Destinada escrita por Benihime


Capítulo 12
Capítulo X




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Mesmo estando afastada do Olimpo eu não esquecera os problemas que se apresentavam e continuava pesquisando, tentando encontrar uma forma de conseguir informações de Cronos.

Dois meses passaram, sempre em constantes pesquisas. Eu me mantinha atarefada, tentando ao máximo não ter tempo para refletir. Quanto mais me concentrava naquele problema, mais me esquecia dos outros, e era exatamente o que eu queria.

Naquela noite em especial, eu estava tão concentrada lendo um antigo livro de feitiços que pulei de susto ao ouvir a voz de Atena em minha mente.

Acho que encontrei uma pista. Ela disse. Você precisa ver isso.

Então me mostre.

A imagem de um bilhete escrito em uma bonita caligrafia cursiva, quase desenhada, apareceu diante de mim.

Prospector Incantatem

Tractus Conscientiam

Nebulus Speculum

Isso é magia Percebi Magia bem avançada. Definitivamente muito além da minha capacidade.

Sabe o que isso significa, não é?

Preciso voltar Suspirei, derrotada Hécate é a única capaz de nos ajudar com isso.

Não muito tempo depois eu estava em frente aos portões do Olimpo. A chuva caía pesadamente, me ensopando por baixo do casaco grosso. Eu tremia, mas não de frio. Estava apavorada ante a possibilidade de voltar, de vê-lo de novo.

Tentei me convencer de que Atena estava certa, de que era hora de parar de fugir, mas não conseguia evitar o nervosismo ao pensar no que me esperava.

De repente, ouvi alguém se aproximando e paralisei. Eu reconheceria o som daqueles passos em qualquer lugar. Ares. Ele também me viu. Por um momento ficamos parados ali, sem conseguir desviar os olhos um do outro. Meu capuz caiu, deixando mais um pouco de meu rosto descoberto. Ouvi Ares dizer meu nome. Por instinto, me virei e corri.

Naquela noite o máximo que consegui fazer foi me trancar em meu quarto, abalada demais para qualquer outra coisa. Na manhã seguinte, quando acordei, encontrei o bilhete que Atena me mostrara no criado mudo ao lado da minha cama. Havia outro, menor, colocado em cima. A letra era de minha irmã.

Mostre isso a Hécate o quanto antes. Boa sorte.

Fechei os olhos novamente, reunindo forças, e só então me levantei, pronta para fazer o que precisava ser feito.

Hécate pareceu sinceramente feliz em me ver e concordou de bom grado em ajudar, o que me surpreendeu um pouco. Quando mostrei o bilhete, quem pareceu surpresa foi ela.

— Por favor, não me diga que são feitiços muito antigos. Você os conhece, não é?

— Calma, Lidy — Ela disse, obviamente achando graça de minha preocupação. — Os feitiços não são tão antigos a ponto de eu não conhecê-los, mas quase nunca são usados.

Suspirei aliviada. A própria Hécate me ensinara que os feitiços, quanto mais antigos, mais poder e habilidade demandavam. Alguns estavam além até mesmo da capacidade da própria Deusa da Magia.

— Então ... Prospector Incantatem?

— Um feitiço espião — Ela respondeu, sua voz assumindo um tom professoral. — Precisa de velas. Acenda-as em um círculo ao seu redor e fique no centro. Mentalize a pessoa ou lugar que quer ver. O feitiço dura pouco tempo, mas é bem útil. Pode ser usado em um objeto também, em alguns casos mais raros.

— Quanto tempo dura? — Interessei-me.

— Depende da pessoa. O motivo pelo qual esse feitiço não é mais usado é sua complexidade. Poucos conseguem mais do que alguns relances. É preciso uma concentração titânica e um poder maior ainda para conseguir imagens nítidas, especialmente em se falando de longos períodos de tempo.

— E o Nebulus Speculum?

— Espelho da Névoa. — Hécate traduziu. — Permite que crie uma imagem exata de alguém, imaginado ou real. Esse ... Clone, por assim dizer, tem a capacidade de transmitir memórias. Um espião perfeito. Quanto ao Tractus Conscientiam ... Bem, não recomendo que use esse feitiço. Nunca. Jamais, sob nenhuma circunstância.

— Mas por que? O que ele faz? É assim tão terrível?

— Se você tiver prática e poder suficientes, esse feitiço permite que estenda sua consciência até onde decidir.

— Tipo ... Ler mentes?

— De uma forma extremamente simplista, sim, porém é muito mais do que isso. Com esse feitiço, você poderá ver pelos olhos da outra pessoa, sentir o que ele ou ela estiver sentindo e descobrir qualquer coisa que o alvo saiba, quer ele tenha conhecimento disso ou não.

— É isso! — Exclamei, empolgada. — É o feitiço de que preciso!

— Não seja boba, Lydia, esse feitiço é perigoso demais. Se cometer qualquer erro, pode acabar presa para sempre dentro de sua própria mente. Além do mais, este feitiço é proporcional ao seu poder, e ao do alvo. Quanto mais poderosa a entidade alvo, mais energia o feitiço demanda, e maiores as chances de dar errado. Pode inclusive ser voltado contra você mesma, usado para enlouquecê-la lentamente.

— Então qual deles você recomendaria?

— Recomendo o Nebulus Speculum. Sem dúvida requer alguma experiência em magia, mas acredito que não será problema para você. Aqui ... — Ela me estendeu um grimório já aberto na página desejada, como se desde o começo soubesse que eu faria aquela pergunta. — Veja por si mesma.

Li o feitiço rapidamente e então sorri. Seria bem mais fácil do que eu pensava. Infelizmente não tive tempo para tentar realizar o feitiço naquele dia pois, assim que soube que eu estava de volta, Apolo organizou uma festa e Afrodite, obviamente, me alugou para brincar de salão de beleza pelo resto do dia.

A festa começou cedo. Atena e eu entramos no salão de braços dados. Eu ainda não conseguia acreditar que ela me convencera a ir, mesmo eu estando tão decidida a inventar alguma desculpa para ficar sozinha.

— Apolo está fazendo isso por você. — Ela me lembrara. — Ele vai ficar muito magoado se você não aparecer na festa.

— Relaxe, gatinha. — A loira disse, passando um braço por meus ombros ao perceber meu nervosismo — Vai dar tudo certo.

Nós duas ficamos em um canto, meio à parte da festa. Ares chegou logo depois, um pouco antes das onze horas, e não consegui evitar encará-lo. Ele estava muito mais bonito do que eu me lembrava, e usando um terno, o que lhe dava um ar mais maduro.

— Uau! — Exclamei baixinho, sem conseguir me conter.

— Cuidado ou vai começar a babar. Sua boba apaixonada.

— Não estou apaixonada. Ele é bonito, só isso. Ninguém, nem mesmo você, pode negar esse fato.

Virei-me de costas para a entrada, de modo a não vê-lo mais. Mesmo assim, meu coração ainda batia descompassado. Eu podia sentir seus olhos em mim, um olhar que queimava através de minha pele.

— Se prepare. — Atena disse, rindo baixo —  Ele está vindo para cá.

Gemi baixinho, xingando por dentro. Era óbvio que ele me reconheceria, e mais óbvio ainda que não poderia simplesmente me deixar em paz.

— Lydia.

Sua voz me tirou a compostura, e fiz o melhor possível para disfarçar o quanto ele mexia comigo. Eu me sentia como uma adolescente boba perto dele. Fazendo um grande esforço para aparentar indiferença, virei e o olhei nos olhos.

— Oi Ares.

— Posso lhe pedir uma dança, minha dama?

Xinguei-o em pensamento por abrir aquele sorriso torto e mais ainda a mim mesma por me deixar afetar.

— Não é uma boa ideia.

Fui propositalmente fria, rezando para que ele desistisse logo.

— Vá, Lydia. — Atena interferiu, para minha surpresa.

Ela me deu um empurrão leve. Seu gesto foi inesperado e me fez perder o equilíbrio. Caí diretamente nos braços de Ares, que me segurou pelos cotovelos para me ajudar a manter o equilíbrio.

— Por favor. — Seus olhos suplicantes encontraram os meus. — Só uma dança, morena.

Aquele apelido idiota soou estranhamente reconfortante. Por mais ridículo que pudesse parecer, eu gostava quando ele me chamava daquele jeito.

— Só uma dança?

— Não farei nada que você não queira, se é com o que está preocupada.

Acabei me permitindo um sorriso. O senso de humor de Ares nunca mudava.

— Está bem, então.

Minha mão se aninhou na dele. Deixei que Ares me conduzisse até a pista de dança, mas eu não estava preparada. Não estava preparada para o calor de seu corpo junto ao meu. Não estava preparada para o fogo em seus olhos, olhando diretamente para mim. Não estava preparada para sentir seu perfume me envolvendo ... Tudo aquilo era demais para que eu pudesse aguentar.

— Não posso fazer isso.

Confuso, Ares se afastou um pouco. Apenas um passo, como se relutasse.

— Lydia?

— Não, Ares. Simplesmente não.

Girei nos calcanhares e saí correndo, fugindo da festa. Acabei não muito longe, sentada nas raízes de uma enorme tília. Tudo o que eu mais queria era poder ficar sozinha para sempre.


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