Produtos Uchiha escrita por ICLP, Hitari Amai, Evil Queen 42, ExoLina42


Capítulo 23
#DateRuim


Notas iniciais do capítulo

Sem atrasos, amém...

Enjoy ;**



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739975/chapter/23

Vocês não têm ideia alguma de como eu estou feliz.

Depois daquele selinho que a Cherry causou, entre Sakura e eu, achei que a Führer Haruno não tinha coração, que era uma criatura fria pra caralho!

Felizmente eu me enganei... Umas noites atrás nós nos beijamos de verdade, sem a cachorra da Sakura para forçar nada. Foi espontâneo!

Ela deu um selinho, talvez pelo calor do momento... Mas, né, eu já havia deixado passar muitas oportunidades, não podia deixar essa passar também!

Eu beijei Sakura Haruno e ela me beijou de volta, inclusive ela quem tomou a iniciativa para o segundo beijo!

Eu sou um homem realizado!

Nós com certeza vamos casar, somos um casalzão da porra!

Na hora ela agiu meio estranha, mas depois aceitou sair comigo e até me chamou antes para ir comprar roupas... Não foi bem o tipo de encontro que eu tinha em mente para depois do beijo, mas hoje é um encontro de verdade, a gente vai sair para jantar!

Naruto entrou em minha sala com o ânimo de sempre.

― Mandou chamar, chefinho? ― Indagou sorridente, fechando a porta atrás de si. ― Por favor, diga que é pra aumentar o meu salário.

― Não te chamei como seu patrão, te chamei como seu amigo. ― Retruquei. ― Preciso de uma ajuda.

Sempre que olho para o Naruto me dá uma vontade de rir, pois lembro da Sakura dizendo que eu deveria me inspirar nele para me vestir. No entanto, eu não me vejo enfiado nessas roupas coloridas. Hoje Naruto está com uma calça jeans amarelo mostarda, blusa preta de mangas compridas e gola V, e tênis pretos também. Hoje ele está mais neutro, só que ainda assim não consigo me imaginar numa calça colorida.

― Pode contar comigo, amor. ― Ele sentou numa das cadeiras que fica de frente para a minha mesa e cruzou as pernas. ― Manda.

― Convidei a Sakura pra sair hoje e ela aceitou.

― Ah, espero que o seu encontro seja melhor do que o meu... ― O loiro emburrou a cara.

Senhor amado, outro crush?

― O que aconteceu? O cara virava o rosto masculinamente?

― Você é tão engraçado, Sasuke. ― Ironizou com deboche. ― Eu saí ontem com um carinha que conheci no Tinder...

― Espera. ― Interrompi. ― Você baixou o Tinder? Naruto, meu amigo, você chegou ao fundo do poço.

Para quem não sabe, Tinder é um aplicativo que a partir do momento que você baixa está assinando seu certificado de trouxa. É aquele aplicativo que o maníaco do parque deve olhar e pensar "Ah, no meu tempo... Eu faria um estrago com isso aqui".

― Eu estava curioso. ― Bufou. ― Enfim, eu saí com o carinha, e estava empolgado porque ele é de Escorpião. Conversa vai, conversa vem, consegui descobrir o local e data de nascimento dele. O cara tem Vênus em Virgem, Marte em Áries, Ascendente e Lua em Aquário! Aquário! ― Enfatizou. ― Não dá, cara, não dá!

Alguém está beirando a loucura.

― Você marca um encontro com a pessoa e faz o mapa astral dela? ― Uni as sobrancelhas. ― Eu pensei que já tinha visto de tudo.

― Eu tenho que saber com quem eu tô lidando.

― Deixando o papo astral de lado, quero sua ajuda. ― Falei. ― Você tem bom gosto, admito, e eu tenho um déficit nessa área.

― Ainda bem que você reconhece. ― Murmurou.

Vou deixar quieto e fingir que não ouvi só porque preciso muito de uma ajuda dele.

― Quero presentear a Sakura. Mas, sinceramente, não sei o que dar pra ela.

― No que você pensou?

― Primeiro eu pensei numa roupa, mas Sakura tem todo tipo de roupa que você imaginar... Sem falar que dar roupa ou sapato tem muita cara de presente de aniversário ou natal.

― Você tem razão. ― Disse pensativo.

― Pensei numa joia também, mas não é o tipo de presente que se dá assim, do nada. ― Suspirei derrotado. ― Eu só queria agradar. Sei lá, pensei em dar uma lembrancinha.

― Ok, que tipo de lembrancinha?

― Sei lá. ― Dei de ombros ― Pensei numa caneca personalizada, ou numa almofada daquelas...

― Pode parar! ― Ele me interrompeu. ― Minha santa Pabllo Vittar, me ajude!

― O que houve?

― Sasuke, que lembrancinha mais brega! Parece presente de fã, só falta deixar uma carta. Ela vai achar que você é um puta de um mão de vaca.

― Sério, eu não sei o que dar. ― Falei aflito.

Eu sou um bosta.

― Eu ia sugerir que você desse chocolates, ela gosta, mas Sakura é modelo, talvez nem coma tudo.

Ah, pobre Naruto, mal sabe o estrago que aquela criatura faz no McDonald's... E em qualquer outro estabelecimento.

Acho que o fetiche da Sakura é um podrão com tudo dentro, bem gorduroso, cheio de batata palha e aquela maionese caseira por cima. Aquele sanduíche que você mal consegue segurar de tão grande, que nem cabe dentro da boca, que você morde e cai milho verde e pedaços de bacon, que o saquinho onde ele vem dentro fica todo oleoso. Acho que minhas veias começaram a entupir só de pensar.

― É um caso a se pensar. ― Respondi pensativo.

― Sasuke, por que não dá flores? ― Questionou. ― É romântico. Toda mulher gosta de receber flores.

Cacete, como é que eu não pensei nisso antes?

― Você é um gênio! ― Sorri de orelha a orelha. ― Não tem sorte em encontros, mas é um perfeito conselheiro amoroso.

― Olha só, o mapa astral da Sakura não é melhor. ― Retrucou ― Áries, Aquário, Gêmeos, Capricórnio... ― Ele fez o sinal da cruz. ― Aquilo nem gente é, mas sim o anticristo!

Nossa, como ele exagera!

― Enfim, já me decidi. Vou dar flores pra ela! ― Falei otimista.

Mulheres gostam de flores, Sakura deve gostar de flores. Ela vai dizer "Nossa, que romântico!", e eu vou responder "Sim, sou muito romântico".

Caralho, viajei legal agora.

― Vê se escolhe um negócio decente. Se você chegar lá com um cacto, eu te mato.

―  Que tipo de flor você acha que ela gosta? ― Indaguei.

― Amor, na dúvida, aposte em rosas vermelhas. São flores coringa, agradam qualquer mulher.

Um buquê de rosas vermelhas. Nossa, parece que eu vou pedir ela em casamento, só falta as alianças.

Preciso apostar nisso. Naruto entende dessas coisas muito mais do que eu ― e olha que nem gostar de mulher ele gosta ―, então não tem como errar!

Vai ser lindo, incrível, perfeito!

Marquei um encontro com ela em um dos melhores restaurantes da cidade, e o meu preferido. É o Susano’o, um restaurante de frutos do mar, eu simplesmente amo!

O ambiente é sofisticado, mas ao mesmo tempo discreto. Com certeza não haverá fãs enlouquecidos pedindo selfie, ou paparazzi para tirar fotos e especularem coisas... Poderemos conversar sozinhos num clima agradável, sem animais de estimação por perto. Tenho certeza de que vai rolar um clima! Tem tudo pra rolar! Devo encantá-la inicialmente com as flores, espero que toquem uma música romântica, quem sabe chegue a deixa pra eu me declarar.

Talvez eu esteja criando expectativas demais, alguns diriam que eu estou me iludindo, mas estou realmente confiante.

Por sorte tem uma floricultura no caminho pra casa, então parei lá quando estava indo embora.

Algo me chamou a atenção assim que entrei no estabelecimento. Eu estava focado no buquê de rosas vermelhas, mas aí vi algumas orquídeas, e lembrei que na varanda da casa de Sakura tem alguns vasinhos de orquídeas na parede. Ela deve gostar de tais flores, sem falar que no buquê logo morrem, enquanto que flores num vasinho podem ser regadas e sobrevivem mais.

Desculpe, Naruto, mas hoje eu vou de orquídeas.

Deixando de lado a sugestão do meu amigo, comprei um vaso com orquídeas brancas. São lindas, Sakura com certeza vai amar.

Cheguei em casa feliz da vida, super ansioso pelo jantar. Deixei o vasinho em cima da mesa de centro na sala e segui para o banho.

Antes de entrar no chuveiro, deixei meu celular em cima da tampa do vaso sanitário após abrir minha playlist e deixar no modo aleatório.

Eu devia comprar umas caixinhas de som para deixar aqui, mas nem sempre escuto música durante o banho, me deu vontade hoje porque estou animado. Sem falar que o último lançamento da Uchiha Company tem o som prefeito, nem precisa das caixinhas.

Coloquei em uma playlist para me inspirar... Uma playlist para quem está apaixonado. Sim, sou trouxa mesmo, vamos ser trouxa!

“Your Song” do Elton John começou a tocar… Quer música melhor para se ouvir quando está apaixonado?

― I hope you don't mind, I hope you don't mind that I put down in words, how wonderful life is while you're in the world… ― Cantei alto, pensando na Sakura, claro.

Ah, essa playlist é mesmo boa para quem está apaixonado. Me sinto cada vez mais inspirado para falar para Sakura que gosto dela!

Terminei meu banho e peguei meu celular de cima da tampa do vaso.

Larguei meu celular em cima da cama e estranhei que a porta está aberta e nem sinal do Mr. Black Label. Geralmente quando eu chego em casa e abro a porta do quarto ele é o primeiro a entrar e se apossar da cama.

Bem, deve estar no túnel dele... Ele nunca admitirá para a Sakura, mas é o brinquedo favorito dele.

E agora, qual roupa escolher? Não posso errar, não hoje. Sakura sempre disse que o simples é chique, então não preciso me arrumar muito, certo?

Entrei no closet e fiquei filosofando sobre o que vestir. Acho que um terno fica chique demais para a ocasião, mas eu não quero ir despojado demais.

Acho que já sei o que fazer: S.O.S Karin!

Mandei uma mensagem pra ela, até mandei algumas fotos de umas roupas que eu imagino que estejam adequadas. Bom, a maioria delas Karin mandou descartar.

Ótimo, sou horrível.

Pensei em ir com uma calça preta e blazer preto, mas eu já uso isso no trabalho. Jeans ou calça social? Senhor, por que tão difícil?

Talvez eu deva ligar pra Sakura e dizer que nosso encontro é numa barraca de cachorro quente, aí eu vou de bermuda e chinelo.

Sasuke, foco! Foco!

Após uma longa discussão e vários áudios da Karin me xingando, optei por uma calça social preta, com uma camisa social azul marinho e um blazer creme. Calcei sapato social marrom. Nada de gravata, Sakura disse para eu não usar gravatas em encontros... Acho que ela vai gostar!

Mandei uma foto vestido para Karin e ela aprovou.

Agora os detalhes... Escovar os dentes, passar perfume, arrumar o cabelo. Para dar um toque final, coloquei um relógio de pulso prateado.

Acho que fiquei bonito. Diria até irresistível.

Carteira, celular, chaves de casa, chave do carro... Está tudo aqui. Agora só falta pegar as flores e partir para o encontro.

Infelizmente a vida é uma caixinha de surpresas e sempre nos prega peças. Quando você estiver achando que está tudo lindo e maravilhoso, não se anime, alguma merda certamente vai acontecer.

Meu coração quase veio parar na minha garganta quando cheguei à sala.

Tem terra espalhada para tudo quanto é lado. O vaso de flores agora está jogado no chão, as flores não existem mais, e o Mr. Black Label está imundo de terra.

Ele previu! Com certeza esse gato previu que eu vou sair com a Sakura. Para completar, ele previu que as flores eram para ela!

Nesse momento veio o arrependimento por não ter comprado o buquê. Mesmo que meu gato o tivesse destruído, pelo menos não teria terra espalhada pela minha sala.

Misericórdia, o Mr. Black Label está parecendo um porco! Sujo, encardido! Ele está deitado no chão, perto do sofá, em cima do que um dia foram orquídeas, me encarando com a cara mais cínica dessa galáxia.

Eu nunca tive tanta vontade de jogar meu bicho de estimação pela janela.

Ele ri internamente, com certeza ri. Está debochando da minha cara, e com certeza vai rir nas minhas costas.

― Por que você fez isso? ― Briguei.

Ele virou a cara, fingindo que a bronca não é com ele.

Infeliz desgraçado! Não acredito que ele estragou o presente perfeito e, pior, sujou toda a minha sala!

― Isso não é divertido! E agora, a sala tá imunda, e a floricultura já fechou.

Sim, eu estou brigando com um animal irracional porque estou profundamente puto!

Bem, ele não é tão irracional assim. Com certeza sabia que o presente era para a Sakura. Ele quis estragar minha noite!

O pior é que eu não posso deixar ele assim. Ele vai subir no sofá, vai andar pela cozinha, vai sujar tudo!

Mandei uma mensagem para a Sakura, dizendo que vou atrasar meia hora por conta de um imprevisto na minha casa. Ainda bem que ela é compreensiva.

Tirei meu blazer e coloquei sobre o sofá, dobrei as mangas da camisa, enchi a banheira com água morna e em seguida coloquei o gato que parece que foi encontrado no lixo.

Cacete, eu dei banho nele ontem!

O Mr. Black Label reclamou um pouco, até deu um arranhão no meu braço. Ele gosta de se sujar ― e sujar a casa ― mas não gosta de se limpar.

Ele miou alto, parecia brigar comigo.

― Vai tomar banho de novo sim, pra aprender a não sujar a casa! ― Briguei.

Ele começou a miar todo sentido, quase fiquei com dó, mas com certeza é dissimulação dele. Espero que ele se arrependa.

― Vai ficar uma semana sem sachê.

Ele resmungou novamente, me olhou com ódio.

Eu compreendo, deve ser difícil para qualquer filho aceitar a futura madrasta, mas... Que merda é essa que eu estou pensando?

Sasuke, você está se iludindo demais.

Ah, mas nós nos beijamos, não vai ser tão difícil assim chegar a um casamento!

Peguei um pouco de shampoo para passar na pele do Mr. Black Label. Para mim eu compro qualquer anticaspa, mas para o meu bichano tem que ser um específico do melhor que tem no mercado!

Precisei esfregar o corpo dele duas vezes para sair tudo. Ele estava para lá de encardido, cruzes!

Enxuguei o infeliz estragador de orquídeas, ficou parecendo outro gato. Ficou macio e cheiroso.

Quando dei uma última olhada no espelho antes de sair quase desisti da vida. Minha camisa molhou!

Sasuke, sua anta, por que você não tirou a camisa antes de dar banho no gato? Ah, desgraça!

Me vi obrigado a trocar a camisa azul marinho por uma menos escura. O modelo é idêntico, afinal, camisa social é tudo igual, né? Mangas compridas, botões... Só mudam de cor mesmo.

Não está tão bom quanto estava, mas vai assim mesmo.

Minhas mãos estão com cheiro de shampoo para gato, então passei mais perfume para disfarçar.

Não vou limpar a bagunça feita na sala, eu iria demorar uma eternidade e ainda ficaria mal feito. Para que o Mr. Black Label não se suje novamente, tampouco suje mais o ambiente, eu trouxe para o meu quarto a caixa de areia dele juntamente com as vasilhas de ração e água.

Tranquei o felino pelado no meu quarto e saí de casa. Amanhã eu ligo para a diarista e, quando tudo já estiver limpo, eu liberto o Mr. Black Label.

Não, não é crueldade. Ele vai se sentir soberano no meu quarto.

Finalmente pude sair para ir buscar a Sakura. Espero que ela não tenha desistido de me esperar.

Cheguei à casa de Sakura e mandei uma mensagem para ela assim que estacionei em frente. Como sou um cavalheiro, saí do carro para recebê-la dignamente e abrir a porta do carro.

A noite começou a ser estragada pelo Mr. Black Label, e eu fui obrigado a chegar aqui de mãos abanando, já que demoraria mais caso fosse comprar alguma outra coisa, mas fé no Pai. Eu vou conseguir salvar a noite.

Sakura deu o ar da graça, linda como só ela sabe ser. Ela está usando um vestido até a altura dos joelhos vermelho sem decote, quando ela virou para trancar a porta, vi que é de costas nuas... Diz se não é para matar qualquer reles mortal como eu!

Ela está usando uma sandália preta de salto e uma bolsinha prateada que mais parece uma carteira; Os cabelos rosados estão presos por um coque meio mal feito, tem umas trancinhas no meio, mas nenhum enfeite; Ela está usando um conjunto de anel e brincos prateados, os brincos ficam bem evidentes por conta dos cabelos presos; A maquiagem não é forte, tem um pouco de preto nos olhos, mas, ainda assim, não é uma coisa muito chamativa, e nos lábios ela usa um batom da cor da boca mesmo.

Perfeição da porra!

― Boa noite. ― Ela disse sorridente.

― Boa noite, Sakura. ― Falei soltando a respiração que eu nem notei que estava prendendo.

Digo mesmo, ela realmente está de matar!

Ela me deu um rápido beijo na bochecha, então logo em seguida abri a porta do carro e ela entrou.

Fomos até o Susano'o, que fica um pouco longe da casa dela. Eu não tinha dito qual seria o nosso destino, quis fazer surpresa.

― Susano'o? ― Ela falou sorridente quando estávamos em frente ao restaurante.

― Sim, eu adoro a comida desse lugar.

― É ótima mesmo.

Fui um cavalheiro e abri a porta do carro para Sakura e segurei em sua mão para ajudá-la a descer.

Eu já havia reservado uma mesa para nós, uma mais reservada, perto da janela, com uma vista belíssima.

Mais romântico impossível. Se o Mr. Black Label não tivesse estragado as orquídeas... Ah, gosto nem de lembrar!

― Boy, eu amo os pratos com camarão aqui do Susano'o! ― Disse a rosada.

― É, eu também. ― Assenti, pegando o cardápio.

― Oxente... ― Ela falou meio confusa. ― Você não é alérgico a camarão?

Olhei meio confuso para ela. Por que ela diz isso?

― O quê?

― Naquele dia, em minha casa... Eu quase te matei! ― Ela falou meio constrangida.

Ah, que inferno, e agora?

Eu nem lembrava de minha “alergia”... Puta que pariu! Os pratos com camarão daqui são divinos e, porra, eu amo camarão! Melhor fruto do mar que existe!

Sakura e eu já somos mais íntimos... Na verdade bastante íntimos, já houve até troca de saliva, acho que ela perdoaria o fato de eu ter mentido sobre a alergia a camarão, mas seria super constrangedor contar para ela o que realmente aconteceu comigo naquele dia.

― Acho que não te contei, mas... ― Não, Sasuke, não conta a verdade. ― Eu não nasci alérgico, mas desenvolvi a alergia depois de adulto.

― Nossa, que chato. ― Boa, colou!

― Pois é. Não faz muito tempo que eu descobri. Agora não posso mais comer. ― Sorri sem graça.

Eu preciso criar vergonha na cara e parar de querer sustentar uma mentira com outra. Isso é horrível, eu me sinto péssimo, de verdade. Odeio mentir, mas não sei o que dizer...

De entrada pedimos ceviche de camarão e peixe... Poderia ter sido só de camarão, mas é isto...

Ela pediu camarão ao molho pesto com risoto de tomate seco, justo o que eu queria pedir, justo o prato que eu mais gosto desse restaurante. Eu vou ficar só babando... Pedi peixe. Fazer o que, né?

― Esse lugar é tão agradável. ― Ela comentou. ― Pena que vim aqui pouquíssimas vezes. ― Riu. ― Sabe, o tempero daqui lembra muito o de Natal... Lembra o Camarões, restaurante de lá que também é de frutos do mar.

― Você sente falta de Natal, né?

― Boy, demais! Ultimamente ando meio sem tempo, mas tenho vontade de passar uns dias lá.

― Acredita que eu não conheço Natal?

― Sério? ― Ela arregalou os olhos. ― Boy, você tem que conhecer! O Nordeste é lindo demais.

― Já fui ao Ceará. ― Respondi. ― E conheço os Lençóis Maranhenses.

― Você sempre teve tudo desde pequeno, deve conhecer tantos lugares.

Mal sabe ela que eu meio que acho um saco viajar. Eu sempre esqueço alguma coisa, e é incrível como tudo o que foi dentro da mala não cabe mais na volta, parece que as roupas engordam na viagem.

― Não é como se eu conhecesse o mundo todo. ― Respondi.

― Já foi à Disney? ― Ela questionou com os olhos brilhando. ― Boy, era um dos meus grandes sonhos e eu realizei ano passado!

― Já... ― Me limitei a dizer somente isso, pois não tenho boas lembranças dessa viagem.

Já fui à Disney uma vez quando criança e tenho poucas lembranças dessa época, e depois fui novamente com meu irmão quando eu tinha dezessete anos... Só para me sentir um bosta naquele parque!

Você percebe que é um merda quando a terra do Mickey é radical demais para você.

Fui querer ser radical e entrei num diabo de um elevador, porque Itachi duvidou que eu teria coragem. Eu pensei que meu corpo fosse desmontar na descida, acho que meu intestino trocou de lugar com os pulmões e meu coração certamente desceu para perto dos rins. É uma descida violenta, eu saí daquele brinquedo sem nem saber quem eu era.

Ah, sem falar que meu inglês não era lá essas coisas na época. Eu achava que era ótimo na língua, pois me virava bem na escola. Bem, mas um professor falando em inglês numa sala de aula é diferente de um americano conversando com você... Tive certeza disso da pior maneira... Teve um dia que eu me perdi lá, e não saía um "lost" da minha boca.

― Você deve ter aproveitado bastante, não é? ― Perguntei, fugindo de meus pensamentos desastrosos.

― Eu aproveitei demais! ― Disse empolgada. ― Boy, vivi aquilo como se eu tivesse sete anos de idade. Tirei foto com o Mickey, com o Pateta, com o Pluto, com as princesas... Conheci cada parque, andei em todos os brinquedos, foi realmente mágico!

Ela tem o espírito aventureiro, já eu não tive paciência nem para ficar na fila para tirar foto com o Mickey.

― Você deve ter enlouquecido dentro daqueles parques. ― Falei risonho.

Ela tem uma empolgação infantil que me encanta. Fala das coisas com tanta pureza, inocência e naturalidade, que se torna um prazer ouvir. Não é nada forçado, ela é super espontânea.

― Demais! Foi uma das melhores viagens que fiz! ― Falou encantada. ― Complicada foi minha primeira viagem para fora do Brasil, para Paris... Eu sabia quase nada de francês e fui barrada na imigração... E os intérpretes de inglês e o de português não estavam disponíveis.

― Eita, e aí? ― Perguntei espantado, jamais que eu imaginaria algo dando errado para a Sakura... ― Você é famosa no mundo todo, então deu certo, não é?

― Foi assim que comecei minha carreira, meu primeiro salário, ainda não era famosa mundialmente... ― Deu de ombros. ― Chamaram o intérprete de espanhol... Não sei o motivo, talvez tenham pensado que seria mais fácil, já que parece com português. ― Falou pensativa.

― É mais fácil mesmo para entender. Aprendi praticamente só... ― Comentei.

― Para uns, sim, mas meu espanhol consistia em “Como se llama, si. Bonita, si. Mi casa, su casa. Shakira, Shakira”.

Não contive minha risada. Juro que imaginei ela cantando isso para o pessoal da imigração.

― Meu Deus, Sakura... Você tem cada história, nem parece você!

― Pois é... Então, continuando, eu não entendia nada que o intérprete falava, nem ele entendia que eu não estava entendendo. Perdi horas no aeroporto até o intérprete de inglês ficar disponível... ― Ela resmungou. ― Foi uma viagem ótima, mas foram horas perdidas... O pior foi que cheguei ao hotel morta, só me joguei na cama e dormi. Perdi um dia em Paris. Tive vontade de voltar ao aeroporto para xingar o pessoal da imigração... Mas eles não iriam entender os xingamentos... ― Bufou.

― Mas aproveitou os outros dias? ― Perguntei ainda rindo.

― Claro, comprei três caixas de 54 macaron na Ladurée... Comi até dar uma dor. Mas foi uma ótima dor! ― Ela continuou. ― Praticamente não dormi durante a viagem, aproveitei de dia e de noite... Acho que bebi nos sete dias que fiquei lá... Coisa que nunca faço.

― Percebi que você não é de beber. ― Comentei.

― Sou fraca com bebida, então evito. ― Deu de ombros. ― Odeio cerveja, mas fui beber cerveja num cruzeiro pelo rio Sena. Não me liguei no clima frio, e fui beber cerveja. Pensei “Ah, a cerveja tá quente, vai me esquentar”. Mas todos sabemos que não esquenta, mas eu já tinha bebido um pouco naquele dia, então não estava com o juízo completo... Enfim, bebi a cerveja e bateu uma puta vontade de fazer xixi ali no rio mesmo... Juro! Eu ia ser presa, tava complicado demais pra segurar. Sorte que não demorou muito para acabar o passeio.

― Sakura, você é louca. ― Falei rindo.

― Bem, depois dessa viagem resolvi aprender francês... e espanhol. Fiquei traumatizada...

― E eu aqui pensando que tinha sofrido por não ser fluente em inglês quando fui à Disney! ― Ri mais um pouco. Sakura é louca, nossa... ― Então você agora é fluente em francês e espanhol?

― Ainda não, mas me viro bem agora. Tento praticar sempre. Sou fluente só em inglês mesmo, e você?

― Sei inglês, espanhol e alemão. ― Respondi.

Por falar em alemão, Sakura com certeza é meu lebenslangerschicksalsschatz... Acho que tem uma série que fala dessa palavra, significa mais ou menos “tesouro do destino ao longo da vida”.

― Nem enfrento alemão... ― Ela estremeceu e eu ri. ― Mas por que alemão?

― Comprei um jogo em um site... E ele veio com um bug, só rodava em alemão. ― Não vou mais mentir para a Sakura, ela vai me achar infantil, mas é isto... ― Não tive paciência de comprar outro, então tive que ficar traduzindo as falas do jogo... Depois criei interesse pela língua.

― Jogos são educativos... ― Riu. ― Não acho uma língua bonita, parece que estão te insultando o tempo inteiro...

Ich liebe dich. ― Falei e sorri.

― Totalmente uma ofensa... ― Ela me encarou sem entender.

― Significa “Eu te amo”. ― Olhei em seus olhos.

Isso, Sasuke, se declara até em outra língua, rapaz! Eu sou foda! Ela vai se derreter toda.

― Sério? Até coisas fofas parecem uma ofensa. ― Ela começou a rir.

Oi? Como assim?

A olhei incrédulo.

Ela vai mesmo fingir que não fomos feitos um para o outro?

Ok, Sasuke, se acalma... Sua declaração não foi boa, ela pensou que você só estava traduzindo uma frase fofa que parece uma ofensa.

É, não tinha como ela saber que eu estava me declarando.

Nossos pratos chegaram, me tirando de meu devaneio. O cheiro realmente me atiçou. Claro, eu queria o camarão que a Sakura pediu, mas meu peixinho também está bem convidativo.

A comida do Susan'o é realmente deliciosa, e não é só porque eu amo frutos do mar. Infelizmente não vou poder me deliciar com o melhor de todos, o camarão.

Sakura consegue ser linda até comendo. Acho que até batendo um pratão de pedreiro ela manteria a elegância.

― Boy, isso é divino! ― Disse ela. ― Eu ainda não tinha provado esse prato... Sabe, acho que meu hobby é provar diferentes tipos de comida. ― Falou pensativa.

― Eu acredito em sua palavra... ― Sorri sem graça. ― Fico feliz que tenha gostado da minha escolha.

Ah, eu escolhi um restaurante que a agradou. Ponto para mim!

Eu só queria poder estar comendo este camarão, pelo menos me aproveitei do risoto de tomate seco... Não sei como Sakura não cortou minha mão fora por ter pegado um pouco da comida dela...

― Acredita que uma vez eu fui num restaurante em Canoa Quebrada e me serviram uma lagosta viva? ― Sakura começou a rir, mas discretamente. ― Boy, a comida era boa, mas o serviço do restaurante era péssimo. Minha lagosta veio viva, juro, e quase beliscou meu dedo!

― Acho que já vi essa cena em algum lugar. ― Sorri para provocá-la.

― Engraçadinho. ― Revirou os olhos. ― Na hora fiquei morta de raiva, mas passou. Pelo menos vira história pra contar.

Eu quase comentei algo sobre gostar de lagostas, mas a lagosta é meio que um camarão grande, acho que eles são parentes. Logo, se eu sou "alérgico" a camarão, consequentemente posso vir a ser "alérgico" a lagosta também... E caranguejo... Droga, amo os três!

― Eu adoro ouvir essas histórias...

De fato, não é mentira. Sakura é vista quase como se fosse algum tipo de deusa, da mesma forma que veem minha mãe, portanto eu gosto de ver esse lado mais humano dela. Ela é uma pessoa tão... comum. Simples, apesar da extravagância... E um pouco louca.

Sakura Haruno é, de fato, uma segunda Mikoto Uchiha.

― Você é um fofo, sabia? ― Riu.

― Eu sou fofo? ― Não contive um riso.

"Fofo" é uma palavra meio brochante, homens não gostam muito de ouvir isso, mas quando vem da Sakura, eu amo.

― Sim. ― Assentiu. ― Você é um grande amigo.

Ok, já podem abrir um buraco para eu me enterrar.

Porra, eu venho aqui, no maior clima de romantismo, naquela coisa só love, e ela me vem com "Você é um grande amigo"?

Por favor, quero o prêmio de maior trouxa do ano.

Amigo? Amigo? Vou mais nem me declarar.

― Bem... ― Forcei um sorriso. ― Você também é uma grande amiga.

Trouxa! Trouxa! Trouxa!

Parece que eu perdi totalmente o jeito de como falar com mulher, sinto que eu voltei a ser um garotinho, eu fico todo besta perto da Sakura.

― Eu tinha uma visão bem diferente de você, já falei isso uma vez, mas repito que gostei muito de te conhecer de perto. ― Sorriu timidamente. ― Boy, olha eu aqui, fazendo declaração de amizade.

Estou começando a sentir ranço pela palavra "amizade". Eu não quero só isso, mas parece que o mundo conspira totalmente contra.

Não tem mais clima!

― Eu não sei nem o que dizer...

― Ora, não precisa.

― Isso me poupa um pouco, pois sou realmente péssimo com palavras. ― Admiti.

Ficamos alguns segundos em silêncio, sem assunto, até que a rosada veio com a bomba:

― Sasuke, você... Você já gostou de alguém?

Quase engasguei.

Será que é a deixa para eu dizer que gosto dela? Talvez não... Pode ser só uma conversa casual, Sakura tem dessas coisas.

― Ora, quem nunca? ― Melhor resposta que eu pude dar, totalmente sugestiva. ― Por que a pergunta?

― É porque... nunca te vejo com ninguém.

Eu sou uma pessoa discreta, seleciono muito bem as mulheres com quem vale a pena ficar. Não quero uma louca que tenha como finalidade chamar atenção da mídia, postar foto minha dormindo nu em motel, ou me aplicar um golpe da barriga.

― Gosto de manter minha vida pessoal longe dos holofotes. ― Expliquei.

― Mesmo assim. Sempre tem alguns paparazzi escondidos em algum lugar, e nunca te flagraram com alguém.

― Eu não saio muito. ― Respondi. ― Sou cauteloso. O Brasil todo não precisa saber com quem eu fico ou deixo de ficar. Isso é problema meu.

― É, você tem razão. ― A rosada assentiu. ― Mas... Você falando assim, parece que tem receio de que as pessoas saibam.

Ora, não é receio, o nome disso é privacidade. Sem falar que quando eu era somente “o filho de Mikoto”, não o presidente da M.U., o único interesse que as pessoas tinham em mim era as minhas roupas. Ninguém se importava muito com a minha vida pessoal.

― As pessoas falam muito, Sakura. ― Respondi simplesmente. ― Aumentam as coisas, fora o que inventam. Não gosto de fofocas em torno de mim, sem falar que é chato expor uma segunda pessoa.

― Compreendo. Você não quer que comentem...

― Exato. ― Assenti. ― Acho isso chato. Eu sei que há um preço a se pagar pela fama, você também deve saber muito bem disso, e eu vivo nesse mundo de holofotes desde que nasci... Aprendi a ficar na minha, passar despercebido em muitas ocasiões. Detesto fofocas e rumores de todos os tipos, e evito o máximo possível dar motivos pra isso. Sem falar que as pessoas sempre julgam nossas escolhas, não tem jeito... Olha o que passamos esses dias. ― Ri para descontrair um pouco.

― É verdade... Aquele rumor foi um saco... ― Ela revirou os olhos. ― Assumir um relacionamento nem sempre é fácil, não é? ― Riu sem humor. ― Tipo... Nós somos pessoas famosas, e às vezes podemos acabar expondo pessoas que estão só... nos bastidores da fama, não é mesmo?

Nos bastidores da fama? Será que a Sakura está gostando do Kiba?

Fodeu!

― É. ― Concordei. Que bosta, porra!

E nossos beijos? Como ficam?

― Esse assunto já ficou chato. ― Ela riu mais alegre. ― Nossa...

― É verdade, deu uma bad.

Friendzone é uma desgraça mesmo.

― Vamos falar de coisa boa! Vamos pensar na sobremesa.

Nossa, ela já comeu tudo e eu ainda não terminei.

― Você já está satisfeita? ― Uni as sobrancelhas.

― Na verdade não. ― Admitiu. ― Mas acho que vou mesmo só pedir a sobremesa... Ah, talvez eu peça esse camarão à parmegiana e depois a sobremesa...

Acho que, se por um milagre, eu namorar ou casar com a Sakura, a M.U. vai falir em poucos meses.

Uma coisa é alimentar a Power Ranger rosa, outra coisa é alimentar o Megazord.

E para quem acha que essa coisa magra não daria conta de comer mais, se enganou lindamente, porque ela deu.

Imagino a Sakura num desses restaurantes de comida no quilo, a balança certamente iria quebrar. Sai mais em conta levar essa coisa faminta num rodízio... Provavelmente o estabelecimento que conceder um rodízio à Sakura vai à falência.

Tem gente que come uma folha de alface e já engorda, a Sakura come o mundo e continua magra.

O engraçado é que mesmo uma pessoa magra quando come muito fica com aquele buchinho. Tem gente até que abre o botão da calça para aliviar, mas com a Sakura essa regra simplesmente não vale, pois ela continua esbelta mesmo depois de comer feito um animal.

Para acompanhar a Sakura em sua comilança eu pedi um prato infantil, que é bem menor, de peixe e eu quase não dei conta. Aí eu questiono: Como a Sakura consegue?

Isso é um poço sem fundo, um verdadeiro buraco negro.

― Agora podemos pensar na sobremesa! ― Sakura disse normalmente, olhando para o cardápio.

Misericórdia, ainda cabe alguma coisa dentro dela? Quantos estômagos tem dentro dessa pessoa?

― Você ainda aguenta sobremesa? ― Acho que nunca vou me acostumar.

― Claro que aguento. ― Sorriu de canto. ― E você, já tá pedindo arrego?

Na verdade, eu comecei a pedir arrego na metade do prato infantil.

― Claro que não. ― Peguei o outro cardápio para ver o que quero de sobremesa.

O foda é que nunca peço sobremesa. Esse negócio devia ter o tamanho delas, para os clientes terem uma noção, pois se eu pedir algo muito grande é certo que não vou dar conta... Nem se for pequeno, afinal eu estou cheio.

Sakura pediu um petit gateau com sorvete de creme, eu acabei pedindo tiramisu... É com cappuccino, então deve ser tragável.

Quando vieram as sobremesas vi que estava ok... Não é tão grande, dá para comer. O petit gateau da Sakura é maior...

― Que coisa maravilhosa! ― Sakura disse com os olhos brilhantes, pegou seu celular na bolsa e tirou uma foto das sobremesas.

― Sabe, no meu tempo comida era pra comer, não pra tirar foto. ― Falei divertido, pois Sakura adora postar fotos de comida... De comida, do céu, das roupas dela, de si mesma, da Cherry, dos bastidores dos ensaios fotográficos e desfiles, dos amigos, do que ela está fazendo... Enfim, ela ama fotos!

― No seu tempo não existiam redes sociais. ― Retrucou, deixando o celular de lado.

― Nossa, quem vê assim pensa que eu sou muito mais velho do que você.

― É um pouquinho. ― Assentiu rindo. ― Você tem 26, eu tenho 22. Eu estou mais perto dos 20, você está mais perto dos 30.

Não pude conter uma risada.

― Nós somos da mesma geração, criaturinha. ― Respondi. ― Você completa 23 antes de eu completar 27.

― E daí?

― A diferença não é de quatro anos, mas de três anos e alguns meses. Não é tão grande assim.

Provei uma colherada do tiramisu. Cacete, isso está uma delícia, se eu não estivesse tão cheio...

― Você tem alma de velho, Sasuke.

Como ela ousa?

― Eu tenho alma de velho? ― Fingi estar ofendido. ― Baseada em quê você diz isso?

― Na Première da M.U. você nem curtiu a festa. Sua mãe dançou horrores, seu irmão nem se fala. Mas você ficou lá, paradão, feito um poste, nem curtiu... E foi embora cedo.

Ora, eu estava morto de cansado.

O pique que minha mãe tinha para essas coisas era algo que merecia ser estudado. Claro, ela me escravizava um pouquinho quando eu era estagiário, mas, ainda assim, tinha um trabalho do cacete e mantinha um pique invejável nas festas.

Acho que eu preciso de um estagiário na minha vida, mas se Sakura e eu tivermos um filho agora vai demorar pelo menos dezessete anos até ele entrar na faculdade e se tornar explorável.

― Eu não sou como a minha mãe. Acho que não tenho dom pra essas coisas. ― Suspirei cabisbaixo.

Meu pai e minha mãe fizeram uma cagada grande. Itachi deveria herdar a M.U., eu deveria herdar a U.C. Não sei de onde tiraram que o primogênito tem que herdar os negócios do pai e o caçula tem que herdar os negócios da mãe.

― Não diga isso, Sasuke. Você está fazendo um excelente trabalho na M.U.

― Admito, estou me acostumando. ― Sorri. ― Acho até que estou começando a gostar desse mundo tão feminino.

― Olha aí, as pessoas se surpreendem.

― Recentemente descobri a diferença entre batom e gloss. ― Um comentário totalmente desnecessário, mas pelo menos a Sakura achou graça.

Batom serve para pintar a boca, o gloss dá a impressão de que a mulher comeu um frango frito e ficou com a boca oleosa.

― Ainda tem muita coisa pra você descobrir a diferença. ― Riu. ― Você consegue. Não é difícil.

É difícil sim, mas creio que não seja impossível. Sakura já me ensinou tantas coisas, tantos nomes que me eram totalmente estranhos.

Ainda não entendo por que a mulherada tem essa necessidade de inventar tanto nome para tipos de roupas e para cores. As cores são as mais chatas e complicadas, mas muitas nos permitem fazer associação. Por exemplo, um batom da cor Maçã do Amor só pode ser vermelho, certo? A não ser que já inventaram uma cobertura de outra cor para a maçã do amor.

Para facilitar mais o negócio eu acho que vou sugerir uma coleção de esmaltes com nomes de pedras preciosas, com os vidrinhos personalizados no estilo, fica chique e fácil de associar as cores. Tipo assim: Esmeralda é o esmalte verde, Rubi é vermelho, Pérola é... pérola. Cacete, eu sou um gênio!

Está vendo, Sasuke? Seus devaneios nem sempre são só baboseiras. Você é capaz!

Talvez eu sugira uma coleção de flores para a primavera. Girassol seria com certeza um esmalte amarelo, Copo de leite o branco, Cerejeira... rosa Sakura.

― É, eu consigo. ― Assenti confiante.

Sakura já está na metade de sua sobremesa e eu até agora só comi três colheradas da minha.

É uma pena eu não conseguir terminar essa delícia. Droga!

― Sasuke Uchiha. ― Uma jovem cujo rosto eu nunca vi na vida me abordou na mesa.

― Sim?

― É que... ― Começou timidamente. ― Eu sou muito fã da sua mãe, não queria que ela se aposentasse, mas você superou minhas expectativas como presidente.

― Bem... Obrigado? ― Respondi sugestivamente, fazendo a menina rir.

― Eu acompanhei a Première pelo site da M.U., amei cada detalhe, você está de parabéns e eu virei sua fã número um!

Cherry, você tem concorrentes, se cuida!

― Não sei nem como agradecer. ― Falei meio sem jeito. Nunca alguém me abordou para me elogiar ou dizer que é meu fã. Estou impressionado.

― Posso fazer uma selfie com você? ― Pediu.

O que eu posso dizer? Não sou muito fã de fotos, mas depois dessa não posso recusar.

Ela pediu uma foto com a Sakura também, para variar, e pareceu ter ficado feliz ao nos ver juntos.

― Eu shippo vocês dois! ― A menina disse feliz após tirar selfies conosco e guardar o celular. ― E mais uma coisa, Sasuke, você ficou ainda mais gato com esse visual novo.

Dito isso, meio sem graça, a mulher saiu rapidamente. Eu fiquei sem jeito e Sakura riu.

― Parece que a Condessa não é mais a sua única fã. ― A rosada falou risonha. ― E parece que nós dois somos shippáveis. ― Riu mais ainda.

― Não sei nem o que responder.

Eu admito que fiquei meio sem jeito perto da menina, pois eu nunca soube o que é ser abordado por fã, mas gostei.

É bom ser reconhecido pelo meu trabalho. Claro, os créditos não são só meus, mas tenho minha participação significativa.

― Estão valendo a pena as aulas de moda? ― Questionou.

― Claro. Eu estou um gato. ― Falei rindo.

― Convencido...

― Não sou eu quem está dizendo, foi a minha fã. ― Gabei-me.

― É bom esse reconhecimento, não?

― Sinceramente, é ótimo.

Sakura sorriu sincera. Sei que ela está orgulhosa não só de mim, mas de si mesma, pois ela tem uma grande participação nisso.

― Então, eu havia esquecido de perguntar. ― Levou uma colher de sorvete até sua boca. ― Você disse que atrasou por causa de um imprevisto na sua casa. Está tudo bem?

Amo essa preocupação dela.

― O Mr. Black Label fez uma bagunça... tive que lidar com ela.

― Seu gato é muito estressado. ― Ela riu. ― O coitado só vive naquele cubículo. Deve sentir falta de sair um pouco.

Eu saio com ele, nas campanhas de vacinação ou nas consultas de rotina na veterinária.

― Ele é um gato, não um cachorro. Não tem necessidade de sair para passear e gastar energia, até porque ele mal tem energia.

― É verdade. ― Riu. ― E outra, já pensou ir com ele na pracinha? Boy, iria assustar as crianças! ― Riu mais ainda, mas eu me mantive sério. ― Desculpa. Eu acostumei com os traços exóticos daquela bola de pele e o acho um fofo quando não quer me matar, mas não posso evitar.

― Eu não acho ele feio... Não hoje em dia, mas quando o vi filhote até me assustei.

― Devia parecer um filhote de rato... Desculpa.

― Pior que parecia mesmo. ― Dessa vez eu não contive o riso. ― Ele era mais enrugado do que é hoje. Mas isso não importa, eu gosto dele de qualquer jeito.

― Você é bem cuidadoso. Difícil um homem gostar de gatos.

Eu não gostava muito, mas me sentia sozinho e jamais iria enfiar um cachorro dentro de um apartamento pequeno.

― Ele me distrai um pouco.

― Você se sente sozinho?

― Bastante. ― Admiti. ― Eu amo o meu sossego, mas às vezes me bate uma tremenda solidão. O Mr. Black Label me faz companhia.

― É como eu me sinto com a Condessa. ― Sorriu.

― E você, também se sente sozinha?

― Um pouco. ― Respondeu. ― Quando estou em casa... às vezes bate a solidão também.

― Ultimamente você vem acabando com minha solidão, sabia? ― Indaguei.

― Eu ia te dizer o mesmo.  ― Riu timidamente. ― Gosto de passar meu tempo livre com você, Sasuke. Conheço tanta gente aqui, mas são poucas as pessoas com quem me sinto realmente à vontade.

― Eu sinto o mesmo com relação a você. ― Admiti. ― Gosto quando você me faz companhia.

― Engraçado como nos conhecemos de fato há pouco tempo e eu sinto uma afeição enorme por você. ― Disse ela. ― Chega a ser algo quase fraterno.

O resto de esperança que eu tinha acabou de ser arremessado numa fogueira!

Primeiro ela vem com papo de amizade, agora diz que o que sente por mim é quase fraterno!

Friendzone ainda dá para tentar contornar, brotherzone já é demais para mim.

O que eu fiz para merecer isso, o que eu fiz de tão grave nessa ou em outras vidas?

Eu devo ter sido alguém muito ruim. Nas minhas vidas passadas eu devo ter sido carrasco, ditador, ou um rei absolutista bem tirânico e psicopata no nível do Rei Louco. Deve ser karma, só pode. Deve ser peso de pecados passados.

A criatura ganha uma corrida de espermatozoides, espera nove meses pra nascer, aí quando chega nesse mundo tem que sofrer com amor não correspondido. Tem que sofrer com Friendzone fraterna... Brotherzone...

Se na minha próxima vida eu tiver que encarar esse tipo de problema, podem me puxar o quanto quiserem, mas eu não saio nem com cesariana!

Eu respondi alguma coisa? Não. Não tem nem o que responder depois dessa. Pensei que ia rolar um clima, mas eu estava triplamente enganado.

― Boy, você mal comeu! ― Disse a rosada, olhando para minha taça ainda cheia. ― Eu já terminei e você mal tocou no tiramisu.

― Estou cheio.

― Você é muito mole.

― Você quer?

Ah, e ela nega doce? Claro que não.

Bom, pelo menos essa coisa deliciosa não vai para o lixo.

Eu me iludi. Pensei que seria uma coisa romântica, pensei que eu teria uma brecha para dizer para Sakura que gosto dela, mas a única coisa que recebi foi facadas no coração.

Ela me vê como um amigo, isso é fato consumado. De fato, não tenho chances. Não sei nem como conquistá-la, sem falar que ela veio com o papo de "sentimento fraterno", o que significa que eu cheguei no fundo do poço, no último estágio da Friendzone.

Estou ferrado, sim ou claro?

Após eu pagar a conta, embora ela tenha insistido em dividir, ela disse que queria ir até a minha casa. Eu disse que estava uma bagunça, mas já que ela disse que ia me ajudar a limpar… Por que não?

 

[...]

 

Sakura estava sentada no meu sofá, com a cabeça encostada no meu ombro, enquanto comia pipoca assistindo o filme. Sim, ela comeu mais depois do nosso encontro...

O chão estava limpo e eu tive que inventar uma desculpa de que queria decorar a casa com orquídeas. Não ia falar que era o meu presente para ela que deu errado.

Mr. Black Label estava solto e, pela primeira vez na eternidade, não atrapalhou nós dois. Acho que ainda estava sentido da bronca que dei nele.

― Não achei que gostasse desse tipo de filme. ― Ela comentou.

Assistíamos “Como Eu era Antes de Você”, de fato, não sou chegado em filme de romance, mas quando você está apaixonado, passa a gostar de coisas que você jurou nunca gostar... Como sertanejo, pois é.

― Com você, qualquer coisa é divertida. ― Deixei minha declaração no ar.

Sakura me olhou com um brilho no olhar, como eu nunca havia visto antes. Deus, ela é realmente linda!

O cafuné que eu fazia em sua cabeça parou e eu projetei minha mão para sua nuca, segurando com firmeza. Se eu a beijasse agora, depois dela ter me chamado de “ótimo amigo”, seria um vacilo? Bom, quem não arrisca, não petisca...

― Você é gay? ― O QUÊ?

― Não! ― Minha voz saiu mais fina, tamanho o susto que levei. Limpei a garganta. ― Não!

Sakura se afastou na mesma hora, me olhando incrédula. Eu quem deveria estar fazendo essa expressão!

Cobrindo o rosto, morrendo de vergonha, ela começou a resmungar se xingando.

― De onde você tirou isso?! ― Levantei do sofá e também me afastei.

― Eu achei que você e o Naruto... ― Respondeu quase num sussurro.

― Porra, Sakura! O Naruto?

― Boy, eu não tenho culpa! ― Se defendeu.

― Há quanto tempo você acha isso? ― Sério, eu estou muito indignado!

― Desde sempre... ― Falou baixinho e eu gritei outro “o quê?”.

― Como assim “desde sempre”? Eu por acaso pareço gay? ― Instintivamente, levei a mão na cintura, mas logo tomei postura. ― Enfim, você só pode estar louca! Naruto e eu somos amigos!

― Vocês parecem tão perfeitos um para o...

― Não ouse terminar! ― A interrompi. ― Eu não consigo acreditar! É por isso que você trocava roupa na minha frente?

― Ah-rá! ― Apontou se levantando. ― E o senhor não me fala nada!

― Porra, eu vou lá saber que você achava que eu era gay? ― Bati na minha coxa, com raiva. ― Achava que isso era coisa de modelo!

― Sasuke, você deu motivos para eu achar isso! ― Cruzou os braços, contrariada.

― Ah, dei? ― Falei irônico e ela engoliu em seco. ― Porque é super gay eu ficar igual a um idiota olhando pra você, chamar você pra sair e contar sobre minha vida, corar toda hora quando você me elogia, ler fanfics sobre nós dois...

― Você lê fanfics sobre nós dois?

― Não muda de assunto, Sakura! ― Bradei. ― Eu planejei a noite inteira para dizer que gosto de você e você vem e me solta essa pergunta!

Ela me olhou chocada, eu nem percebi que me declarei inconscientemente. Mas dane-se, eu estou muito puto! Pior declaração do mundo! Pior encontro! Finalmente vou poder utilizar a #DateRuim!

Ficamos um bom tempo em silêncio, eu mal conseguia olhar para ela. Caralho, eu estou muito traumatizado!

― Por isso você me chamou de ótimo amigo, me arrastava para o shopping, me levou para cuidar da aparência e falava “crush” no masculino. ― Bati na minha própria testa. ― Era óbvio! Eu sou tão burro!

― Sasuke. ― Ela se aproximou um pouco, mas eu a olhei com raiva. ― Boy, não faz isso! Desculpa.

― Por que não perguntou isso mais cedo?

― Não achei que éramos próximos o suficiente para isso. ― Respondeu sem graça. ― Eu também nunca te vi andando com outra mulher que não fosse a Karin, e ela sempre disse que nunca rolou nada entre vocês... E ela é muito bonita...

― Já parou para pensar que eu também tenho amizades com o sexo oposto? ― Franzi o cenho. ― Isso não quer dizer que eu seja gay.

― Então você e o Naruto...

― Não! Pelo amor de Deus, não! ― A interrompi. ― Somos apenas amigos próximos, tipo você e a Ino!

― Eu entendi tudo errado! ― Ela murmurou para si mesma.

― Completamente! ― Gritei.

Sakura estava em pé, mas levemente encolhida, passava as mãos pelos braços tentando se acalmar. Ela estava muito vermelha e eu também, mas no meu caso é de raiva.

― E o nosso beijo, Sakura? ― Bufei. ― Vai me dizer que você achou que eu era um gay que pega mulher também? ― Ela ficou quieta. ― Porra, sério?

― O que foi? Tem gay que faz isso mesmo! ― Replicou.

― Você está louca! Louca! ― Comecei a rir de raiva.

― Olha, eu não consigo! ― Pegou suas coisas. ― Eu vou embora.

― O quê? Você não quer conversar sobre isso? Vai fugir de uma discussão, Sakura? ― A segui. ― Volta aqui! Não me deixa falando sozinho!

― Quando o senhor se acalmar, eu converso. ― Bufou, abrindo a porta.

― Ótimo!

― Ótimo! ― E ela saiu.

Droga!

― INFERNO! ― Gritei.

Mr. Black Label estava brincando no tubo que a rosada havia dado para ele. Ele apenas me olhava levemente assustado.

― Aposto que você está feliz com isso, né? ― Briguei com ele e ele miou de volta, com raiva. ― Tem razão, não é sua culpa.

Respirei fundo e me sentei no chão, encostando as costas na porta em que Sakura saiu. O meu gato se aproximou aos poucos e veio se roçar em mim.

Aos poucos, fui me acalmando. Incrível como os mascotes nos trazem uma paz indescritível...

O abracei e ele continuou esfregando a cabeça em meu pescoço.

Ainda estava irritado, mas não pude evitar de soltar:

― Sinto falta dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Produtos Uchiha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.