Coração de Carmesim escrita por Narrador sem nome


Capítulo 5
Parte 5 - anônima




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A imaginação sempre esteve presente no ser humano deste que ele teve a noção do mundo a sua volta, as histórias e relatos envoltos ao faz de conta permeou a civilização, o homem sabia contar histórias de acordo com relatos incompreensíveis em sua mente e por conta da alta confiabilidade entre eles foram criados mitos e lendas que não se sabe ao certo se eram reais ou não.

O faz de conta serviu por muito tempo explicar fenômenos que eles não sabiam ao certo como funcionava, deste os relâmpagos atordoantes até o movimento das marés, mais tarde pensadores decidiram procurar saber como realmente o mundo funcionava, a imaginação foi deixando de ser real aos poucos até se tornar algo impalpável.

Tudo se torna real quando se crê. Se antes a fúria da natureza era marcada por uma batalha de Deuses colossais com poderes além da realidade, agora tudo tem um cunho físico e empírico para poder explicar.

O mundo da imaginação era formado por incontáveis portas, portas negras e claras, portas que formavam escadas espirais para todos os cantos, direita, esquerda, acima, abaixo, um local formado por incontáveis ideias de diversos escritores, leitores, fixistas, romancistas e mentirosos. A cada nova ideia, a cada nova criação, um ser imaginário brotava no mundo da imaginação, e quando as pessoas acreditavam a sua existência ele se materializava no mundo físico tornando-se palpável, tornando-se real, essa interação entre o real e imaginário era separado por uma barreira, tão fina quando um papel A4, tão frágil quanto um papel manteiga, uma simples aspiração poderia danificá-lo, mas para essa aspiração fosse criada era necessário que uma quantidade exuberante de pessoas começasse a acreditar.

Apenas acreditar.

O rei do mundo da imaginação descontente com as pessoas do mundo real decidiu colocar seu plano em ação, com seus poderes extraordinários ele criou um lápis que serviria como uma porta para seu mundo, assim ele torceu para que alguém começasse a acreditar nele, em sua bola de cristal que se encontrava acima da coroa ele assistiu a única pessoa que pudesse fazê-lo real, seu nome, Jade.

Jade com seus cinco anos ouvindo uma história infantil contada pelo seu pai, a história sobre o rei da imaginação, um conto que ele uma vez transpassou para um escritor fracassado, sua história foi suficiente para tirar este escritor do fundo do poço.

— Este é meu alvo! – Pensou o rei triunfante.

Assim a Jade acreditou na existência do rei do mundo da imaginação, e assim ele começou a existir.

Mesmo se tornando adulta, no fundo ela acreditava no rei, o que permitiu manter sua existência até o momento do seu encontro no boliche, aproveitando ao bloqueio criativo dela, ele decide dar o lápis que seria a chave de seu mundo, com a desculpa de que todo o bloqueio criativo seria sanado se utilizasse aquele lápis. Tudo correu conforme ao seu plano.

Dentro do escritório dela, o rei do mundo da imaginação disfarçado em um senhor de idade pegou de volta o lápis que era seu por direito.

— Com ela dentro da sua própria estória servirá como válvula de escape para que todo o meu mundo se torne real.

E assim o rei da imaginação gargalhou diabolicamente até ser interrompido por um boneco de madeira.

— Sério mesmo vossa majestade? Precisa dizer alto e claro para todo mundo ouvir.

— Ora, se eu não disser o leitor deste conto não saberá o meu real plano.

— Isso é clichê demais. – resmungou o boneco de madeira.

— Calado, real boneco! Ou o mandarei de volta aos contos de Carlo Collodi.

— Como se eu me importasse em retornar para lá!

O seu nariz cresceu alguns centímetros.

— Não sabes nem esconder a sua própria mentira. Real!

A existência de ambos se apagou como uma fumaça sendo dissipada quando sentiu a presença de alguém nas proximidades, a porta do escritório de Jade se abriu e uma mulher de cabelos alaranjados olhou pela fresta da abertura.

— Jade, está aí? – Indagou a moça que escancarou a porta.

“Que estranho, ela nunca deixa a porta aberta e eu juro que eu ouvi pessoas conversando aqui dentro”. – Pensou a moça.

O lápis dourado na escrivaninha da Jade chamou-lhe a atenção, ela foi até o objeto e o pegou.

— Que lápis inusitado, eu acho que ela não vai se importar se eu pegar emprestado.

Assim ela a guardou dentro do bolso da jaqueta e fechou a porta, as folhas jogadas no chão começaram a rodopiar como um redemoinho até ganhar a forma do próprio rei do mundo da imaginação.

— Mas que empecilho, eu me esqueci de desmaterializar o lápis. Real.

 Um boneco de madeira logo saiu de dentro de um livro caído no chão, as letras desapareceram quando ele se materializou.

— Você é tão desastrado que nem pensou nessa possibilidade.

— Calado, real, eu quero que você pegue aquele lápis o mais rápido possível!

— E se eu não quiser? – Desafiou o boneco de madeira.

— Eu irei apagar a sua existência da imaginação de todas as pessoas do mundo, isso é o mesmo que mata-lo, não é mesmo? Irreal.

O boneco de madeira tremeu como se sentisse a intimidação da morte de perto, assim ele correu para a porta, mas logo se lembrou de sua aparência.

— Mas se eu sair desse jeito eu irei chamar a atenção de todos.

— hmm, tem razão. Real.

O velho senhor tocou na testa do boneco e com um passe de mágica ele se tornou em um menino em carne e osso.

— Ah! Eu me tornei um menino, meu desejo foi realizado. – Disse o garoto com um sorriso confortante estampado no rosto.

— Agora vá e pegue de volta meu lápis, antes que eu o faça desaparecer. Real.

— Sim, eu estou grato por tudo que você fez e por isso eu irei cumprir essa missão sem titubear.

Três semanas se passaram e o garoto não sabia como ele poderia se aproximar da mulher que havia pegado o lápis dourado do escritório de Jade, enquanto esperava em um banco no ponto de ônibus, um grilo se aproximou dele sorrateiramente, e ao subir no seu ombro começou a falar.

— Ela saiu da casa dela há poucos minutos, se pegarmos aquela bifurcação nós chegaremos ao encontro dela. – sussurrou o grilo.

— Tem certeza que este plano irá funcionar? – Indagou o garoto.

— Confia em mim, com certeza irá funcionar.

O garoto se levantou do banco discretamente e atravessou a rua, passou por um beco escuro e logo a viu andar distraída procurando algo dentro de sua bolsa, assim o garoto correu em sua direção e acabou se chocando contra ela que deixou a bolsa cair e esparramar todas as coisas pelo chão.

— Presta atenção menino! – Reclamou a moça que começou a juntar suas coisas.

O garoto aproveitou a chance para juntar as coisas dela e começou a vasculhar em busca do lápis dourado, ele percebeu uma grande quantidade absurda de papel com textos enormes e bem construídos, ensandecido de tanta informação, o garoto pegou um dos papeis e começou a ler, a moça percebeu a audácia e tirou o papel da mão dele.

— Sua mãe nunca lhe ensinou que não se podem ler documentos dos outros?

— Mil perdões. É porque eu sou muito curioso.

Ela desconfiada da atitude do menino se dirigiu longe dele, o garoto percebeu que não conseguiu pegar o lápis da bolsa dela e decidiu criar um novo plano.

A moça não conseguia parar de escrever, tudo começou quando ela decidiu escrever uma carta para sua avó que morava no interior, e ao usar o lápis dourado sentiu uma intensa necessidade de contar todos os mínimos detalhes de sua vida, quando ela finalmente percebeu, já tinha escrito mais de cinquenta páginas de cartas e não conseguia mais parar de escrever, de uma carta para avó se tornou em uma história realista sobre sua cidade natal, ela passou semanas sem parar de escrever. Quando finalmente o cansaço a venceu ela finalmente estava diante de um montante de papel de quinhentas páginas sobre um romance na cidade grande, ela leu o primeiro capítulo e notou a qualidade daquela obra.

— Eu necessito publicar isso! Todos precisam conhecer essa história magnífica.

Ela pegou na agenda de telefone do agente literário de Jade e entrou em contato, o agente lhe pediu para trazer um capítulo de sua incrível história para uma análise. Na entrevista, ela não conseguia parar de explicar o enredo, as aflições dos personagens e como o clima noir do conto dava um ar de mistério e investigação trágica poderia trazer inúmeros sentimentos aos leitores, o agente indiferente terminou o primeiro capítulo e depositou na mesa.

— Então? Não é bom?

— É realmente incrível.

Um sorriso no rosto da moça surgiu intensamente, mas logo desapareceu ao vê-lo respirar fundo como se estivesse se preparando psicologicamente para lhe dar uma má noticia.

— Mas ainda assim eu não posso publicá-lo.

A moça indignada se levantou da cadeira.

— Como não? Você disse que é ótimo.

— E é! Mas a história não é nem um pouco original, eu sinto muito.

O agente deixou o local da entrevista, a moça completamente inconsolada encarava o manuscrito sobre a mesa. Na sua casa a cada vez que ela escrevia com o lápis dourado, mais ideias brotavam em sua mente, sua cabeça doía de tanta informação e as lágrimas escorriam dos seus olhos.

— Por quê? Porque isso não para? – Reclamou a moça por ter ideias geniais descontroladas em sua cabeça.

— Ele disse que era bom, porque não o publica? Por quê? Por quê?

Completamente estressada ela derruba todos os objetos que estava sobre a mesa.

— Maldição! – Gritou a moça.

A campainha tocou, ela enxugou as lágrimas com a manga da camiseta e foi atender, ao abrir a porta viu um velho senhor com um olhar atencioso.

— Eu posso ajudá-lo?

— Sim, você pode. – Com um sorriso sádico ele colocou a mão em sua testa. – Você tem algo que me pertence criança. Real.

Uma fumaça dourada saiu de sua boca e se acomodou na palma da mão do velho senhor, ela sentiu suas pálpebras pesadas e logo desmaiou, o velho senhor entrou em sua casa e pegou o lápis dourado, a fumaça dourada foi depositada por ele dentro do lápis dourado.

— Pobrezinha, ela acabou absorvendo imaginação demais e seu cérebro não suportou, mas agora que eu a retirei você vai melhorar logo, logo...

Ele olhou para montante de papel espalhado no chão e sorriu gentilmente.

— Realmente é um bom livro, aquele agente literário vai se arrepender por não ter publicado.


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