Black Matter escrita por annepast


Capítulo 1
Capítulo Único




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E quando me dei conta já me tinha perdido em sua escuridão. Um buraco negro supermaciço do qual o meu dourado já não era capaz de escapar, embora a força contrária que eu tentava e tentava e tentava achar dentro de mim. Sempre a ser sugado, a cada segundo mais próximo do vazio absoluto, de um vórtex de névoa. E eu juro que eu tentei escapar.  Juro mesmo, não minto. Porém a cada lapso de olhar minha sanidade extraviava um pouco e a cada olhar encontrado furtivamente era como me jogar num precipício, sedento por um fundo ríspido que me fizesse eventualmente acordar desse delírio. Aqueles olhos cinzentos eram a minha perdição. 

E foi então que aquele fluxo de matéria negra se tornou minha dose pessoal de heroína. No meio da noite ou ao acordar e correr aos chuveiros, admirando uma fração da pele alva ainda despojadamente largada nos lençóis imaculadamente brancos. Quase inocente. Deliciosamente inocente. Sem a menor sombra de dúvidas, Sirius Black sempre foi o ser mais inocente que tive a oportunidade de conhecer, mesmo que todo aquele ar punk rock propositalmente criado interferisse com tal divina visão. E ao pensar o quanto eu gostaria de estar ali, de sentir sua pele rasgar sob as minhas garras, ver aqueles malditos olhos prateados chorarem, eu já não duvidava mais do quão perdido estava e de quanto eu precisasse me afogar naquela prata líquida. E independentemente de estarem presos vagabundamente ou perfeitamente caídos sob seus ombros, aquele poço de escuridão fazia com que minhas mãos queimassem de desejo. Como eu gostaria de entrelaçar meus deus dedos em seus cabelos. E o corpo jogado em cima da poltrona, o livro de ponta-cabeça em seu colo, apenas para apoiar a xícara de café, a cabeça caída para trás, as mãos vacilantes segurando o cigarro. Por dois segundos eu cogitei a hipótese de saltar para cima daquele cão, mas não, eu sou um bom Remus Lupin, sou seu melhor amigo, tenho que me conter, mesmo que a pura intenção de se conter esteja a fios de explodir. 

E em meio aos meus mais profundos devaneios ele abre os olhos, tortuosamente lento. Traga ainda mais lentamente e deixa que o fumo faça parte da atmosfera ao seu redor. Eu juro novamente que conseguia ver cada uma de suas células acordarem de um sono profundo, e a adrenalina voltar a cavalgar suas veias e essas últimas voltarem a pulsar com força, ele a corar ligeiramente. E ele simplesmente começa a rir, aquele sorriso escarno de sarcasmo que somente Sirius Black é capaz de liberar, junto com a minha própria dignidade quase inexistente. O meu mundo para naquele segundo e tudo que me é tangível é aquele fragmento de memória que vai restar na cabeça por noites a vir ainda.  

"Moony", aquela voz arrastada, um latido, eu a implorar por ouvir novamente. "Moony, olha pra mim...", e como sou eu capaz de não olhar para aquele imã que atrai cada um dos meus poros? "Moony, respira, ok?".

Sim, Padfoot, eu hei-de lembrar-me um dia como respirar novamente. 


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