Destinada escrita por Benihime


Capítulo 14
Capítulo XII




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Minha primeira providência foi conseguir uma esmeralda o mais semelhante possível à original. Não foi nada fácil, mas consegui, o que envolveu ir pessoalmente a uma mina e conseguir a pedra em estado bruto.

Horas depois, do lado de fora da forja, eu podia ouvir as marteladas de meu irmão trabalhando em mais um de seus infinitos projetos. Empurrei o enorme portão de ferro com cuidado e entrei na forja escura, seguindo o brilho do fogo e o barulho das marteladas.

Não consegui me furtar ao prazer de assistir meu irmão trabalhar por alguns minutos antes que ele reparasse em minha presença. Não por ele ser bonito ou algo assim, mas pela graça de seus movimentos. Hefesto sabia o que estava fazendo e isso me fascinava.

— Lydia! — Ele sorriu com genuíno prazer ao me ver, limpando o rosto em uma toalha que deixara ao alcance. — Ora, ora, irmãzinha, o que a traz aqui?

— Talvez eu tenha sentido saudade de meu irmão preferido.

Meu gracejo não o convenceu, como eu já imaginara, e recebi um olhar descrente. Hefesto me conhecia bem demais para que eu fizesse qualquer tipo de jogo com ele.

— Tudo bem, tudo bem, você me pegou. — Admiti. — Preciso de sua ajuda.

Mostrei-lhe o cetro. Pude ver desconfiança no olhar que me lançou e torci fervorosamente para que se afeto por mim prevalecesse na decisão quanto a meu pedido.

— Sabe que Zeus vai ficar uma fera se descobrir que o cetro na sala é falso, não sabe? — Ele inquiriu simplesmente.

— Sei. — Dirigi-lhe meu sorriso mais charmoso — Por isso mesmo procurei você. É o único que pode me livrar dessa.

— E não livro sempre?

— Ah, não seja tão ranzinza! — Exclamei. — Eu até me ofereço para lapidar a pedra.

— Está bem. — Ele cedeu enfim, e pude ver que continha uma gargalhada. — Vou ajudá-la.

— Obrigada, meu irmão!

Joguei meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o impulsivamente. Dessa vez Hefesto riu alto, seus braços musculosos se fechando ao redor de minha cintura como tenazes.

— Não vamos perder tempo, maninha. — Ele disse ao me soltar. — Temos trabalho a fazer.

Depois disso pusemos mãos à obra. O pendor de Hefesto para as forjas se manifestou desde muito jovem e, sendo ele meu irmão mais velho, acabei ajudando-o várias vezes e aprendendo um pouco no processo, razão pela qual era perfeitamente capaz de lapidar a esmeralda sozinha. A coisa toda não levou mais de uma hora, e logo Hefesto fez a montagem final, erguendo a réplica do cetro para nossa inspeção.

— Está perfeito! Nem dá para notar a diferença. — Elogiei, passando um braço por seus ombros largos. — Irmão, você é um gênio!

— E você, irmãzinha, é a ajudante perfeita. Melhorou muito desde a última vez.

— Aprendi com o mestre. — Eu sorri. — É melhor eu colocar isso no lugar antes que seja descoberta. Obrigada, Hefesto.

Ele apenas assentiu e praticamente corri de volta até o palácio de Zeus. Era muito tarde, e eu sabia que o baile já haveria terminado. Àquela altura, meus pais já estariam recolhidos a seus aposentos.

Penetrar no castelo foi muito fácil, mesmo sem Ártemis para criar distrações.

Enquanto trabalhávamos com a Pedra Cronos, convenci Hefesto a me fazer um segundo - e ainda mais importante - favor. Agora, um minúsculo fragmento da esmeralda estava primorosamente entalhado no Medalhão do Infinito. Aquela mera parcela de poder não era nada comparado ao momento em que tive acesso ao poder integral da jóia lendária, mas foi de grande valia, ajudando-me a penetrar no palácio.

Minha memória me guiou pela escuridão rapidamente, sem sobressaltos, e logo eu estava de volta ao patamar superior, com o cetro já cuidadosamente recolocado na sala secreta.

Preciso admitir, o sucesso me subiu um pouco à cabeça. Parei de prestar tanta atenção quanto deveria e pouco tempo depois, numa curva, vi a sombra de um guarda que se aproximava.

Amaldiçoei-me em silêncio por ter baixado a guarda e ainda estava tentando formular um plano quando uma mão grande envolveu meu pulso, puxando-me para trás. Resisti por um momento e a pessoa me segurou pela cintura, arrastando-me para uma sala vazia e fechando a porta silenciosamente.

Mal nos vimos a sós e o braço ao redor de minha cintura se recolheu, libertando-me. Virei para ver quem me ajudara e não consegui conter um arquejo de surpresa, pois era a última pessoa que eu esperava.

— Ares! — Exclamei. — O que você está fazendo aqui? Como sabia … ?

— Chame de um bom palpite. — Ele respondeu simplesmente. — Vi você vindo para cá e pensei que certamente precisaria de ajuda, então a segui.

— Porque sou mulher? Foi por isso? Pensou que eu não conseguiria?

— Deuses, Lydia, claro que não! — Mesmo na penumbra da sala seus olhos brilhavam com intensidade, tornando difícil desviar o olhar do dele. — Por que você sempre transforma tudo numa briga? Não pode simplesmente aceitar que eu quis ajudá-la?!

— Não. Tem mais alguma coisa envolvida, sempre tem. Por que você me ajudou?

— Porque me importo com você, sua cabeça dura! — Ele rebateu, exasperado. — Agora pare de discutir e vamos sair daqui antes que sejamos pegos.

Meu primeiro instinto foi mandá-lo para o inferno, mas ele segurou minha mão e praticamente me arrastou pelos corredores antes que eu pudesse protestar. Eu podia ter lutado ou algo assim, mas minha surpresa foi tão grande que tudo o que consegui fazer foi andar atrás de meu irmão.

Em pouco tempo estávamos a salvo nos jardins do palácio, escondidos entre a vegetação. Ares então se virou para mim com aquele seu sorriso torto, que o fazia parecer um moleque travesso.

— Nada mal, huh? Para um "bronco inútil", pelo menos.

Quase grunhi de frustração. Sempre que eu pensava ter dado um jeito nele, aquele homem encontrava um modo de provar que eu estava errada e me fazer engolir o que dissera.

— Ares, eu não ... — Por algum motivo era difícil falar e não consegui olhar para ele. Contentei-me em fitar minhas mãos — Eu não quis dizer …

— Não se preocupe com isso. — Ele deu de ombros. — E acho melhor você tomar mais cuidado de hoje em diante. Não queremos que nada ruim aconteça com nossa futura rainha, não é?

Aquiesci quase sem pensar, o que me deixou ainda mais furiosa. 

Por que não consigo brigar com ele?, questionei, irritada. Eu queria, sim, brigar com ele até cair exausta, mas só conseguia ficar ali parada, calada e com o rosto em chamas, encarando minhas mãos.

— Então está bem. — Ele estendeu uma das mãos e gentilmente prendeu uma mecha rebelde de cabelo atrás de minha orelha, como fazia quando éramos mais novos. — Boa noite, Lydia.

Ouvi seus passos se afastando. Isso, por algum motivo, fez com que eu recuperasse um pouco de minha presença de espírito.

— Ares, espere!

— O que foi?

— Obrigada ... Por me ajudar hoje.

Ele abriu um daqueles sorrisos que faziam meu coração parar de bater, mais diabólicos do que o do próprio Satanás. Se tal figura existisse, é claro.

— Disponha, Lydia.

Ares se afastou antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa e eu também saí dali antes que fosse vista por algum guarda.

Foi só enquanto caminhava que uma coisa me ocorreu: Ares me chamara pelo nome, e não por princesa, Lids, ou morena, como costumava fazer. A simples conjectura do que aquilo poderia significar fez meu coração falhar uma batida.

Mais tarde, sozinha em meu quarto, peguei o pergaminho de seu esconderijo e o abri. Não havia nada escrito, nem mesmo um traço. Expandi meus poderes, tentando sentir a aura do objeto, mas não consegui nada. O resultado só podia significar uma coisa: o pergaminho era falso.


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