome é Dora. – respondeu a jovem.

—Obrigada, Dora. – disse Ciri, contente. No instante em que Ciri agradeceu, um dos homens a observava da mesa ao lado, sem que ela notasse.

—E não é que o tal forasteiro tem tetas?

A mesa riu. Ciri voltou seus olhos para a direção do comentário desagradável. Viera da mesma mesa dos homens desrespeitosos para com a jovem servente da taberna.

—Juro que pensei que era um homem.

—Com uma voz fina dessas? Pode ter certeza de que é uma mulher.

—Carne fresca na área, então. – brincou um deles. – Que tal darmos as boas-vindas?

—Bem o que eu gostaria, Cliff.

Quando os homens se levantaram da mesa, a música imediatamente parou de tocar e a estalagem caiu em silêncio. Ciri rolou os olhos. Tudo que ela queria era fazer sua refeição em paz e dormir, e quem sabe até, tomar um banho em uma tina com água quente e retirar a poeira da estrada, mas aqueles homens pareciam ter outros propósitos. Se eles tentassem alguma coisa, ela se defenderia, e isso significava confusão e possivelmente adeus ao Contrato do Dragão. Mas para sua surpresa – e alívio, de certa forma – um homem interferiu no grupo.

—Ninguém vai fazer nada.

Era um homem bem vestido, observou Ciri. Tinha modos elegantes, também. Deveria ser o mais rico e poderoso do vilarejo, pois todos ali pareciam respeitá-lo. Mesmo os homens encrenqueiros, que de imediato se recolheram com sua interferência.

—Só queríamos, bem...

—Eu sei muito bem o que vocês queriam. Será que a punição de trabalhos forçados de um ano na serraria não foi o suficiente para que vocês ficassem longe de problemas? Será que dobrando a pena da próxima vez, vocês sossegarão?

Um rapaz parecia desesperado.

—Por favor, Magistrado... Você sabe, eu tenho família e...

—Então, deixe o forasteiro, ou seja lá o que for, em paz. Vamos mostrar que o povo da Teméria está muito longe de ser o povo selvagem e sem modos que Nilfgaard tanto proclama. E você, seu bardo de meia tigela, volte a tocar uma música alegre. Este silêncio sem motivo é enervante.

Os músicos imediatamente obedeceram, e toda a estalagem riu, parecendo voltar ao seu ritmo normal. Os homens saíram dali, provavelmente constrangidos pela humilhação pública. Ciri riu, sabendo que sua noite estava salva, ao menos por hora. Quando prestes a voltar sua atenção para o apetitoso prato diante de si, o tal Magistrado puxou uma cadeira e sentou-se, sem pedir licença.

—Caso aqueles sujeitos decidam te importunar, não hesite em me avisar.

—Não se preocupe, eu sei me defender. – disse Ciri, dando uma primeira garfada no pedaço de carne de porco. Apetitoso e bem-temperado, ela sentiu.

—A julgar por suas espadas nas costas, eu não duvido. – alegou o Magistrado. – Mas não quero que você se envolva em confusão desnecessária aqui em Lathlake.

—E por quê? – perguntou Ciri, curiosa enquanto retirava o seu capuz, finalmente revelando seu longo cabelo branco.

—Você já tem cabelos brancos, nessa idade?! Como é possível?

Ciri ignorou o comentário curioso do Magistrado Godfrey. Com um forte pigarreio, ela fez o Magistrado se embaraçar e logo ambos retomaram ao tópico principal da conversa.

—Eu vi você recolher o Contrato do Fantasma.

—Fantasma? – indagou Ciri, confusa. – Mas eu encontrei o Contrato sobre um Dragão...

O Magistrado arregalou seus olhos.

—Oh sim. Decerto Ranfrey esqueceu-se de retirá-lo. Já não dá mais para contar com a memória daquele velho. Este anúncio já está lá pregado há anos, de qualquer modo... Bom, pode esquecer esse contrato, pois o problema do Dragão já foi resolvido.

—Um caçador de dragões apareceu e o matou? – perguntou Ciri, curiosa. Não à toa, pois Dragões eram criaturas raríssimas e grupos de caçadores perambulavam o Continente atrás deles.

—Na verdade, a nossa herbalista deu um jeito nele.

Ciri não conteve uma risada.

—Ela se usou da mesma tática do sapateiro Sheepbagger?

Foi a vez de o Magistrado rir. Era conhecida por todo o Norte a história do lendário sapateiro, que dizem ter conseguido matar um Dragão com uma ovelha recheada de heléboro, beladona, cicuta, ácido sulfúrico, piche e tachas, tudo isso misturado a água benzida por um sacerdote de Kraver. Conhecendo a verdadeira história, Ciri sabia que tudo que isso causou no Dragão apenas uma má indigestão.

—Não sei ao certo o que ela fez, pra dizer a verdade. Alguns anos atrás, um Dragão apareceu algumas vezes sobrevoando os bosques de Lathlake, devorando até alguns passantes e vacas, mas um dia ele não apareceu mais. Na verdade, Turiel havia dito que tinha resolvido o problema do Dragão, mas não demos ouvidos a ela. Só percebemos que ela falava a verdade meses depois, quando a fera realmente desapareceu.

Porque, a julgar pelo nome, ela é uma elfa, pensou Ciri.

—Bom, não posso fazer mais nada a respeito do Dragão, mas ainda tenho outro contrato a lhe oferecer. Um fantasma, que há alguns meses tem assombrado o cemitério daqui. Cada morador deste vilarejo contribuiu com a recompensa, então espere algo generoso e que vale a pena o risco.

—É bom saber que minha estadia em Lathlake não será desperdiçada. Conte-me, então. Creio que ouvir suas palavras me parecem melhores do que ler um anúncio.

Os detalhes pedidos por Ciri em fundamentais. Ao que tudo indicava, não se tratava de um “fantasma”, mas uma aparição, algo que não seria a primeira vez que Ciri enfrentaria. Cerca de sete aparições já passaram pelo fio de sua espada Zirael e nenhuma delas se mostrou um grande desafio.

—Sem dúvida. Você tem todo o direito de entender melhor a criatura. – disse o Magistrado. – Há alguns anos, o cemitério de nosso vilarejo tem abrigado o fantasma. As pessoas são enterradas e os corpos delas somem. Reaparecem dias depois. Profanados.

—Como assim, profanados? – estranho Ciri. Em seus anos no Caminho, jamais tinha visto uma aparição agir desse modo.

—Com grandes feridas, profundas. Boa parte delas no torso. Acreditamos que a aparição está se alimentando do que temos dentro de nossos corpos.

—O que? – insistiu Ciri. – Como podem chegar a essa conclusão?

—Porque... Porque alguns deles foram encontrados... Esvaziados.

Ciri não conseguiu esconder sua confusão com o relato do Magistrado. O homem, possivelmente leigo em Anatomia, estava querendo dizer que a suposta “aparição” estava devorando os órgãos internos dos enterrados no Cemitério de Lathlake. Ainda assim, em nenhum dos livros lidos por Ciri em Kaer Morhen a respeito de aparições, nem mesmo no mais raro deles, havia algo semelhante.

—O que te faz pensar que é uma aparição, e não um monstro qualquer?

—Com os casos crescendo, eu pedi que dois aldeões vigiassem o cemitério, logo que um morador faleceu. Eles vigiaram por horas, até notarem um vulto, envolto em uma áurea branca, a vagar à noite. Nenhum deles teve coragem o bastante para enfrentar o fantasma, então eles correram e me detalharam tudo.

—Áurea branca?

—Sim. Uma luz, branca, de cegar os olhos. E o fantasma usava também um vestido azul marinho.

Que estranho...

—Só isso? Mais nada?

O Magistrado deu de ombros.

—Temo que sim. Eu os vi, logo que fugiram do cemitério. Estavam horrorizados. Você pode conversar com os dois homens para saber de mais detalhes, se quiser. Trata-se de Adal, o ferreiro, e seu filho Roderick.

—De fato, terei que falar com eles. São testemunhas oculares dessa “aparição”.

—Foi o que eu pensei. Bom, já é tarde da noite e temo que seja difícil encontra-los acordados a esta hora. Sua conversa terá de ficar para amanhã. Aproveite o resto da noite para descansar. Dá para perceber que você está na estrada há um tempo.

—Verdade. – disse Ciri, confortada com a gentileza do Magistrado. Era raro encontrar homens gentis no Caminho. O homem se despediu, deixando Ciri sozinha naquela mesa de estalagem.


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Notas finais do capítulo

Hmmmm, e já temos Ciri com um contrato um tanto peculiar nas mãos...
Por que tenho a sensação de que não será nada simples?

Obrigada por acompanharem e até o próximo cap!



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