Destinada escrita por Benihime
Quando entrei na antiga sala de armas, Gaia estava sentada no chão com um livro aberto no colo.
— Leitura interessante?
— Mais do que você imagina. — Ela respondeu. — Acho que descobri uma forma de vencer Caos.
Corri para seu lado, sentando-me no chão também. Gaia me passou o livro. Era um antigo grimório, e ela apontou para uma linha quase apagada. Inclinei-me para ler melhor, e finalmente consegui compreender.
Ignis Draco, inimicus meus ardebit. Et virtutem manifestare meum crescere.
Meus olhos se arregalaram ao compreender o poder daquele feitiço: "Fogo do Dragão, queime meu inimigo. Brilhe e permita que meu poder cresça."
— Pensei que feitiços desse tipo não fossem mais usados.
— Não são. — Ela abriu um meio sorriso — Só existem em meu grimório. Este, o Ignis Draco, é particularmente cruel. Ele cria um vórtice mágico que suga o adversário e anula seu poder, transferindo-o para quem lançou o feitiço.
— Com isso podemos vencer Caos!
— Devagar aí, Lydia. — Seu tom endureceu. — Você já sabe que magia tem um preço. O deste feitiço é particularmente alto. Se o lançar, corre o risco de perder sua imortalidade. E, uma vez mortal …
— Terei que deixar o Olimpo. A magia dos portões é poderosa demais para que mortais passem por eles.
— Exato. A escolha é sua.
— Eu escolho ... Treinar um pouco. Preciso de muita prática para acabar com Nyx. Vamos nos concentrar em um deles de cada vez.
— Sábia escolha, minha amiga.
Gaia e eu empunhamos nossas espadas, assumindo posição. Ela atacou primeiro. Sem pensar, evitei seu golpe dando um passo para trás.
— Defenda — A Mãe-Terra ordenou. — Não recue.
Gaia atacou de novo, chicoteando uma série tripla capaz de fazer qualquer um em picadinho. Eu me afastei com uma estrela inversa.
— Gaia! Isso já é exagero!
— Pare de recuar. Está me dando vantagem.
Ela atacou por cima, e tão forte que me derrubou.
— Quer acabar comigo? — Me exaltei — Você disse que ia pegar leve!
— Pare de tentar defender. Nunca vai vencer desse jeito. Parta para o ataque.
Dessa vez seu golpe veio pela esquerda. Bloqueei com minha espada e girei para tentar desarmá-la. Não funcionou, e rapidamente perdi a noção do tempo enquanto lutávamos.
Enfim consegui desarmá-la. Sua espada voou pelos ares e eu a aparei, ameaçando seu pescoço entre as duas lâminas.
— Excelente. — Ela sorriu — Mas precisa melhorar sua guarda à esquerda, ou terá sempre que depender de um escudo.
— O que você sugere?
— Tenho uma ideia, mas você vai precisar confiar em mim.
— Eu confio.
De repente eu não via mais nada. Tudo era escuridão, a mais negra e absoluta.
— Vamos, Lydia, use sua intuição. Sinta de onde virá o próximo golpe.
De imediato ela me derrubou com uma rasteira, mas me firmou antes que eu caísse. Xinguei baixinho ao ouvi-la rir. Consegui bloquear seu golpe seguinte, um gancho de direita, mas ela me pegou pela esquerda logo depois.
— Proteja seu ponto fraco. — Ordenou. — Mantenha a guarda erguida. Não recue, ou vai entregar a luta.
Tentei seguir seu conselho mantendo a guarda alta, mas ela me pegou na altura do estômago com um soco que me fez perder o equilíbrio. Caí e ouvi a risada estrondosa de Ares.
— Uau, uma surra bem merecida. — Ele disse. — Isso não é algo que se vê todo dia.
— Cale essa boca, Cabeção. — Rosnei, contendo-me para não rir também. — Gaia, me deixe enxergar para eu poder dar uma surra nesse cara.
— Que foi, tem medo de me enfrentar assim, morena?
— Idiota. Venha cá e diga isso de novo, se tiver coragem.
Senti suas mãos segurarem meus ombros e ele se aproximou tanto que sua respiração mexia com os fios de meu cabelo. Aquela proximidade acelerou meu coração e minha respiração se suspendeu. Meu corpo todo formigava de expectativa, e estremeci quando Ares tocou meu rosto. Minha vontade era desistir e ficar ali para sempre.
Sem um comando consciente de meu cérebro, minha mão direita se ergueu e foi surpreendentemente fácil atingir o alvo, plantando um sólido tapa na cara de Ares.
— Nunca mais me provoque desse jeito, ouviu? — Esbravejei. — Chega desses seus jogos.
— Lydia, já chega. — Gaia interferiu.
Ela finalmente me deixou enxergar de novo. Respirei fundo para me acalmar, ainda com vontade de socar a cara daquele homem irritante. Não falei nada até ter certeza de que não acabaria fazendo isso.
— Obrigada, Gaia. — Falei, já mais calma. — E você, Ares, o que veio fazer aqui, afinal?
— Procurar você — Ele respondeu — Hera me pediu para dizer que vocês duas precisam conversar.
— Mentira. Ela nem sabe que estou viva.
— Ela sabe.
— Mas como?
— Hera é mãe. Suponho que tenha seus meios.
Eu não podia tirar a razão dele. Além do mais, minha mãe tinha uma intuição quase sobrenatural, mesmo para uma deusa.
— Obrigada. Diga a ela que me procure esta noite.
Ares apenas assentiu e saiu da sala sem dizer mais nada. Eu o conhecia bem o bastante para saber que ele ainda estava zangado por causa de minha reação.
Naquela noite
Hera me esperava quando cheguei, e sorriu ao me ver.
— E então, sobre o que precisamos conversar?
— Minha menina, sempre direta ao ponto. — Ela comentou carinhosamente, sua expressão tornando-se sombra. — É sobre seu pai. Eu desconfiava dele há algum tempo, e agora descobri tudo. Zeus está de conluio com Caos. Eu o ouvi conversando com Nyx.
— Quero saber os detalhes. — Incitei — O que eles estavam dizendo?
— Não consegui chegar perto o bastante para entender tudo. — Minha mãe respondeu. — Eu não quis arriscar ser descoberta. Mas, pelo pouco que entendi, ela o estava repreendendo por um plano que deu errado, e Zeus continuava dizendo que dessa vez vai dar certo.
— Aconteceu mais cedo do que eu esperava.
— Você já sabia disso?
— Suspeito disso desde que recuperei a Espada do Destino.
— A Espada! — Seus olhos se arregalaram. — Ele pode tentar usá-la!
— Talvez, mas vai ficar desapontado. A Espada está comigo. Eu a roubei. — Hera sorriu com orgulho ao ouvir isso. — Mas não importa agora. Precisamos agir. Desacreditar Zeus antes que ele destrua nossa família. Felizmente, eu já tenho um plano.
— Não faça nenhuma maluquice, Lydia. Você não sabe até onde ele está disposto a ir.
— Suponho até onde eu estou disposta a ir. — Respondi — Ou seja: até o fim.
Na noite seguinte
Esperei pelo sinal, uma coruja levantando voo exatamente a nordeste de onde eu estava, e empurrei delicadamente o portão dourado que dava acesso ao Olimpo. Estava destrancado, como prometido. Puxei o capuz e ajeitei a capa sobre meus ombros, de modo a ter certeza de que estaria irreconhecível caso fosse vista, e apressei o passo, tentando ao máximo não fazer barulho.
Não foi preciso muito tempo para chegar ao ponto de encontro: um enorme carvalho solitário, onde ninguém nunca ia. Sorri comigo mesma. Minha mãe tivera uma ideia genial.
Ares, Ártemis, Apolo, Atena, Poseidon, Hades, Hefesto e Hera esperavam, e todos tiveram um sobressalto quando apareci.
— Sou apenas eu. — Falei, baixando o capuz. — Nada do que acreditaram sobre aquela noite foi real.
Expliquei brevemente o que acontecera, acrescentando a história de minha mãe ao final da minha como explicação para meu retorno. Poseidon foi o primeiro a falar, e seu tom evidenciava a fúria que sentia:
— Zeus não pode se livrar dessa!
— E não vai. — Garanti.
— A única forma de pará-lo é se o derrotarmos. — Atena declarou. — E quero dizer de verdade. Destroná-lo.
— Acha que podemos fazer isso?
— Acho, se tivermos um bom plano.
— Eu tenho um: Miss e Apolo podem atrair os guardas para fora com flechas chamariz. Hades, Poseidon e você os atrasam o máximo que puderem. Enquanto a confusão se desenrola, Ares e eu entramos no castelo para dar um jeito em Zeus.
— Nada mal. — A loira anuiu. — Mas não devem entrar sozinhos no palácio de Zeus. Ele pode ter algo planejado.
— Hefesto pode ir conosco. Ele é grande, forte e corajoso, além de um ótimo guerreiro.
Atena pensou por um longo momento, analisando o plano.
— Não vejo falha nenhuma. — A Deusa da Sabedoria aprovou, enfim. — É um plano excelente.
— Então vamos nos organizar e atacar ainda esta noite. Quem concorda?
Todos os presentes anuíram em concordância.
Mais tarde
Todos já estavam em seus postos. Apolo e Ártemis se esconderam no alto de uma torre do castelo de Zeus. Poseidon, Hades e Atena estavam escondidos por perto, prontos para distrair os guardas. Hera manteria Zeus ocupado para que ele não desconfiasse de nada. Ares, Hefesto e eu estávamos prontos para correr para dentro assim que Ártemis desse o sinal.
Um leve tom prateado iluminou o céu acima da torre onde Ártemis e Apolo se escondiam. Era o sinal combinado.
Hades, Poseidon e Atena investiram com fúria e as flechas chamariz explodiram, uma cacofonia quase ensurdecedora, que conseguiu atrair todos os guardas para fora do palácio.
— É a nossa deixa — Sussurrei — Vamos.
Ares, Hefesto e eu conseguimos entrar no palácio sem sermos vistos. Seguimos diretamente até um pequeno escritório particular ao qual eu me lembrava de explorar quando pequena. Zeus uma vez me mostrara o segredo que aquela sala continha.
Tateei cuidadosamente as paredes, até enfim encontrar o brasão olimpiano em alto relevo. Pressionei o símbolo e a parede se moveu, revelando uma escadaria de pedra desgastada pelo tempo.
— Essa escada não é usada há anos. — Expliquei — E nem a sala. Zeus construiu este escritório para esconder a passagem. É uma rota emergencial de fuga.
Nós três subimos silenciosamente até chegarmos à grande porta negra no alto. Hera cumprira sua parte e a deixara aberta para nós.
Saí por entre uma falsa estante e a parede, dando de cara com o quarto às escuras. De repente algo pesado me atingiu na nuca. Meu último ato consciente foi fechar a porta atrás de mim, assegurando-me de que meus irmãos não se envolveriam no que quer que estivesse acontecendo.
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