Never Grow Up escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Crescendo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas ♥

Essa é uma one especial do dia dos pais, com foco na relação pai e filho do Edward com Anthony, inspirada parcialmente na música de mesmo nome da Taylor Swift. (https://www.youtube.com/watch?v=fq34Zy0s1mA)

Também é uma história que funciona como uma espécie de continuação de outras duas ones:
https://fanfiction.com.br/historia/711575/Begin_Again/
https://fanfiction.com.br/historia/732923/The_Best_Day/

Boa leitura :D



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Crescendo

Crescer é algo engraçado, é difícil e até mesmo assustador. Tudo muda rapidamente, você se sente perdido e confuso na maior parte do tempo e precisa de um apoio para aguentar a barra que é crescer.

Eu tive um grande apoio, meu pai.

Edward Cullen sempre esteve ali por mim, em todos meus momentos de glória, em todos meus momentos de queda. Um dia eu esperava ser tão incrível quanto meu pai era. Porém, para isso eu sabia que ainda tinha de crescer mais.

Pizza & Filmes

Eu adorava as sextas-feiras, pois era quando a família pedia pizza e ficávamos acordados até tarde assistindo filmes. A melhor parte era que papai não tinha plantões, isso significava que eu tinha mais tempo para ficar com ele.

Enquanto esperava papai voltar do hospital, estava sentado no sofá da sala, vendo minha irmã mais velha e minha mãe dançando. Elas tinham começado aquilo alguns meses antes, papai me explicou que Renesmee estava triste e que a dança iria animá-la, parecia estar funcionando, ela parecia muito mais feliz desde que começou a dançar com mamãe todas as tardes após a escola.

— Não quer vir dançar com a gente, Anthony? — mamãe perguntou para mim, sem fôlego, enquanto Renesmee escolhia a próxima música. Elas costumavam assistir aulas no Youtube, mas aquele dia estavam dançando com o Just Dance.

— Não — neguei, elas já tinham me feito dançar outras vezes e era até legal, mas aquele dia eu só queria poder comer pizza e assistir filme, enrolado na manta quente que tínhamos para noites frias como aquelas. — Cadê o papai? — indaguei impaciente.

— Ela já deve estar chegando, calma — mamãe respondeu, voltando-se para a tela de TV, Nessie já tinha escolhido a próxima música. — Uou, Shakira, ruivinha?

— Sim, está na hora de elevar o nível! — minha irmã exclamou empolgada, pulando, o que fazia seu rabo de cavalo balançar de um lado para o outro.

— Bom Deus, Nessie, você é mesmo sobrinha da Alice — mamãe disse, antes de elas começarem a dançar junto à música da Shakira.

Eu me afundei no sofá, frustrado demais por papai estar demorando. Já não iriamos para meu jogo de futebol no dia seguinte, pois viajaríamos para Forks e ele ainda demorava para nossa noite de filmes e pizza? Aquilo era injusto!

O telefone da casa tocou, mamãe pediu que eu fosse atender e fui correndo pegar o aparelho da cozinha, já que na sala o barulho da música era alto demais. Eu peguei o telefone, o atendendo rapidamente quando identifiquei o número do celular do papai no visor.

Ele e mamãe tinham me feito decorar os números deles e dos contatos de emergência. Foi difícil decorar tudo aquilo, mas papai insistiu que era necessário para minha segurança.

— Papai, cadê você? — eu fui logo perguntando quando atendi a ligação.

— Ei, amigo! — papai exclamou do outro lado da linha. — Sinto muito, eu estou preso no trabalho e vou ter de ficar aqui até mais tarde, mas você, Ness e sua mãe podem fazer a noite de pizza e filmes sem mim.

— Não, não é a mesma coisa sem você aqui, papai — eu disse chateado, sentindo a falta dele.

— Desculpe, filho, prometo recompensá-lo em breve.

— Amanhã? — perguntei ficando entusiasmado.

— Sabe que vamos para Forks amanhã, Anthony — ele lembrou.

— Precisamos mesmo ir? — indaguei, sem querer ter de ir para Forks.

— Você não está animado com a viagem? É aniversário da cidade, vai ter muito o que fazer por lá, eu acho.

— Não, eu não queria ir para Forks — reclamei. — Queria ir para meu jogo de futebol. — Não gostava nada da ideia de ser substituído por Gavin, ele era péssimo e faria o time perder.

— Eu sei disso, mas você não esta com saudades do vovô Charlie e da vovó Renée?

— Sim.

— Então, poderá vê-los amanhã em Forks.

— Ok — concordei, sabendo que a viagem não seria cancelada só por mim.

— Vai ser divertido, você...

— Posso dirigir? — papai gargalhou. — É sério, pai!

— Você é novo demais para dirigir, Tony, é proibido dirigir com nove anos — papai disse, parando de rir. — Prometo que deixo você dirigir até Forks quando tiver idade para isso.

— Tá ok. — Vi mamãe entrar na cozinha, ela parecia cansada de todo o lance da dança, mas sorria.

— É o seu pai? — ela me perguntou, já estendendo a mão para o telefone.

— É sim — confirmei. — Pai, é a mamãe, você tá querendo falar com ela?

Ele riu novamente.

— Sempre quero falar com ela, passe o telefone, por favor.

— Que horas vai chegar? — continuei perguntando, mamãe parecia apressada para falar com ele, balançando a mão na frente do meu rosto.

— Provavelmente quando você já estiver dormindo.

— Certo — resmunguei. — Tchau! — Passei o telefone para mamãe, que o pegou rapidamente e aproveitou para bagunçar meus cabelos.

— Oi, querido — começou a falar com papai, continuando a passar as mãos na minha cabeça, o que estava me dando um baita sono. — Sem problemas, só não se canse demais no trabalho, não queremos que acabe com uma estafa.

O que estafa significava? Mamãe e papai às vezes falavam palavras e expressões tão estranhas, minha irmã estava começando a falar também. Um dia ela disse algo como garota de programa, enquanto conversava com uma amiga, eu deduzi ser uma menina que apresentava programas na TV, mas Ness desconversou quando perguntei a ela o que aquilo queria dizer.

— Também te amo, falo com você depois. — Mamãe desligou o telefone, o devolvendo para a base.

— Mãe, o que quer dizer estafa? — perguntei, precisando matar minha curiosidade.

— É um cansaço extremo — respondeu. — Seu pai geralmente fica assim depois de plantões muito longos, é estressante porque ele fica exausto fisicamente e mentalmente.

— Ah sim — murmurei em concordância. — Como quando eu jogo muita bola?

— Assim mesmo. — Mamãe continuou afagando meus cabelos castanhos como os dela, nós dois éramos bem parecidos fisicamente, incluindo a cor dos olhos.

— E garota de programa, o que isso significa?

Mamãe arregalou os olhos, parecendo que tinha visto um fantasma.

— Onde escutou isso, Anthony?

— A Ness falou um dia desses para Lucy que não sei quem parecia uma garota de programa usando roupas curtas demais.

— Garota de programa é uma expressão feia, Anthony, sua irmã será penalizada por isso.

— Ela vai ficar sem celular? — Eu odiava que Ness tinha um celular e eu não, aquilo não parecia nada justo, mas papai e mamãe insistiam que eu era novo demais para ter um. Seria legal ver ela sem aquela coisa, a faria parar de bancar a superior só por ser mais velha. — Você deveria tirar o celular dela, seria uma boa!

— Deixa que eu cuido do castigo da sua irmã, Tony.

— Tá — resmunguei. — Mas, o que é uma garota de programa?

— Pergunta para o seu pai amanhã.

— Ah, mãe...

— Sem protestos — ela foi firme, pegando novamente o telefone. — Vamos pedir pela pizza.

— O papai não vem mesmo?

— Não, filho. — Ela me lançou um sorriso triste. — Ele precisa mesmo ficar no hospital e ajudar as outras crianças dodóis, você entende isso, né? Que tem gente precisando muito da ajuda dele lá?

— Entendo, ele é bem inteligente.

— Demais. — O sorriso de mamãe perdeu toda a tristeza e ficou feliz. — Qual sabor devo pedir?

— Quatro queijos, é a preferida do papai, a gente pode guardar um pedaço para ele, né? Ele com certeza vai chegar com fome do hospital e vai adorar encontrar pizza.

— Você é um gênio, Tony, tenho certeza de que seu pai vai adorar encontrar uma fatia de pizza quando chegar do trabalho.

— E você vai tirar o celular da Renesmee quando?

Mamãe apenas riu, o que isso queria dizer? Aff, os mais velhos me deixavam confuso. Nunca sabia o que eles queriam falar.

***

Acordei sentindo alguém mexer em meus cabelos, aos poucos fui abrindo meus olhos e me deparei com papai sentado ao meu lado na cama. Ele sorriu para mim, mas logo fez uma careta.

— Desculpe, não queria acordar você, volte a dormir.

— Chegou agora? — eu perguntei, olhando para o relógio digital ao lado da minha cama que marcava quase três da manhã, eu tinha ido dormir as dez, depois de ter sido obrigado a assistir Diário da Princesa com Ness e minha mãe.

— Sim, eu te trouxe algo da rua. — Ele pegou um a caixinha de presente que estava na mesinha, estendendo para mim. — Comprei pela manhã, antes de ir para o hospital, espero que goste.

Louco para saber o que ele tinha comprado para mim, eu sentei na cama e abri a pequena caixa, vendo um par de ingressos para um jogo de futebol americano. Eu jogava futebol de campo, aquele da Copa do Mundo e essas coisas, mas eu amava muito mais futebol americano e mal podia esperar para entrar no colegial e me tornar um jogador da equipe da escola, com jaqueta do time e tudo.

— Isso é sério? — gritei, animado demais com o presente que papai tinha me dado.

Ele riu, acenando positivamente com a cabeça.

— É sim, Tony, mas não grite ou irá acordar sua mãe e irmã.

— Ah, pai, você é o melhor! — Tentei não gritar, muito alto, e me joguei nos braços dele, ainda segurando os ingressos como se eles fossem algo valioso...Espera, eles eram, eram ingressos para o jogo de futebol americano.

— O jogo é na sexta que vem, eu já acertei tudo no hospital para ter o dia inteiro de folga. Você e eu precisamos de camisas novas do time e a coisa toda! — Ele também parecia empolgado com aquilo.

— E a gente vai comer hot dog do estádio?

— Com muito molho — papai prometeu.

— Espera. — Olhei para os ingressos. — Só tem dois, como a mamãe e Ness vão entrar?

Papai sorriu, bagunçando mais ainda meus cabelos.

— Elas não vão nesse, será um programa só nosso.

— Legal! — Tornei a gritar. — A Renesmee é muito chata.

— Anthony! — papai chamou minha atenção, mas eu pude vê-lo escondendo uma risada. — Volte a dormir, nós sairemos cedo para Forks amanhã.

Eu suspirei alto.

— O que foi? — ele perguntou.

— Forks é muito chato, pai. Eu adoro a vovó Renée e o vovô Charlie, mas lá é tão sem graça.

— Eu sei — papai murmurou, fazendo outra careta. — Nós dois definitivamente somos caras de cidade grande, né?

— Sim, caras de cidade grande! — exclamei, erguendo a mão para papai, que devolveu o High Five.

— Ei, cara de cidade grande, se você continuar gritando e acordar sua mãe ela ficará muito brava.

— Foi mal. — Devolvi os ingressos para a caixa de presente, papai a pegou de mim e depositou novamente na mesinha.

— Agora é sério, você precisa dormir, Tony.

— Ah não — reclamei. — Eu estou sem sono.

— Você não parece sem sono. — Ele me olhou atentamente.

— Eu estou bem acordado, juro, pai. — Papai sorriu, balançando a cabeça. — Sabe, a gente deixou pizza para você, bem que podíamos ir para a sala ver um filme legal e comer o resto da pizza, né?

Papai pensou por um instante.

— Ok, você me venceu, garoto, vamos assistir a um filme. Qual tem em mente?

— Aqueles de lutas! — Eu pulei, ficando de pé sobre a cama. — Eles são muito legais, os golpes são irados!

Papai se levantou, colocando as mãos na minha frente e eu sabia que ele queria que eu desse socos ali e foi o que fiz.

— Você está crescendo — papai comentou, dando um sorriso triste.

— Isso não é bom? — perguntei preocupado.

— É ótimo, mas isso quer dizer que logo você estará longe — ele sussurrou no escuro do meu quarto, parcialmente iluminado pelos adesivos coloridos de planetas e estrelas que papai tinha colado no teto no mês anterior. — Por mim você ficaria pequeno para sempre.

— Isso seria chato, pai, eu nunca ia poder andar em montanhas russas — protestei, ele gargalhou, uma de suas risadas altas.

— Tudo bem, garoto, eu tenho de começar a lidar que você não é mais o bebê que gostava de comer giz de cera.

— Será que é gostoso mesmo? Podíamos provar — sugeri, ele riu novamente. — Vai que tem um gosto bom, vamos provar!

— Você não pode comer giz de cera, Tony, pelo menos não mais — papai falou. — Mas vamos descer e comer aquela pizza, espero que tenham pedido por quatro queijos.

Paaai — estendi a palavra ao dizer. — Claro que pedimos quatro queijos, mesmo que Ness e mamãe prefiram a porcaria que é a portuguesa.

— Ei, garoto, calma com o linguajar.

— O que significa linguajar? — Algo em minha mente se ligou naquele instante. — Pai, pai. — Voltei a pular sobre a cama. — O que é uma garota de programa? — Ele arregalou os olhos como mamãe tinha feito antes. — Ouvi a Ness falando isso com a Lucy, perguntei para a mamãe, mas ela mandou perguntar para você e ai? O que é isso?

— Ok, certo. — Papai respirou fundo, me parando e fazendo com que eu sentasse na cama. — Primeiro, pare de ouvir as conversas da sua irmã, ela é mais velha e algumas conversas de gente mais velha você não pode ouvir.

— Mas...

— Agora — ele me interrompeu. — Garota de programa é o nome dado a mulheres que fazem sexo por dinheiro. — Papai se calou, passando as mãos pelos cabelos. — O que você sabe sobre sexo mesmo?

Eu dei de ombros.

— Deus, está na hora de conversarmos sobre algumas coisas, filho. — Ele me tirou da cama. — Vamos pegar aquela pizza e ter um longo papo.

Nós tivemos, pelo resto da madrugada. Eu sequer me importei com a ideia de ver o filme, conversar com papai era muito mais maneiro do que as lutas. Papai era muito inteligente, ele parecia saber qualquer coisa sobre o mundo, devia ser o cara mais esperto do planeta, um dia queria ser tão esperto quanto ele.

— O que estão fazendo aqui embaixo tão cedo? — mamãe perguntou quando apareceu na sala de manhã.

Papai e eu estávamos sentados no chão, a caixa de pizza vazia jogada ao nosso lado e entre a gente minha bola de futebol. Estávamos jogando ela no ar, como se ela fosse uma de vôlei, enquanto conversávamos.

— Mamãe, eu agora sei o que é uma garota de programa! — exclamei contente do meu mais novo conhecimento adquirido, papai riu ao me ouvir dizer aquilo.

— Oh, eu não esperava por isso tão cedo — mamãe murmurou.

— Ele está crescendo — papai falou para ela, mas olhando para mim. — Não queria que ele crescesse, mas ele está.

— E eu estou com estafa — completei. — O que quer dizer que não vou poder ir para Forks. — Sorri para mamãe, que me olhou ameaçadoramente.

— Boa tentativa, Tony, mas você vai sim. — Ela apontou para a escada. — Você também, Edward, tratem de irem se arrumar, não queremos demorar na estrada.

Resmungando, eu me coloquei de pé, mas me voltei para papai que estava se levantando também.

— Eu já estou crescido o suficiente para ser carregado de cavalinho?

Papai sorriu largamente.

— Sempre será pequeno para mim, Tony. Mas, o que acha de apostar corrida?

— Eu vou ganhar!

— É o que você pensa.

Então, corremos. Eu ganhei, naquele dia parecia uma vitória justa, mas depois ficou claro que papai tinha me deixado ganhar só para dizer em seguida:

— Você é um campeão, Anthony!

Robôs & Socos

Se eu sabia de algo na minha vida era que nunca seria médico, ou trabalharia em um hospital. Eu simplesmente achava tudo muito chato lá, odiava ficar doente e detestava ainda mais quando precisava matar hora no hospital.

— Você ainda vai demorar muito? — questionei meu pai, que mexia em uma papelada dos seus pacientes, ou qualquer coisa assim, em seu escritório no fim daquela tarde de sábado de verão.

Não era da minha vontade estar ali, mas eu não tinha outra escolha sendo só um pobre garoto de quinze anos que sequer podia dirigir, e ir para qualquer lugar que quisesse, sem depender da boa vontade dos meus pais. E com mamãe fora — ela tinha viajado desde o começo da semana para a Itália com Renesmee e Alec, o noivo da minha irmã. Eu devia ter ido para a viagem também, mas fiquei retido em uma matéria na escola e aquilo me garantiu um verão preso em Seattle estudando —, eu dependia somente do meu pai para me conduzir por ai.

— Você não tem nada para fazer, por que a pressa? — papai perguntou, ainda com os olhos fixos nos papeis em suas mãos.

— Porque aqui é chato, pai, frio e chato.

— Tem livros de medicina na mesa ao seu lado, você poderia estudar um pouco.

— Não, valeu, eu não sou o futuro médico da família.

Papai sorriu, olhando para mim por fim.

— Com sua nota vermelha em biologia você com certeza não vai ser. — Ele riu alto da minha cara de indignação. — Mas, você é ótimo com tecnologia e todas essas coisas, não perca isso.

— Sabe, tem uma feira de tecnologia rolando em Portland, você bem que poderia me levar lá, né?

— Quer que eu te leve para o Oregon?

— Isso, você entendeu certinho! — exclamei animado. — São poucas horas daqui, pai. A gente vai, arranja um quarto em um hotel barato e amanhã aproveita o dia todo na feira de tecnologia, você não vai ter que trabalhar mesmo.

— Você está quase me convencendo, melhore seu argumento.

— Isso te livra de ficar em casa entediado já que a mamãe nos abandonou pelo verão europeu. Aliás, Ness tem postado tantas fotos, eu estou morrendo de inveja.

— Quer saber? Você me convenceu, as meninas podem ter uma viagem pela Itália, mas a gente pode ter uma para Portland e vai ser muito melhor.

— Por mais que eu queira muito ir para Portland, sei que isso não vai ser tão legal quanto a que elas estão fazendo pela Itália, pai. Tipo, ela estão na Europa.

Papai revirou os olhos.

— Elas conseguem ser cruéis, sua mãe também tem postado muitas fotos. — Ele jogou a papelada sobre a mesa. — Mas, que se dane, nós estamos indo para Portland ver alguns robôs.

— Isso, valeu, pai! — comemorei. — Vamos cair fora desse hospital frio.

— Espera, eu realmente tenho mais meia hora para cumprir. — Ele voltou à papelada. — Depois disso a gente cai na estrada.

***

Ele levou uma hora, mas o importante e que depois disso a gente passou em casa, preparamos mochilas com pertences para passar um dia fora, entramos no carro de papai e ele começou a dirigir para Portland. Enviamos mensagens para mamãe e Ness, contando sobre nossa grande viagem, elas retribuíram com fotos delas no Vaticano.

Exibicionistas!

Nós paramos na metade do caminho para comer, escolhendo uma loja de conveniência qualquer de posto para comprarmos algumas besteiras para comer pelo resto do caminho até a cidade do Oregon.

— A menina do caixa pareceu gostar de você — papai sussurrou enquanto caminhávamos entre as estantes da loja.

Olhei para o caixa, onde atrás do balcão uma garota que devia ter mais ou menos a minha idade, estava. Ela era loira, olhava diretamente para mim e corou quando me viu olhando de volta, tudo que pude fazer foi forçar um sorriso.

— Se quiser parar e falar com ela vá em frente — meu pai disse.

— Não, estou bem — murmurei.

Eu precisava falar, algum dia eu teria de dizer a verdade, mas não queria que fosse naquele momento. Tinha tanto medo de como minha família reagiria, eu preferia ficar na negação por mais um tempo.

Estávamos debatendo sobre a proibição de venda de bebidas alcoólicas para menores de vinte e um, comigo argumentando que aquilo não valia de nada, quando um cara de descendência nativa americana apareceu ao nosso lado. O homem pareceu estremecer ao ver meu pai, que o encarou com um ódio mortal, apertando com força uma garrafa de soda em sua mão.

— O-Oi — o homem gaguejou, olhando para mim e engoliu em seco. — Você se parece com ela.

Eu fiquei imediatamente confuso, eu parecia com minha mãe, de onde aquele cara a conhecia?

— É melhor você se afastar, Jacob! — papai falou entre dentes, seu rosto já estava tomado por fúria.

— Cla-Claro — o homem voltou a gaguejar, parecendo desesperado, ele rapidamente seguiu para fora da loja de conveniência, sem parar para comprar nada.

— Quem é esse, pai? — eu perguntei confuso, vendo Edward Cullen com raiva como nunca tinha visto antes, talvez ele tivesse estado tão raivoso assim quando Renesmee sofreu bullying na escola, mas seu olhar parecia letal.

— Um ex namorado da sua mãe.

— Ah, você tem ciúmes dele — eu deduzi, rindo. — Não precisa, né? Aquele cara já está fora da vida dela a pelo menos vinte anos.

— Ele não foi simplesmente um namorado, ele foi um grande babaca com sua mãe e se eu não fosse terminar preso por isso, eu adoraria matar aquele vagabundo.

— Espera, eu não estou entendendo nada. O que ele fez com a mamãe?

Papai respirou fundo algumas vezes, percorrendo sua mão livre pelos cabelos acobreados.

— Jacob Black tratou sua mãe como mulher nenhuma deveria ser tratada, Anthony — ele disse em um tom de voz baixo, mas sério. — Ele chegou tentar bater nela.

Foi minha vez de ficar furioso, ao mesmo tempo que perplexo por ouvir aquilo.

— Ele tentou bater na minha mãe? — eu gritei minha pergunta, se eu soubesse disso daquilo antes tinha socado a cara daquele desgraçado, que merda ele tinha na cabeça para sequer pensar em bater na minha mãe?

— Ele tentou. — Papai engoliu em seco. — Foi quando ela se separou dele.

— A gente devia acabar com a cara daquele filho da puta! — eu falei entre dentes, sentindo a raiva por todo meu corpo.

Minha mãe, ele tinha tentado bater na minha mãe!

— Eu já fiz isso — papai contou, um sorrisinho maligno tomando conta do seu rosto.

Eu parei ali, chocado demais com a afirmação. Edward Cullen tinha batido em alguém? Ele era tão pacifico, aquilo era uma grande surpresa.

— Você bateu nele?

— Bastante. — Papai colocou uma mão no meu ombro. — Eu posso desprezar violência, mas quando Jacob reapareceu na vida da sua mãe para tentar infernizá-la ainda mais, não me contive e o agredi. Poderia ter sido preso, poderia ter me ferrado bastante por isso, mas aquele cara deixou sua mãe péssima, eu não permitiria que ele fizesse isso de novo.

— Eu ainda quero dar uns socos nesse desgraçado — resmunguei. — Como ele pode pensar em bater na mamãe? Como qualquer cara pode bater em uma mulher? Eu não entendo essas coisas, como tem gente tão idiota por ai. — Foquei meus olhos nos de papai. — Obrigado por junto da mamãe ter me ensinado o certo e o errado sobre tudo, pai, eu odiaria me tornar um Jacob da vida, é repugnante.

Ele apenas sorriu, me puxando para um abraço apertado.

— Vamos continuar a viagem logo — pedi. — Eu preciso tirar da minha mente aquele babaca.

— Precisamos, eu ainda sonho em quebrar o nariz dele de novo.

— Foi você quem deixou o nariz dele torto? — perguntei, papai riu alto, concordando com um aceno de cabeça. — Bom trabalho! — parabenizei, enquanto andávamos até o caixa.

— E ai? Vai parar para falar com a garota?

— Não, vamos só seguir a viagem — sussurrei, sentindo novamente o peso da verdade escondida pesar sobre meus ombros.

— Vamos seguir a viagem — papai concordou solenemente.

No dia seguinte fomos cedo para a feira de tecnologia, que estava sendo muito bacana. Eu me sentia no paraíso ali, era mais legal do que ir à Disney, muito mais divertido.

Papai não entendia muito sobre tecnologia, mas ele não ficou no canto emburrado por estar em um lugar fora da sua zona de conforto, pelo contrário. Ele me seguia para cima e para baixo, deixando com que eu explicasse tudo que sabia, parecendo verdadeiramente interessado.

— Esses robôs são fodas! — eu exclamei animado vendo uns que de tão reais pareciam mesmo humanos.

— Tony...

— Opa, foi mal pelo palavrão — falei para papai. Mamãe e ele tentaram deixar Ness e eu o mais puros verbalmente possível durante nosso crescimento, mas minha irmã e eu acabávamos deixando um palavrão e outro escapar de vez em quando.

— Não, não era isso, mas não deixe sua mãe te ouvir falando dessa forma — papai falou. — Eu ia dizer que você devia mesmo investir em tecnologia, é muito bom, nisso, filho. Como Ness é com a fotografia, é sua paixão.

— Na verdade, eu estava sendo um pouquinho ambicioso e pensando em fazer aplicação para estudar no MIT depois de me formar no colegial.

— Isso é excelente! — Papai abriu um grande sorriso.

— É ambicioso demais, eu vou acabar não sendo aceito e quebrando a cara.

— Nunca vai saber caso não tente, Tony — ele afirmou. — E não há nada de errado em ser um pouquinho ambicioso.

— Certo, eu prometo tentar.

Papai assentiu, seu olhar se perdendo por um segundo.

— Você está crescendo — falou. — Eu queria que ficasse pequeno para sempre.

— Eu sempre serei pequeno para você — lembrei, ele assentiu.

— Mas, eu não posso mais te levar por ai de cavalinho, minha coluna não aguentaria.

— Mas, você pode me dar um carro — sugeri. — Eu ficaria muito bonito em um Volvo.

— Boa tentativa, mas não vai rolar, você vai ter um carro de segunda mão.

— Isso é foda e não de uma maneira legal — protestei.

— Tony, maneire nos palavrões.

— Tá, pode deixar. — Nos voltamos a andar entre os stands da feira. — Pai?

— Sim? — ele perguntou distraído, olhando outros robôs.

Eu quis contar a verdade sobre mim, mas como sempre me acovardei.

— Obrigado por ter me trazido até aqui — agradeci, ele me olhou.

— Pode contar comigo para tudo, Anthony.

Eu esperava que ele continuasse ao meu lado quando eu tomasse coragem de contar a verdade.

Flagra & Café

Estar apaixonado era tão confuso, eu queria estar com David todo tempo, mas também tinha medo de me entregar demais e estragar tudo. Desse jeito, eu ficava naquele impasse de querer estar com ele, mas temer estar com ele.

A pior parte era que eu não tinha ninguém para me abrir, nenhum dos meus amigos — fossem eles do time de futebol americano ou do clube de ciências — sabiam sobre minha sexualidade e muito menos ninguém da minha família. Certo, Renesmee já tinha soltado algumas indiretas e ela parecia bem desconfiada, mas ela e eu nunca falamos sobre o assunto.

Minha verdade continuava intacta, eu tinha dezesseis e não tinha coragem alguma de revelar ela para o mundo. Bom, claro que David e os outros dois garotos que beijei antes dele sabiam, mas todos nós tínhamos um pacto silencioso de manter aquilo em segredo.

— Você é bom em biologia, eu te invejo — falei para David naquela tarde de quarta-feira, enquanto estudávamos no chão do meu quarto.

Estávamos sozinhos em casa, minha irmã não morava mais lá tinha anos, já estava até casada. Mamãe tinha saído com tia Rose e tia Alice, para um dia de compras. E meu pai estava visitando Renesmee aquele dia, depois iria direto para o hospital para um plantão.

Dessa forma, entre os estudos, David e eu podíamos roubar beijos um do outro, sem corrermos o risco de alguém no flagrar. Era quase libertador, quase.

— Você é bom nos esportes, com tecnologia e a coisa toda, Tony — ele falou, virando para olhar para mim, sorrindo abertamente. Ele era descendente de mexicanos, tinha pele escura e olhos quase pretos, ele era lindo, eu estava mesmo apaixonado, como devia lidar com aquilo?

— Eu sou bom com beijos? — provoquei, David riu baixinho, assentindo.

— Você com certeza é muito bom com isso — falou, aproximando seu rosto do meu. — Inclusive bem que você poderia me beijar agora, né?

— Isso não seria um esforço, não mesmo — sussurrei, antes de beijá-lo.

Tínhamos comido bolo antes, então ele tinha um gosto doce de chocolate em seus lábios. Eu aprofundei o beijo, segurando sua nuca, puxando David para mim, enquanto ele segurava na minha cintura, nossas pernas estavam entrelaçadas sobre o chão.

O barulho da porta se abrindo me alertou, mas não conseguimos se rápidos o suficiente. Quando papai entrou no quarto, eu ainda estava agarrado a David.

Olhei apavorado para meu pai, que estava parado na entrada do quarto, olhando para a gente como se tivesse visto um fantasma. David logo se afastou de mim, recolheu suas coisas rapidamente e enfiou tudo na mochila, eu sequer conseguia levantar do chão e papai continuava paralisado no mesmo lugar.

— E-Eu preciso i-ir — David gaguejou, passando como uma bala por papai e deixando meu quarto, para deixar a casa.

Depois do que pareceram horas, papai se moveu, mas saindo do meu quarto também. Eu me obriguei a seguir ele, o vendo trocar de camisa do seu quarto, pegar algumas coisas que sempre levava para o hospital.

— Eu tenho que ir para o trabalho — ele falou, sua voz era baixa, perdida.

Ele me odiaria, não é? Ele veria em mim uma aberração, ia me desprezar. Papai era um grande homem, justo e inteligente, mas eu já tinha visto outros pais que amavam seus filhos os largarem na rua por conta do que eles eram, pelo o que eu era.

— Pai — eu falei desesperado, o seguindo escada a baixo.

Mamãe chegou naquele instante, entrando em casa toda sorridente.

— Olá, meninos! — Nos saudou, mas logo percebeu o clima tenso. — O que está acontecendo? — perguntou, olhando de mim para papai.

— Nada — papai mentiu.

Era isso? Ele fingiria que não tinha visto a cena no meu quarto? Será que aquilo seria melhor para a gente? Fingir era a melhor saída? Eu tinha escondido a verdade por um longo tempo, poderia fingir depois de ela ter sido revelada?

— Tenho de ir para o hospital, vejo vocês amanhã — ele falou, beijou a testa de mamãe e saiu sem dizer mais nada.

— Tony? — Mamãe se voltou para mim.

— Eu tenho dever de casa para fazer, mãe — murmurei, com medo do que aconteceria depois daquele flagra. — Muito dever de casa.

— Você quer que eu peça pizza para o jantar? — Sorriu gentilmente para mim.

— Sim, por favor.

— Quatro queijos?

— Sim, quatro queijos.

***

Não dormi nada aquela noite, estava preocupado demais como ficaria minha relação com papai depois de tudo aquilo. Ele fingiria mesmo que nada tinha acontecido? E caso não fingisse, mas ficasse tão puto e me colocasse para fora? Mamãe ia querer aquilo também? Meus avós ou tios me acolheriam? Minha irmã?

Na escola, no dia seguinte, David sequer olhou na minha cara. Ele era de uma família rígida, já tinha me dito que o pai dele e a mãe nunca aceitariam um filho homossexual, que ele não poderia se assumir enquanto continuasse morando com eles. Aquilo com certeza nos afastaria, nunca mais ficaríamos juntos.

Eu estava esperando mamãe ir me buscar, já que ainda não tinha um carro, quando vi o carro de papai parar diante de mim na porta da escola. Era muito raro ele me buscar ali, já que nossos horários não batiam, então sabia que aquilo não era algo rotineiro e fiquei assustado.

— Vamos? — Ele abaixou o vidro da sua janela para falar comigo.

— Cadê a mamãe? — perguntei temeroso, ainda parado do lado de fora.

— Em casa, eu disse para ela que a gente ia sair por algumas horas. — Ele apontou para o banco vazio ao seu lado. — Vamos, Anthony.

Forcei meus pés a me levarem para o carro, entrei ali silenciosamente e fiquei em silencio pelo resto do caminho, apenas olhando para minhas mãos em meu colo. Para onde ele me levaria? O que ele falaria?

Paramos em uma cafeteria, eu não tinha ido lá antes, era um lugar fora da minha rota normal, mas ficava próxima a Universidade de Washington. Entramos, ainda com o silêncio entre a gente e sentamos em uma mesa para dois.

— Esse foi o lugar que sua mãe e eu nos conhecemos — papai contou, depois que fizemos pedidos e fomos servidos. — Onde tivemos nosso primeiro encontro. — Ele sorriu com a recordação.

— Você me odeia? — eu indaguei, sentindo as lágrimas acumulando em meus olhos.

— O quê? — papai perguntou, com horror em sua voz.

— Você me odeia? Por eu ser...gay — sussurrei a última palavra, com medo de que alguém mais ouvisse.

— Anthony, por que eu o odiaria? — Ele apoiou os braços na mesa, olhando atentamente para mim.

— Porque eu sou diferente, porque eu não deveria gostar de outros meninos.

— Onde esta o manual?

— O quê?

— O manual do ser humano que te proíbe de gostar de outros caras.

— Pai...

— Eu não odeio você, Tony, nunca seria capaz de te odiar, filho. — Sorriu para mim e vi lágrimas nos seus olhos também. — Você é meu filho, meu garoto, é uma das melhores partes da minha vida junto da sua mãe e irmã.

— Por que você não disse nada ontem? Por que saiu correndo? — questionei.

— Porque estou com medo.

— Medo? — indaguei sem entender.

— Medo, muito medo. Nós vemos todos os dias nos jornais como homossexuais, transexuais e pessoas ditas diferentes do padrão sofrem, Anthony. E você sempre será para mim meu garotinho que gostava de comer giz de cera, que dançava em seus pijamas toda manhã antes de ir para a aula, eu não quero que ninguém te machuque, não quero que ninguém faça você sofrer. — As lágrimas deslizaram pelo rosto dele, papai não se importou em secá-las. — Por isso tenho medo, de te ver sofrendo, de te ver triste, você é tão cheio de vida e feliz, eu não quero que se esconda, que se culpe por ser o que é, não quero que mude, Anthony.

— Eu também tenho medo — confessei. — De, sei lá, apanhar na rua por estar andando de mãos dadas com um cara, dos meus amigos virarem as costas para mim, de você e da mamãe fazerem isso.

— Sua mãe e eu nunca iriamos virar as costas para você, Anthony — ele disse com firmeza em sua fala. — Nunca, entendeu? Você é nosso filho, nós te amamos perdidamente e mataríamos por você, eu mataria todos que ousarem te machucar.

As lágrimas logo estavam escorrendo por meu rosto também, as pessoas ao redor deviam estar preocupadas com a gente chorando daquela forma em público, mas não liguei para elas. Eu apenas escondi meu rosto entre as mãos, o peso da verdade não era mais tão ruim de suportar, pois meu pai finalmente sabia dela e iria me apoiar.

— Ei. — Senti a mão de papai nos meus cabelos, fazendo com que eu abrisse os olhos, ele tinha movido sua cadeira até o lado da minha. — Desculpe por ontem, por não ter parado e conversado com você antes, mas aquilo me pegou de surpresa e eu realmente precisava pensar um pouco.

— Eu entendo — sussurrei.

— Eu estou falando sério, Tony, não se sinta sozinho nisso, não está só. Toda nossa família vai te apoiar, eu vou te apoiar no que for preciso.

— Obrigado, pai! — agradeci, o abraçando com força, chorando no seu ombro.

— E vou querer conhecer seus namorados, todos eles, como conheci os da sua irmã, eles tem que realmente te merecer. — Eu ri da sua fala entre meu choro, papai riu também. — Ei, isso é sério, você está crescendo, mas não vou deixar qualquer um rondando meu filho.

O abracei com mais força ainda, parando de chorar.

— Amo você, filho. — Papai beijou minha cabeça.

— Amo você também, pai.

Baile & Bar

Eu não estava surpreso em ter sido coroado o rei do baile aquela noite, mas fiquei quando John disse:

— Sinto muito, Tony, mas acho que a gente tem que terminar — ele falou, depois de eu ter dançado junto com a rainha do baile, Sarah.

— Por quê? Você não consegue lidar com o fato de eu ser o rei do baile de formatura? — eu perguntei rindo, mas lá no fundo chocado com suas palavras.

John e eu estávamos namorando por uns cinco meses, ele foi o primeiro namorado que assumi, era do time de futebol como eu. Minha mãe o adorava, ela vivia o chamando para jantar em nossa casa, minha irmã gostava dele, mas papai dizia que não confiava tanto assim no meu namorado, eu pensava que era só implicância, deveria ter o ouvido.

— Eu estou apaixonado por outro — John confessou, engolindo em seco.

Estávamos no corredor do lado de fora da quadra de basquete da escola, onde o baile acontecia. Formatura, dali eu iria para a Universidade de Washington, uma vez que não tinha sido aceito no MIT em Boston.

— Apaixonado? — eu questionei, ainda chocado. — Como assim? Mas, eu, você,  outro, John! — gritei, puto da vida.

Eu não podia acreditar que meu par do baile, meu primeiro namorado, estava me chutando. Porra, isso era terrível.

— Eu conheci o Keith pela internet — John começou a contar, soando envergonhado.  — Ele mora em Phoenix, mas está indo fazer faculdade em New York...

— Para onde você também está indo! — acusei. — Você ia ficar pegando ele em New York enquanto eu fico em Seattle? E todo aquele papo de “Anthony, não se preocupe, a distância não vai separar a gente?”, onde isso foi parar, John?

— Eu sei, sei que errei, mas estou consertando isso antes de ir embora e te deixar aqui esperando por mim.

— Você é um babaca! — gritei no corredor vazio, ao longe minha mente detectava uma música pop falando sobre o amor do casal ser eterno.

Foda-se, eu estava desistindo de ser eterno com alguém.

— Anthony, a gente pode continuar sendo amigos...

— Há, até parece que quero continuar sendo seu amigo, John. Eu quero distância de você, ouviu? Você fez planos comigo, você me fez acreditar que realmente gostava de mim, enquanto estava planejando pelas minhas costas a vida em New York com Keith de Phoenix!

Ele tentou tocar no meu braço, mas o afastei.

— Espero que você e esse tal de Keith sejam muito felizes, John, mas se ele te chutar não vem atrás de mim, entendeu? Eu nunca vou te perdoar!

Comecei a andar para longe dele, querendo sair da escola rapidamente e me afastar daquele cretino.

— Tony, me deixa pelo menos te levar para casa.

— Va se foder, John! — gritei, saindo de dentro do prédio do colégio, ele não me seguiu.

Eu ainda esperei que ele me seguisse, mas aparentemente ele estava mais interessado em voltar para o baile. Não sabia se naquele momento estava o odiando mais por ter outro, ou por ter arruinado meu baile de formatura.

Sem ter como voltar para casa, já que o idiota do John tinha me levado até ali, eu liguei para casa. Era frustrante pedir para alguém ir me buscar, mas eu não queria voltar à festa e pedir carona para ninguém, muito menos ver John novamente.

— Tony? Algum problema? — papai perguntou quando atendeu ao telefone de casa.

— Sim, será que você pode me buscar na escola?

— O que aconteceu?

— Só vem me buscar, por favor, pai — insisti, sem querer falar sobre aquilo por telefone.

— Certo, estou indo.

— Valeu — agradeci e desliguei.

Passei alguns minutos sentado na escadaria diante da escola, alguns alunos passavam por ali, mas minha expressão os impediu de pararem e falarem comigo. Mas, por sorte, papai não demorou muito para aparecer, praticamente correndo eu entrei no carro dele.

— Hey, você é o rei do baile! — ele exclamou animado quando viu a coroa na minha cabeça.

— Você estava certo.

— Sim, eu disse que você seria coroado — ele falou. — Eu também fui, seu avô foi, se trata de uma tradição Cullen.

— Não, sobre John, você estava certo, ele não era confiável.

Olhei para papai, que esperava a continuidade da minha fala calado, mas não surpreso.

— Ele terminou o namoro, porque conheceu um cara na internet. — Papai torceu o nariz. — Esse cara vai morar em New York, onde John também vai, enquanto eu ia ficar aqui em Seattle, preso numa bosta de namoro a distância esperando ele se formar e voltar a morar aqui. — Papai apertou meu ombro, eu senti lágrimas nos meus olhos, mas me impedi de as chorar. — A gente tinha planos, pai. Eu estava organizando até o calendário, contando quantas vezes poderíamos nos ver, quantos dias faltariam para ele voltar a morar aqui, eu fui tão idiota.

— Não, você só estava apaixonado.

— Eu sinto que é a mesma coisa, só me apaixono por caras que não querem se assumir, como foi com David, ou com caras que só pensam em si mesmo como John. Nunca mais vou me apaixonar, anota isso.

— Anthony. — Papai riu alto.

— Sério, pai, eu vou virar padre.

— Acho que é um pouquinho tarde para você virar padre — ele falou. — Mas, tem um lugar que você vai gostar de ir.

— Uma igreja? Porque eu estou pensando em formas de matar o John e talvez isso me mande direto para o inferno.

Papai riu ainda mais, ligando o carro e começando a dirigir para longe da escola.

— Vou te levar para onde meu pai me levou quando a minha primeira namorada terminou comigo.

***

O lugar era um bar, considerando o fato de eu ser menor de vinte e um, papai precisou dar algum dinheiro para o segurança permitir minha entrada. Eu estava tão chateado, que nem consegui reclamar pelo fato de ele estar me levando para beber e gastar um monte de grana, sendo que podíamos beber do álcool que tínhamos em casa no mini bar.

Não que eu tocasse naquelas garrafas, nunca. Imagina, eu era um anjo, nem sabia o gosto de álcool.

— Você deveria me levar para uma boate stripper, não? — perguntei, seguindo ele até o balcão do bar. — Não é o que os caras fazem pelos amigos quando eles levam um fora?

— Só fui numa boate dessas na minha despedida de solteiro, nunca quando terminei um namoro.

— Mamãe sabe?

— Ela com certeza sabe — ele confirmou, sentando em um dos bancos, eu sentei no outro. — Se eu não tivesse dito com antecedência para onde Emmett e Jasper estavam me levando, era capaz de Bella ter me matado.

Eu ri, mesmo que ainda estivesse chateado.

— Mas, suas tias a levaram para uma boate de stripper com caras, então empatamos.

— Qual o endereço? Esse é meu tipo de boate de stripper. — indaguei, uma risada diferente surgiu ali perto, olhei para o outro lado do balcão, onde um barman prestava atenção na nossa conversa.

Ele era alto e negro, sua cabeça raspada e tinha um sorriso gigantesco. Lindo, lindo mesmo.

Porra, eu já estava atraído por outro?

— Duas doses de uísque, por favor — papai pediu para o cara.

— Ele é menor de idade — o barman disse o óbvio, apontando para mim.

— Qual seu nome? — papai perguntou para ele.

— Lucas, mas pode me chamar de Luke.

— Certo, Luke — papai voltou a falar. — Meu filho levou um fora no baile, depois de ser coroado o rei. — Apontou para a coroa na minha cabeça. — Seja bacana com ele e deixe-o beber, ok?

— Sinto muito pelo fora — Luke falou para mim.

Dane-se John, eu estava mais interessado no barman naquele momento.

 — A primeira dose fica por minha conta. — Luke piscou para mim, afastando-se para pegar o uísque.

— Pai? — o chamei, mas sem tirar os olhos de Luke no fim do balcão.

Tão bonito!

— Você está afim do barman, sim, eu percebi isso. — Ele bateu em minhas costas. — Ele parece bonito.

— Deus, pai, ele é muito bonito — murmurei, ainda fascinado por Luke.  — Me diz, algum problema se eu pedir o número dele?

— Não, faça isso.

— Ei, Luke? — gritei logo para o cara, sem ligar para o pessoal no bar, que ainda estava longe. Ele olhou para mim, confuso por um segundo, mas ele sorriu em seguida. — Posso ter seu número e um encontro qualquer dia desses?

Ele respondeu quando voltou a parar diante da gente, colocando as doses de uísque sobre o balcão.

— Você vai usar essa coroa idiota? — ele perguntou sorrindo, eu já estava apaixonado pelo sorriso dele, foda-se.

— Talvez, eu gosto dela. — Toquei no adereço sobre minha cabeça, Luke riu.

— Você até que fica bem com ela. — Luke pegou um lencinho e uma caneta do seu bolso, rabiscando seu número para mim e me entregou o papel. — Me ligue quando superar o cara que te deu um fora — falou, antes de se afastar para atender os outros clientes.

— Pai, estou apaixonado — falei para ele, com certeza da minha afirmação.

— Você está — ele concordou.

— Espera, não vai dizer que é cedo demais?

— Eu já estava apaixonado por sua mãe depois do primeiro encontro, Tony — confidenciou, pegando o celular de seu bolso e estendendo para mim. — Odeio te ver crescendo, mas não posso adiar isso, não é mesmo? Não deixe a oportunidade passar.

Peguei o celular da mão dele, discando o número de Luke. Eu o vi do outro lado do bar, atendendo a ligação.

— Luke, sou eu, o rei do baile que levou um fora. — Sorri e acenei para ele, enquanto continuávamos nos falando pelo celular. — Que tal um encontro amanhã à noite?

— Você gosta de sushi?

— Eu adoro sushi.

— Combinado, me manda seu endereço depois. — Ele continuava sorrindo quando desligou, eu virei triunfante para papai, que fez um sinal de positivo para mim.

— Se ele te magoar eu quebro a cara dele — papai alertou.

— Ele não vai — eu falei, dominado por uma estranha certeza.

Papai me analisou e assentiu.

— É, ele não vai.

Crescendo

Crescer também envolvia sair do ninho.

A primeira vez que deixei o ninho foi quando me mudei para o dormitório da universidade, depois quando passei a dividir o apartamento com Luke. Então, lá estava eu, pronto para ir morar no Japão por seis meses, deixando completamente o ninho para trás.

Eu tinha sido escolhido pela faculdade para um intercâmbio no Japão, fiquei estático por dez minutos quando minha professora deu a noticia. Então, liguei para papai e contei primeiro para ele.

Depois disso tudo foi muito rápido, eu já estava no aeroporto me despedindo de todos para embarcar rumo à nova fase da minha vida. No dia anterior minha irmã organizou uma festa de bota fora, sendo assim, apenas ela, meus pais e Luke estavam no aeroporto.

Eu me despedi de Ness, ordenando que ela me mandasse fotos diárias de Charlotte, minha sobrinha. De Luke, que assim como eu usava um anel de noivado, a representação material do nosso compromisso. Da minha mãe que não parava de chorar, por eu estar indo para o outro lado do mundo e por fim de papai.

— Eu estou nervoso — falei para ele.

— Você vai se sair bem, Anthony. É inteligente e esperto.

— Ainda tenho muito que crescer, pai, eu quero ser pelo menos metade do grande homem que você sempre foi.

Papai sorriu, seus olhos verdes estavam cheios de lágrimas.

— Eu queria que você fosse pequeno para sempre, para que pudesse te proteger de tudo e de todos. Só que você cresceu, Anthony e virou um grande homem, eu estou orgulhoso, filho. Você é incrível!

O abracei, recebendo um apertado abraço de volta.

— Vá em frente, campeão. — Papai me soltou quando fizeram mais uma chamada do meu voo. — Eu te vejo no Natal.

— Eu estarei aqui, ainda tenho muito que aprender com você, pai. 


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Notas finais do capítulo

Há grandes chances de revermos esses personagens em breve, então fiquem de olho no meu perfil caso queiram mais deles.

Beijos!

Lola Royal.

13.08.17



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