Red Umbrella escrita por Mirytie


Capítulo 2
Capitulo 2 - Pity


Notas iniciais do capítulo

Depois da pequena Rose, é a vez de Ryan revelar como era o seu mundo quando tinha apenas 5 anos.



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O mundo do pequeno Ryan de 5 anos era muito maior do que ele desejava que fosse.

Ao contrário de Rose, que andava na creche porque a mãe queria que ela aprendesse a ser humilde, Ryan tinha sido obrigado pelos serviços sociais a ingressar numa, depois da proteção de menores ver o que se passava em casa dele.

As férias de Natal estavam quase a chegar…e Ryan não estava nada ansioso para passar o feriado com os pais.

Tinha um pai violento e uma mãe que se drogava e fugia de casa tão depressa quanto voltava. Não era a primeira vez que Ryan desejava que ela não voltasse, depois de ela sair e bater a porta do velho apartamento onde moravam, enquanto gritava promessas de nunca mais voltar.

Mas voltava sempre.

O pai de Ryan só era violento para o filho, mas tomava cuidado para não deixar marcas onde as pessoas pudessem ver. Afinal, os serviços sociais tinham de pensar que eles eram uma família feliz.

O pai dizia-lhe constantemente que tinha sido Ryan que lhes tinha arruinado a vida. Antes de ele nascer, o pai e a mãe eram muito mais felizes, segundo ele. Aborto não tinha sido sequer uma opção. A avó, mãe da sua mãe, era extremamente religiosa e extremamente rica. Deserdaria a filha imediatamente se ela abortasse por vontade própria.

Mesmo tendo 5 anos, Ryan perguntava-se porque é que eles viviam em tamanha pobreza quando a família da sua mãe era tão rica.

Mas ainda faltariam alguns anos até Ryan descobrir a verdade.

A mãe não o ia buscar à creche cinco dias por semana, como a mãe de Rose fazia. Ia busca-lo quando estava em casa e não demasiado pedrada para se lembrar que tinha um filho. Nos outros dias, Ryan ia a pé para casa, sozinho.

Ele já tinha notado o olhar na cara de Rose quando ele fazia isso. Menina pretensiosa. Apostava que tinha tudo o que queria e nunca tinha parado para pensar no que os outros sentiam.

Era popular entre as outras crianças, com os seus vestidos coloridos e sorriso brilhante. A mãe vinha-a sempre buscar. E Ryan odiava-a tanto quanto uma criança de 5 anos podia odiar outra.

Num dia de chuva, a mãe foi busca-lo, com o guarda-chuva vermelho que tinha roubado antes de mudarem-se para aquele lugar. Ele viu, pelo canto do olho, Rose a dar um passo em frente com um sorriso na cara…até a mãe lhe esticar a mão.

Ryan não percebeu a principio, mas depois viu a mãe dela a ir busca-la, com o mesmo tipo de guarda-chuva, da mesma cor. Ele conseguia ler o que ela estava a pensar. Que uma pessoa como ele não merecia ter um guarda-chuva igual ao dela.

Ah! Ele odiava-a!

Quando chegou ao apartamento, correu para o quarto, trancou a porta e tirou a camisola para começar a passar pomada nas nódoas roxas que tinha nos braços e no peito, infligidas pelo seu querido pai na semana anterior.

Enquanto a mãe gritava ameaças, Ryan só conseguia pensar no quanto odiava aquela rapariga.

O Natal veio e a prenda de Ryan foi uma reprimenda do pai e mais algumas nódoas negras. Afinal, era por causa dele que o pai não tinha dinheiro para comprar prendas para a família, como uma pessoa normal.

Ao ver o filho ser maltratado, a mãe saiu porta fora depois de gritar que não conseguia aguentar mais viver com um marido tão violento e um filho tão malcriado…voltou no ano novo.

Ryan já não se importava e o pai parecia também não o fazer. Para surpresa de Ryan, o pai parecia sentir compaixão pela mãe, quando ela voltava, com lágrimas nos olhos e a pedir desculpas por os ter deixado.

Quando voltou à creche já se tinha esquecido da pequena, mimada, Rose…até a ver com um grande sorriso nos lábios, a contar a toda a gente como é que tinha passado o Natal e o ano novo. Era naqueles momentos em que Ryan tinha medo que a violência do pai estivesse no seu A.D.N.

No segundo dia da creche, Rose não falou com ninguém, apesar de as amigas tentarem falar com ela. Ryan conhecia aquela expressão na cara dela. Algo de muito mau lhe tinha acontecido. Servia-lhe bem, pensou Ryan enquanto um sorriso formava-se nos seus lábios.

No entanto, na hora da sesta, quando ouviu Rose soluçar o mais baixo que conseguia, sentiu um pequeno aperto no peito.

Pena? Dela? Porquê?

Pelo que tinha observado, ela era uma menina privilegiada. Provavelmente a mãe tinha-lhe negado algum presente e ela tinha ficado naquele estado.

Mesmo assim, não conseguiu odiá-la quando viu os olhos vermelhos e inchados, depois da hora da sesta acabar.

Mas não ia falar com ela. Não conseguia.

Por isso, escolheu a segunda opção.

As professoras ficaram claramente preocupada com a mudança súbita da Rose e, por muito que lhe perguntassem, ela não dizia o que tinha acontecido.

Ryan sabia qual seria o próximo passo das professoras e, por isso, quando os pais chegaram para buscar os filhos, ao fim do dia, ele escondeu-se. Era bom a esconder-se.

Tal como imaginara, as professoras chamaram a mãe de Rose para conversarem em privado. Foi aí que Ryan descobriu que o pai de Rose tinha morrido num acidente de avião há seis meses atrás e que a mãe tinha-lhe contado no dia anterior.

Devia ter sido um choque para uma menina mimada, mas Ryan não se conseguia imaginar no lugar dela. Se o pai morresse…ele não sabia o que iria sentir. Mas não era tristeza, definitivamente.

Naquele dia, ao ver Rose partir com a mão dada à mãe, foi a primeira vez que Ryan olhou para ela com uma certa pena.

Empatia, era o que era.

Ela não apareceu na creche nos dias seguintes.

Passadas duas semanas, as professoras disseram-lhes que ela não voltaria à creche por razões familiares.

Ryan perguntava-se se tinha sido um choque tão grande para Rose, a ponto de não aparecer mais à creche. Mas, no fim, acabou por simplesmente encolher os ombros.

Era menos um problema.

Sem Rose, o mundo do pequeno Ryan de 5 anos tinha ficado, felizmente, um bocado menor.

No entanto, não seria a última vez que se encontrariam.


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Notas finais do capítulo

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