Clichês escrita por Miss A


Capítulo 9
Chuva de arco-íris


Notas iniciais do capítulo

Olá milordes e miladys, obrigada por comentarem no capítulo anterior :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740114/chapter/9

Na boate, com meus primos e duas cervejas depois...

— Pensem comigo - Comecei a raciocinar - Se unicórnios fizessem chuva dourada, ela se chamaria chuva de arco-íris, certo?

— Tem tanta coisa bizarra na sua fala que eu nem sei - Albus disse.

— O que tem de bizarro na minha conjectura sexual sobre unicórnios?

— Primeiro: unicórnios não existem.

— Segundo que fazer suposições sobre a vida sexual deles é bizarro - Continuou Roxy.

— Terceiro que chuva dourada é algo nojento seja com humanos ou unicórnios - Completou Dominique.

— Vocês são puritanos.

— Já fui chamado de muitas coisas, mas nunca disso - Albus comentou. Nós rimos.

— Sempre existe a primeira vez - Roxy disse.

— Os meninos estão demorando, não é? Eu estou com sede - Dominique reclamou, enquanto os procurava com os olhos. James e Fred tinham ido buscar mais bebidas.

Estávamos numa mesa no andar de cima da boate, então tínhamos alguma visão do bar. O problema era a multidão.

Mas então conseguimos vê-los.

Estavam no bar, conversando com duas garotas.

Um raro sentimento me ocorreu. Desviei o rosto rapidamente e vi Dominique visivelmente irritada.

— Tinha que ser. Eles estão lá fazendo... fredices.

— Defina fazer fredices - Pediu Albus.

— Ser idiota.

— É uma ótima palavra. Vou usar no futuro - Roxy brincou.

Dominique sorriu.

— Sou mais do que um rostinho bonito - Ela piscou para nós.

— Claro. Notamos seu dom de inventar palavras. Que tal tentar o ramo de dicionários no futuro, Nick?

— Só se você tentar ser a miss simpatia da cidade.

Revirei os olhos. Era impossível ficar brava com Dominique. Ela tinha um sorriso infantil e olhos brilhantes que a protegia de grosseria alheia.

— E as suas fotos com o Fred, Nick? - Roxy perguntou - Ele não me mostrou nada.

— Acho que ele não terminou de editá-las ainda.

Dominique fazia alguns trabalhos como modelo e Fred estava trabalhando em seu novo book.

— Às vezes vocês não têm vontade de desistir de tudo e virar fotógrafo também? - Questionou Albus.

— Eu só seria fotógrafa se você fosse meu modelo, gato - Pisquei para ele.

— Não deixe meu irmão ouvir isso ou vai ficar enciumado.

— É claro que não.

— É verdade - Concordou Roxy - James sempre teve ciúmes de Albus quando se trata de você. Desde quando éramos pequenos.

— É rivalidade de irmãos. Normal.

— Se lembram quando James empurrou Albus naquela fonte? – Lembrou Dominique.

 - E depois nós saímos correndo do guarda do parque.

— Por que ele te derrubou na fonte?

— Porque ele é um idiota.

— Acho que ele estava bêbado.

— Eu tenho certeza que ele estava bêbado.

— Podíamos ir para a praia qualquer dia desses, o que acham? Faz tempo que não nos reunimos - Propôs Albus – Podia rolar um luau na praia. Roxy levaria o seu violão. Teria cervejas. Maconha.

— Tirando a parte da maconha, tudo parece ótimo - Dominique comentou.

— Por que, Nick? Maconha é legal.

— Eu não saberia dizer já que nunca provei.

— Eu te mostro, gata.

— Ahn, não, obrigada.

— Não seja careta, Nick.

— Já fui chamada de muitas coisas, mas nunca disso - Ela soltou. Roxy gargalhou alto e eu a acompanhei.

— O que é tão engraçado? - Perguntou Fred.

— Você saberia se estivesse aqui ao invés de ficar flertando com garotas.

Se vozes pudessem se parecer com produtos químicos, a de Dominique seria ácido.

— Flertando? Nós fomos buscar bebidas para vocês - Ele disse e colocou as garrafas na mesa. James se sentou na cadeira vaga ao meu lado.

— Concordo com ele, Nick. Fred dando em cima de alguém? Impossível - Roxy zombou.

Fred lançou um olhar mortal para a irmã.

— O que? Só estou dizendo a verdade, maninho.

Fred bufou e se sentou entre Dominique e Roxy.

— Elas começaram a conversar com a gente e nós conversamos com elas - James explicou – Incrivelmente, eu não joguei cantada em ninguém.

— Quer uma medalha? - Roxy zombou.

— Não teria problema se você cantasse alguém, James. Suas cantadas são horríveis - Falei.

— Que? Claro que não!

— Claro. Porque “Me chama de Estados Unidos e me USA” certamente funciona.

— E como você explicaria minha longa lista de amantes?

— Amantes - Fred imitou James com um tom jocoso.

— Um rosto bonito - Dominique explicou.

— E conversas interessantes - Complementei - Depois que você para de tentar ser engraçado.

— Você está dizendo que eu não sou engraçado?

— Não. Estou dizendo que quando você tenta ser engraçado, você não fica engraçado.

— Não deem mais bebida para Rose. Ela já está bêbada - Roxy brincou.

— Não estou não.

— Sinceridade é um dos sintomas da embriaguez.

— Eu sempre sou sincera – Defendi-me - Não é James, querido?

— Claro. Você é tão sincera quanto esse seu querido.

Dominique se levantou.

— Vamos dançar, Rose.

Torci o nariz.

— Sei não...

— Eu vou com você - Fred se ofereceu.

— Não. Prefiro a Rose. Ela é mais bonita - Dominique retrucou.

Todo mundo riu.

— Só vou porque você me elogiou - Eu disse, me levantando - E porque eu não resisto a rostinhos bonitos.

Dominique riu.

— Se rolar beijo de novo, me chama - James avisou. Eu o fuzilei com os olhos.

— Oi?

— De novo?

— Vocês duas já...?

— Ele não está falando de Dominique - Expliquei.

— Então teve outra? - O sorriso de Fred apareceu.

— Isso é algo que vocês não vão saber -  Isso é algo que não é da conta de vocês - Respondi e dei um tapa no braço de James - E você feche a boca.

Ele riu. Dominique me arrastou dali e fomos para a pista de dança.

 

 

— Rose?

— Scorpius!

Parei de dançar e Dominique esbarrou em mim, empurrando-me para frente, agarrei seu corpo e a levei junto, porque sou dessas. Quase caímos com Scorpius no chão, mas ele nos segurou e nos manteve em pé.

Rimos e nos afastamos.

— Essa é a minha prima Dominique - Gritei para que ele pudesse me ouvir. O som estava muito mais alto na pista de dança. Dominique sorriu e acenou para ele - Ele é Scorpius, amigo do Fred.

Ela segurou meu braço e berrou no meu ouvido:

— Estou com sede. Vamos sair daqui.

Concordei com a cabeça. Olhei para Scorpius e apontei para o bar.

Dominique tirou o dinheiro da calça para pagar as bebidas e Scorpius segurou seu braço.

— Eu pago.

— Não, eu...

— Pode deixar.

Nick olhou para mim. Dei de ombros. Ela deixou que ele pagasse.

— Fred está aqui também - Eu o informei. Ele assentiu.

— Você está sozinho?

— Não, vim com um amigo. Ele deve estar em algum lugar por aí - Ele olhou ao redor, mas não o encontrou.

Scorpius olhou-me e sorriu. Era um sorriso bonito.

 

 

Dominique ergueu a sobrancelha, enquanto bebia seu drink. Eu ergui a minha, em resposta. Ela sorriu.

— Vou voltar para a mesa. Obrigada pela bebida, Scorpius.

Ela saiu antes que eu pudesse falar alguma coisa. Traidora.

Com medo do hediondo silêncio que poderia se instalar, falei a primeira coisa que surgiu em minha mente.

— Você quer dançar?

— Tenho escolha?

— Receio que não.

Ele sorriu e estendeu a mão, eu a tomei e voltamos para a pista de dança.

 

 

Depois de duas músicas e piadas sobre a forma como Scorpius dançava, o ritmo mudou e uma música pop lenta começou a tocar, fazendo as pessoas ao nosso redor dançarem em pares.

Scorpius deu um suspiro de alívio quando passei os braços por seu pescoço.

— O que foi?

— Isso eu consigo manejar - Ele colocou as mãos em minha cintura.

Scorpius era um pouco duro quando se tratava de músicas agitadas, mas havia sido divertido dançar com ele.

— Não tem nenhuma citação hoje?

— Melhor não. As únicas que veem em minha mente são trechos de poemas do Bukowski.

Eu ri. Os temas favoritos de Bukowski eram bebidas, mulheres e sexo.

— Ele não é ruim.

— Também não acho que seja, mas talvez fosse impróprio da minha parte citá-lo.

Aquilo soava como uma indireta.

Eu sei que tinha flertado com ele no passado, mas no presente eu não estava interessada.

Eu só estava ali agora porque achei que poderíamos ser amigos. Afinal, ele gostava de literatura e parecia ser alguém legal.

— Talvez fosse – Era melhor deixar as coisas claras – Tão impróprio quanto dar um livro do Saramago¹ para um religioso.

Ele riu.

— Esse foi o melhor fora que eu já recebi.

Olhei-o, chocada.

— Eu não... Quer dizer, você não sabe que falar assim, descaradamente, é grosseria? Que tipo de britânico você é?

Ele ergueu a sobrancelha.

— Você me dá um fora e me ofende? Estou extremamente feliz por ter levantado da cama hoje.

Estreitei os olhos. Aquele garoto estava gozando com a minha cara.

— Você sabe que eu estou próxima o suficiente para te machucar, certo?

Ele sorriu.

— Desculpe, eu tenho certo impulso incontrolável em irritar garotas bonitas.

— Sério? Nem percebi.

— Ei, eu te fiz um elogio.

— Eu estou lisonjeada, não está vendo?

Seu sorriso aumentou.

— Você é divertida, Weasley.

— Você também não é tão ruim assim, Malfoy.

— Vou encarar isso como um elogio.

— Cada um faz a interpretação que deseja.

A música acabou. Soltei-me de seus braços.

— Acho melhor eu ir agora.

— Uma pena. Mas se mudar de ideia e precisar aprender novos passos de dança, me procure.

Indireta recebida com sucesso.

— Quem sabe?

 

 

Quando voltei para a mesa, só estavam James e Albus. Tomei o resto de cerveja que havia deixado no meu copo.

— Cadê os outros?

— Fred arrastou Dominique para dançar e Roxy foi ao banheiro.

— Espero que eles não se estapeiem no meio de todo mundo.

Fred e Dominique tinham a tendência de brigarem por qualquer coisa.

— É bem provável - Albus disse – Onde você estava?

— Dançando.

— Sozinha?

— Com um amigo.

James bufou.

— O que foi?

— Ele é um babaca.

— Ele quem?

— Scorpius Malfoy.

— Não conheço.

— Não está perdendo nada.

Fulminei James.

— Eu já te avisei sobre ele, mas parece que você me ignorou.

— James, nós já tivemos essa conversa.

— Conversa que obviamente você esqueceu.

— Qual é o problema? – Perguntou Albus.

— Eu também gostaria de saber, mas ele fica de glicose anal.

— É algo pessoal de alguém que eu conheço.

— Desembucha logo – Albus falou.

Ele olhou para nós e deve ter percebido que não íamos deixá-lo escapar. James suspirou.

— Ele teve um caso com uma aluna.

— Antiético, mas nada tão terrível.

— Acontece que a garota era de menor – James continuou – Os pais descobriram, Scorpius deixou a garota e em troca o deixaram sair sem alarde. Ele se “demitiu”. A garota ficou muito mal, mas Scorpius saiu ileso.

— Você conheceu a garota?

— É a irmã de uma amiga.

— Quantos anos ela tinha?

— Uns dezessete.

 

— O que aconteceu? Ele se aproveitou dela? A iludiu em troca de sexo?

— Não sei ao certo. A garota disse que eles estavam apaixonados, mas ele desistiu bem fácil para quem estava apaixonado, não?

— Detesto esses casos de professores e alunos.

— Alguma experiência ruim nesse campo, Albus?

— Não. Ainda não.

— Sobre Scorpius, não acho que ele deveria ter se envolvido com uma aluna, mas eu gostaria de ouvir sua parte da história antes de julgá-lo.

— Eu deixaria alguém se minha carreira pudesse ser manchada – Albus declarou.

— Ele deveria ter pensado nisso antes de se envolver com uma aluna e menor.

Eu concordava, mas não queria lhe dar a satisfação de estar certo.

Por sorte Roxy voltou para a mesa e o assunto não se prolongou.

— Você está parecendo um zumbi - Albus disse para ela.

— Me apresentei num bar ontem. Virei à noite e dormi pouco.

Ela bocejou e eu a acompanhei.

— Também estou com sono. Que horas são?

— São quase três.

— Acho que vou embora - Roxy falou.

— Não se esqueça do almoço na Toca amanhã.

Toca era como chamávamos a casa dos nossos avós, o porquê eu não saberia dizer. Eles viviam num sítio que ficava a uma hora de Londres.

Meus pais e meus tios moravam no centro do mesmo município.

Roxanne gemeu.

— Já havia me esquecido.

Almoços na Toca eram mensais e estritamente obrigatórios.

— Você não tem opção.

— Eu posso dizer que estou doente.

— A vovó iria vir para Londres te trazer remédios e comida - Albus observou.

— Claro que não. Ela detesta Londres.

— Você está subestimando seu amor e preocupação pelos netos - Afirmei.

Ela gemeu de novo.

— Eu amo a vovó, mas fico com preguiça só de pensar em acordar cedo e ir até lá.

— Todos nós compartilhamos do mesmo sentimento.

Suspiramos.

Roxy se levantou e se espreguiçou.

— É melhor eu ir.

— Eu vou com você - Albus disse - Podemos rachar um táxi.

Eles moravam razoavelmente perto. Roxy dividia o apartamento com uma garota da sua banda e Albus ficava no dormitório da universidade.

— Pode ser.

Eu me levantei para abraçá-los.

— Não se atrase amanhã.

— Você quer dizer hoje - Roxy me corrigiu.

— Exato.

— Tentarei.

Ela acenou para nós e ambos se afastaram.

— Vamos procurar o Fred? - Perguntei para James - Quero ir embora também.

James concordou e descemos para o primeiro andar da boate. Segurei seu braço para que não nos perdêssemos um do outro e torci para que encontrássemos Fred e não Scorpius. Não queria que o clima entre James e eu fosse prejudicado.

 

 

Para a nossa surpresa os encontramos sentados no chão, perto da pista de dança. Ambos escorados na parede e abraçados.

Dominique, de olhos fechados, estava com a cabeça apoiada no ombro de Fred e o mesmo tinha um braço em volta dela.

— O que é isso? Vocês estão tentando ser esmagados? - James zombou.

Dominique abriu os olhos e se afastou de Fred.

— Eu estava cansado e ela se aproveitou de mim - Fred explicou.

Dominique o fuzilou com os olhos.

— Tantas pessoas para eu me aproveitar e você acha mesmo que eu iria me aproveitar de você?

— Ai. Essa doeu, anjo.

Dominique revirou os olhos e se levantou.

— Eu quero ir embora.

— Tudo bem por mim - Disse Fred, se levantando.

— Eu estou morta.

— Por que você não vai para casa? - Perguntei - É mais perto.

Ela olhou para Fred e franziu o nariz.

— Não sei se quero dividir o mesmo teto com ele.

— Você não estava reclamando quando usava meu ombro como travesseiro.

Olhei para James, ele olhou para mim. Ter Dominique e Fred por perto podia ser divertido ou irritante.

— Decida-se logo - Pedi.

— Eu vou.

Saímos da boate e pude respirei ar puro finalmente. Quer dizer, não tão puro porque havia alguns jovens fumando maconha ali perto.

Dominique enganchou o seu braço no meu.

— Está frio – Ela comentou. Eu gostava.

Ficamos ali por alguns minutos, esperando algum táxi passar. Olhei para cima. Havia poucas estrelas no céu.

Suspirei, me sentindo um pouco melancólica.

Talvez fosse a hora das tropas recuarem de Moscou e marcharem para a França².

Talvez também fosse a hora de parar de usar metáforas históricas para descrever minha relação com James.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1. Saramago: único escritor da língua portuguesa laureado com o prêmio Nobel de literatura. Era ateu e escreveu algumas releituras de histórias da Bíblia. Vocês devem imaginar como os portugueses religiosos ficaram ao lerem a cena onde José e Maria copulam para conceberem Jesus no livro “O evangelho segundo Jesus Cristo”.
2. Referência a Napoleão Bonaparte e sua expedição fracassada a Rússia. No caso, Moscou é James, Rose é a França e as tropas são as flechas de Eros. Haha.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Clichês" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.