Produtos Uchiha escrita por ICLP, Hitari Amai, Evil Queen 42, ExoLina42


Capítulo 17
Eu sou um merda, mermão


Notas iniciais do capítulo

Iríamos postar semana passada, mas, por motivos de saúde, não deu... So sorry --'

Enfim, enjoy ;**



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Haja coisa para fazer! Hoje eu estou realmente atolado de trabalho.

Ainda estamos um pouco longe, mas já me cobram alguns detalhes sobre o aniversário da M.U. Eu realmente não sei o que fazer, e me frustra ter que apelar para a Ino de novo.

Liguei na rádio e deixei as músicas tocarem para me distrair. Quem ouve rádio hoje em dia? Não sei, e foda-se, eu coloquei na rádio e não preciso de um motivo para fazer isso.

Por incrível que pareça, pessoas ligam pedindo música. Isso é uma realidade, descobri. E o pior é que não posso abrir a boca para dizer que apenas pessoas com mais de 50 anos fazem isso, pois também tocou sertanejo universitário, pop e funk! Há meia hora eu estava cantarolando "olha a explosão", e eu nem sei se isso se encaixa em funk, mas tudo bem.

O que eu acho bem interessante, ou não, é o tal do sertanejo... São umas músicas cujas letras às vezes não fazem muito sentido, ou fazem sentido num momento de fossa. Não sei, e prefiro não saber.

A pessoa canta que não sabe dizer o que mudou, mas nada está igual... Então tudo mudou, né, meu filho? Diz que vai fazer um leilão, e pergunta quem dá mais pelo coração, então nesse momento vem o seguinte questionamento: Se ninguém quis de graça, vai querer pagando? E quem é capaz de fazer um sexo tão louco e selvagem a ponto de acordar um prédio todinho de madrugada, achando que vai causar inveja ao invés de raiva? Ah, a mais engraçada de todas é uma que diz que “pra deixar acontecer a pena tem que valer”... Juro que imaginei o Mestre Yoda compondo.

Meu estômago me alertou que é hora de comer. Desde o incidente no banheiro eu decidi que darei uma atenção um pouco maior ao que como... considerando também o regime ditador da Führer Haruno.

Ainda estremeço quando lembro que ela comprou alimentos que soltam o intestino... Fiquei branco na hora que ela mostrou. Eu quero prender meu intestino, isso sim!

Óbvio, a praga do Naruto contribuiu diretamente para isso, mas não quero outra quase morte no banheiro. Mais uma daquela e eu posso encomendar meu caixão. E eu sou muito jovem para morrer.

Larguei tudo e fui até o restaurante da empresa. Nada de pedir lanches ou adiar meu almoço. Não. Vou comer no horário certo, e selecionar direitinho o que vai no meu prato.

Arroz, salada crua ― alface, tomate, beterraba e couve-flor ―, salada de batatas com maionese, peixe grelhado, e um suco de goiaba para acompanhar... Nada pesado, não quero sobrecarregar meu organismo.

Até tirei uma foto do meu prato e mandei pra Sakura, todo orgulhoso.

Eu quis pedir uma pizza? Muito. Eu quis pegar frango frito com aquela pele para lá de crocante? Demais, a boca até salivou. Quis encher meu prato com batata frita? Pra caralho. Quis pegar um litro de Coca-Cola e tomar tudo sozinho? Não só quis, como ainda quero. Mas não vou fazer isso.

Peguei uma mesa pequena e vazia pra poder comer em paz. Hoje Sakura não tem nenhuma sessão aqui na empresa, então provavelmente está em casa ou no shopping fazendo compras. Pelo menos recebeu minha foto, espero que veja logo e sinta orgulho.

"Ah, Sasuke, você me emociona com o seu empenho", imagino ela respondendo. Crio expectativas e vou me ferrar? Evidente que sim.

― Quem é você e o que fez com o Sasuke? ― Naruto apareceu do nada e sentou de frente para mim com seu almoço.

No prato dele só dá para ver folha, como é que uma pessoa dessas se sustenta?

― O que foi? ― Me fiz de desentendido, porque sei muito bem que ele está falando do meu almoço.

― Você está se alimentando bem. Pensei que não viveria pra ver isso.

Revirei os olhos.

Jogo na cara que a culpa foi dele? Não, melhor não. Estamos almoçando, não é hora para eu falar da minha dor de barriga. Dá calafrios só de lembrar.

― Milagres acontecem. ― Dei de ombros, foi quando finalmente desviei minha atenção do prato para o loiro e uni as sobrancelhas. ― Você está de rosa?

Naruto está usando uma camisa rosa claro por baixo da jaqueta de couro preta. Ele é adepto aos tons mais vibrantes e coloridos, acho que eu estranharia menos se ele usasse um rosa choque.

― Rosa está vindo com tudo. ― Ele disse empolgado. ― É super tendência pra 2018, sabia? Você ficaria lindo de rosa!

Eu, de rosa? Não. Definitivamente não.

― Não acho que combine comigo. ― Falei indiferente. ― E eu não manjo nada de tendências. Independentemente de qualquer coisa, prefiro meus tons neutros.

― Vê como Sakura é tão diva, tão diva, que até a cor do cabelo dela vira tendência?

De fato, até Crocs viraria tendência se a Sakura usasse.

― Mesmo assim eu não vou usar rosa. ― Respondi.

― Rosa é a cor mais quente. ― Ele riu. ― Aceite. No ano que vem será uma cor muito vista.

Não era azul a cor mais quente? Ah, foda-se. O único rosa que eu quero ver é o dos cabelos da Sakura.

― Acho que eu concordo que rosa é a cor mais quente. ― Não pude conter o riso.

― Por falar em rosa ser a cor mais quente, o que rolou quando a Sakura foi ao seu apartamento ontem? ― Naruto questionou antes de dar um gole em seu chá gelado... Quem almoça tomando chá gelado?

― Como você sabe que a Sakura foi ao meu apartamento?

Naruto sorriu amarelo. Aí tem!

― Digamos que eu pedi pra ela ir cuidar de você.

Ele destrói minhas ilusões! Pensei que Sakura tivesse ido até a minha casa por estar preocupada comigo, por gostar de mim de alguma forma, me senti até especial... Mas não. Ela foi porque o Naruto pediu. E ainda ficou com a minha Mulher Maravilha!

Com certeza aquele absurdo de compras foi ideia do Naruto também. Afinal, ele é quem mais vive me enchendo o saco com essa onda fitness, inclusive já falou milhões de vezes sobre o tal suco detox que é ruim pra caralho.

― Ah, foi você... ― Observei com desânimo quase palpável.

É isso que a gente ganha por ser trouxa!

― Nossa, pelo visto foi frustrante!

Minha maior frustração certamente foi ver as compras que ela fez para mim. Céus, era tanta coisa que fez meu sangue gelar. Depois da minha diarreia, a última coisa que eu quero ver na minha frente é uma ameixa, ou um mamão. Porra, ela poderia ter levado banana, ou goiaba, ou qualquer coisa que não seja usada por quem sofre com prisão de ventre! De onde ela tirou que eu preciso comer coisas que soltam o intestino?

Depois que ela saiu da minha casa, juro que minha vontade foi de me entupir com farofa!

Preciso dizer que acordei de madrugada com minha barriga se remexendo? Não...

 Pessoas normais têm medo de acordar de madrugada e encontrar uma alma penada. Mas eu juro por Deus que meu medo era de acordar todo cagado.

― Não foi. ― Respondi. ― Mas pensei que a Sakura tivesse ido à minha casa por estar preocupada comigo... Só que ela foi só porque você pediu.

― Ela não foi só porque eu pedi. ― Enfatizou. ― Certeza.

― Ela disse isso?

― Não... Mas não precisa dizer. ― Bufou. ― Ela nem sabia que você não ia trabalhar à tarde. E a diva demoníaca suprema pareceu verdadeiramente preocupada com você. Descobri inclusive que é bem provável que um coração bata naquele peito.

Naruto é bem realista, inclusive reclama que eu sou trouxa, então com certeza não iria me iludir.

Estou sendo muito ridículo em criar esperanças? Talvez. Porque eu não posso ver uma expectativa que já quero criar, dar amor, carinho, Biotônico, para ela me matar no final.

Droga, eu nunca senti isso por alguém! Estaria eu, de fato, apaixonado pela Sakura? Cacete, ela é perfeita demais e qualquer um a admiraria, mas eu sinto que vai muito além disso!

Sem falar que ela não me julgou quando viu meu santuário nerd. Eu escondia aquele cômodo dela como um adolescente esconde suas pornografias, temia que ela encontrasse e me julgasse a pessoa mais infantil do mundo. Mas ela achou legal... Por incrível que pareça, ela achou legal! Isso me encantou ainda mais nela.

E o melhor de tudo, ela jogou Super Soccer comigo!

― Eu me sinto um moleque de doze anos, sabia? ― Resmunguei. ― Como eu posso ser idiota e imaturo o suficiente pra gostar de alguém tão rápido?

― Não é idiotice e nem imaturidade, é só sua Vênus em Peixes. E você tem Marte em Câncer, se não me engano. ― Começou... ― Já expliquei isso pra você, amor.

― Não acho que ela sinta o mesmo... ― Admiti cabisbaixo, ignorando completamente a astrologia.

Mas confesso até que me deu um pouquinho de aflição. Naruto manja mesmo dessas coisas, e se o negócio tem nome de doença, então boa coisa não é.

― Santa Cher! ― Suspirou, massageando as têmporas. ― Sasuke, meu anjo, você é capaz de conquistar a Sakura! Vai na fé... com muita fé, inclusive, pois estamos falando de um demônio.

Revirei os olhos. Não precisa ofender tanto a mulher da minha vida e futura mãe dos meus filhos... Argh, por que sou tão trouxa?

― Será?  ― Suspirei ― Não consigo ficar confiante...

Ora, se ela sequer conseguiu perceber que já me fez ter uma ereção, jamais perceberia que eu gosto dela. Como ela não percebe essas coisas? É ingenuidade demais para uma pessoa só!

― Misericórdia, você é o leonino menos leonino que eu conheço. ― Resmungou. ― Cadê sua autoconfiança, Sasuke?

Respirei fundo. Acho que é isso que falta em mim. Naruto está certo.

Autoconfiança. Essa é a palavra.

Após terminar minha refeição, voltei para minha sala e fui direto para o banheiro, onde já deixo uma escova de dentes, pasta e fio dental. Afinal, eu passo o dia aqui, né? Preciso desses primeiros socorros.

Voltei para o meu trabalho. Hoje eu estou cheio de coisa pra fazer, e não quero chegar em casa tarde porque quero dormir cedo, então não vou me dar ao luxo de tirar nem ao menos um cochilo depois do almoço.

Para quem não sabe, na empresa há um lugar para descanso, que os funcionários usam após o almoço quando passam o dia aqui. E, na hora do cansaço, até minha cadeira serve para dormir.

 Planilhas... Números... Planilhas... Mais números...

Deus, socorro! Por que eu não posso ser o Batman? O dinheiro eu já tenho.

Aniversário da M.U... Céus, o que eu vou fazer? Não quero jogar essa responsabilidade enorme nas costas da Ino, pois ela é paga para fazer o trabalho dela, não o meu.

Bosta... Sequer consigo pensar num tema. A Première teve como tema aquele negócio de Pin-Up, que eu sequer sabia o que era... Para o aniversário da empresa, não quero nada muito excêntrico, mas quero que seja mais grandioso do que a Première da M.U.

Se eu usasse os Cavaleiros do Zodíaco como tema, me zoaram além da conta?

Argh, Sasuke, não viaja!

Daqui a pouco eu estou criando cabelo branco por causa disso, mas prometi a mim mesmo que vou decidir o tema sozinho!

Não sei exatamente quanto tempo se passou. Meus olhos começaram a arder por causa da luz do computador, senti lacrimejar um pouco.

Acho que isso é um sinal. Preciso parar um pouco.

Suspirei pesadamente e alonguei minha coluna, ouvindo um "crec". Estou crocante.

Meu telefone tocou, era a secretária. Atendi.

Senhor Uchiha, sua mãe está aqui para vê-lo.

Minha mãe? Pensei que ela ainda estivesse na Rússia!

― Pode mandar entrar.

Logo minha mãe entrou, elegante como só ela ― e a Sakura ― sabe ser.

― Meu amor... ― Ela caminhou até onde estou e me deu um beijo na testa. ― Esquece que tem mãe.

Não contive um riso.

― Pensei que a senhora ainda estivesse na Rússia. ― Justifiquei.

Ela sentou numa poltrona de frente para a minha mesa e fitou meu rosto.

― Você anda bem aéreo, Sasuke. ― Afirmou séria. ― Voltei há dois dias. As gravações já acabaram.

Putz!

― Rola algum spoiler? ― Indaguei interessado, como quem não quer nada. Vai que cola.

― Não. ― Ela riu. ― Foram gravados três finais. Nem os atores sabem de fato como Amaterasu vai acabar.

Vai ser alguma desgraça, certeza.

― Custa me contar?

― Sasuke, não vou contar. ― Ela riu.

Faltam poucos dias para a última temporada de Amaterasu começar, mas os episódios são gravados com antecedência. Talvez façam isso para evitar que vaze alguma cena, não sei.

Acho incrível que minha mãe fale em inglês forçando um sotaque russo tão natural, sem resquícios de sotaque brasileiro. Me dá vergonha, pois o meu inglês tem um forte sotaque brasileiro.

― Só me responde uma coisa então... ― Falei sugestivamente. ― George R. R. Martin aprovaria?

Mamãe começou a rir.

― Acho que ele aprova a série toda. ― É, não colou. ― Nossa, vou sentir falta do elenco. Éramos quase uma família já.

― Adota o Tom Ellis então. ― Dramatizei.

Tom Ellis é o ator que faz o papel do filho caçula de minha mãe na série. Um dos protagonistas.

― Pelo menos ele não me deu um gato horroroso como neto. ― Mikoto riu, me fazendo revirar os olhos.

Para quem não sabe, minha mãe tem horror a gatos, prefere cachorros. Até nisso se parece com Sakura.

― Um dia te darei um neto, ou uma neta... Só não prometo que será a Emma Roberts. Também não lhe prometo a Evan Rachel Woods como sua nora. ― Até porque vai ser a Sakura.

― Será que você vai ficar como o Itachi? Chegar aos trinta sem me dar ao menos um neto? ― Suspirou. ― Sasuke, eu me aposentei, agora só falta um neto pra eu estragar e minha vida ficar completa.

Por que o Mr. Black Label não conta? Ele é como um filho para mim, deveria ser um sobrinho para o meu irmão, e um neto para os meus pais.

― Mãe, vamos com calma... Eu preciso arrumar uma mulher primeiro.

Está difícil, mas fé no Pai.

― Você é tão bonito, isso não deveria ser uma dificuldade pra você. ― Riu. ― E a Sakura?

Corei até os ossos.

― O que tem ela?

Sasuke, sua mula, não sabe nem disfarçar o tombo pela Sakura!

― Eu sempre tive vontade de conhecê-la, sabia? Mas nunca dá certo. Disseram que ela não veio trabalhar hoje.

Ah, se minha mãe soubesse que Sakura foge dela como o diabo foge da cruz.

― É, hoje está de folga. ― Comentei. ― A senhora é muito parecida com ela, sabia?

Principalmente quando está com raiva.

― Vocês são amigos, não é? ― Sorriu de canto. ― Fontes confiáveis me garantem que vocês estão bem próximos.

Mãe é mãe, não dá para esconder nada.

― Ela é incrível. ― Esbocei um sorriso bobo. ― Sim, nos tornamos amigos.

― Só amigos?

Infelizmente.

― É, só amigos. ― Acho que soei meio decepcionado.

― Sei... ― Comentou desconfiada. ― Mas, Sasuke, eu não vim aqui só para matar a saudade ou jogar conversa fora.

― Eu já imaginava.

― Sasuke, as paredes da M.U. têm olhos e ouvidos. Fiquei sabendo que você anda estressado, sobrecarregado, e que inclusive ontem não trabalhou à tarde por não estar passando bem.

Resquícios de uma quase morte no banheiro, não precisamos entrar em detalhes.

― Muito trabalho, mãe.

― Você anda tendo aquelas crises de novo?

― Enxaqueca? ― Ela assentiu. ― Não. Faz tempo que não tenho.

Mikoto pareceu aliviada. A pior crise que eu tive foi na época em que eu ainda era estagiário e estava fazendo meu TCC... Nossa, não gosto nem de lembrar, até desmaiei de dor dentro da empresa e fui parar no hospital. Minha mãe ficou preocupada pra cacete e me dispensou dos trabalhos na M.U. até que eu concluísse meu TCC e o apresentasse.

― Eu estive sentada nessa cadeira durante anos, e não vivia nessa exaustão toda. ― Afirmou. ― Acho que não é só isso... Tem frustração aí atrás?

Talvez. Não que eu odeie meu trabalho, pois administro a empresa, e estudei Administração para isso. Era o curso que eu queria? Não, mas me formei.

― Eu nunca vou ser como a senhora, mãe.

― Eu não te criei pra ser minha versão masculina, eu te criei pra ser o Sasuke.

― Me criou pra dar continuidade ao seu trabalho. ― Completei.

― E você está fazendo isso.

Eu? Ino. Se não fosse ela, a Première não teria ganhado nem a metade dos elogios que ganhou.

Ino faz pela M.U. mais do que eu... Eu que deveria ser a alma dessa empresa como minha mãe um dia foi.

― Não como deveria. ― Abaixei o olhar.

― Eu te preparei por tantos anos... Você estagiou aqui enquanto estava na faculdade. Eu pensei estar fazendo a coisa certa.

Ótimo, agora ela também está decepcionada comigo. Pelo menos é o que parece.

― Mãe, eu só estou cansado, só isso. ― Menti. ― Não precisa se preocupar comigo.

― Você não consegue mentir pra mim.

Droga! Não consigo mesmo.

― Perdão.

― Pelo que? ― Ela questionou.

― Por não ser o sucessor que a senhora esperava que eu fosse. ― Falei sinceramente, pois essa é a verdade.

Todo mundo deposita expectativas em cima de mim desde que eu nasci... Como posso, sozinho, alcançar todas?

Sinto que desapontei minha mãe.

― Eu pensei estar fazendo a coisa certa. ― Admitiu mais uma vez. ― Eu te preparei por tanto tempo, pensei que você estivesse pronto.

― A senhora não falhou, mãe. Eu estou pronto... Mas, convenhamos, não tenho o mesmo talento que a senhora.

― Talento não vale de absolutamente nada se não há experiência. ― Disse ela. ― Por isso eu mantive você sempre perto de mim, para que aprendesse tudo o que precisava aprender antes de tomar a presidência.

― E eu aprendi. ― Tornei a dizer. ― A senhora não falhou comigo, mãe...

Eu falhei com a senhora, pensei.

― Você nunca se impôs. Quando eu te levava em eventos e você focava sua atenção quase que o tempo todo nos seus jogos e revistinhas, eu me perguntava se aquilo era certo. Se você iria se adaptar ao universo da M.U. Você era um garoto, qual garoto não gosta de jogos e revistinhas? ― Riu. ― Você sempre foi tão fácil e tão difícil de lidar. Tudo estava bom pra você, nunca contestava nada, apenas aceitava tudo passivamente e em silêncio. Isso acabou te transformando numa incógnita, mas eu sempre acreditei que você teria a liberdade de falar comigo caso minhas atitudes não lhe agradassem.

É isso mesmo que eu estou ouvindo? Mikoto acha que falhou como mãe?

Relacionado a mim, ela não disse mentiras. Eu sempre aceitei tudo calado, na minha. Jamais cheguei na minha mãe pra falar que eu não me considerava capaz de substituí-la. Eu queria agradá-la... E, ainda hoje, percebo que as coisas não mudaram. Eu não consigo me impor, apenas acato tudo.

― É muita coisa, mãe. ― Abaixei a cabeça. ― Eu não domino as coisas como a senhora dominava, eu tenho muita coisa pra aprender ainda. E espero aprender.

― Você está frustrado por ser presidente da M.U.?

― Não. ― Falei sinceramente, sem hesitar. ― O que me frustra é não conseguir concluir meu trabalho com louvor como a senhora fazia. De não conseguir me impor, de não poder opinar sobre as coisas dos catálogos e desfiles por não saber a diferença entre saia midi e saia lápis.

Eu não compreendo o universo feminino, fato!

― Para de tentar carregar o mundo nas suas costas, Sasuke. Você não teria toda essa equipe se ela não fosse necessária. Estão todos aqui para te ajudar.

Mikoto não precisava dessa ajuda toda.

Me sinto como uma criança que precisa de alguém segurando em sua mão para atravessar a rua, ou que precisa dormir com alguma luz acesa para sentir segurança.

Eu preciso que alguém me guie. Preciso de uma luz para compreender muita coisa, para sentir segurança antes de qualquer decisão a ser tomada.

― Na Première do ano passado a senhora decidiu todos os mínimos detalhes... Desde a decoração até os penteados das modelos. E eu, o que fiz? Deixei isso tudo por conta da Ino, porque eu não teria sido capaz.

― O seu problema é que você quer se trocar comigo. Pare com isso, Sasuke. Você não tem que ser igual a mim.

― É o que todos esperam de mim.

O que posso dizer para minha mãe? Pedir desculpas por eu ser um fracasso?

No fim, eu só queria ser o filho que ela esperava que eu fosse. Falhei.

Ficamos em total silêncio por alguns segundos, até que ouvi minha mãe suspirar.

― Desculpa por ter segurado na sua mão pra te guiar o tempo todo.

― Como? ― Uni as sobrancelhas. Ela não deve me pedir desculpas, eu devo fazer isso.

― Desculpa por não ter deixado você escolher qual caminho queria seguir.

Senti um nó na garganta.

Não há nada pior do que ver a pessoa que eu mais amo no mundo demonstrar que está triste por minha causa.

Mikoto está decepcionada consigo, e a culpa disso é minha.

Por tanto tempo pensei em agradá-la. Eu nunca falei que não gostava desse universo de moda pra não deixa-la triste, pra não destruir todas as expectativas que ela tinha em mim.

Mas agora a realidade bateu à porta, está tudo desabando em nossas cabeças.

― Para com isso, mãe. ― Pedi. ― As coisas estão muito recentes. Me dá mais um tempo.

Eu quero mostrar que sou capaz. Quero provar que posso ser bom.

― Quanto mais alto o cargo que você ocupa, maior é a pressão que você tem que aguentar. ― Disse ela. ― Já estive nessa cadeira... sei como é.

Realmente, isso aqui é para enlouquecer qualquer um. Eu ainda estou me acostumando.

O trabalho era mais cansativo quando eu era apenas estagiário aqui, não nego, mas a pressão em cima de mim era bem menor.

― Eu vou me acostumar. A senhora vai ver. ― Falei decidido.

― Não quero que isso afete sua saúde, seu psicológico.

― Eu sou forte. ― Sorri de canto.

― Eu espero mesmo que seja.

Ficamos em silêncio... O clima estava meio pesado por causa da nossa conversa.

― Então... ― Mamãe me chamou a atenção e sorriu. ― Você está mais preocupado com suas roupas.

Corei um pouco... Até a minha mãe, cara!

― É, trabalho com moda, então é melhor eu me preocupar, não é? ― Sorri de volta.

― E agora resolveu cuidar da alimentação também.

― É, estava na hora de começar a me cui... ― Ei! Espera um momento. ― Como a senhora sabe disso? ― Estreitei os olhos.

― Encontrei com seu amiguinho e ele me falou. ― Deu de ombros.

“Amiguinho”... Ela pensa que ainda somos crianças?

― Humpf!

― Ora, não me venha com “Humpf”. Com essa idade e tá querendo apanhar? ― Resmungou e eu fiquei tenso na hora. Não acho que ela vai bater em mim, mas não estou cem por cento certo disso... ― E por que resolveu se cuidar agora, amor? Está com alguma namoradinha? ― Ela mudou de humor de repente.

― Ah, não... É só que eu me senti um pouco mal esse final de semana, aí resolvi me cuidar para evitar. ― Menti... A vontade que tenho é de comer porcarias, mas a Führer Haruno foi tão gentil, que resolvi seguir.

― Tá vendo? Eu te disse que você tem que comer direito, mas você não escuta! ― Ela cruzou os braços. ― Mas meu bebê está melhor agora? ― E mudou de novo... Essa é a dona Mikoto.

Naruto já me deu uma explicação astrológica para essa bipolaridade da minha mãe, mas eu não dei atenção, é claro. Não faz sentido.

― Sim, estou... A Sakura cuidou de mim e comprou umas coisas mais saudáveis para ajudar em minha alimentação. ― Falei.

Minha mãe me lançou um sorrisinho malicioso e eu arqueei uma sobrancelha.

― A Sakura? Aquela que é só sua amiga? Ela cuidou de você?

Agora sim, devo estar mais corado do que quando a Sakura troca de roupa em minha frente.

― Somos só amigos, mãe... E amigos cuidam um do outro. ― Passei a mão em meu rosto.

― A Karin já cuidou assim de você? ― Ela sorriu cínica.

Estreitei os olhos.

Não, a Karin não é maravilhosa como a Sakura. A Karin apenas riria da minha caganeira... A Sakura riria e cuidaria de mim, enquanto me passava um sermão sobre minha alimentação!

― Não vem ao caso... ― Murmurei.

― Adoraria conhecer sua “amiga”. ― Mikoto fez aspas e sorriu sonhadora. ― Como eu nunca consegui falar com ela? Está aqui há dois anos! Admiro aquela garota, ela tem garra, só tende a crescer cada vez mais.

“A Sakura foge, foi assim que a senhora não conseguiu falar com ela.” Pensei em responder, mas me limitei a sorrir.

― Ela parece com a senhora. ― Até demais. ― Ela ascendeu na carreira como a senhora... E briga para eu me cuidar, como a senhora. E ela é um amor, quando não está brigando, como a senhora.

― Eu não brigo com você, ora! ― Ela revirou os olhos. ― Então, chama a sua “amiga” para jantar conosco qualquer dia. ― Fez aspas novamente no “amiga” e levantou-se. ― Já estou indo, bebê, te vejo depois.

Eu levantei e ela me abraçou, me dando um beijo na bochecha.

― Até depois, então. ― Sorri.

― Tchau, não esquece de chamar a Sakura. ― Ela sorriu e saiu.

Ótimo, agora ela vai ficar me enchendo sobre a Sakura ser minha “amiga”... E vai me encher para apresentar as duas.

Devo sequestrar a Sakura? Só assim para eu conseguir levá-la para perto da minha mãe.

 

[...]

 

Cheguei em casa moído e fui recebido pelo Mr. Black Label. Não brinquei com ele e nem o cumprimentei como de costume, muito pelo contrário, briguei quando ele começou a andar por entre as minhas pernas e quase me fez cair.

Hoje eu não estou legal, e não é questão de saúde, mas de crise existencial.

Ultimamente me sinto como se eu tivesse sido escalado para a seleção brasileira, mas fiquei no banco e não entrei em campo.

Nas várias matérias que li sobre a Première a Ino levou todo o crédito. Claro, eu mesmo disse na entrevista que a ideia havia sido dela e tal, não é por isso que eu estou mal... É porque eu me sinto um completo inútil! Eu só ajudo com a verba ― o que não é mais do que minha obrigação ―, mas minha presença naquela empresa não influi e nem contribui.

Nem nosso corpo é simétrico, é óbvio que uma mãe não teria dois filhos totalmente iguais em questão de personalidade, por mais parecidos que sejam fisicamente. Itachi seria um bom presidente pra M.U., ele tem jeito para isso, não eu. Me sinto um verdadeiro inútil.

Ainda mais depois que conversei com a minha mãe... Sinto que eu a decepciono, por mais que ela diga que não e que se culpe...

Ah, merda! Eu fiz minha mãe se sentir culpada.

Eu vivo dia após dia num lugar cujos termos mais usados eu desconheço. Ora, por que eu tenho que entender de moda? E por que isso é tão difícil? Entendo tudo sobre tecnologias, coisas que muita gente julga como difícil, mas não sei a diferença entre alaranjado e coral, entre rosa e rosé, entre cinza e grafite. Não entra na minha cabeça!

O vestuário feminino deveria ser simples. Vestido, bermuda, short, camisa, blusa e saia. Lindo, maravilhoso! Mas as bonitas não se conformam com isso... Não. Têm que inventar uns termos tipo pantalona, flare, midi, skinny, dentre outros que eu não lembro.

O pior é que não para por aí... Não. Se não bastasse terem mexido no vestuário, ainda mexeram nas cores. Alguém sabe me dizer que diabos é a cor "Amor de verão"? Não, porque isso não é nome de cor. Eu falto ficar louco com catálogos de maquiagem e linhas de esmaltes.

Eu me esforço, mas não aprendo. É como se esses assuntos fossem de uma matéria horrível que eu não consigo aprender.

Tirei minha roupa e me enrolei na toalha. Saí do meu quarto e fui colocar comida para meu companheiro de apartamento, mas ele nem me deu moral. Acho que ficou ressentido com a bronca e só vai comer depois que eu sair daqui.

Ah, foda-se!

Procurei pelo meu celular, mas não encontrei em lugar nenhum. Inferno, esqueci aquela merda no carro! Cacete, como eu sou avoado!

Não vou lá em baixo de toalha, nem vou vestir uma roupa só para pegar o celular. Depois que eu estiver vestido vou lá, afinal, quero jogar antes de dormir.

Tomei um banho demorado. Aquele banho da porra, aquele que lava até sua alma. Aquele momento de filosofia...

Que caralhos eu estou fazendo na M.U? Não consigo me posicionar em nada, sempre concordo com a opinião da Ino porque ela compreende o que eu deveria compreender. Eu sou uma vergonha para minha mãe! Sou aquele tipo de pessoa pra quem você olha e pensa "Uma camisinha teria sido bem-vinda". Minha vida é uma merda! E o pior de tudo, mesmo quando me esforço do meu jeito, não levo créditos. Perco noites de sono para notícia mais comentada depois da Première ser o fato de eu estar vestido bem! Mas, claro, isso não durou muito tempo, porque no dia seguinte me flagraram vestido como eu estava em casa porque saí desesperado após meu gato ter comido chocolate.

Sabe a vida? Então, ela é tipo o Jigsaw, ela joga com você. Ela quer que você se foda. Quando você acha que as coisas estão indo bem, eis que ela te surpreende com uma nova e mortal jogada.

Cecete, eu estou naquela bad!

Depois do banho eu me vesti confortavelmente. Pensei em alguma coisa para comer. Abri a geladeira e olhei aquele monte de comida fitness que a Sakura comprou.

Não quero comida saudável, quero alguma porcaria.

Saudades das comidas prontas que habitavam aqui. Infelizmente estava acabando e a Sakura comprou tudo isso, então não comprei mais nada.

Abri o freezer e meu rosto se iluminou. Ainda resta uma caixa de nuggets!

Peguei a caixa de nuggets da Mônica ― não me julguem, são os melhores ― e coloquei todos numa fôrma. Gosto deles fritos, mas espirra óleo para tudo quanto é lado e isso me irrita, então pus no forno para assar... Sem falar que a Sakura foi super gentil em comprar tudo isso para mim, se preocupa com minha saúde e tal, então no forno vai menos contra as regras dela.

Mas eu não estou nem aí. Vou jantar nuggets e pronto.

A campainha tocou. Droga, não quero visitas. Se eu morasse numa casa, era só ficar quietinho que ia soar como um "não tem ninguém". Mas o porteiro viu meu carro entrar, então não dá nem para mentir. Tenho que falar com ele sobre isso...

E por ele ter deixado entrar, só pode ser um dos loucos que chamo de amigos, alguém da família, ou a perfeita da Sakura.

Fui atender aquela droga e vi que era a Karin pelo olho mágico... Ora, o que ela quer comigo? Devo botar mais nuggets no forno? Talvez não. É a Karin, não a esfomeada perfeita da Sakura.

Assim que abri, ela me mostrou meu celular.

― Ué... ― Olhei para o aparelho com cara de idiota. ― O que isso faz com você?

― Sasuke, você largou seu celular em cima da sua mesa, sua secretária me entregou.

Como eu fiz isso? Minha cabeça está nas nuvens, misericórdia!

O celular hoje em dia é quase uma parte do corpo de uma pessoa. Ninguém deixa o celular por muito tempo na mão de alguém, parece um aparelho sagrado. Como diabos eu esqueci o meu em minha mesa?

― Eu pensei que tivesse largado dentro do carro. ― Falei sem jeito e peguei meu celular, dando em seguida passagem para a ruiva entrar.

― Sasuke, você anda bem aéreo, eu notei. ― Ela disse preocupada, indo para a sala.

Sim, realmente minha cabeça está lá na lua, não sei por que o povo vem me encher o saco com problemas da Terra!

― Notou, é? ― Suspirei pesadamente e sentei no sofá. Karin sentou ao meu lado.

― Eu ia criticar o toque do seu celular, mas nem vou fazer isso... ― Ela fitou meu rosto. ― Você está abatido, Sasuke. Está pálido. O que tem?

Trabalho numa empresa onde não presto para nada, onde as pessoas falam comigo sobre as coleções e minha mente viaja para uma estratégia que me ajude a completar a missão que estou no Game of Shadows VI. Meu lema lá dentro virou "sorria e acene", pois só concordo com tudo que a Ino propõe, já que sou um grande zero à esquerda!

― Não tenho nada. ― Respondi, mas, pela expressão em seu rosto, ela não acreditou. ― Sério. Não tenho nada.

― Sasuke Uchiha, quer ver minha certidão de nascimento?

Ela está doida?

― Pra que?

― Porque você deve estar pensando que eu nasci ontem! ― Exclamou. ― Eu sei que alguma coisa está acontecendo com você.

Adianta mentir? Ela não vai parar enquanto eu não disser o que está havendo mesmo.

Eu e meu defeito de não saber mentir para os mais próximos.

― Eu sou um inútil, é isso. ― Dei de ombros.

Karin uniu as sobrancelhas, claramente confusa.

― Inútil?

― Uhum.

― Sasuke, por favor...

― Karin, o que eu faço naquela empresa além de patrocinar as coisas? Nada! Eu não faço nada!

― Claro que você faz!

― O que?

Ela ficou em silêncio. É, não tem resposta.

― Bem, você aprova os...

― Isso! ― Eu a interrompi. ― Eu aprovo tudo o que os outros escolhem, porque não tenho competência para isso! Aquela empresa está nas mãos da Ino, praticamente. Eu não entendo de moda, de maquiagem, de esmaltes, de decoração para evento, de fotos com modelos, de penteados para usarem nos catálogos... Não entendo nada! Se não fosse a Ino, eu não sei o que seria da M.U.

― Sasuke, por favor, não diga que você é um inútil. ― Ela falou com a voz calma. ― Mesmo que Ino tenha decidido muita coisa pra essa Première...

― É. ― Falei, interrompendo a Karin de novo. ― Só escolheu o tema, o local, a decoração, as roupas e penteados das modelos, as músicas...

― Sasuke. ― Agora eu fui interrompido pela Karin. ― Deixe eu terminar de falar, depois você reclama. ― Ela limpou a garganta. ― Enfim, mesmo com a ajuda da Ino, você teve seu destaque. Eu vi o quanto você se esforçou para que tudo acontecesse, você quase deu seu sangue por esse evento, Sasuke!

― Sim, ainda assim ninguém reconhece isso. ― Falei cabisbaixo.

― Entendo... ― Karin riu sem humor. ― Você quer ser reconhecido. Quer que percebam que você é como Mikoto.

― Eu jamais chegarei aos pés dela, Karin.

― Você quer atingir as expectativas que as pessoas sempre tiveram em torno de você, não? ― Ela sorriu. ― Sasuke, você não tem que provar nada pra ninguém. Você não tem que tentar ser como sua mãe, ou como seu irmão. Você é você.

― Mas é frustrante! ― Resmunguei. ― Eu sou um peso morto naquela empresa. O Itachi certamente faria alguma diferença ali, eu não.

― Nada é impossível. Você pode aprender.

― Aprender? ― Ri com deboche.

Dificilmente vou conseguir aprender aquelas coisas.

― Sim. ― Assentiu. ― Você tá se vestindo melhor, sabia? Eu ouvi comentários lá dentro, elogios voltados pra você. Inclusive a maioria das modelos disse que você está cem por cento mais bonito.

Esse comentário me fez rir. Claro, elevou minha autoestima, mas Karin pode estar dizendo isso apenas para me animar.

― Você me julga capaz? Mesmo?

― Só quem se julga incapaz é você. E, digo uma coisa, você é seu maior inimigo.

Ela é boa em articular palavras animadoras. Ela tem lábia, tenho que admitir.

― É incrível como você consegue melhorar meu humor. ― Comentei com um sorriso.

― Aproveita a Sakura.

― Sakura?

― É.

Ah, que abuso! Ela já pena para me ensinar a moda masculina, é capaz de ir acabar num sanatório se for tentar me ensinar desde moda feminina até cosméticos e aquelas cores com nomes bizarros.

― Será? ― Perguntei com insegurança.

― Vai ser um prazer pra ela, certeza! Ela ama a M.U., e vai dar até a alma pra ajudar a melhorar você, consequentemente, melhorar a imagem da empresa.

― Acho que vou falar com ela então. ― Falei pensativo. ― Vamos ter que aumentar nossa carga horária de aulas semanais.

― E vai ser um sacrifício pra você. ― Ironizou.

― Gosto da companhia dela, não nego... ― Suspirei. ― Acho que essa sua ideia foi a melhor coisa que já aconteceu.

― Olha só, já tá alegre. ― Comentou contente. ― Depois a bipolar sou eu.

― Você é. ― Revirei os olhos. ― Enfim... valeu pela ajuda.

― Ora, disponha! Mas da próxima vez que eu tiver que bancar a psicóloga vou exigir que aumente meu salário!

― Amigos, amigos, salário a parte.

Ambos começamos a rir, admito que me senti infinitamente melhor, tanto pelas palavras da Karin quanto pela ideia de passar mais tempo perto da Sakura.

Fitei o rosto da minha amiga, até que ela riu sem jeito.

― Que foi?

― Eu nem lembro mais de você com o outro corte de cabelo. ― Comentei como quem não quer nada. ― Esse aí ficou realmente muito bom, me admira que você esteja mantendo, já que enjoa das coisas depressa.

― Pois é, eu fiquei com um pouco de medo de cortar, porque se eu enjoasse iria demorar pra crescer, mas criei coragem e cortei... Tô amando desde então.

Ela raspou o cabelo de um lado e tirou também no comprimento, pois antes os cabelos de Karin iam até a cintura, agora estão um pouco abaixo do ombro.

― Esse corte combinou com você. ― Comentei. ― Ficou com cara de menina rebelde.

― Jura? ― Indagou animada. ― Pois eu tô morrendo de vontade agora de fazer um piercing na sobrancelha e tatuar um dragão chinês no braço.

Ela é doida, mas tem estilo.

― Combina com você. Sério, ficaria legal. Quando vai fazer?

Karin me olhou séria, então revirou os olhos.

― Lerdo, eu estava brincando.

Realmente foi estranho a Karin dizer que quer fazer piercing e tatuagem, até porque ela morre de medo de agulha, mas as coisas mudam.

E eu estou cansado demais pra identificar se ela estava brincando ou não. Ora, Karin falou sério, levei a sério.

― Eu nunca sei quando você tá falando sério ou tá brincando. ― Bufei.

― É um dos meus dons. ― Deu de ombros.

Ouvi um grito agudo vindo de Karin quando o Mr. Black Label pulou no sofá, entre nós dois.

Essa criaturinha tem o incrível dom de assustar as pessoas que vem no meu apartamento.

― Que feio! ― Briguei com ele. ― Não se assusta as visitas.

― Ora se não é o ser mais lindo desse apartamento! ― Ela o pegou nos braços e o encheu de beijos.

Lógico que ele está com cara de quem está odiando, mas não fez um único movimento para impedir os carinhos da Karin.

Lembro que Karin foi a primeira pessoa que conheceu o Mr. Black Label. Ele era ainda filhote, bem pequeno, e a Karin quando o viu quase o esmagou de tanto amor... E quase me matou por escolher um “nome estúpido de bebida para uma coisinha tão linda”, palavras dela.

Pelo menos uma pessoa que sempre reconheceu a beleza do meu filho felino.

― Pelo menos você reconhece a beleza dele. ― Comentei.

― Quem não reconhece só pode ser doido... Cada dia mais lindo esse bebê! ― Ela parou de esmagá-lo e o deixou no colo, ficou fazendo carinho.

Confesso que até eu tinha dó da feiura dele quando filhote. Era tipo eu quando bebê, não? Mas nós crescemos e ficamos lindos... Já a Karin sempre o achou lindo.

Mr. Black Label voltou a ficar entre nós, olhando pra Karin com uma expressão de "Fique longe do meu humano". Essa raça é bem apegada ao dono, e meu gatinho é bem ciumento com todo mundo. Ainda assim é manso, deixa que peguem nele numa boa, só com a Sakura foi que ele demonstrou um comportamento um pouco mais, digamos, hostil.

― Ele continua igualmente ciumento. Não deixa ninguém se encostar em você. ― Ela riu.

― Sim, ele é bem ciumento. Já mordeu o dedo da Sakura.

Karin não conteve o riso. Pobre Sakura, tenta fazer amizade com o Mr. Black Label, mas é tudo em vão.

― Acho que até o bichano já percebeu... ― Comentou.

― Percebeu o quê? ― Questionei desconfiado.

Ora, não é possível que todo mundo saiba do meu crush pela Sakura... É?

― Nada. ― Ela riu. Odeio quando Karin faz isso.

― Tá bom. ― Dei de ombros.

― Preciso ir. ― Ela se levantou. ― Pensa no que eu te falei, viu? Não precisa se sentir pra baixo, você não é inútil.

― Obrigado, Karin. ― Me levantei e a abracei. ― Foi bom conversar com você.

― Igualmente... ― Ela me soltou e esmagou o pobre do meu gato novamente. ― Tchau, bebê!

Levei a ruiva até a porta e nos despedimos. Bem, eu não queria receber visitas, mas a visita dela foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.

Peguei meu celular e mandei mensagem pra Sakura. Nada muito detalhado por enquanto, mandei só um "Oi" e o emoji dos olhinhos. Ela vai ver e vai responder, então entro no assunto das outras aulas.

Sentei no sofá e o Mr. Black Label saiu. É, ainda está ressentido, mas, mesmo assim, não deixou a Karin chegar tão perto. Falso!

Fiquei ruminando o que Karin disse. Realmente, não sou um completo inútil, mas me sinto assim porque ninguém reconhece o que eu faço. Nas revistas, tudo relacionado a M.U ou a Première cita mais Mikoto Uchiha, Ino Yamanaka e Sakura Haruno do que Sasuke Uchiha. Claro, precisei dar pra Ino os devidos créditos, seria sacanagem brilhar nas costas dela, mas isso me deixou pra baixo depois. Eu queria ter contribuído mais, mas não queria fazer merda.

Após alguns minutos senti meu celular vibrar. Era uma mensagem da Sakura.

"Oi, desculpa pela demora. Eu saí para comprar um body."

Ah, pronto, era só o que me faltava agora!

"Qual a necessidade disso?" Respondi.

Sakura mandou outra mensagem quase instantaneamente. Já disse que amo quem responde na hora? A Sakura é perfeita até nisso!

"Ora, eu estava precisando de um. Comprei um branco lindo!”

Céus, ela é louca mesmo.

"Sakura, você sabe pelo menos o que esse bicho come?  Ele vai cagar sua casa toda! Sem falar que fede."

A resposta que obtive foram emojis de carinha rindo. Ora, qual é a graça?

"Eu fui comprar um BODY, não um BODE."

Body? Nem sei o que é isso, pensei que ela tivesse digitado o "Y" por engano... Apesar de que o “Y” nem é tão perto do “E”. Enfim, nada é impossível, vai que a Sakura sentiu falta do Nordeste, né?

"É uma roupa", ela respondeu logo em seguida.

Não falo? Não falo que esse povo não tem o que inventar? Para que isso, Senhor? Mais um nome para eu aprender e saber o que significa.

"Enfim, quero falar com você, pessoalmente. Passa amanhã na minha sala."

Logo ela mandou um "Ok" e uns emoji mandando aquele beijo com um coração.

Fiquei com um sorriso bobo, criando expectativas, por conta de um emoji... Quer mais trouxa?

Beleza. Creio que é melhor falar pessoalmente, mas quero deixar a diaba rosa ciente de que preciso conversar com ela.

Suspirei pesadamente e um cheiro incômodo alcançou minhas narinas... Ué, tem alguma coisa queimando?

EITA PORRA, MEUS NUGGETS!


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