A Liga Extraordinária Brasileira escrita por Eye Steampunk


Capítulo 7
O Ceifador (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou neh amigos :v

Enfim, peço encarecidas desculpas, ocorreu muitas coisas em minha vida, que até mesmo nas feriasestive impossibilitando de escrever. Enfim, não prometo o próximo capítulo, mas deixo claro que eu quero terminar esta historia sim, nem que eu precise brigar com a Morte.



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Baía de Guanabara, Morro do Pão de Açúcar, Rio de Janeiro, 2030.

— A Baía de Guanabara tem 380 km² de área, existe uma quantidade relativamente grande de morros que a norteiam; o Morro da Urca, o do Pão de Açúcar, Caras de Cão...

Bruno abaixava o mapa topográfico do relevo que contornava toda a Baía de Guanabara. O jovem ocultista retornava com seu habitual traje de alquimista, uma capa roxa longa presa a um broche de safira, camiseta de algodão branca, calça jeans e tênis de caminhada. O sexteto estava espremido em um furgão branco envelhecido e que rangia constantemente. Tudo pago por Lúcio que o dirigia em sentido sul; no banco de carona do motorista, estava Jorge com um lampião em seu colo, acendendo um cigarro e levando a boca, nos assentos seguintes estava sentado a sós o E.T. Ulisses mexendo em um aparelho de captura de imagens; em seguida Bruno e Maria, ela se distraía avistando a paisagem costeira; por fim Guto, o gigante teve que se contentar com os fundos, depois que seu peso danificou as molas dianteiras do veículo.

O ocultista guardou o mapa e invocou o seu livro, abriu, brilhou em dourado, pronunciou algumas palavras, um pentagrama azul brilhou, signos como um raio e três círculos desenhavam o interior da figura. Esferas de energias cianas explodiram como fogos de artifícios do interior do furgão e saíram voando aos ares.

— O que era isto? — perguntou a fantasma.

A loira do banheiro tinha os cabelos soltos descendo como cascata pelo seu busto, usava o habitual vestido alvo da qual estava usando à primeira vez que apareceu aos garotos, com algumas diferenças: sem as manchas de sangue e não estava esfarrapado. As orbitas de seus olhos estavam mais vivas, nem parecia está... Bem... morta. Bruno chamado por sua voz, não deixou de sentir-se atraído por sua aparência naquele dia.

Invocus: Altarius Aiglatus — gaguejou o ocultista, desviando o olhar envergonhado da fantasma e apontando a algumas fotografias — Ulisses  fez um ótimo trabalho diminuindo nossa área de busca, suas fotos dos morros mostram essas faixa aqui de luz...

A imagem era um pedaço de terra elevado, gaivotas voando ao céu, enquanto faixas multicoloridas distorciam o céu entre as nuvens.

— É uma bela imagem. — elogiou Maria.

— Obrigado! — chiou o extraterrestre.

— A câmera capta magia?

— Não naturalmente, mas Ulisses consegue calibrar a maquina para que capte radiação mágica, que são como ondas liberadas quando alguém está praticando ou sendo cobaia da magia... — comentou Bruno. — Uma instantânea Polaroid capaz de mostrar rastros do sobrenatural, somente uma das mais incríveis invenções do ET.

Um flash de luz interrompeu a explicação do ocultista, Ulisses terminava de ajustar a câmera após capturar a imagem do casal, retirou a fotografia, balançou ao ar e mostrou a Maria. Nesta estava Bruno com uma aura de tons dourado em torno do corpo e a fantasma brilhando em negro, e em torno dos dois, um circulo de energia rósea.

— Dourado... Magia boa. Negro... Magia ruim! — explicou o extraterrestre.

— Muito bem, agora sei que tenho muita perversidade! — A fantasma devolveu a imagem ao extraterrestre incomodado — Provavelmente fruto de minhas vitimas carregando de magia negra.

 — E estas manchas rosa? — perguntou Bruno mudando de assunto.

— Eu não sei. — chiou o extraterrestre.

A loira do banheiro e o ocultista trocaram olhares envergonhados, talvez tivessem ideia do que seria, mas preferiam não comentar; a fantasma soltou um pequeno riso facial, agradecendo ao fato de ele mudar de assunto.

O espaço tremeu e Guto gemeu de dor ao bater com a cabeça no teto metálico do furgão; a câmera de Ulisses voou de sua mão e pousou ao chão espatifando, provocando muito marulho, mas por alegria do E.T., nenhuma quebra; Maria foi jogada para cima de Bruno.

— Foi mal, galera! — comentou Lúcio. — Buraco na estrada.

O demônio retirou o fumo dos lábios de seu companheiro de banco e arremessou pela janela. Todos se acomodaram de volta as suas posições, inclusive Bruno e Maria, que trocavam desculpas em gaguejos.

— Ei! — protestou o cavaleiro.

— Nada de fumar dentro do furgão! — reclamou Lúcio. — odeio a fumaça deste merda!

Jorge estendeu a mão em frente ao seu rosto, brilhou e o fumo ressurgiu aceso em seus dedos.

— Recuperado.

Lúcio revirou os olhos.

— Se você consegue encontrar e recuperar qualquer objeto perdido, por que não faz o mesmo com o quartzito? — perguntou Bruno.

— O quartzito não foi perdido, ele foi roubado, minha santidade não permitiu recuperar objetos furtados, surrupiados, roubado ou tomados! — comentou Jorge.

— E qual santo nós devemos apelar? — perguntou o ocultista. — Existe algum dos objetos roubados que devemos rezar?

— Na situação em que nos encontramos, infelizmente... Eu talvez seja a única entidade celestial que possa lhe auxiliar no momento... Reze a mim. — respondeu o cavaleiro.

— Que ótimo! — trincou os dentes, Bruno.

***

Praia de Fora era uma área costeira de acesso restrito militar, o que curiosamente permite aos seis aventureiros passes livre ao local. Segundo história, era o local onde os primeiros navegadores colonizadores pisaram, entre o Morro do Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão. O forte de São João se encontrava a ponta peninsular do segundo morro, era à entrada da base militar secreta que comportava o quartzito, mas o sexteto seguiu estrada adiante, desviando para o sudeste em direção a área litorânea.

Soldados gritaram em protesto e apontaram seus rifles, provavelmente não esperavam que o grupo desviasse o caminho, mas a situação da cidade carioca era mais urgente, e eles não queriam atrasar; o trabalho de desarma-los e impedir qualquer incômodo, desastre ou anuncio da chegada dos heróis ficou para Jorge, montado em seu cavalo recém-recuperado do saco de Guto, e Maria que sobrevoou invisível sobre os soldados.

— Enfim, chegamos... — disse Lúcio, o primeiro a descer do furgão, abrindo porta para os demais dos seis. — Praia de Fora!

O grupo desembarcou do veículo, na base do Morro do Pão de Açúcar, uma densa floresta encobria a montanha, conjunto de altas árvores tropicais protegia qualquer acesso que houvesse no interior da montanha e assim encobria qualquer esconderijo secreto. Maria e Jorge aproximaram dos quatros.

— Devemos separar novamente? — perguntou Maria.

— Se quisermos uma área maior de busca é o essencial, isto se as fotos de Ulisses estiverem certas. — comentou o ocultista. — Segundo as imagens, eles usam a rota mais popular, onde comumente os turistas sobem o morro, em qualquer caso, pegamos uma via alternativa para que não ative qualquer possível alarme que possa existir...

— Tenho certeza que estamos na pista certa... — disse Lúcio interrompendo Bruno. — Será que nenhum militar se questionou como poderiam levar uma pedra de tamanho colossal tão facilmente... Se a base de operação inimiga não fosse ao lado da base militar?

— O Homem Diabo tem razão! — comentou Jorge ainda montado em seu cavalo. O que surpreendeu o grupo, quem diria que aqueles dois concordariam em algo. — E vendo este local... — ele olhou para a mata fechada — Alguém mais está sentido um frio na espinha?

Ninguém desejava concordar, muito menos discordar, no entanto, desde que o grupo se aproximou do morro, uma sensação desconfortável afligiu todos, como se a própria Morte estivesse à espreita. Lúcio e Maria eram os que menos se afetavam com esta sensação, Lúcio conhecia e fazia da Morte o seu servo, e Maria já se encontrava morta, desejaria mais do que nunca que a Morte a levasse a outro plano dimensional.

— Beleza! — o ocultista para corta o clima tenso, chamou a atenção a si — Ulisses, quais são os brinquedinhos que tem para hoje?

O extraterrestre encaminhou aos fundos do furgão, Lúcio o ajudou com o porta-malas e a trazer uma caixa pesada; do interior, Ulisses retirou esferas de metal e jogou aos céus, pequenas hélices brotaram da superfície e as planaram e adentraram a mata fechada.

— Rastreadores... Antenas de comunicação...! — chiou o extraterrestre oferecendo pontos eletrônicos a cada um dos seis do grupo. — Comunicadores!

Melhores que os usados na Fazenda do Sr. Baltazar, estes, com upgrade, possuíam radio-localização e estendia seu sinal à longa distância, inclusive para fora da atmosfera do planeta Terra, Ulisses utiliza a tecnologia de seu planeta natal, comunicação à longa distância. Cada um prendeu seu ponto à orelha, Guto tinha problemas de tamanho com o seu e Maria tentava não ser intangível para o objeto.

— Ok! As mesmas duplas de sempre, eu e Lúcio...

— Não! — protestou Jorge.

— Não? — perguntou Bruno.

— Irei com o meio-demônio aqui! — o cavaleiro apontou a Lúcio, que nada expressou além de ficar surpreso.

— Está bem para você, Lúcio?  — perguntou o cavaleiro.

— C-claro! — gaguejou o demônio.

— Ótimo!

A Liga se dividiu em três grupos menores, ninguém quis separar Guto e Ulisses, eles eram uma dupla perfeita um para o outro, Bruno sentia inveja que seu amigo estava o deixando de lado e tendo uma ligação de maior cumplicidade com o gigante, mas não admitia o ciúme nem para si mesmo. Maria acompanhou o alquimista, enquanto Lúcio era alvo da vigia de Jorge em de cima de sua montaria. Cada um entrou em pontos específicos da floresta, cobrindo em maior área a busca por uma entrada secreta, de vez em quando, as esferas voadoras de Ulisses sobrevoavam uma das duplas.

Bruno e Maria seguiam um caminho mais próximo da encosta de pedra do morro, procurando passagens secretas, alguma caverna ou fenda aberta, qualquer falha geológica que pudessem levar a um possível esconderijo secreto.

— Então... — puxou assunto Maria, enquanto periodicamente atravessava as rochas em busca de passagens secretas.

— Então o que? — perguntou Bruno, checando uma rocha enorme coberta por musgo.

— Como anda o meu caso sobre o espelho?

O ocultista pôs o braço a frente, recitou o Obscurus Nyxus, retirando da manga o seu livro de ocultismo, abriu em uma página, o objeto flutuou brilhando em azul entre as páginas.

— O encantamento ainda está colhendo informações, mas até onde posso chegar à conclusão, que da qual você foi vítima de bruxaria. — disse Bruno.

— De quem? Do escrúpulo do meu marido?

— Não exatamente, homens não são portadores da arte das bruxarias. — explicou Bruno. — mas de suas serviçais, segundo a história que contou, elas pareciam esta invocando uma espécie de ritual de amaldiçoar.

— Mas elas? Bruxas? — argumentou Maria. — E você é homem e pratica bruxaria.

— É diferente, apenas existem bruxas do sexo feminino, e elas praticam um tipo de magia totalmente distinta das minhas, a arte do ocultismo é distintas e mais precisa que a complexa e natural bruxaria; algo que eu não preciso de um livro para aprender, elas já nascem com o dom de saber manipular a realidade. As bruxas surgiram no período grego e se proliferou pelo mundo durante o medieval evitando a sua extinção. Elas eram símbolo de poder feminino, talvez tenham sido as primeiras mulheres com ideais feministas e até mesmo, radicalizando, de supremacia feminina... Seus principais alvos eram navegadores, exploradores e homens de má conduta, ou qualquer pobre criatura masculina que cruzasse seu caminho.

— A historia que me contavam sobre bruxas eram um pouco diferente, e geralmente terminava com uma princesa envenenada...

Bruno riu.

— Bom... A explicação mais lógica seja que os homens temiam as bruxas e como seus ideais poderiam influenciar as moças jovens de seu tempo; por isso criaram essa personalidade demoníaca a elas. — comentou o ocultista. — Lembre-se que Branca de Neve era uma bela princesa submissa a sete homens pequenos.

— Interessante... Mas por que eu? Por que fui amaldiçoada,

— No Brasil, as bruxas criaram uma concepção diferente, elas são geralmente mulheres que adentram a família para usar de seus poderes mágicos e criar o caos, algo sobre terminar com o poder patriarcal... — respondeu Bruno — Ainda é incerto e pouco se fala sobre a mesma, em nossas histórias a pouca abordagem delas... Elas geralmente são a sétima filha de um homem, nascido a servir Satã na Terra, raptando inocentes e sacrificando-o ao mesmo...

— Eu não sou inocente...

— Quero dizer virgem!

— Eu deixei de ser virgem no dia que morri... — raciocinou Maria. — Elas me transformaram nisto por que o porco do meu marido me abusou?

— Sangue da primeira relação sexual... Você contou que estava sangrando muito, material perfeito para transmutação, isto é horrível...

Bruno socou uma árvore com raiva.

— Ei, o que foi? — Maria levitou até Bruno e tocou em seus ombros.

O ocultista respirou fundo e avaliou se deveria contar.

— Provavelmente eram servas bruxas... — contou Bruno segurando o espelho de Maria com a palma aberta da mão esquerda, o brilho azul fazendo levitar sobre sua pele. — Bruxas são seres femininos livres, mas podem ser aprisionados se feito de maneira correta e com um feiticeiro poderoso, quando aprisionadas, elas poderão atender a qualquer um dos desejos de seu capturador...

— Está dizendo que posso está nesta condição por conta do...

— Não sei... É uma suposição, mas sim, nenhuma bruxa amaldiçoaria uma mulher, se não tiver o poder e influencia de outra pessoa sobre elas.

— Mas... Aquele porco? Ele seria um tipo de feiticeiro?

— Eu não sei, a resposta pode está por trás de outra pessoa ou alguém que seu marido contratou... — contou Bruno. — mas as suas servas, eram bruxas que somente se tornariam livres após a morte de seu senhor, mas antes, se assim desejar, o senhor poderá sugerir um encantamento póstumo, é como um testamento mágico. Último desejo do Militar provavelmente foi amaldiçoar quem lhe tirasse a vida...

Maria permaneceu em silêncio.

— Você deve me odiar não é mesmo? — perguntou Bruno se virando a fantasma.

— Não, é que...

— Tipo, esbarrou com o sujeito mais mesquinho e egocêntrico da face da Terra e...

— Bruno, será que você poderia me permitir falar que...

— Irônico, entrou em uma missão rodeado pelos homens mais desprezíveis da nação com suas listas de pecados e...

— BRUNO! — gritou a fantasma.

— Hum? Perdão. O que queria dizer?

— Primeiro, por que você está com raiva? Quem deveria está alterado deveria ser “moi”, acho um amor que você ainda se importe comigo, ninguém nunca me tratou assim tão bem. — a fantasma levitou até o ocultista e o beijou em seu rosto, depois atravessou seu corpo. — Segundo, faz meia hora que quero lhe dizer que encontrei uma entrada...

Maria apontou em direção a uma parede de pedras onde havia uma fenda de seis por três metros abrindo-se para o interior escuro, coberto pela mata fechada. Bruno ainda atônito pelo beijo demorou meio minuto para se mover e observar o sentido em que a fantasma indicava.

— Vamos! — ordenou Maria que sobrevoava e atravessava o matagal com facilidade.

— O-ok! — gaguejou Bruno.

O ocultista caminhou em direção ao matagal, um pentágono verde se formou em sua mão direita, com o desenho de chamas e uma folha, Invocus: Herbiu Seivit. As raízes e caules se afastaram e abriram a passagem até a caverna formada pela interseção de duas rochas caídas diagonalmente; No interior, o ocultista e a fantasma não necessitavam emitir luz, a caverna em si projetava brilhos periódicos a cada um segundo, como uma pulsar.

— Isso são cristais? — perguntou Maria aproximando de uma das paredes.

— Pior, são quartzitos! — comentou Bruno. — Estamos em uma fudida mina de quartzito.

A fantasma aproximou as mãos da parede e afundou elas profundamente. Bruno averiguava uma rocha, abriu seu livro, e recitou o Invocus Sapiencia sobre o mineral, o pentagrama explodiu em uma pequena de explosão de fagulhas; o ocultista estranhou, mas parecia que o material estava imune à magia, ele tentou mais meia dúzia sem sucesso.

— Meu ocultismo é refletido pela caverna... Não funciona sobre o material que compõe o quartzito...

Maria gritou de dor e retirou seus braços da parede da caverna.

— O que houve?

— Precisamos sair daqui imediatamente!

— Mas o que aconteceu?

— Não há tempo para perguntas, apenas vamos, precisamos avisar ao sargento e aos outros que...

Maria terminaria de falar, mas seu rosto se iluminou em grande intensidade, o ocultista cobriu os olhos para protegê-los da luz, a fantasma gritou de pavor, suas mãos arranharam seu rosto espectral e toda sua dor ecoou pela caverna até a sua forma no plano material explodir em fagulhas de fogo e calor que impulsionou Bruno até a parede oposta da caverna, caindo inconsciente e ferido.

***

— Aqui!

O Homem Diabo se encontrava em frente a uma pedra plana de três metros encostada sobre sopé do morro. Rachaduras muito finas contornavam a pedra, um musgo aqui e ali cresciam aleatoriamente. Lúcio se aproximou, encostou seu ouvido contra a pedra e ouviu em silêncio.

— Por que paramos aqui? — perguntou Jorge descendo do lombo de seu corcel.

— Quieto. — sussurrou o demônio de volta.

O tempo passou lentamente, Jorge se aconchegou a um jequitibá, soltou o seu equino para dá uma volta nos campos espirituais, sentou-se em um tronco caído, chutou algumas pedrinhas, e o homem demônio ainda estava com seu rosto encostado a grande rocha, como se estivesse orando ou ouvindo uma conversa do outro lado ou ouvindo o grito de espíritos sendo torturados e explodidos no interior da caverna por forças mágicas misteriosas; o cavaleiro tentou escutar o que Lúcio queria ouvir, mas além de não ter sentido nenhuma vibração, foi afastado pelo demônio que gesticulou para que se afastasse da rocha.

O clima tornou-se seco, mesmo o sol caindo, Jorge estressou-se e estava pronto para desgrudar Lúcio da pedra e continuar a busca, quando ouviu o barulho de galhos sendo quebrado. Jorge com passos silenciosos caminhou até Lúcio e o cutucou, o demônio o afastou com um abanar de mão. Jorge socou seu ombro, o demônio soltaria um grito, mas o cavalheiro abafou sua boca com as mãos e o afastou para trás de um matagal de plantas rasteiras. Lucio se debateu, mas Jorge fez gesto pedindo silencio, e apontou em direção oposta.

No meio do matagal, espectros de sombra do feiticeiro Zuí deslizavam por entre a clareira, abrindo espaço para um gigante, um grupo de meia dúzia contornavam a grande criatura. Lúcio que já havia visto os espectros quando estava aprisionado na garrafa e o quanto seu dono parecia ter uma rivalidade com o ocultista Bruno, agora tinha certeza que o mesmo ainda parecia está atrás do grupo.

— É o Guto? — sussurrou Jorge.

— Hm? — perguntou Lúcio com a boca ainda selada pelo cavaleiro. Jorge respondeu apontando ao gigante.

No início era indistinguível entre as sombras da mata, mas agora que se aproximava, tinha mais detalhes do gigante da equipe, a camiseta verde, calça e botina militar. O Homem do Saco não aparentava está ferido, mais seus olhos estavam negros, o que indicava está possuído, provavelmente por um dos espectros de sombra, Ulisses não estava presente e os garotos torciam para que não fosse ele dentro do saco de pano.

Os espectros aproximaram e fundiram seu corpo contra a rocha se transformando em sombras, pareciam farejar o rastro de algo e alguns segundos, toda a tropa e Guto evaporaram no ar, como fumaça. Jorge e Lúcio aguardaram mais alguns minutos para não serem surpreendidos pela aparição dos espectros, no entanto a mata continuou em silencio. Depois de um tempo, os dois levantaram e deixaram o esconderijo.

— Acho que já foram... — comentou Jorge.

Apreensivo, vasculhou o perímetro visualmente de um canto a outro, até perceber que ainda estava com as mãos cobrindo os lábios de Lúcio, e o demônio, com os olhos demonstrava sua raiva quando olhava a ele.

— Perdão. — disse o cavalheiro soltando o meio-demônio.

Jorge apertou o comunicador ao ouvido, mas nenhuma resposta.

— Maria e Bruno não respondem o sinal, incomunicável. — respondeu Jorge, retirou o comunicador e esmagou com a mão. — Tecnologia.

Jorge trocou olhares com Lúcio.

— O que eram aquelas seres?

— Quando Bruno e Maria me “raptaram” a esta missão... — contou Lúcio. — Estes seres surgiram à casa noturna da qual era dono...

— Você era dono de uma casa noturna? — interrompeu Jorge.

— Isto importa agora? — perguntou o meio demônio. — A questão é que estes seres trabalhavam por um feiticeiro rival do Bruno, e ele parecia está perseguindo ele...

— E nunca questionou o Bruno sobre?

— Eu também tenho os meus inimigos... Não parecia ser algo de grande importância. — deu de ombros Lúcio.

— E não passou pela sua cabeça que isto poderia prejudicar o andar de nossa missão? — gesticulou com raiva Jorge, deu as costas a Lúcio caminhando em direção a rocha e reclamando. — Como você consegue ser tão cabeça de vento...

Lúcio em outro estado e provavelmente com outro indivíduo haveria pulverizado qualquer um que sentisse indignação de sua parte, mas com Jorge parecia ser diferente, ele queria entender o que sentia, mas sua consciência não ajudava e sua única ideia de agir diante do cavaleiro era inaceitável e impossível.

— Desculpa... — murmurou o Homem Diabo.

Jorge impressionado, retornou sua atenção ao Homem Diabo.

— O que você disse?

— Nada.

O Homem Diabo retorno em direção à rocha, aproximando do Negro do Pastoreio.

— Então, devemos relatar isto aos outros?

— Não! — respondeu Lúcio.

— Eles podem está em perigo.

— É exatamente por isto que vamos ajuda-los, não a tempo de chamar pelos outros.

— E como você vai localizar eles, espertão?

— Ali... — apontou Lúcio. — Existe um túnel do outro lado. Era nisto que trabalhava, estava tentando sentir todas as ramificações deste túnel, até você me interromper ele parece avançar boa parte para o centro da Terra.

— Tem como abrir uma passagem?

— Posso tentar.

Lúcio aproximou-se da rocha, estendeu os seus braços e abriu a palma de sua mão sobre a superfície, fechou os olhos e concentrou; uma onda de calor e luz intensificou em seu corpo, direcionando a parede que sofria dilatação, o demônio cresceu bestialmente, seu corpo ganhou volume e massa corporal, os seus chifres alavancaram mais alguns centímetros acima de sua cabeça, sua pele ganhou tons mais vermelhos e seu corpo literalmente estava em chamas, a rocha ainda não cedia ainda ao calor. Lúcio empurrou-se contra a parede e gritou guturalmente; o solo começou a tremer, aves piaram e saíram voando assustado, tronco de árvores caíam.

— Lúcio. — gritou o cavaleiro desequilibrando e caindo ao chão.

— Eu preciso romper a barreira!

— Assim você irá nos matar!

Por fim as rochas derreteram como cubo de gelo e uma abertura no formato do Homem Diabo deu passagem a uma câmera secreta subterrânea com o piso a dois metros abaixo do nível do solo. Lúcio foi o primeiro a invadir o local pulando sobre uma poça de água e levantando uma nuvem de vapor. Túneis de rocha matrizes detalhadamente entalhados em forma tubulares preenchiam a parede oposta da câmera, pequenos veios saltitando das paredes percorriam do teto ao chão úmido, assim como estalactites e estalagmites. Água corria até a altura do calcanhar dos dois aventureiros, não havia luz, a não ser um brilho fraco e pulsante vindo de cristais de quartzitos por trás das paredes da câmara.

— Parece ser o tipo de alarme do local. — disse Jorge descendo por uma corda de luz.

— E você usou de sua fé para descobrir isto, santinho? — perguntou grosseiramente Lúcio, ainda no estado de monstro gigante.

— O que houve com você?

— Não é problema seu. — respondeu o Homem Diabo. Farejou um lado, farejou o outro e apontou para um dos túneis por trás de Jorge. — Ali, vamos! menos papo, mais ação.

Jorge teve que se afastar do caminho para que Lúcio não o atropelasse, o que foi uma tarefa difícil com o tamanho do mesmo. Em outra situação, o cavaleiro nunca receberia ordem de uma criatura das trevas, ele sentia incomodo com toda aquela situação e não conseguia acreditar que tudo aquilo era sacrifício necessário para quitar sua dívida pelas leis dos homens.

O cavaleiro assumia a retaguarda, o tamanho de Lúcio impedia que as luzes dos cristais iluminassem as suas costas, deixando seu companheiro na penumbra. Jorge teve que intensificar a luz espectral, e sentiu falta de seu lampião, então como era um objeto perdido, concentrou e ele surgiu em suas mãos, armazenando a luz e espalhando por todo o corredor.

— Você não tem condição de reverter sua transformação? — perguntou Jorge angustiado com o rabo de ponta metálica de Lúcio. — ou pelo menos ter controle desta cauda e...

— Isto não é somente um morro! — interrompeu o Homem Diabo

— Como?

Lúcio se virou bruscamente, seu rosto diabólico refletido pela luz de Jorge assustou o cavaleiro, o homem diabo se aproximou de seu companheiro, olho por olho, Negrinho Pastoreio não conseguiu descrever o que sentia ao ver Lúcio tão próximo e em sua forma monstruosa. Medo? Não, já havia encarado homens piores; raiva? Depois de suas ações, Jorge ainda considerava o Homem Diabo um fanfarrão sem compromisso agindo como adolescente, não o julgava como alguém perigoso. Então o que seria?

— O coração!

— O que? — se surpreendeu Jorge com a resposta.

Lúcio pegou a mão direita de Junior, ele tentou retesar, mas o Homem-diabo era mais forte, e encostou-a parede do túnel. O cavaleiro ficou avermelhado e torcia para ser do calor intenso... Do ambiente.

— Coração! Batidas! Vivo.

— Está dizendo que o morro tem vida?

— Limpou os ouvidos direito ou quer que eu repita? — respondeu grosseiramente o Homem Diabo. — Foi com ele que estava conversando antes de entrar, parece que...

— Ele?

— Sim, um gigante do sexo masculino, um índio guerreiro morto.

— O que?

— Não há tempo para explicação e mitologia brasileira, a questão é, estão querendo desperta-lo, mas se despertarem ele será um grande desastre.

— E como desejam fazer isto?

— Com o quartzito, óbvio. — respondeu Lúcio. — Se eles desejassem destruir o Brasil, eles já estariam explodindo a Baía de Guanabara, uma enorme bacia de água suficiente para reagir com o quartzito e levar tudo aos ares.

— Mas por que um gigante?

— Eles querem antecipar a destruição mundial, não é mais óbvio ainda?

— E vocês querem por um fim nisto. — disse uma voz. — No entanto não permitirei isto.

E mais alguns flashes de luzes.


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Notas finais do capítulo

Chegou ao fim do capítulo: deixe um comentário, uma dica, o que gostou, o que não gostou!

E nos vemos nos próximos capítulos!



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