Clichês escrita por Miss A


Capítulo 5
Taxistas que leem fanfics


Notas iniciais do capítulo

Olá miladys e milordes ♥
Mais Rose sendo maravilhosamente Rose para vocês.
Boa leitura.



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Abri os olhos lentamente e percebi que tínhamos caídos no sono em algum momento entre um documentário e outro. James estava me abraçando e Fred estava com a cabeça quase nos meus peitos. Que cena comprometedora.

Eles até que ficavam fofos dormindo. Fred parecia um anjinho. Sem sorriso malicioso, olhos ambíguos e comentários debochados. Confesso que até dava vontade de beijá-lo.

Fechei os olhos e sacudi a cabeça para afastar o pensamento. Outro amigo não, Rose. Ou você iria morar na rua.

Tentei me levantar sem fazê-los acordar. Missão fracassada. Ambos despertaram.

— Que horas são? - Fred perguntou, esfregando os olhos.

— São 20h - Respondi, olhando no relógio ao lado da cama.

— Já? Estou atrasado.

— Você vai onde?

— Para uma boate.

— Não sabia que boates precisavam de horário marcado.

— Não precisam. Mas a pessoa com quem eu vou sair sim - Ele falou e saiu do quarto.

— Será que ele está saindo com um homem? - Eu perguntei para James.

— Que? - James me olhou perdido.

— Ele não nos conta com quem está saindo e está usando a palavra pessoa ao invés de garota ou mulher.

— Talvez ele só quer deixar claro que é um homo sapiens e não um alienígena.

Dei de ombros.

— Talvez.

James se sentou na cama e olhou ao redor.

— E nós?

— O que tem?

— O que vamos fazer hoje à noite?

— Não sei. Você quer sair?

— Eu preferia transar.

Revirei os olhos.

— Vamos sair para dançar.

Seu rosto adquiriu uma expressão desanimada.

— E tirar com a cara das pessoas - Propus.

— Está aí algo que me motiva.

 

 

— Você tem certeza que seguir o Fred é algo sensato?

— Sensato não, mas vai ser divertido – Respondi. Estávamos escondidos atrás de algumas árvores, esperando que Fred entrasse em um táxi para que pudéssemos entrar em outro logo em seguida.

— Não vai ser divertido quando ele nos pegar aqui.

— Por que ele olharia para árvores?

— Sei lá. Por que ele não olharia?

Eu olhei para a árvore onde eu estava encostada, antes que eu pudesse fazer algum comentário, James apontou para Fred.

— Ele está entrando no táxi.

— Venha – Eu o puxei pelo braço e fiz sinal para o táxi que passava por ali. Que grande sorte. Até parecia cena de história fictícia.

Entramos no táxi rapidamente e pronunciei as palavras mais orgásticas da minha vida.

— Siga aquele táxi.

O taxista se virou para me encarar.

— Estamos em uma fanfic ou algo assim?

Eu fiquei chocada.

Primeiro: ele queimou o meu esquema!

Segundo: como diabos um taxista sabia o que era uma fanfic?

Encarei-o ultrajada.

— Senhor, só siga aquele táxi ou essa garota vai ter um surto psicótico aqui no seu carro.

O taxista provavelmente ficou receoso ao saber que transportava uma lunática e seguiu o seu caminho.

 

— Aquele taxista quase nos fez perdê-lo!

— Eu sei, mas...

— A função primordial de todo taxista é seguir outro carro!

— É claro que...

— O quão difícil isso pode ser?

— Rose, você deveria...

— Está nos mandamentos dos taxistas! “Tu seguirás todo e qualquer veículo”.

— Que?

— É o primeiro mandamento.  

— Do que você está falando?

— Dos mandamentos dos taxistas.

— Isso não existe.

— Claro que existe. Eu escrevi.

James ergueu uma sobrancelha.

— Ok, eu não escrevi, mas vou escrever. É hediondo que em pleno século XXI os taxistas atuem dessa maneira.

Ele revirou os olhos.

— Eu gostaria de saber como é que aquele taxista sabe o que é fanfic.

— Veja, o Fred já entrou na boate.

— Aposto que ele fica lendo fanfics hentai ao invés de seguir outros carros.

James deu um suspiro ruidoso e, segurando minha mão, me arrastou para a fila da boate.

— Não precisa ser grosso. Está parecendo aquele taxista grosseiro.

— Rose, eu juro, que se você não calar a boca agora e parar de falar desse taxista eu nunca mais encosto minha boca na sua.

Eu dei um sorriso debochado. Quanta presunção. Abri a boca para falar, mas James me interrompeu.

— É sério, Rose, se você falar mais uma palavra sobre o taxista eu te largo aqui.

— Eu só ia avisar que a fila andou – Eu disse inocentemente e apontei para o enorme espaço vago na fila. Ele me lançou um olhar irritado antes de caminhar.

 

— Como você espera encontrar Fred nesse lugar cheio e escuro?

— Uma hora ou outra a gente vai se esbarrar – Eu disse enquanto entrávamos na boate – Só não entendo porque ele está com vergonha de nos apresentar a namorada trans dele. Será que ele acha que vai ser julgado?

— Pensei que você tinha dito que era um namorado.

— Pois é, mas seria clichê. Quero um pouco mais de diversidade.

— Deveríamos termos ido a uma boate gay então.

— Droga. Por que você não falou antes? Agora estamos condenados à noite toda nessa boate hetero sem graça.

— Você é inacreditável.

— O que foi? Só estou dizendo verdades. Desculpa se ofendi o seu ego hetero.

— Vamos ao bar. Preciso de bebidas.

 

— Amigo? – Eu cutuquei um cara alto cheio de tatuagens nos braços.

— Oi? – Ele deu um sorriso cheio de dentes brancos.

— Meu amigo ali pediu o seu número – Eu apontei para James que estava no bar, bebendo despreocupadamente sem imaginar que eu estava arrumando um encontro para ele.

— Desculpa, moça, mas eu não beijo rapazes.

Encarei-o com uma expressão dramática por vários segundos.

— Você está bem?

— Você precisa ir lá dizer isso para ele, amigo. Ele não vai acreditar em mim, ele jurou para mim que você era gay. Eu já não aguento mais passar vergonha porque o radar gay dele não funciona, moço.

Ele me olhou e depois olhou ao redor, esperando que alguém viesse socorrê-lo, provavelmente.

— Eu...

— Sério, moço. Por favor, vá lá – Eu coloquei a mão no rosto, fingindo desespero – Ou é bem provável que aquela bicha má vá me bater.

— Eu acho que... Tudo bem, eu vou lá.

Eu assenti com a cabeça, secando lágrimas inexistentes. Fiquei ali observando o homem tatuado seguir até James. O Potter ficou vermelho e seu olhar varreu a boate até me encontrar quase tendo uma parada cardíaca de tanto rir.

 

— Você vai pagar por isso – Foi o que James disse depois que voltei para o bar. Eu tinha ido até o banheiro esperando que o tempo o acalmasse.

— Você sabe que eu te amo.

— Acho que amor para você tem um significado diferente.

— Não significa zoação e mal criação seja na bad ou na copulação?

— Tão bonitinha, mas tão chatinha.

— Bonitinha? Sério, James? Você é cego? Eu sou mais do que bonitinha.

Ele me olhou e expressou um sorriso malicioso.

— Na verdade eu consigo pensar em vários adjetivos impróprios para te descrever.

Peguei seu copo e tomei um gole da sua bebida.

— O que você acha de darmos uns amassos num canto escuro da boate?

— Agora você falou algo interessante.

 

Era difícil me controlar perto de James.

Perto dele eu sempre achava uma boa ideia agarrá-lo.

Longe dele eu tinha certeza que essa era a pior ideia existente no planeta Terra.

Perto dele eu só queria arrancá-lo de suas roupas.

Longe dele também.

— Nós deveríamos voltar para casa– James sussurrou no meu ouvido.

— E perdermos a oportunidade de pegar Fred num encontro triplo?

— Encontro triplo?

— É. Com o cara e a moça.

Senti James sorrir sob a minha pele. Ele estava quente.

Eu estava quente.

Aquela boate provavelmente tinha o seu próprio efeito estufa.

— Você tem certeza que não quer ir para casa terminar o que já começamos? – Ele perguntou. Sua voz no meu ouvido e suas mãos pelo meu corpo eram bem persuasivas.

— Transar é algo que podemos fazer a qualquer momento. Ver Fred chocado e de olhos arregalados não.

— Temos noções de prazer diferentes.

— Duvido. Você só não quer admitir que ver Fred mentalmente transtornado te enche de satisfação e excitação.

— Acho que não.

Revirei os olhos e empurrei o seu ombro.

— Vamos sair daqui e caçá-lo.

Ele suspirou.

— Me dê um segundo.

Apertei os olhos e esbocei um sorriso malicioso.

— Eu proporia te ajudar com isso no banheiro masculino, mas não é nessa reencarnação que vou pôr os pés no banheiro imundo que deve ser o daqui.

— Como você sabe já que nunca entrou lá?

— Porque todos os banheiros masculinos são imundos.

Ele não pôde argumentar.

 

Enquanto estávamos andando pela boate notei um casal bastante atraente dançando abraçados. O rapaz me lançou um sorriso pervertido. Olhei para James e um sorriso maldoso involuntariamente surgiu.

— Ei, você! Você de vermelho mesmo! Não tem vergonha de ficar paquerando uma mulher enquanto está agarrando outra? – Eu me aproximei do casal e James prevendo o que eu ia fazer me acompanhou.

— O que você disse, amor? Esse cara estava dando em cima de você?

O rapaz ficou lívido. A garota se desgrudou dele e o encarou, furiosa.

— Eu... É claro que não. É um mal-entendido.

— E agora está me chamando de mentirosa?

— Seu cretino! – A garota o empurrou e se mandou dali.

— Eu vou socar a cara desse idiota – Disse James, fingindo-se de furioso.

— Amigo, eu... Não precisa disso. Eu não sabia que ela estava com alguém. Foi um mal-entendido. De verdade!

— Deixa quieto, amor. Esse lixo humano não vale o nosso tempo.

Segurei a mão de James e o puxei. Quando sumimos de vista do cara, desatamos a rir.

— Deveríamos fazer isso mais vezes.

— Espere só eu ir até o banheiro e podemos fazer isso novamente – Falei.

 

Sai do banheiro e comecei a ir até o bar, onde tinha combinado de encontrar James, quando uma garota me interceptou.

— Oi – Ela sorriu. Tinha um sorriso lindo. Na verdade, ela era bem bonita.

— Oi – Eu sorri de volta, porque seu sorriso era contagiante.

— Aquele rapaz ali me disse que você estava disponível e interessada, então eu... Ahn, foda-se.

Sua frase só fez total sentido quando senti sua boca chocando-se contra a minha. Um sorriso maquiavélico brotou nos meus lábios e ela tomou isso como um incentivo e investiu mais em mim, o que era exatamente o que eu queria que ela fizesse. Segurei seu rosto e não só permiti que ela invadisse meu território como também ataquei o seu, com o exército todo.

James queria guerra, então ele teria.

 

Minutos depois voltei para o lado de James, com o número de telefone da garota, que se chamava Cecília, além da sua saliva em minha boca.

— Satisfeito?

— Foi um belo show.

— Eu sei. Eu beijo bem pra caramba.

— É sério. Me deixou de pau duro.

— Bem, isso é problema seu. Não preciso mais de você, agora tenho a Cecília para cuidar do meu apetite sexual.

— Mas ela não tem um pênis.

— Você não faz ideia de como dedos e língua podem satisfazer uma mulher.

— Cecília pode cuidar do seu desejo sexual, mas duvido que ela aguente suas conversas bizarras.

— Não sei não, ela disse que detestava Bonaparte e que amava Ana Bolena¹. Acho que nos daremos muito bem.

— Veremos isso depois que você começar a reclamar dos taxistas da cidade.

— Eu só reclamei de um taxista.

Ele ergueu a sobrancelha.

— Foi você que mencionou o assunto, não eu.

— Certo. Eu estou a fim de ir embora.

— Já? Nem encontramos Fred ainda! E nem dançamos!

— Eu não vou dançar.

— Qual é, James! Vai ser divertido.

— Não.

— Por favor?

— Não.

— Eu deixo você pegar na minha bunda.

 

Várias músicas depois estávamos acabados. Pedimos água no bar e nos preparamos para ir embora.

— É uma pena que não encontramos Fred.

— A boate está muito cheia.

— Acho que vamos ter que grampear o celular dele.

— Claro que sim – Ele ironizou.

— Ou contratar um detetive particular.

— Você vai dar bons conselhos assim para os seus pacientes?

— Eu nunca disse que vou trabalhar como psicóloga.

— Está cursando psicologia para que então?

— Para ser a garota do tempo no jornal, não é óbvio?

Ele rolou os olhos.

— Vamos embora.

— Eu só não quero ir com o mesmo taxista.

— Isso é impossível. Tem centenas de taxistas na cidade, as probabilidades são ínfimas.

 

Acontece que não eram tão ínfimas assim.

— O senhor lê fanfic do que?

— Fifty Harmony. São ótimas – Comentou o taxista todo entusiasmado.

Franzi o cenho.

— E me diga uma coisa, senhor, os taxistas possuem algo semelhante aos dez mandamentos dos taxistas?

— Eu acho que não. Por quê?

— Nada não, senhor – Respondi e virei-me para sussurrar para James – Será a minha chance de ficar rica.

Pela centésima vez naquele dia ele revirou os olhos.

 


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Notas finais do capítulo

1. Ana Bolena: Rainha da Inglaterra, esposa de Henrique VIII, escândalo da cristandade. Convenceu o rei a anular seu casamento com Catarina de Aragão para se casar com ela, o que contribuiu para que ele criasse a Igreja Anglicana.

Só eu shippo FredRose? *risada maléfica*
Rose é altamente shippável, não acham?
Vejo vocês nos comentários e obrigada por acompanharem até aqui ♥