Destinada escrita por Benihime


Capítulo 13
Capítulo XI




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Afrodite e Atena vieram ao meu encontro, ambas parecendo preocupadas.

—  Lydia! — A Deusa do Amor exclamou, preocupada. —  Eu vi você sair correndo. Ares fez alguma coisa? Ele te magoou? O que ele disse?

— Não, Afrodite. — Minha voz ainda estava embargada, e me odiei por isso. — Por favor, não toque mais nesse assunto.

Atena percebeu o quanto eu estava abalada e num segundo estava sentada ao meu lado, um de seus braços ao redor de meus ombros. Permiti que ela me abraçasse, me apoiando em minha irmã por um momento.

— Se aquele idiota se atrever a continuar fazendo isso com você, eu mesma vou mata-lo.

O modo como ela falou acabou me fazendo sorrir. Era muito bom saber que, não importando o que acontecesse, eu sempre podia contar com aquela loira sabichona para ficar do meu lado. 

— Entre na fila, Atena querida.

A ameaça de Afrodite mal teve qualquer sinal de hostilidade, mas eu sabia que ela falava sério. A Deusa do Amor simplesmente sorriu em resposta a meu olhar de incredulidade, estendendo uma das mãos para segurar a minha, entrelaçando nossos dedos com firmeza. Por um longo momento simplesmente ficamos ali em silêncio, nós três, até eu ter a visão:

 Vejo uma mulher escrevendo, ligeiramente curvada sobre a folha, seus cabelos caindo em cascata por suas costas e escondendo suas feições com suas grossas mechas cor de ébano.

Somente uma vela ilumina seu trabalho. Movida por uma curiosidade inexplicável, dou um passo à frente. Sou um pouco mais alta, de modo que consigo facilmente ler por cima do ombro da desconhecida.

Embora não esboce reação nenhuma, é como se ela notasse minha presença, pois de repente o pergaminho é empurrado sutilmente para o lado, de forma que consigo ler ainda mais claramente:

Esmeralda jaz escondida

Poder e ouro, na mesma medida

Pela memória deve ser guiada

Para encontrar a joia amaldiçoada

Quando lhes contei sobre o que vira, minhas duas companheiras ficaram tão confusas quanto eu.

— Você disse que a pessoa que escrevia pareceu lhe mostrar a profecia, não é? — Atena inquiriu. Assenti em resposta. — E, como você teve a visão, é bem provável que a profecia diga respeito a você.

— Não me lembro de nada que se encaixe na descrição da poesia. Normalmente não usamos esmeraldas, você sabe, por causa da …

— Sim, exatamente. — Minha irmã confirmou, me interrompendo. — Esmeraldas não são usadas por remeterem à primeira e mais poderosa jóia. A Jóia Maldita.

— A Pedra Cronos. — Percebi — É claro! Mas … Ela está desaparecida desde a Grande Guerra.

— Não, Lydia. Na verdade, não está. Nunca esteve. — Afrodite revelou em voz baixa. — Zeus a escondeu. E eu sei onde ela está.

Atena e eu nos viramos para ela, ambas ansiosas, sedentas pela informação.

—  Onde? — Inquirimos ao mesmo tempo.

— No subsolo do palácio de Zeus. — A Deusa do Amor revelou — Mas não posso dizer o local exato. Tudo o que ouvi foi isso.

— O que significa ... — Olhei para Atena, que abriu um sorriso conspiratório, entendendo perfeitamente a direção de meus pensamentos. — Que precisamos de Ártemis.

Minutos depois

Ártemis, Atena, Afrodite e eu estávamos juntas, escondidas nas sombras em frente ao palácio de Zeus.

— Tem guardas demais. — A ruiva declarou — Vai ser uma missão bem difícil.

— Ártemis, preciso que use suas flechas. Cause uma confusão e faça os guardas saírem do palácio. Quando eles vierem investigar, Atena, nós entramos. A partir daí acredito que você sabe o que fazer. E você, Afrodite ... Bem, faça o que sabe fazer melhor.

— Fazer os homens de bobos. — A Deusa do Amor riu maliciosamente.  — Pode deixar, Lidy. Será um prazer.

— Assim que os guardas saírem, corra para a entrada. — Falei para Atena — Eu vou escalar a torre e entrar por lá. Despertaremos suspeitas se formos vistas entrando juntas a essa hora.

— Sabe que esse seu plano é loucura, não sabe? E se formos pegas?

— Não é, não. — Respondi. — Ficarei escondida nas sombras, ninguém vai me ver. Quando a você … É a Deusa da Sabedoria, a principal conselheira de Zeus. Basta dizer que tem algo a discutir com ele.

A loira ergueu uma sobrancelha, como que aprovando meu plano. Momentos depois um som agudo de metal contra metal soou e ouvimos Ártemis chamar por ajuda. Os guardas não tardaram a atender ao chamado. Rápida, Atena estava dentro do palácio assim que o último guarda saiu.

Corri pela lateral do edifício, mantendo-me cuidadosamente oculta nas sombras até atingir a base da torre, que escalei sem perda de tempo. O vento frio da noite dificultava a tarefa, fazendo meus dedos doerem, mas consegui entrar pela janela do cômodo mais alto, onde Atena me esperava.

— Nada mal mesmo. — Ela elogiou. — Rápido. Vamos descer antes que eles voltem.

— Tem certeza de que está vazio?

— É claro que sim, sua idiota. Acha mesmo que eu faria qualquer coisa antes de me assegurar disso?

Descemos rapidamente, quase correndo, com o som de rosnados e luta ainda ecoando ao longe.

— O que Ártemis está fazendo, afinal? —  Atena quis saber.

— Nos dando mais tempo. — Respondi. — Sinceramente, acho que prefiro não descobrir seus métodos.

Atingimos o pé da torre, onde a passagem se dividia em um corredor bifurcado.

— Eu pego a esquerda, você pega a direita. — Falei. — Nos vemos no topo da torre daqui a uma hora.

Atena assentiu e saiu a passos rápidos, sem perder tempo.

Me embrenhei no palácio de meu pai, usando meus poderes para sentir a aura do objeto. Eu sabia que, fosse o que fosse, seria algo poderoso, então não poderia ser tão difícil de encontrar. O grande problema era que eu não conhecia o palácio tão bem, e o risco de ser pega, mesmo com a distração criada por Ártemis, era enorme.

Com todos no salão de baile lá embaixo, guardas patrulhavam os andares superiores, espectros de nuvem feitos por meu pai, perfeitamente atentos e poderosos o bastante para enfrentar até mesmo a mim em um combate corpo a corpo. 

Ao dobrar mais um corredor, felizmente vazio, parei subitamente, tomada por uma lembrança:

Está escuro e meu pai carrega o archote bem alto enquanto, com a mão livre, segura firme uma de minhas mãos.

— Preste atenção, i kóri mou. — Quando ele me chama de "minha filha" em grego, eu sei que o assunto é importante. Papai só me chama assim quando está prestes a dizer algo muito, muito sério. — Isso que estamos fazendo é um segredo, entendeu? Você não deve contar para ninguém, nem mesmo para a mamãe.

—  Está bem, papai. Assinto sem hesitação.Não contarei. Eu prometo.

— Boa menina. — Ele diz, lançando-me um breve sorriso. — Agora venha, fique perto de mim. É fácil se perder aqui embaixo.

Ele continua a andar até estarmos em um corredor no mais profundo subterrâneo do palácio. A porta diante de nós é de madeira, rústica, e não consigo evitar ficar surpresa com isso.

Papai faz um gesto breve, de três movimentos, e a porta se abre. Dentro da sala só estão quatro objetos: uma espada de prata, um cetro de ouro, um medalhão de prata e um antigo pergaminho. Corro os olhos pela sala, fascinada com aqueles objetos e sua aura de poder. Posso praticamente senti-la, ondulando pelo ar parado como ondas no mar.

— São tão bonitos! — Exclamo. — O que são essas coisas, papai?

— São as relíquias do Olimpo. — Papai aponta para a espada, que captura minha atenção pelo modo como reflete a luz. É linda, de uma forma letal, aquele tipo de beleza perigosa que só as armas possuem. — Aquela é a Espada do Destino, a arma mais perigosa que existe. Foi portada por Uranos e, quando Gaia o derrotou, manteve a espada para se lembrar do marido. Uma advertência para que o passado não se repetisse.

Olho mais uma vez para a lâmina e então vou até o cetro, analisando-o com atenção. É mais alto do que eu, com uma belíssima trama que lembra areia caindo por toda a extensão do cabo, e sua ponta tem a forma de uma ampulheta em cujo centro está incrustada uma esmeralda, a maior que já vi. O brilho daquela pedra é magnífico. Fico tão absorta contemplando sua beleza que pulo de susto quando papai toca meu ombro.

— Sabe o que é isso, Lydia?

— A Pedra Cronos. — Repito obedientemente o que ele mesmo me ensinou. — O senhor a manteve quando derrotou nosso avô. Ela tem o poder de controlar o tempo.

—  Muito bem. — Ele sorri e aponta para o medalhão — E aquele ali?

— É o Medalhão do Infinito, a primeira joia forjada pelos Titãs.

— Boa menina. — Ele diz, bagunçando meus cabelos levemente. — Ele será seu quando você for mais velha, sabia?

— Por que não agora? — Desafio, melindrada. — Eu já não sou mais criança, papai.

— Tem razão, você já é uma jovem guerreira. — Meu pai declara com orgulho, erguendo-me em seus braços para que nossos olhos fiquem no mesmo nível. — Mas ainda não está pronta. O poder do medalhão é imenso, você precisa de tempo para aprender a usá-lo.

Ainda chateada, olho em volta, e meus olhos recaem sobre o pergaminho. Inevitavelmente, minha curiosidade é despertada por ele.

— E quanto ao pergaminho, papai?

— Que bom que perguntou. — A voz de meu pai carrega a sugestão de um sorriso travesso, uma piada que não consigo compreender. — Esse é o Pergaminho da Vitória. Ele contém o maior segredo do Olimpo, e só deverá ser aberto em tempos de guerra e grande necessidade.

Olho para o pergaminho, desejando ardentemente saber o que diz. Papai, porém, ainda comigo nos braços, ruma para fora da sala antes que eu possa fazer qualquer movimento na direção do objeto.

Despertei da memória com um arquejo, minha mão esquerda firmemente agarrada ao medalhão que ganhara de minha mãe anos antes.

Não, não pode ser ... , pensei, erguendo o pingente na palma de minha mão para olhar mais de perto.

Um exame minucioso comprovou que se tratava, sim, do mesmo medalhão de minha memória. Aquele era realmente o medalhão do Infinito. E a melhor parte era que eu agora me lembrava perfeitamente do caminho que fizera com Zeus naquela noite, mesmo tendo sido há tanto tempo.

Apressei o passo, andando o mais rápido que podia sem de fato correr e logo cheguei a um pequeno lance de escadas, que desci de dois em dois degraus. Lá embaixo estava muito escuro, um abismo do mais absoluto negrume. 

Ergui minha mão esquerda na altura do peito, como Hécate me ensinara, e ela logo começou a brilhar com uma chama branca que não me feria, apenas iluminava.

Guiada por essa luz, avancei pelo corredor de paredes de pedra até finalmente encontrar a porta. Ao alcançá-la, parei, tentando me lembrar. Podia ter recordado o caminho, mas não fazia ideia do movimento que Zeus usara para abrir a passagem. Finalmente, após o que me pareceram horas de esforço, consegui uma resposta de minha memória relutante.

Presto atenção enquanto papai se vira novamente para a porta e ergue uma das mãos. Primeiro a mão esquerda, depois a direita e então a esquerda de novo. Não três movimentos, como eu pensara a princípio, mas vários, e feitos tão rápido que eu não vira na primeira vez.

Guiada por essa lembrança, ergui minha mão esquerda. Quase sem um comando consciente de meu cérebro, meus dedos se moveram, desenhando os símbolos que, juntos, formavam o brasão do Olimpo.

A porta se abriu e entrei na sala, tomando o cuidado de fechá-la novamente atrás de mim. Só então olhei em volta. Nada mudara em relação à minha memória.

Como um ímã, exatamente como acontecera tantos anos atrás, a espada me atraiu. Antes que eu sequer percebesse, estava com ela nas mãos, admirando o modo como a luz das chamas nas tochas se refletia na lâmina. 

Era uma peça admirável, mesmo os séculos não diminuíram seu brilho e ainda parecia afiada. Sua empunhadura negra cravejada de rubis era primorosamente trabalhada. Mesmo sem ser brandida, descansando imóvel na palma de minha mão, cada linha afiada daquela maravilhosa arma ainda exalava perigo. Uma beleza selvagem, que somente poucos sabiam apreciar.

Lydia, rápido! A voz de Atena soou em minha mente, arrancando-me da contemplação. Temos problemas.

Estou indo.

Larguei a espada, peguei o cetro e estava para sair da sala quando lembrei. O pergaminho. A história sobre o mapa …

— Não, é muita loucura. — Sussurrei para mim mesma. — Seria coincidência demais.

Mas mesmo assim voltei atrás e peguei o pergaminho, usando um feitiço espelho para criar uma cópia idêntica. Passaria perfeitamente por uma rápida inspeção, contanto que ninguém o olhasse mais de perto.

Escondi o verdadeiro pergaminho em meu bolso e corri para fora da sala, parando apenas para selar a porta com o mesmo movimento usado para abri-la.

Agora que conhecia o caminho eu não precisava mais de luz, e disparei pelo corredor escuro, chegando na escada antes que percebesse. Subi de dois em dois degraus e então me forcei a parar, escondida nas sombras de uma câmara vazia.

Atena?

Ela me mostrou um breve flash dos jardins do palácio, onde uma serpente enorme dava trabalho para os guardas. Eu soube imediatamente que não tinha muito tempo para agir antes que algo ruim acontecesse.

Minha mente na mesma hora formulou um plano. Eu sabia que o aposento onde me encontrava tinha ligação com a torre que escalara para entrar no palácio, o próprio Zeus me mostrara isso uma vez. Tateando rapidamente as paredes, finalmente encontrei a entrada da passagem secreta.

Praticamente voei pela escadaria íngreme até chegar ao ponto mais alto, de onde podia ver o desenrolar da luta. A própria Atena se envolvera pessoalmente na batalha contra a serpente, com certeza um dos esquemas de Ártemis que saíra do controle, mas estava claro que o monstro tinha superioridade. Era gigantesco, porém ágil e extremamente forte.

O cetro retiniu aos meus pés quando o larguei e minhas mãos se iluminaram com rajadas de energia poderosas.

Afaste-se. Ordenei à minha irmã. Gire 180 graus para a direita e mantenha posição.

Atena me obedeceu imediatamente e isso me deu uma linha de tiro livre para acertar a serpente, porém meu plano não funcionou. Eu a feri, sim, mas não a derrotei. Ao invés disso, só consegui  deixar a peçonhenta ainda mais irritada. Ela rapidamente rastejou para o palácio e começou a subir na torre com uma facilidade surpreendente.

Amaldiçoei-me em silêncio por não portar nem ao menos minha adaga e agarrei o cetro que havia caído aos meus pés, a única arma disponível. Quando o toquei, a esmeralda brilhou tão intensamente que precisei fechar meus olhos.

Assim que a luz diminuiu e consegui abrir os olhos novamente, o que vi me surpreendeu: a serpente parecia estar parada, assim como tudo o mais ao meu redor.

— A Pedra Cronos. — Sussurrei, atônita, finalmente entendendo o motivo de aquela esmeralda ter sido guardada em segredo por tantos séculos.

Sorrindo, estendi uma das mãos, concentrando-me no que queria. Meus dedos quase imediatamente se fecharam ao redor do cabo de minha adaga, no momento exato em que ela se materializou à minha frente.

A esmeralda mais uma vez brilhou e dessa vez eu estava preparada, minha adaga já em posição. Cerrei os olhos, mantendo-os apenas abertos o bastante para poder ver por entre a cortina de meus cílios, e então arremessei. A lâmina voou velozmente, atingindo a cabeça da serpente e matando-a no ato.

Assim que a peçonhenta caiu, senti o cansaço me dominar e tudo voltou a mover-se normalmente. Sem nem pensar duas vezes eu saltei da janela da torre, tomando o cuidado de me manter onde não seria vista. Atena e Ártemis quase imediatamente vieram ao meu encontro.

Mostrei a elas o cetro. Minhas irmãs simplesmente o encararam, surpresas. A loira foi a primeira a se recuperar, avançando um passo para admirar o objeto mais de perto.

— Já li sobre isso, mas nunca o tinha visto. — Seus olhos cinzentos fitavam a esmeralda com surpresa e reverência. — É a Pedra Cronos, não é? A verdadeira.

— Sim, é.

— Agora entendo por que Zeus insistiu tanto para que sua memória fosse apagada. — Atena comentou. — Você sabe coisas que ele preferiria manter em segredo. Talvez coisas demais.

— Faz sentido. Atena … E se foi tudo armação dele? — Cogitei. — Depois da profecia Zeus pode ter percebido …

— Você  não tem como provar isso, Lydia. — Ártemis interrompeu. — A única coisa da qual pode ter certeza é que ele vai ficar furioso quando descobrir o que fizemos.

— Já pensei nisso. — Respondi com um sorriso. — Vou agora mesmo procurar Hefesto. Ele pode fazer uma réplica perfeita e a colocarei lá antes que Zeus perceba que algo aconteceu.

— Sabe de uma coisa, Lydia? — Atena declarou, e a admiração em seu olhar não me passou despercebida. — Acho que a subestimei. Você definitivamente tem mais a oferecer do que aparenta.

Seu elogio e a crítica velada que o acompanhou me fizeram erguer uma sobrancelha. Atena percebeu o gesto e seus lábios se ergueram em um sorriso em resposta.


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