A Liga Extraordinária Brasileira escrita por Eye Steampunk


Capítulo 3
Santos e Diabos (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Hey guys, terceiro capítulo fresquinho saindo do forno e Uau! Vocês estão achando mais de 4000 palavras cansativo?

Mil perdões, eu simplesmente me envolvi com a história e não consigo parar, era para ser uma história de seis capítulos, mas terá doze (para alegria da plateia)

Então, boa leitura.

P.S.: A história de Zuí é fictícia, não procure por ela nas lendas, foi criação minha.

Os trechos cantado na Casa Noturna é da música "Asa Branca - Gonzaga"



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“Quando olhei a terra ardendo, igual fogueira de São João”.

Na percepção de Bruno, o Homem Diabo era alguém bem mais aterrorizante, não que o presente não deixasse de manifestar uma aura de medo e terror, mas o anfitrião entendia bem do que era estar no estilo. Vestia uma camisa branca de botão com as mangas compridas enroladas que caía bem em si, uma calça de pano azul-marinho, presa por uma fivela de boiadeiro, colete e sapatos de couro engraxados; Bruno pensava que se o visse em um baile formal, em um rodeio ou mesmo em uma casa noturna, ele estava vestido adequadamente para as três ocasiões.

Agora vamos aos detalhes antropomórficos; o Homem Diabo possuía um par de chifres de carneiro projetando de sua testa, uma cauda retrátil se alongava da base de sua coluna e possuía uma ponta metálica, olhos amarelos enxofre, e tom de pele avermelhada. Todos os mortais presentes não pareciam notar o homem com aparência animalesca, entretanto Bruno havia entendido, com exceção dele, Maria e talvez a mulher que acompanha o Homem Diabo, todos o viam como um rapaz moreno e elegante, com tom de pele bronzeado, olhos verdes simpáticos e barba a fazer. Pelo menos era assim que Bruno poderia descrever, quando ele tentava não olha diretamente ao cujo, magia de ocultação.

“Eu perguntei a Deus do céu, ai! Por que tamanha judiação?”

— Que bom receber meus convidados! / Quero recebe-los de bom grado! — respondeu o Homem Diabo e estalou os dedos.

A mulher ao lado do anfitrião transformou-se em um demônio feminino, asas de morcegos cresceram de suas costas, seu vestido rasgou-se, revelando um corpo necrosado e cinzento, seus dentes alongaram como presas, suas unhas cresceram como garras. E mais quatro dançarinos também se transformaram em demônios alados, mas nenhum mortal parecia notar, se divertiam com os restantes das mulheres e homens.

— Os desejos deles também não são bons! — sussurrou Maria para Breno.

— Corremos? — sussurrou de volta.

— Seria minha próxima pergunta!

Os dois viraram de costas, entretanto a entrada havia sumido sendo substituídas por mesas de bares e mais clientes bêbados. Dois dos demônios alados contornaram e o interceptaram. O ocultista e a fantasma ficaram um de costa para o outro.

“Eu perguntei a Deus do céu, ai! Por que tamanha judiação?”

— Eu não consigo me movimentar para fora usando os espelhos, alguma magia esta impedindo, eu odeio ser mantida presa! — disse Maria, entrando em desespero.

— Fique calma! — disse Bruno se virando e olhando nos olhos de Maria, tentando suaviza-la da situação. — Vai da tudo certo! Nós precisamos enfrenta-los! Eu preciso de você!

— Tudo bem! — respondeu Maria, então seu rosto se transformou em sua aparência assustadora e sibilou — Eu cuido das meninas!

Maria avançou sobre as três demônios femininos, o que sobrou para Bruno dois demônios masculinos. O ocultista invocou o encantamento Obscurus Nyxus, e retirou das mangas um livro de ocultismo, abriu em suas mãos, o encadernado de couro e páginas envelhecidas começou a brilhar em tons de dourado, enquanto seis Orbes saltaram da capa, onde se lia em latim “Guia do Ocultismo dos Oitos Orbes”.

Invocus: Scuna Ariety

O mesmo pentagrama vermelho usado em Guaratinguetá, com um círculo e três retas partindo do mesmo ponto desenhados com luz surgiu no ar; um campo de força em formato de domo brilhou em dourado e protegeu Bruno dos demônios alados, mas suas garras já começavam a perfurar sua proteção, ele deveria pensar em algo rápido. Do outro lado da casa noturna, Maria enfrentava dois demônios fêmeos, garra contra garra, enquanto uma terceira jazia caída no chão; ela se tornava intangível ou alterava sua posição para escapar dos ataques, enquanto subia nas costas de suas oponentes e as arranhava ou as puxava pelo cabelo e as arremessava ao chão.

“Que braseiro, que fornalha. Nem um pé de plantação.”

— Meu vestido! — gritou Maria quando uma das demônios conseguiu a arranha-la, perfurando sua roupa espectral em quatro linhas retas.

Maria agarrou o rosto da demônio com as duas mãos; expandiu suas mandíbulas, aproximou-se ao seu rosto e sugou a alma ou essência de vida da pobre criatura que caiu desacordada, seca e sem vida ao chão. Ela sorriu a Bruno de modo assustador, entretanto não conseguiu se vangloriar por muito tempo, a demônio jogada ao chão já se recuperava, enquanto a segunda já a atacava-a novamente. O ocultista se distraiu e não notou o demônio adentrando seu campo de força e o ferindo em seu braço, Bruno urrou de dor, soltou o livro, estendeu as mãos e bradou.

Invocus: Incendius Pyrus i Soprus Ventus!

De cada mão surgiu um pentagrama verde, um com um triangulo, o outro com um triangulo tracejado, mas ambos tendo o desenho da chama brilhando. De sua mão direita projetou o sopro de um vento forte que empurrou ambos os demônios para trás, enquanto sua mão esquerda projetava uma coluna de fogo ardente que os queimou e os consumiu vivo. Ambos os corpos começaram a carbonizar; um incêndio propagou, todos os clientes despertaram da ilusão e começaram a fugir desesperado do fogo e daquelas criaturas demoníacas.

“Por falta d’agua perdi meu gado. Morreu de sede meu alazão.”

— Meus demônios exterminados! / Meu plano não será arruinado? — disse Homem Diabo. — Não rimou, mas não faz mal! / Eu terei minha vingança, afinal!

— Sua rima é lamentável! — disse Bruno. — Invocus: Incendius Pyrus!

O ocultista projetou uma coluna de fogo de suas mãos ao Homem Diabo, as chamas o cobriram por completo, enquanto o oponente as recebia de braços aberto. Bruno sorriu, quando o fogo extinguisse teria o filho do submundo morto; entretanto sua alegria desapareceu, das chamas o Homem Diabo saltou e o derrubou ao chão, com a ponta da cauda mirando acima da cabeça de Bruno.

— Eu gostava daquela jaqueta! / Seu fogo não me afeta! — respondeu o Homem Diabo.

— Cara... Por que você fala em rimas? Isto está se tornando meio incomodo, não posso destruir um poeta! — disse o ocultista tentando alcançar seu livro de magia, enquanto o Homem Diabo estava distraído.

— Feitiço de um pai de santo! / Sua filha possui, tanto, / não poder me matar, por enquanto. / Sobrou-se então um encanto! — contou o Homem Diabo.

— Eu posso consertar isto! — respondeu Bruno.

— Primeiro, prefiro o morto! / Depois eu penso no conserto!

O Homem Diabo tentava perfurar o rosto do ocultista com sua cauda, entretanto o mesmo sempre desviava para um dos lados; por fim, Bruno alcançou o livro de ocultismo; não havia tempo de buscar um feitiço, ele fez o mais prático, arremessou-o no rosto do Homem Diabo, que desabou com o encadernado de duzentas páginas de folhas duras.

“Por falta d’agua perdi meu gado. Morreu de sede meu alazão.”

— Ai! — não rimou o Homem Diabo.

Bruno se levantou e reparou no rasgado causado em sua camisa no ombro direito, a cauda do demônio havia perfurado seu ombro direito e sangue escorria pelo tecido de sua vestimenta. A raiva ardeu em sua mente, seus olhos, suas mãos e o livro brilharam em tons de lilás, o livro levitou a sua frente, as páginas abriram para um encantamento.

Invocus: Omnimus Barbaries! — disse o ocultista.

Um pentagrama vermelho surgiu no ar com o símbolo “5” e chamas desenhados em seu interior; atravessou o corpo do ocultista, ao tocar o chão mais cinco pentagramas se espalharam pelo ambiente, luzes projetaram dos mesmos e cinco cópias de Bruno surgiram de cada um. Os clones de Bruno, cada um pegaram um objeto, uma cadeira, uma garrafa quebrada, etc. e atacaram em união o Homem Diabo, riscaram o chão e acertaram cada um em uma parte do corpo do demônio. O Homem Diabo caiu ajoelhado e pôs as mãos nos ferimentos onde escorria sangue negro.

“Até mesmo a asa branca bateu asas do sertão”

— Eu sou imortal, criaturas estúpidas! / Minhas feridas podem ser curadas e restauradas! — rimou o Homem Diabo.

Maria surgiu ao lado de Bruno depois de cuidar das duas últimas mulheres demônios aladas, ela começou chiar ao Homem Diabo e tentou saltar para ataca-lo, entretanto o ocultista a impediu e apontou ao chão. Os clones de Bruno que começavam a desaparecer traçaram riscos mágicos ao piso de madeira em padrão único, um pentagrama onde o Homem Diabo estava no interior, machucado, acendeu em luz roxa.

Invocus: Contetus Sacrifatus! — gritou o Ocultista

— O que é isto? Que aflição! / Retire logo esta prisão!  — cantou o Homem Diabo tentando ultrapassar as linhas do pentágono interno ao pentagrama.

— Magia de contenção! Infelizmente nem todo tipo de pentagrama pode ser projetado pela projeção luminosa, então deve ser feito, propriamente pelo próprio ocultista. — disse Bruno rindo, ele quase caiu, contudo Maria o pegou antes que atingisse o chão. — Agora você é meu prisioneiro! Se eu tivesse mais força poderia escraviza-lo... No entanto, eu ainda posso fazer um aprisionamento... Invocus: Prometeicus Amercur auriuns!

Um segundo pentagrama roxo surgiu sobre o corpo do Homem Diabo, desenhado o sinal helicoidal e uma vareta; correntes de luz surgiram e prenderam em sete partes o demônio, uma no pescoço, dois nos braços, duas nas pernas, e duas cruzando em X o tronco. O Homem Diabo começou a se contorcer enquanto os aros de ferro o apertavam, sua forma encolheu e se transformou em um boneco de madeira, como um fantoche, nos lugares de fios de corda havia correntes de ferro presos ao seu corpo, aprisionado dentro de um receptáculo de vidro, uma garrafa com tampa de rolha.

— Acabou? — perguntou Maria suspendendo Bruno.

— Sim, ele esta aprisionado na garrafa... A menos que seja destampado, ele não pode escapar. — respondeu o ocultista.

Bruno suspirou aliviado enquanto Maria sorria de felicidade e dava pequenos saltos de euforia, o mago reclamou de dor e a fantasma parou de comemorar para auxiliar em seus ferimentos; mas ambos não puderam saborear o prazer da vitória por muito tempo, alguém batia palmas atrás deles.

— Meus parabéns, eu nunca vi um feiticeiro tão poderoso! — disse o velho. — Agora me entregue o filho do submundo!

Sua pele era negra e enrugada, olhos brancos e leitosos, tufos de cabelos grisalhos preenchendo uma cabeça calva, mãos calejadas seguravam um bastão de madeira com rendas, penas e pedras preciosas, como se fosse um tipo de apanhador de sonhos. De cada lado do velho havia dois espectros humanoides de sombra negra, olhos e bocas brilhando em vermelho; boa parte dos humanos já haviam se retirado, alguns estavam caídos ao chão embriagado, não existia mais nada que ambos pudessem fazer por aqueles homens.

— Você tem como nos tirar daqui? — perguntou Bruno a Maria.

— Quem é ele? Você esta falando de teletransporte? Eu nunca fiz isso com seres vivos!

— Explicarei mais tarde, somente nos tire daqui o mais rápido possível!

— Eu não sei como você reagirá à viagem nos espelhos...

— Apenas faça! Rápido! — gritou o ocultista.

— Não deixem que eles escapem! — gritou o velho feiticeiro.

Os espectros negros avançaram contra os dois, Bruno pegou a garrafa contendo o Homem Diabo, Maria o agarrou pela cintura, o suspendeu no ar, os dois começaram a brilhar em claro e seus corpos evaporaram, Bruno se sentiu dissolver em vários grãozinhos de areia, enquanto um vento parecia espalhar suas partículas aos ares, o que já era uma experiência normal para Maria; então tudo era reagrupado novamente, e o ocultista acordou desorientado, o ambiente parecia com a nave, entretanto, tudo estava oposto e invertido, ele estava surdo e não escutava o que Maria gritava, perdeu o senso de orientação e desmaiou.

— Bruno! — gritava Maria. — Por favor, não me deixe agora!

Céu Sulista, 2030.

A primeira vez que  Bruno acordou ele colocou tudo para fora.

Ulisses trabalhava arduamente trazendo e levando baldes de vomito enquanto o alquimista ficava de cama, febril, se recuperando de seus ferimentos e a nave navegava rumo ao Sul do Brasil, onde se encontrava o possível próximo integrante ao grupo.

— Ele? — perguntou Guto.

— Bem... (chiado) Melhorias! — respondeu Ulisses.

Durante o tempo que Maria cuidava de Bruno e vigiava em seu mundo no espelho, a garrafa que aprisionava o Homem Diabo; Guto e Ulisses criaram uma amizade empática, ambos tinham problemas em serem extrovertidos e dificuldade com a linguagem. Quando Ulisses consertava a nave, Guto o auxiliava, levantando-o para alcançar lugares altos, ajudando com ferramentas terrestres pesadas. Entretanto nem Guto, como Ulisses, não contavam seus planos um para o outro, o que o trouxeram ali ou o que pensavam do futuro; no entanto, o gigante entendia a importância da Nemo para o extraterrestre, assim como o seu saco eram importante a ele.

Dentre um dos consertos na nave, Ulisses retirava placas de metal espacial e trocava por placas de metal terrestre, que o mesmo presumia agir como um bom substituto do enferrujado. O extraterrestre usava uma gaiola suspensa por cordas para auxilia-lo no trabalho de alcançar os lugares mais altos, mas distraído, Ulisses escorregou e caiu pelas grades da gaiola para o piso da nave a uma distancia de oito metros. Desorientado no ar, ele esperava quebrar algum osso durante o impacto, entretanto, algo surgiu ao seu caminho e ele mergulhou em uma escuridão sem fim.

Ulisses acreditou estar morto, no entanto, não esperava ser algo tão rápido e sem dor, não havia barulho no local, escuridão era eterna a ponto de doer sua vista alienígena. O extraterrestre tentava se orienta e buscar por algo, mas não havia sentido, nem direção. Foi então que ele ouvia gritos infantis, eram muitas vozes para entender do que clamavam, entretanto, pareciam pedir por ajuda ou saída; Ulisses começava a se sentir mal, mesmo aquele sentimento era novidade a ele que sempre foi um ser insensível, uma condição de sua raça alienígena.

Então algo o pegou pela nuca e o puxou para cima, Ulisses se debatia e guinchava, a todo custo tentando lutar contra o que o içava para o alto. Somente parou quando foi retirado de dentro do saco de Guto, e o “algo” que o puxava, era “alguém”, o próprio gigante. Ulisses olhou para baixo, pela abertura do saco que parecia não ter fundo e entendeu tudo; quando havia caído, Guto fez com que caísse dentro do saco para que evitasse o impacto com o chão. Ao mesmo tempo em que ficou agradecido, Ulisses ficou amedrontado pelas vozes que ouvira no saco do Guto. Daquele dia em diante, o ET ficou em dívida com o Homem do Saco, mas ainda o temia pelo seu passado obscuro.

 Do outro lado da espaçonave, Maria cuidava de Bruno, e ele acordava.

— Não se levante! Você ainda esta desorientado! — disse Maria.

— O que aconteceu? Por que estou apenas com minhas roupas de baixo e estas ataduras? — perguntou o alquimista.

Se a fantasma pudesse corar, ela estaria vermelha no momento.

— Você ardia intensamente de febre, eu avisei que nunca teleportei seres viventes pelo espelho, isso é algo apenas de fantasmas, além do fato que ficamos presos no espelho por vinte minutos; Foi quando seu amigo do espaço nos encontrou pelo espelho do banheiro e foram mais alguns minutos para ele nos retirar do mesmo... O coitado estava bem apreensivo, a linguagem dele tornou-se mais difícil quando tentava te socorrer! — explicou Maria. — Ele fez os curativos de seus machucados, enquanto eu guardava nosso prisioneiro em local especial.

— Ah claro, a questão da permissão! — disse Bruno. — Isso também explica por que eu tive sonhos em um mundo onde nada estava no lugar, tudo estava invertido, em alguns momentos distorcidos.

— Você teve sorte, eu acreditava que a permissão somente funcionaria para me retirar do espelho, mas consegui te carregar para fora, quanto ao espelho, aquele é o meu mundo, todo mortal pode vê-lo, entretanto, apenas eu consigo viajar entre os dois mundos! — reclamou a fantasma. — Você quase me matou de susto!

— Me desculpe! — disse o alquimista ficando sentado e levando a mão a cabeça. — Não queria lhe “matar” novamente de susto!

A fantasma demorou em entender a piadinha e socou o ombro do alquimista. Ele apenas riu, contudo, logo se sentiu fraco e caiu para trás na cama. Maria desta vez não o conseguiu o segurar no ar, seus braços atravessaram o corpo de Bruno.

— Você parece melhor! Já voltou a ser ignorante! — disse Maria.

— O que foi isso que acabou de acontecer?

— Isso o quê?

— Você tentou me segurar, mas não conseguiu...

— Não sei do que está falando. — Maria ajeitou o travesseiro de sua cama. — Agora descanse um pouco, você precisa está bem para nossa visita a base.

— Visita?

Bruno não terminou, Maria fechou os seus olhos e ele caiu no sono.

Na manhã seguinte, Bruno tentava pegar o seu livro de alquimia que se encontrava sobre o criado-mudo; o ET de Varginha e a Loira do Banheiro entraram no momento exato, trazendo o café do Alquimista em uma bandeja de metal. Ulisses gritou e arremessou a bandeja ao ar, a fantasma a segurou impedindo que o desjejum do alquimista caísse, enquanto o extraterrestre correu para socorrer o amigo.

— Cama! — chiou ele em poucas palavras.

— Eu somente queria pegar meu livro! — disse infeliz Bruno, enquanto o extraterrestre o ajeitava na cama — E eu já me sinto um pouco melhor, só estou...

— Com fome? — perguntou Maria trazendo a bandeja de comida e colocando ao colo do alquimista, junto com o livro que ele tentava alcançar.

— Obrigado! — agradeceu Bruno.

— Não foi nada!

Para não fazer desfeita com os seus amigos e por que sua barriga roncava mais alto, Bruno tirou o jejum do dia junto com Ulisses; Maria apenas observava os dois, o que era meio estranho.

— Então? — perguntou a fantasma. — O que você queria com o livro?

— Saber com o que estamos lidando! Para quem realmente estamos trabalhando? Por que estamos recrutando um conjunto de criaturas que era apenas lendas urbanas? Quem nós iremos enfrentar?

— Chegou a algum resultado?

— Não! — disse Bruno folheando as páginas de seu livro.

— Quem era aquele homem? O outro feiticeiro? — perguntou Maria.

— Meu arqui-inimigo!

— Zuí?! — perguntou o ET que até o momento se deliciava com um sanduíche terrestre e possuía farelos em torno de sua boca alienígena.

— Sim, caro amigo, Zuí! — respondeu o alquimista.

— Desculpa, mas ele é de alguma lenda urbana que eu não conheço? — perguntou Maria sem compreender o porquê aquele senhor poderia ser tão ameaçador.

— Não, é bem pior! Acredita-se que ele pode ser o responsável por todos os problemas das lendas brasileiras.

— Como assim?

— Seu nome nunca é pronunciado nos contos brasileiros, ele geralmente é chamado de feiticeiro, ou bruxo, ou pajé; mesmo que para o mesmo, ser comparado a um chefe de tribo indígena seja um ultraje. — contou Bruno. — Mas talvez seja culpa de sua ascendência, ele é fruto do relacionamento de um feiticeiro escravo africano e uma índia tupi; isto foi blasfemador a época, as tribos de ambas as cultura puniram o casal, eles tentaram fugir da penitencia de suas famílias e da fúria dos deuses, enfim, eles construíram uma jangada e conseguiram abrigo a uma ilha mágica distante das terras brasileiras em que o panteão de deuses não poderiam lhe condenar, ela engravidou e da relação dos dois nasceu Zuí. O mestiço cresceu aos cuidados dos pais na ilha mágica, ela produzia frutos, água potável e magia, ele cresceu aprendendo a usar e domar esta magia; mas logo sua família entendeu que a ilha era um corpo vivo, o casco de uma gigante, velha e mística tartaruga, que também começava a morrer; os pais do mestiço entraram em ação, novamente construíram uma jangada com as árvores que cresciam na ilha e encarregaram com muitos frutos e especiarias da ilha onde o mesmo seria obrigado a levar as terras brasileiras, eles decidiram ficar e morrer junto com a ilha...

— O que aconteceu depois? — perguntou Maria gostando da história.

Bruno parou para respirar e beber mais um gole do suco de carambola.

— Zuí retornou as terras brasileiras com os frutos e as especiarias da Ilha mágica do Casco da Velha Tartaruga, e se tornou famoso, muitos dos frutos não eram conhecidos das terras brasileiras, como a carambola e...

Ulisses pigarreou. Bruno lhe lançou um olhar de raiva e ambos começaram um duelo de olhares ferinos.

— Mas o que foi? — perguntou Maria.

— Ulisses teima que a carambola foi trazida ao Brasil no começo do século XIX por colonizadores e blá, blá, blá... Somente por que viu em um artigo da Wikipédia e...

Ulisses xingou em retorno.

— Tudo bem meninos, quem está certo ou não, isso é irrelevante no momento! Prossiga! — ordenou Maria a Bruno e abraçando Ulisses, que já estava acostumado com o ato de ser abraçado pela fantasma sem permissão.

— Pois bem... Onde estava? Sim, ele conseguiu o respeito e o poder nas terras brasileiras, com os índios, com os negros, com os brancos fazendeiros, logo se tornando uns dos feiticeiros mais poderosos; Mais velho, Zuí se apaixonou por uma linda índia da tribo de sua mãe, que conquistou seu coração, se casaram e tiveram três filhos; Entretanto a magia o consumia e o poder cegou os seus olhos, Zuí tentou desafiar os deuses! Índios e negros tentaram impedi-lo, dizendo que ele já possuía tudo, o que mais ele poderia querer? A imortalidade era sua resposta, sua mulher tentou impedir, mas ele apenas lhe garantiu que sendo um deus imortal, ele também poderia tornar ela e seus filhos imortais. Ao chegar aos céus, Zuí exigiu a imortalidade a ambos os deuses das duas culturas, enojados, os deuses ditaram “a busca da imortalidade é insatisfatória, você ousa perturbar os deuses exigindo algo quando você tudo possui? Pois bem, nós atenderemos ao seu pedido, no entanto, isso exige sacrifícios aos deuses, você aceita carregar a morte de vidas inocentes em troca da vida eterna?”, Zuí respondeu sem pestanejar: “Sim!”. “Que assim seja!” disseram os deuses em uníssono. Zuí foi arremessado dos céus para o chão, e ficou desacordado por sete dias, enfraquecido, mas ainda munido de magia, quando recuperou suas forças, partiu de volta a sua família, contudo, não os achou, viajou por todas as terras brasileiras, falou com todos que conhecia, usou todos os recursos que possuía, mas não os encontrou, então entendeu a palavra dos deuses, eles eram as vidas que deveriam ser sacrificados para que ele fosse imortal.

— E funcionou? — perguntou a fantasma.

— Essa historia se passa no início do século XIX, você o viu agora no século XXI, acho que funcionou muito bem. Amargurado, ele não poderia descontar sua raiva nos deuses, mesmo imortal, ele não estava tão poderoso quanto os próprios como acreditava que estaria; então ele descontou nos brasileiros e criou ou foi responsável pela criação de todas as hordas de monstro existente, o que eram apenas lendas de tribos e escravos, se tornaram realidade. Agora ele me persegue. — disse Bruno com uma tranquilidade.

— Mas por quê?

— Por que eu roubei dele um dos seis Orbes que já possuo! — respondeu Bruno.

Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 2030.

            — Tão original, a base militar supostamente esta nas cataratas mais conhecida da América do Sul! — reclamou Bruno ao lado de Maria e Guto.

Os três estavam posicionados em frente à rampa de desembarque, observando as águas do Rio Iguaçu caindo em uma enorme profundidade de mais de 80 metros, na fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai. Bruno renovado com sua capa roxa com capuz, Guto trazendo seu saco sobre os ombros e Maria levitando com seu vestido branco, segurando ao colo a garrada de aprisionamento do Homem-Diabo. A Nemo se inclinou e mergulhou em direção a uma das gargantas em forma de U, Bruno a conhecia, era popularmente chamada de Garganta do Diabo, “Que ironia!” pensou Bruno.

— Tem certeza que este foi as coordenadas informadas? — gritou Bruno mais alto que o barulho das quedas d’agua, para Ulisses que pilotava a nave na cabine.

O ET apenas levantou o polegar direito, primeiro sinal que aprendeu na Terra. A nave ultrapassou a cortina de água, Bruno estava preparado para o impacto, mas aconteceu o contrário. As águas escondia uma caverna secreta capaz de comportar dois aviões, estalactites e estalagmites compunham o teto e o chão, a nave acelerou sem se preocupar com os obstáculos, pedras e terra foram substituídas por placas metálicas e luzes de neon. Sargento Brandão aguardava no fim do corredor com uma equipe de soldados armados. A espaçonave acionou os trens de pouso e pousou suavemente, a rampa abaixou se transformando em uma escada de degraus, os cinco desceram.

— Sejam bem vindos meus heróis a Área 616!

Sargento pediu que seus homens cuidassem das comodidades dos outros três e que levassem o prisioneiro a uma cela de detenção às criaturas mágicas, enquanto isso acompanhou Bruno por um passeio as acomodações. Bruno realmente se sentiu impressionante, mas ao mesmo tempo nada feliz; aquilo era sinal de que ele deveria liderar aquele grupo bizarro, isso ficou claro quando o sargento dispensou Guto, seu soldado, junto com os seus outros amigos.

— Não se preocupe! Seus amigos estarão em boas mãos na companhia dos meus homens, não iremos aprisiona-los, eu não poderei responder, entretanto, no último caso de vocês. — disse Sargento Brandão.

— Em poucos dias eu quase fui morto duas vezes, espero que seus empregados me recompensem bem com o que desejo. Ou melhor, “O empregado”. — respondeu Bruno ajeitando sua capa em torno do pescoço.

— Então você acredita que eu possuo um líder?

— Todo problema tem interesses pessoais, creio que a segurança publica não seja a única aqui.

— Esta é uma época perigosa para todos nós, tráfico de drogas e armas, assassinatos em massa e ainda temos que cuidar de criaturas sobrenaturais pondo terror sobre nossa sociedade! Não ler os jornais? — perguntou o Sargento Brandão — Gurus preveem um cataclismo mágico que poderá mudar tudo em 2030, os cientistas de nossa base de lançamento de foguetes em Açailândia preveem alterações no campo eletromagnético terrestre e os pontos de origem parecem ser nosso país, e ainda temos o caso de justiceiro gaúcho mágico montado a cavalo, que é visto como “o Salvador” pelos pampas, fazendo milagres e assassinando fazendeiros.

— Confinado no Acre eu não me interesso muito por noticiários. — respondeu Bruno. — Mas conte-me mais sobre esses tais “milagres”!

— Suas histórias começam quando ainda era jovem, a relatos que o mesmo sobreviveu vinte quatro hora dentro de um formigueiro, outras versões contam mais tempo, mas o fato é que ele não foi morto pelas formigas. Depois fazendeiros do estado começaram a aparecer mortos mensalmente, seguidos por um povo fervoroso que clama-lo como “Aqueles que o libertou!”, não temos detalhes mais sucintos de mais de seus “milagres”. — contou o Sargento, entregou a pasta de arquivo ao ocultista. — Mas vocês precisam detê-lo, ele esta atrapalhando o avanço da agropecuária do país!

Bruno pegou os papéis, verificou o nome e os dados dos cujo, boa parte era desconhecida, como suas habilidades e suas origens, contundo, seu nome era bem popular, até mesmo por Bruno que já havia ouvido as suas histórias contado pelo seu pai quando o colocava para dormir: “O Negrinho do Pastoreio”. O alquimista agora soube o quanto a história das formigas era conhecida, mas a lenda que o contaram não incluía assassinatos de fazendeiros.

— E você ainda não diz que não possui subordinados com interesses? — perguntou o ocultista. — Herói para seu povo, no entanto, você somente pensa nas mortes de fazendeiros?

Sargento se virou a Bruno, mas não tinha palavras para dizer.

— Muito bem, vou resolver este problema para você! — disse Bruno. — Contudo, quando voltar, eu quero o nome de quem iremos enfrentar!


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Notas finais do capítulo

Ei galera, chegou aqui embaixo? Ufa! Você é um guerreiro, deixe um comentário dizendo o que achou!

;)

Att: Autor.



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