Destinada escrita por Benihime


Capítulo 24
Capítulo XXII




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No dia seguinte

Contei tudo a Gaia: minha intuição sobre Zeus, minhas suspeitas cada vez mais concretas e a ideia que eu tivera sobre revelar nossa aliança.

— Pode ser de grande valia. — Ela opinou. — Vai depender de como você contar a ele.

— Mas como contar de modo que ele não acabe declarando uma segunda guerra? — Inquiri. — Ou pior, colocando todo o Conselho contra mim?

— Não é preciso convencê-lo, basta lançar dúvida por tempo suficiente para que eu possa provar seus argumentos.

Eu estava nervosa. O lago à nossa frente se encrespou com uma súbita ventania. Nuvens negras de tempestade apareceram no céu. Respirei fundo, tentei controlar meu humor ... E segundos depois tudo voltou ao normal.

— Isso está saindo do controle. — Confessei. — A magia simplesmente acontece, basta minhas emoções se intensificarem. Está cada vez pior.

— Você está começando a descobrir do que é capaz. — Gaia disse gentilmente. — Tome cuidado, Lydia, magia é uma força extremamente perigosa. Os feitiços tendem a nos dar o que precisamos, e não aquilo que pedimos.

— Eu sei, mas nunca tinha perdido o controle dessa forma antes. É assustador. Pode me ensinar a controlar isso?

— Infelizmente não. Cada um tem que encontrar sua própria forma de manter o controle. Só posso dizer que a melhor saída é não tentar lutar contra suas emoções. Domine-as, não as renegue.

Um pouco depois

Depois que a reunião começou foi só esperar minha oportunidade, algo que já tinha combinado com Ares.

— E quanto a Gaia? — Ele indagou a certa altura. — Não acho que seria inteligente concentrarmos nossas forças em Cronos. Ela pode ser a verdadeira ameaça.

Olhei para ele de cara feia, seguindo nosso plano. Ele deu de ombros. Zeus nos observava como uma águia mas, mesmo sob seu escrutínio atento, não me permiti recuar.

— Tem razão, Ares. — Nosso pai concordou. — Gaia é perigosa, não deve ser subestimada.

— Não, pai. — Interferi — Sem ela, jamais teríamos recuperado a Espada. Gaia fez tanto pela missão quanto qualquer uma de nós. Ela me salvou. Definitivamente não é nossa inimiga.

— Uma missão sobre a qual nada sabíamos, feita às escondidas.

Suspirei baixinho, frustrada. Zeus já era um cabeça dura normalmente, quando estava de bom humor. Pelo visto, naquele dia ele realmente estava procurando discussão.

— O senhor jamais teria nos deixado ir se soubesse!

— Não mesmo. — Ele admitiu. — Veja só no que deu. Apenas causou uma confusão maior.

— O senhor deveria mostrar um pouco de gratidão, pai. Afinal, fomos nós quem recuperamos a Espada.

— Ora, sua ... — Ele parecia prestes a me fulminar com um de seus raios. — Sua criança impertinente!

Cruzei os braços e dei um meio sorriso debochado.

— Sério? — Zombei. — Foi esse o melhor insulto em que pensou?

Ártemis

Zeus e Lydia travavam uma disputa de olhares furiosos. Parecia que poderiam se digladiar em combate a qualquer momento.

— Posso vencer Cronos. — Minha irmã anunciou — Se me permitir tentar …

— Não permito! Você não tentará mais nada. Isto é uma ordem, e você vai me obedecer!

— O senhor está sendo estúpido, pai.

Zeus não disse nada, encerrado em um silêncio teimoso. Os olhos de minha irmã brilharam de fúria. Ela disse algo mais numa língua estranha. Não compreendi o idioma, mas reconheci instintivamente que era algo primordial, poderoso. No momento em que percebi isso, Lydia desapareceu numa nuvem de raios.

Gaia

Lydia estava no mirante esperando por mim, e virou-se assim que sentiu minha presença. Era óbvio que ainda estava zangada. Aquela garota tinha emoções intensas, eu podia senti-las a quilômetros de distância.

— Zeus não cedeu. — Ela informou, indo direto ao assunto. — Estou oficialmente fora de combate, e o Conselho agora desconfia de mim.

— Péssima notícia. E o que você vai fazer quanto a isso?

— Que droga! — A morena exclamou, batendo com o punho cerrado na grade de proteção do mirante. — Como ele espera vencer alguém que nem ao menos consegue encontrar? Será que não vê que sou sua única chance nessa guerra? Aquele …

Ela disparou uma torrente de palavrões muito criativos em grego. Contive a vontade de rir até que ela finalmente se acalmou e calou-se.

— Se eu quisesse burlar a ordem de Zeus e derrotar Cronos, usaria a Espada do Destino. — Sugeri.

— Mas ninguém consegue empunhar a Espada. Acha que eu teria poder suficiente para …?

— Não. A Espada foi forjada para Uranos, e ninguém além de meu marido teria poder suficiente para empunhá-la. — Expliquei. — Porém, há outra maneira. Meu poder também está imbuído na lâmina, pois a enfeiticei para que jamais caísse em mãos erradas novamente. Somente aquele que for digno conseguirá empunhá-la em batalha.

— E se por acaso esse alguém não for eu? — Lydia inquiriu desafiadoramente. — E se eu não for digna da Espada?

Com certeza você é, pensei. Não disse isso a ela, pois Lydia não acreditaria em mim.

— Pelo menos poderá dizer que tentou. Quantos podem dizer isso?

— Está bem. — Ela cedeu — Conseguirei a Espada. Encontre-me amanhã, três horas antes do amanhecer, na antiga sala de armas. E é melhor seu plano dar certo, Gaia.

Lydia

Com um simples feitiço para confundir, entrar no palácio de Zeus foi fácil. Andei silenciosamente pelos corredores, torcendo para que a tão conhecida arrogância de meu pai tivesse se refletido também naquele caso e ele não houvesse aumentado a proteção naquela ala do palácio.

Zeus nunca desaponta, pensei maliciosamente ao ver que o corredor que levava à escada para o subsolo estava vazio.

Não seja boba, Lydia. Gaia avisou. Mantenha a guarda erguida. Zeus pode estar tramando alguma coisa. Pode ter colocado armadilhas em todo o nível inferior do palácio. Seu pai pode ser arrogante, mas é esperto como uma raposa.

Até parece que já não sei disso.

Desci a escada de dois em dois degraus e parei quando cheguei ao fundo, tentando ouvir o que me esperava naquela escuridão. Silêncio total, o que me deixou desconfiada.

Por precaução andei com as costas coladas na parede, num ritmo bem mais lento do que o normal. Não queria arriscar ser pega em alguma armadilha.

Finalmente cheguei à porta de madeira e entrei na sala. A primeira coisa que notei foi que a espada não estava em seu pedestal. Soltei um palavrão baixo e então respirei fundo, pensando. Zeus certamente sabia que alguém acabaria indo atrás da espada novamente uma hora ou outra, não seria burro de deixa-la no mesmo lugar.

Olhei ao redor da sala, procurando. Eu conhecia meu pai, sabia que ele não tiraria a espada dali, pois era um dos lugares mais bem protegidos do Olimpo. O que significava …

Notei uma fenda horizontal na rocha, quase oculta pela semi escuridão. Ajoelhei-me e tateei a fenda. Meus dedos quase imediatamente tocaram o metal frio da espada.

— Muito esperto, pai — Sussurrei ironicamente, puxando a Espada do Destino para fora da fenda — Mas não o suficiente.

Eu sorri, relaxando e pegando a Espada. Era pesada, mas o cabo encaixava-se na minha mão como se fosse feito sob medida. Supus que aquilo fosse um bom sinal.

Mais uma vez no corredor, ouvi o som de passos. Tentei pensar rápido, mas não conhecia outra saída dali que não o corredor. Seria pega de qualquer jeito.

— Lydia, rápido. — Uma voz soou — Venha comigo.

Uma mão muito fria segurou meu pulso, puxando-me consigo. Sem outra opção eu me deixei levar. Uma passagem secreta se revelou na primeira curva do corredor e fui empurrada para dentro.

— Corra — A voz ordenou — Estou atrás de você. Vamos!

Obedeci, correndo pela estreita passagem. Logo saímos em uma passagem mais ampla, bloqueada por algo que logo percebi ser a parte de trás de uma tapeçaria.

— Onde estamos?

— Perto do escritório de seu pai — A mulher respondeu — Onde, aliás, você devia dar uma olhada.

— Loucura. — Decretei. — Não posso arriscar ser pega.

— Anda, Lydia. Não seja covarde.

Ela agarrou meu pulso mais uma vez e me puxou consigo para fora da tapeçaria. Saímos em um corredor vazio. Isso, porém, não me reconfortou. Eu podia ouvir vozes não muito longe.

— Pare com isso. — Sibilei — Vão nos ver.

— Não vão, não.

Olhei para a pessoa que me salvara. Era a mulher de manto vermelho. Mais uma vez o capuz estava erguido e eu não podia ver seu rosto, mas a mão que segurava meu pulso era delicada, indicando uma pessoa jovem.

— Confie em mim, princesa. — Ela disse maliciosamente — Procure e encontrará.

Mordi o lábio, indecisa, tentando pensar. Minha decisão acabou sendo tomada por instinto, ao ouvir as vozes de guardas se aproximando pelo corredor: entrei rapidamente e me escondi dentro do escritório de meu pai. Eu sabia que ele não estaria ali àquela hora, estaria com mamãe nos jardins.

— Ora, ora, a garotinha tem coragem. — A jovem de vermelho provocou.

— Só para fugir dos guardas. Não vou lhe dar o gostinho de fazer o que você quer.

— Como desejar. Só depois não me culpe quando for esfaqueada pelas costas.

Apoiei-me na escrivaninha de meu pai, inclinada na direção da mulher de manto vermelho, encarando-a com raiva.

— Nem mesmo sei o seu nome, como sei que posso confiar em você?

— Caliandra. — Ela revelou — E não precisa confiar em mim, as provas estão bem aqui. Procure e encontrará.

Vencida pela curiosidade, finalmente me curvei. Olhei cuidadosamente os papéis na escrivaninha, mas não havia nada que justificasse as coisas que Caliandra dissera. Procurei pelas gavetas também até enfim encontrar algo, um bilhete.

Devia ter feito o que eu disse, Zeus. Agora terá de arcar com as consequências. Sua preciosa filha está marcada para a destruição.

A assinatura era quase ilegível, mas consegui distinguir um N. Ergui os olhos para onde Caliandra estivera, apenas para perceber que estava sozinha na sala.

Uma semana depois

— Lydia.

Virei-me ao ouvir Hades chamar meu nome. Ele fez sinal para que eu o seguisse e me levou até uma sala, cuja porta trancou assim que entramos.

— Tio, o que o senhor está fazendo? — Surpreendi-me.

Ele abriu a mão esquerda, revelando quatro frascos.

— O primeiro é água do rio Lete. O segundo é sangue do lado esquerdo do corpo da própria Medusa, é capaz de curar qualquer coisa. O terceiro é veneno de Hidra. O último não posso lhe dizer o que é, mas saberá no momento certo. Use-os com sabedoria.

— Por que o senhor está me ajudando? — Desconfiei — Zeus decretou que ninguém deveria me ajudar.

— Eu sei. — O Deus do Submundo respondeu. — E ele está errado. Se alguém pode vencer essa guerra, é você.

Com um gesto, ele transformou os quatro frascos em pedras preciosas, unidas por uma pulseira de ferro estígio, negro como a noite.

— Só não esqueça que armas pendem para os dois lados. — Meu tio disse enquanto fechava a joia em meu pulso. — O que realmente conta é o caráter de quem as porta.

— Não esquecerei.


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