Destinada escrita por Benihime


Capítulo 35
Capítulo XXXIII




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Quando entrei na antiga sala de armas, Gaia estava sentada no chão com um livro aberto no colo.

— Leitura interessante?

— Mais do que você imagina. — Ela respondeu. — Acho que descobri uma forma de vencer Caos.

Corri para seu lado, sentando-me no chão também. Gaia me passou o livro. Era um antigo grimório, e ela apontou para uma linha quase apagada. Inclinei-me para ler melhor, e finalmente consegui compreender.

Ignis Draco, inimicus meus ardebit. Et virtutem manifestare meum crescere.

Meus olhos se arregalaram ao compreender o poder daquele feitiço: "Fogo do Dragão, queime meu inimigo. Brilhe e permita que meu poder cresça."

— Pensei que feitiços desse tipo não fossem mais usados.

— Não são. — Ela abriu um meio sorriso — Só existem em meu grimório. Este, o Ignis Draco, é particularmente cruel. Ele cria um vórtice mágico que suga o adversário e anula seu poder, transferindo-o para quem lançou o feitiço.

— Com isso podemos vencer Caos!

— Devagar aí, Lydia. — Seu tom endureceu. — Você já sabe que magia tem um preço. O deste feitiço é particularmente alto. Se o lançar, corre o risco de perder sua imortalidade. E, uma vez mortal …

— Terei que deixar o Olimpo. A magia dos portões é poderosa demais para que mortais passem por eles.

— Exato. A escolha é sua.

— Eu escolho ... Treinar um pouco. Preciso de muita prática para acabar com Nyx. Vamos nos concentrar em um deles de cada vez.

— Sábia escolha, minha amiga.

Gaia e eu empunhamos nossas espadas, assumindo posição. Ela atacou primeiro. Sem pensar, evitei seu golpe dando um passo para trás.

— Defenda — A Mãe-Terra ordenou. — Não recue.

Gaia atacou de novo, chicoteando uma série tripla capaz de fazer qualquer um em picadinho. Eu me afastei com uma estrela inversa.

— Gaia! Isso já é exagero!

— Pare de recuar. Está me dando vantagem.

Ela atacou por cima, e tão forte que me derrubou.

— Quer acabar comigo? — Me exaltei — Você disse que ia pegar leve!

— Pare de tentar defender. Nunca vai vencer desse jeito. Parta para o ataque.

Dessa vez seu golpe veio pela esquerda. Bloqueei com minha espada e girei para tentar desarmá-la. Não funcionou, e rapidamente perdi a noção do tempo enquanto lutávamos.

Enfim consegui desarmá-la. Sua espada voou pelos ares e eu a aparei, ameaçando seu pescoço entre as duas lâminas.

— Excelente. — Ela sorriu — Mas precisa melhorar sua guarda à esquerda, ou terá sempre que depender de um escudo.

— O que você sugere?

— Tenho uma ideia, mas você vai precisar confiar em mim.

— Eu confio.

De repente eu não via mais nada. Tudo era escuridão, a mais negra e absoluta.

— Vamos, Lydia, use sua intuição. Sinta de onde virá o próximo golpe.

De imediato ela me derrubou com uma rasteira, mas me firmou antes que eu caísse. Xinguei baixinho ao ouvi-la rir. Consegui bloquear seu golpe seguinte, um gancho de direita, mas ela me pegou pela esquerda logo depois.

— Proteja seu ponto fraco. — Ordenou. — Mantenha a guarda erguida. Não recue, ou vai entregar a luta.

Tentei seguir seu conselho mantendo a guarda alta, mas ela me pegou na altura do estômago com um soco que me fez perder o equilíbrio. Caí e ouvi a risada estrondosa de Ares.

— Uau, uma surra bem merecida. — Ele disse. — Isso não é algo que se vê todo dia.

— Cale essa boca, Cabeção. — Rosnei, contendo-me para não rir também. — Gaia, me deixe enxergar para eu poder dar uma surra nesse cara.

— Que foi, tem medo de me enfrentar assim, morena?

— Idiota. Venha cá e diga isso de novo, se tiver coragem.

Senti suas mãos segurarem meus ombros e ele se aproximou tanto que sua respiração mexia com os fios de meu cabelo. Aquela proximidade acelerou meu coração e minha respiração se suspendeu. Meu corpo todo formigava de expectativa, e estremeci quando Ares tocou meu rosto. Minha vontade era desistir e ficar ali para sempre.

Sem um comando consciente de meu cérebro, minha mão direita se ergueu e foi surpreendentemente fácil atingir o alvo, plantando um sólido tapa na cara de Ares.

— Nunca mais me provoque desse jeito, ouviu? — Esbravejei. — Chega desses seus jogos.

— Lydia, já chega. — Gaia interferiu.

Ela finalmente me deixou enxergar de novo. Respirei fundo para me acalmar, ainda com vontade de socar a cara daquele homem irritante. Não falei nada até ter certeza de que não acabaria fazendo isso.

— Obrigada, Gaia. — Falei, já mais calma. — E você, Ares, o que veio fazer aqui, afinal?

— Procurar você — Ele respondeu — Hera me pediu para dizer que vocês duas precisam conversar.

— Mentira. Ela nem sabe que estou viva.

— Ela sabe.

— Mas como?

— Hera é mãe. Suponho que tenha seus meios.

Eu não podia tirar a razão dele. Além do mais, minha mãe tinha uma intuição quase sobrenatural, mesmo para uma deusa.

— Obrigada. Diga a ela que me procure esta noite.

Ares apenas assentiu e saiu da sala sem dizer mais nada. Eu o conhecia bem o bastante para saber que ele ainda estava zangado por causa de minha reação.

Naquela noite

Hera me esperava quando cheguei, e sorriu ao me ver.

— E então, sobre o que precisamos conversar?

— Minha menina, sempre direta ao ponto. — Ela comentou carinhosamente, sua expressão tornando-se sombra. — É sobre seu pai. Eu desconfiava dele há algum tempo, e agora descobri tudo. Zeus está de conluio com Caos. Eu o ouvi conversando com Nyx.

— Quero saber os detalhes. — Incitei — O que eles estavam dizendo?

— Não consegui chegar perto o bastante para entender tudo. — Minha mãe respondeu. — Eu não quis arriscar ser descoberta. Mas, pelo pouco que entendi, ela o estava repreendendo por um plano que deu errado, e Zeus continuava dizendo que dessa vez vai dar certo.

— Aconteceu mais cedo do que eu esperava.

— Você já sabia disso?

— Suspeito disso desde que recuperei a Espada do Destino.

— A Espada! — Seus olhos se arregalaram. — Ele pode tentar usá-la!

— Talvez, mas vai ficar desapontado. A Espada está comigo. Eu a roubei.  — Hera sorriu com orgulho ao ouvir isso. — Mas não importa agora. Precisamos agir. Desacreditar Zeus antes que ele destrua nossa família. Felizmente, eu já tenho um plano.

— Não faça nenhuma maluquice, Lydia. Você não sabe até onde ele está disposto a ir.

— Suponho até onde eu estou disposta a ir. — Respondi — Ou seja: até o fim.

Na noite seguinte

Esperei pelo sinal, uma coruja levantando voo exatamente a nordeste de onde eu estava, e empurrei delicadamente o portão dourado que dava acesso ao Olimpo. Estava destrancado, como prometido. Puxei o capuz e ajeitei a capa sobre meus ombros, de modo a ter certeza de que estaria irreconhecível caso fosse vista, e apressei o passo, tentando ao máximo não fazer barulho.

Não foi preciso muito tempo para chegar ao ponto de encontro: um enorme carvalho solitário, onde ninguém nunca ia. Sorri comigo mesma. Minha mãe tivera uma ideia genial.

Ares, Ártemis, Apolo, Atena, Poseidon, Hades, Hefesto e Hera esperavam, e todos tiveram um sobressalto quando apareci.

— Sou apenas eu. — Falei, baixando o capuz. — Nada do que acreditaram sobre aquela noite foi real.

Expliquei brevemente o que acontecera, acrescentando a história de minha mãe ao final da minha como explicação para meu retorno. Poseidon foi o primeiro a falar, e seu tom evidenciava a fúria que sentia:

— Zeus não pode se livrar dessa!

— E não vai. — Garanti.

— A única forma de pará-lo é se o derrotarmos. — Atena declarou. — E quero dizer de verdade. Destroná-lo.

— Acha que podemos fazer isso?

— Acho, se tivermos um bom plano.

— Eu tenho um: Miss e Apolo podem atrair os guardas para fora com flechas chamariz. Hades, Poseidon e você os atrasam o máximo que puderem. Enquanto a confusão se desenrola, Ares e eu entramos no castelo para dar um jeito em Zeus.

— Nada mal. — A loira anuiu. — Mas não devem entrar sozinhos no palácio de Zeus. Ele pode ter algo planejado.

— Hefesto pode ir conosco. Ele é grande, forte e corajoso, além de um ótimo guerreiro.

Atena pensou por um longo momento, analisando o plano.

— Não vejo falha nenhuma. — A Deusa da Sabedoria aprovou, enfim. — É um plano excelente.

— Então vamos nos organizar e atacar ainda esta noite. Quem concorda?

Todos os presentes anuíram em concordância.

Mais tarde

Todos já estavam em seus postos. Apolo e Ártemis se esconderam no alto de uma torre do castelo de Zeus. Poseidon, Hades e Atena estavam escondidos por perto, prontos para distrair os guardas. Hera manteria Zeus ocupado para que ele não desconfiasse de nada. Ares, Hefesto e eu estávamos prontos para correr para dentro assim que Ártemis desse o sinal.

Um leve tom prateado iluminou o céu acima da torre onde Ártemis e Apolo se escondiam. Era o sinal combinado.

Hades, Poseidon e Atena investiram com fúria e as flechas chamariz explodiram, uma cacofonia quase ensurdecedora, que conseguiu atrair todos os guardas para fora do palácio.

— É a nossa deixa — Sussurrei — Vamos.

Ares, Hefesto e eu conseguimos entrar no palácio sem sermos vistos. Seguimos diretamente até um pequeno escritório particular ao qual eu me lembrava de explorar quando pequena. Zeus uma vez me mostrara o segredo que aquela sala continha.

Tateei cuidadosamente as paredes, até enfim encontrar o brasão olimpiano em alto relevo. Pressionei o símbolo e a parede se moveu, revelando uma escadaria de pedra desgastada pelo tempo.

— Essa escada não é usada há anos. — Expliquei — E nem a sala. Zeus construiu este escritório para esconder a passagem. É uma rota emergencial de fuga.

Nós três subimos silenciosamente até chegarmos à grande porta negra no alto. Hera cumprira sua parte e a deixara aberta para nós.

Saí por entre uma falsa estante e a parede, dando de cara com o quarto às escuras. De repente algo pesado me atingiu na nuca. Meu último ato consciente foi fechar a porta atrás de mim, assegurando-me de que meus irmãos não se envolveriam no que quer que estivesse acontecendo.


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