Destinada escrita por Benihime


Capítulo 10
Capítulo VIII




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Pulei da cama, as imagens do sonho ainda vívidas em minha mente. Era como se queimassem, e eu precisava me livrar daquilo.

Peguei papel e caneta em minha escrivaninha e inclinei-me para escrever, minhas mãos formando as palavras quase por vontade própria:

Perdida, mas jamais esquecida

Isolada, longe de seu mundo

A Filha da Luz deve retornar

Sangue nobre, filha dos soberanos

Dela será o trono

A Maldição do Titã será lançada

Dividida entre amor e dever

Uma decisão a tomar, uma promessa a cumprir

O destino repousa em suas mãos

E uma delas empunha a espada

Pela coragem desta mulher

A vitória será alcançada

 

Minutos depois

— Sabe o que eu acho? Que isso não leva a lugar algum. Foi apenas um sonho.

— Mas como você soube dessa profecia? — Zeus insistiu.

— Eu estava no templo de Apolo, em Tebas. — Contei. — O antigo Oráculo, Abnara, estava lá. Ela me entregou um pergaminho no qual estava escrito a profecia. Disse que eu devia lembrar disso, que era importante.

— Abnara disse mais alguma coisa?

Ergui uma das mãos, sinalizando que queria um momento para pensar, e fechei os olhos. O sonho agora parecia estar tentando fugir de mim. Quanto mais eu tentava me lembrar, menos conseguia, e levei quase um minuto para conseguir uma resposta à pergunta do meu pai.

— Depois da profecia, ela disse que eu seria decisiva na guerra que estava por vir. Mas não pode ser. Todos sabem que Abnara morreu há muitos séculos atrás. Ela não teria como …

— Não, ela não morreu. — Zeus interrompeu. — Foi aprisionada no Tártaro. E ela era uma semideusa, filha de Apolo.

— Isso ... Isso é alguma piada, por acaso? Aquele sonho não pode ter sido …

— Não foi um sonho, Lydia. — Zeus esclareceu, ecoando meus pensamentos. — Foi, sem sombra de dúvida, uma visão. A profecia é verdadeira.

Dias se passaram depois dessa minha conversa com Zeus. Eu não queria descansar, não admitiria parar nenhum segundo até encontrar uma resposta. Eu sabia que o que precisava estava ali, à minha frente, e o fato de não conseguir encontrar me deixava muito irritada. Era por isso que eu passava metade do meu tempo enfurnada na biblioteca, lendo sem parar.

— Pensando na profecia novamente, não é? — Atena inquiriu, pousando uma das mãos em meu ombro.

Provavelmente aquela foi a única forma que ela encontrara de me arrancar da distração, tão comum nos últimos dias.

— Exatamente. — Respondi. — Tem alguma ideia do que significa?

— Infelizmente não. Venho tentando interpretar de várias maneiras, para ter certeza de que não estou deixando passar nada. É frustrante. Continuo com a sensação de que não estou vendo um detalhe muito importante, algo óbvio.

— Podemos pesquisar mais um pouco, embora eu duvide que encontremos alguma coisa. Já revirei cada canto da biblioteca em que pude pensar.

— Eu também. Mas não custa nada tentar de novo, não é?

Nos separamos entre as estantes, ambas procurando, e voltamos a nos reunir em uma das mesas centrais, cada uma de nós com uma pequena montanha de livros.

— Se não encontrarmos nada aqui, eu desisto. — Informei.

— A resposta sempre está onde menos esperamos. — Minha irmã declarou distraidamente, abrindo um enorme volume sobre os Titãs.

Quando terminei o livro que estava lendo e fui colocá-lo de volta na pilha, notei algo que definitivamente não estava ali antes: um pequeno caderno sem título, de capa negra. Curiosa, eu o abri e folheei devagar até que, perto do final, encontrei algo, uma antiga lenda sobre objetos de poder e a Pedra Cronos que li com interesse:

  Éons atrás, depois de Zeus assumir o trono do Olimpo, havia grande preocupação de que os Titãs ainda pudessem, de algum modo, se reerguer e recomeçar a guerra. 

Foi Atena quem encontrou a solução: cada deus depositaria parte de seu poder em um objeto e esses objetos, essas relíquias, seriam escondidas ao redor do mundo. Somente aquele que a escondera saberia sua exata localização. Dessa forma, caso algum dia os Titãs retornassem, haveria uma chance de vitória. Porém, depois disso, a Pedra Cronos foi usada e a exata localização das relíquias foi esquecida por todos. Ou melhor, quase todos.

Alguns relatos falam sobre um pergaminho, um mapa capaz de apontar a localização das relíquias, mas o atual paradeiro de tal artefato segue desconhecido.

O que li me deixou chocada o bastante para que eu caísse naquele estupor de pensamentos que já me era tão característico. Eu sabia que conhecia aquela história, já a havia ouvido antes, mas não conseguia me lembrar quando nem onde. E o mapa ... Eu ouvira falar de algo sobre ele, tinha certeza.

Suspirei de frustração, tentando trazer a memória à tona. Minha mente parecia trabalhar contra mim e eu não conseguia me lembrar de nada.

— Lydia? — Ouvi Atena chamar. — Lydia!

Pulei de susto e encarei seus preocupados olhos azul-acinzentados. Pela sua expressão, ela já vinha me chamando há algum tempo.

— Está tudo bem? — Minha irmã inquiriu. — Você parecia meio …

— Preocupada. — Completei apressadamente, fechando o livro. — Ainda não encontramos nada, isso é muito ruim.

— Nada? — Seu tom foi desconfiado. Eu sabia que, me conhecendo como ela conhecia, havia intuído a falsidade de minha resposta. — Tem certeza, Lidy?

— Absoluta. — Menti. — A não ser que você tenha tido mais sorte.

— Negativo.

Saímos da biblioteca juntas. Eu ainda estava me perguntando o motivo de ter decidido mentir para Atena com tamanha desfaçatez. Na hora parecera natural, eu estava certa de que era a decisão mais correta, mas será que realmente tinha sido?

À noite

Me esgueirei para a biblioteca e peguei o livro que lera antes, ainda no mesmo lugar em que eu o escondera. Levei-o para meu quarto e tentei ler antes de dormir, mas acabei pegando no sono. Gostaria de dizer que dormi a noite inteira, mas não. Tive um pesadelo.

Um homem entra silenciosamente em meu quarto. Finjo que ainda estou dormindo, não querendo chamar sua atenção.

Quando ele para sob uma réstia de luar que entra pela janela posso ver que é alto, musculoso e seus olhos são muito escuros. Silenciosamente ele vem até mim e sinto a ponta afiada de uma adaga em meu pescoço.

— Não há como escapar, princesa. Você será minha.

Não parece haver dúvidas em sua voz. É apenas um fato. E depois disso não consigo mais ficar parada. Algo no simples pensamento de estar perto dele me causa o mais puro asco.

— Não! — Eu grito. — Deixe-me em paz!

Ele apenas ri. Algo brilha na ponta de sua adaga, queimando minha pele. Eu tento empurrá-lo, mas a dor é muito forte. Luto com mais força. Em um único movimento o homem dobra meus braços acima de minha cabeça, prendendo meus pulsos com apenas uma das mãos, com tamanha força bruta que me surpreende por um momento.

— Não adianta lutar, Lydia. — Ele declara. Eu vencerei no final. Você sabe disso.

— Vai ter que me matar primeiro.

O homem sorri, como que apreciando minhas palavras. Parece que sabe que minha bravata é apenas para esconder o medo que estou sentindo.

— Oh, não. Não, princesa. Tenho algo muito mais ... Interessante ... Preparado para você.

— Ainda não estou derrotada.

— Isso é questão de tempo.

— Veremos.

Uso minhas pernas para dar uma joelhada em seu estômago, curvando meu pescoço de modo a morder seu antebraço esquerdo com força. Isso o faz recuar tempo o bastante para que eu consiga escapar de suas garras.

Acordei embolada nos cobertores, enrolada com tanta força que mal conseguia me mexer. Depois de respirar fundo algumas vezes para me acalmar, me desvencilhei daquele casulo e fui até a janela, respirando sofregamente o ar noturno. 

Meu coração ainda não voltara ao ritmo normal, continuando seu galope descompassado em meu peito. O medo que eu sentia era tanto que ameaçava me sufocar.

Para lutar contra aquele sentimento, peguei uma folha em branco sobre minha escrivaninha e comecei a desenhar o rosto daquele homem hediondo.

Na manhã seguinte

Ares e Atena estavam ao meu lado. Quando mostrei a eles o retrato que fizera na noite anterior, seus olhares de preocupação foram idênticos.

— O que foi? — Eu quis saber — Quem é aquele homem?

— Cronos. — Atena respondeu prontamente. — O Senhor do Tempo.

— Mas ... Mas ... Pensei que ele estivesse morto. Zeus o matou e jogou no Tártaro.

— Isso foi o que todos pensamos.

Ares e Atena se entreolharam. Vi a expressão já séria de minha irmã ensombrecer ainda mais, prenúncio das coisas horríveis que sem dúvida viriam.

— Isso significa uma guerra, não é?

— Encrenca, no mínimo. — Ares respondeu — O que quer dizer que precisamos pensar em um plano de defesa. Temos que ficar à frente desse maldito.

— Algo difícil de fazer estando no escuro quanto aos planos dele. — Minha irmã rebateu ironicamente.

— Usamos o básico. — Ele sugeriu. — E, é claro, podemos tentar obter alguma coisa direto da fonte.

— Enganar Cronos? — Atena parecia surpresa por ele ter sequer cogitado tal possibilidade. — Ares, essa é a ideia mais maluca que eu já ouvi. Quem seria louco o bastante para se voluntariar a uma missão dessas, para começo de conversa?

— Eu, é claro. — O Deus da Guerra respondeu sem hesitar. — A ideia foi minha, eu assumo os riscos.

— Pare com isso. — A Deusa da Sabedoria bufou, irritada. — Jamais daria certo, sabe disso. Cronos não levaria nem mesmo um segundo para descobrir quem você é.

— Talvez sim, talvez não. Atena, há chances de isso dar certo.

— Não. — Eu interrompi. — Ares, você está se arriscando demais por um mero "talvez". Atena tem razão, o mais provável é que esse plano não dê certo.

— Lydia, por favor. — Meu irmão insistiu. — É uma chance de ouro para conseguir informações, não pode ser descartada assim tão fácil. Se houver um espião do nosso lado …

Minha mente já estava trabalhando, pensando a mil por hora, repassando cada coisa que aprendera em busca de uma estratégia, de algo que talvez pudesse funcionar, mas sem sucesso.

— Tem razão, é mesmo uma possibilidade boa demais para ser descartada — Admiti. — Mas não vai ser você, Ares, e não vai ser agora. Precisamos esperar pela oportunidade certa.

— Além do mais — Atena acrescentou em seu tom mais arrogante. — Você nunca conseguiria enfrentar Cronos por conta própria. Idiota.

— Mas eu tentaria.

— E acabaria derrotado.

— Valeria a pena.

— E por que, Ares? — A loira insistiu. — Eu sempre soube o quanto você é burro, mas não imaginei que também fosse suicida.

— Eu tenho minhas razões, Atena.

Meu coração acelerou, não apenas por suas palavras, mas pela forma significativa como seus olhos se voltaram imediatamente para mim enquanto ele falava.


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