Destinada escrita por Benihime


Capítulo 22
Capítulo XX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740354/chapter/22

Lydia

Pouco a pouco fui recobrando a consciência. Não havia mais dor, porém eu estava absolutamente exausta.

Ouvi um sussurro baixo ao meu lado e parte da exaustão se dissipou, permitindo que eu finalmente conseguisse abrir os olhos. A primeira coisa que vi foi verde. Verde musgo, para ser exata. Pisquei rapidamente para ter certeza de que não estava sonhando, e quase sorri ao ver Gaia ajoelhada ao meu lado.

— Oi.

Minha voz estava rouca, mas definitivamente mais forte do que eu esperava.

— Olá, Lydia.

Lydia! A voz de Ártemis era parte alívio, parte repreensão. Nunca mais me dê um susto desses. Pensei que ia te perder!

Não vai se livrar de mim tão facilmente, Ártemis.

— Ei, Gaia, já posso ir aí dar um chute na minha irmã pelo susto que ela me deu?

Sua voz soara irritada, mas eu podia jurar que ela estava sorrindo. Gaia riu e um segundo depois Ártemis estava ao meu lado.

— Credo, você está parecendo um fantasma.

Fiz cara feia para minha irmã, nem um pouco contente com seu comentário.

— Tente ter uma espada cravada no coração e aí veremos como você vai parecer. — Resmunguei — Mas chega de bobagens. Quanto tempo fiquei inconsciente e o que eu perdi?

— Você só ficou inconsciente por um dia, não se preocupe.

— Bom. Precisamos continuar com a missão, Miss. Avise Atena …

— Hoje não, Lydia. — Gaia interrompeu delicadamente. — Você precisa descansar.

— Não! — Protestei. — Não podemos perder mais um dia. Edellyn …

— Gaia tem razão, Lidy. — Ártemis corroborou. — Descanse. Atena e eu podemos dar conta daquela víbora.

— Não deixarei. — Respondi. — Edellyn é minha. Ela tem que pagar.

— Ir atrás dela assim tão fraca só vai piorar a situação. — Ártemis me lembrou. — Lidy, você definitivamente não está em condições de enfrentá-la agora.

Rosnei de frustração, mas percebi que estava em desvantagem e achei melhor não discutir. Além do mais, por mais que detestasse o fato, as duas tinham razão.

— Boa menina. — Ártemis sorriu, tomando meu silêncio por aquiescência. — Descanse. Resolveremos tudo quando você estiver mais forte.

Ela saiu logo depois, me deixando a sós com Gaia. Tentei fechar os olhos e dormir, mas estava agitada demais.

— Gaia. — Ela meramente me olhou, inclinando a cabeça numa pergunta muda. — Nem vou perguntar como você sabia que eu precisava de ajuda. Apenas ... Obrigada por ter estado lá.

—  Lydia, eu …

— Por favor, não me conte. — Interrompi. — Eu não quero saber. Se souber, terei que fazer algo a respeito. Não me obrigue a tomar uma atitude contra minha vontade.

Aqueles olhos verdes se arregalaram de surpresa por um momento, então se iluminaram com uma expressão de gratidão capaz de derreter o mais frio dos corações.

— Obrigada. — Ela disse fervorosamente.

— Mas tem algo que eu gostaria que você respondesse. — Gaia assentiu, indicando que responderia qualquer pergunta. — Existe alguma poção ou veneno capaz de causar alucinações?

— Alguns. — A Mãe-Terra respondeu — De que tipo de alucinações estamos falando, exatamente?

— Visões, ouvir vozes, esse tipo de alucinações.

— Ah. Estamos falando, muito provavelmente, do error mentis. Confunde os sentidos a ponto de levar alguém à loucura.

— Existe antídoto?

— Eu não sei. — Ela respondeu — Vou ver o que consigo descobrir. Quanto a você ... Tente dormir um pouco. Parece loucura, por ter estado inconsciente todo esse tempo, mas seu corpo precisa de descanso para se curar completamente.

Gaia

— Tem razão, parece mesmo loucura. — Lydia sorriu, bem humorada mesmo depois de tudo. — Mas não significa que seja. Nem tudo é o que parece.

Menina esperta, pensei, um tanto surpresa.  

— Tem alguma coisa errada nisso tudo, não é? — A morena inquiriu de repente. — Eu posso sentir.

Alguma coisa em sua expressão me alertou de que seria impossível mentir. O mais espantoso era que eu não queria mentir.

— É, eu também tive essa impressão. — Confessei — Mas talvez não seja nada.

— Talvez. — Ela concordou relutantemente. — Mas …

— Mas ainda assim gostaria de ter certeza?

— Não exatamente. Eu gostaria de ter ... Um meio de ter certeza de que não cairei nos truques de meus inimigos.

— Admitir sua fraqueza é o primeiro passo para superá-la. — Declarei. — E, já que é assim, posso ajudá-la. Se quiser, é claro.

— Como?

— Runas. Basta me dar sua mão.

Ela hesitou por um segundo, mas obedeceu.

Lydia

Com a ponta da lâmina de seu punhal, Gaia desenhou um símbolo em meu braço, pouco abaixo da região do pulso. Reconheci que era uma runa, mas não consegui decifrá-la. O ferimento parecia talhado a fogo em minha pele.

— Que runa é essa?

— Um símbolo de proteção. — Foi a resposta. — Ninguém poderá machucá-la de nenhuma forma. Você estará segura.

— Obrigada.

— Apenas lembre-se, Lydia, de que muitas vezes o perigo maior vem de nós mesmos.

Suas palavras me fizeram estremecer, quase como se fossem uma espécie de profecia.

Horas depois

Acordei reestabelecida, completamente alerta. Eu podia sentir meus poderes vibrando, indicando que eu me recuperara completamente. Satisfeita por estar sozinha e ter algum tempo para pensar, comecei a estabelecer prioridades.

Primeiro: eu precisava descobrir quem mandara os Transfiguradores atrás de mim, e por que.

Segunda: precisava achar um jeito de descobrir onde Edellyn estava e quais eram seus planos.

E terceira: precisava chegar ao fundo do mistério da situação com Zeus.

Entre as três prioridades, eu sabia muito bem qual era a mais urgente, e me pus à ação. Sentando-me devagar, para o caso de ainda estar zonza, fiz surgir um círculo de velas acesas ao meu redor.

Hécate me avisara que o Prospector Incantatem requeria um foco incrível, então respirei fundo, mentalizando exatamente o que queria. Ou melhor, quem eu queria ver. Aos poucos a imagem em minha mente ficou clara.

O vestido negro abraça cada curva do corpo da mulher à minha frente, deixando suas costas à mostra. Ela está inclinada sobre um pergaminho e, com uma das mãos, afasta do rosto o longo cabelo, também negro. A cor combina com ela, contrastando com sua pele de porcelana.

Curiosa, chego um passo mais perto e posso vê-la de perfil. Rosto em forma de coração, queixo arredondado, nariz ligeiramente arrebitado na ponta, lábios cheios, longos cílios sombreando suas maçãs do rosto altas ... Vejo também suas mãos, de dedos longos e delicados. Em um desses dedos brilha um anel de opala extremamente familiar.

Como se pressentisse minha presença a mulher se vira e finalmente vejo seus olhos. São azuis, de um azul tão pálido quanto o gelo, porém brilhante de alguma forma, como se fossem elétricos.

Minha concentração foi quebrada e voltei à realidade. Precisei me esforçar para respirar novamente e não deixar que o medo me dominasse. Eu já vira aquela mulher.

Com um gesto, fiz surgir meu caderno de desenhos e comecei a desenhar o mais rápido que podia. Fui interrompida algum tempo depois, por Gaia, que se aproximou quase sem que eu percebesse.

— Como se sente? — Ela perguntou.

— Melhor. — Respondi, ainda concentrada. — Gaia, acha que poderia reconhecer alguém em um desenho?

— Provavelmente.

Mostrei a ela o desenho em que estava trabalhando e pensei ouvir um arquejo baixinho.

— E então? — Inquiri. — Você a conhece?

— Onde você a viu?

— Prospector Incantatem. Eu estava tentando descobrir quem enviou os Transfiguradores. Por que? Quem é ela?

— Esta é Nyx, a Deusa da Noite.

Senti minha boca se abrir de assombro. A única coisa em que consegui pensar, por mais bobo que pareça, foi: ok, agora estou mesmo encrencada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.