A Canção de Fogo - Faíscas escrita por Sapphire


Capítulo 6
Hyde I


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!! Tudo bom com vocês?
Este novo capítulo vai abordar um reino e vários personagens novos!! Eu espero que vocês gostem!
Quero agradecer a todos os leitores que me ajudam na divulgação e tudo mais, vocês são demais!!!

Um obrigado ao Flávio e a Lívia, obrigado por terem criado esse arco maravilhoso que foi o do Hyde, vocês são maravilhosos!!!

Trailer da fic: https://youtu.be/pJD9bNJIWxk



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— Este homem cometeu os piores dos crimes contra seu próprio povo, envolvendo o assassinato de sua esposa e seu filho. Está aqui para ser julgado e condenado diante da sentença dos deuses, e no caso de sua ausência, diante do rei Hyde Oakenridge, do qual tem poder sobre todo a imensidão do reino de Shurin. 

O rei estava acomodado em seu trono dourado com a destra suportando o queixo, posto como uma serpente do deserto pronta para o bote, mas levemente entediada. A imensidão da sala do trono caia sobre ele com seus véus e entalhes de ouro, com grandes imagens e ídolos ao redor do semicírculo onde o trono ficava. O espaço aberto para o alto sol escaldante do deserto deixava o ouro com um aspecto ainda mais vivo, refletindo no rei e lhe dando um aspecto divino, poderoso. Ele observava as pessoas reunidas, o homem que cometeu o crime ajoelhado e com a face abaixada para os brilhantes azulejos do castelo, provavelmente admirando sua própria imagem minutos antes de ser sentenciado, se arrependendo ou não de seus crimes.  

Hyde moveu o rosto para os membros religiosos logo ao seu lado que buscavam um contato divino, esperando por uma única palavra que definisse o destino daquele homem. Vestidos em túnicas leves e brancas para aguentar com respeito o calor intenso de Shurin, eles formavam um círculo ao redor das estátuas, com as mãos e os pés juntos, em extremo respeito. 

 O próprio rei já tinha uma decisão, mas era natural de seu povo, de suas crenças, esperar por algo maior, algo vindo dos próprios e grandes criadores. O problema era quando esse tal sinal demorava demais. Estava impaciente naquele dia, minutos eram mais do que demorados, se sentia preso naquele lugar e aquela espera de quase uma hora estava lhe consumindo.  

O rei se levantou, descendo os degraus enquanto arrumava sua túnica branca e tendo em mãos a lança que tomava um posto muito mais importante que o seu próprio, pois ela era dada como a arma mais poderosa existente, e todo seu poder ia além da compreensão até mesmo do mortal que a tinha em mãos. Em uma extensão dourada e de quase dois metros, ela se destacava graças ao aspecto imponente e onipresente, com uma energia diferente que qualquer outra coisa viva, como se um próprio deus estivesse ali, presente, incorporado naquela arma. 

— Meu senhor, creio que nosso senhor maior e criador não deverá se pronunciar sobre este homem e seus crimes. Pode aguardar se preferir, mas sua decisão será a definitiva agora. 

— Hm. — Hyde sorriu no canto de seus lábios, dando passos ao redor do homem. O rei estava descalço, não era uma imagem incomum em Shurin devido a se localizar em meio ao grande deserto. Suas madeixas de um castanho claro eram pouco encaracoladas, e os olhos destacados em um tom doce de azul. Pôs a lança dourada entre os dedos, virando sua extremidade para o chão. — Você cometeu o pior dos crimes, que é tirar a vida de alguém que, além de seu próprio parentesco, também divide o sangue dos shurimianos. É a pior das coisas. Portando, sua sentença.. — Efetuou uma pequena pausa, estava calmo, como geralmente aparentava estar. — ...é ser morto e consumido pela lança divina, para que sua alma permaneça no pior tipo de sofrimento por toda a eternidade, queimando na lembrança das pessoas que matou, chorando pelas decisões que tomou, mas sempre sem uma resposta.  

— Meu rei.. 

Era tarde para poréns. A lança atravessou o estômago do homem como se não fosse nada, iniciando seus gritos e prantos de seus últimos segundos de vida. Estava praticamente empalado, com o rei o segurando em pé com a apoio da lança. As pessoas ao redor se afastaram para não se sujarem com o sangue, mas o próprio Hyde não se incomodava. Não, era mais uma sentença, mais uma alma sofrendo para sempre por motivos certos, não tinha com o que se incomodar. Derrubou seu corpo no chão, ainda vivo, retirando a lança e esperando pacientemente para que os olhos do homem se tornassem vidro, para que seu corpo não fosse mais nada além de um recipiente vazio. Moveu seus passos quando tudo estava pronto, seguindo até o círculo de sacerdotes e entregando a lança para o alto-membro, levantando o olhar. 

— Existe mais algum julgamento para hoje? — Perguntou, olhando para todas as pessoas presentes enquanto um homem lhe trazia um tipo de tecido. Hyde o usou para limpar suas mãos, esperando alguma resposta definitiva enquanto se livrava do sangue como conseguia.  

— Não, meu senhor. 

— Ótimo, estão todos dispensados para voltarem a suas atividades normais, limpem esse chão, joguem o corpo no deserto, as cobras precisam ser alimentadas. — O rei deu uma volta e observou as pessoas se retirando, entregando o tecido sujo para o homem ao seu lado. — Preciso trocar essa roupa. Pode me providenciar um banho? Muito melhor para me livrar disso.  

O rapaz assentiu, pagando seu respeito ao rei e se retirando com o tecido sujo. Em poucos segundos a sala do trono estava quase vazia, não fosse pelos servos que chegavam para limpar o sangue e carregar o corpo.  

Hyde se retirou para as grandes portas e corredores do castelo, observando os ídolos que continuavam a se apresentar pelas paredes e estátuas gigantes. Essas imagens seguiam por todo o castelo, perfeitamente entalhadas para representarem os quatro deuses de Shurin, cada um com seus grandes deveres, mas sempre um acima de todos, o maior e superior, aquele que deu aos shurimianos a maior parte de sua grandeza, Thojnm, entalhado por todo o reino como um grande homem jovem de cabelos longos e nu, segurando a lança divina a qual deu ao primeiro rei das grandes terras do deserto.  

Em uma estátua dada como a mais bela entre todas, se colocava Earis, o deus vigilante do povo, aquele que determinava quem merecia o paraíso. Uma imagem repleta de tecidos finos, com serpentes ao redor de seus membros e um cabelo curto, olhando para baixo, em direção ao povo.  

Menores, mas ainda destacados, duas estátuas sempre andavam próximas, dois jovens adolescentes, um este que era um garoto armadurado, trazendo um arco consigo montado em um poderoso elefante, e logo abaixo uma garota que trazia uma harpa e uma adaga, com cabelos tão longos que quase alcançavam os seus pés. Os irmãos Kalak e Walanka, que guardavam o paraíso. 

O rei estava andando por um dos longos corredores dourados do castelo, perdido no meio de sua visão dos deuses quando avistou uma silhueta familiar, cruzando passos não muito a diante. Uma pessoa que não esperava encontrar ali, na verdade, mas que chamou sua atenção: 

— Jorah. 

As vestes reais repletas de sangue quebravam a tranquilidade do momento, mas não era algo que o rei se preocupasse tanto. Na verdade, não havia algo com que ele se preocupasse exatamente naquele instante. De um momento para outro, a face neutra, aquela que alguém como ele sempre precisava manter, deu espaço para algo discreto, belo, um toque estranho, animado. 

— Hyde. — O homem lhe respondeu quase como uma resposta automática.  

A princípio, ele não tinha sua atenção nas vestes do rei, e quando finalmente reparou, não demonstrou nenhuma reação alarmante. Jorah sempre fora irritantemente despreocupado à primeira vista, e à segunda, e à terceira... mas isso não era bem uma verdade universal. Ele poderia ser comparado com o próprio vento. Numa hora uma leve brisa e em outra simplesmente um tornado; por mais que parecesse mais com uma tempestade de areia na maior parte do tempo. Esse não é o ponto. A “verdadeira verdade universal” é que Jorah Oakenridge é indescritível, e isso sempre fez dele a pessoa mais imprevisível de todo aquele triste reino.  

— Eu já ia perguntar se você vai bem, mas acho que todo o seu visual dispensa perguntas desse tipo. — Não foi difícil para Jorah exibir um sorriso de canto, quase que como se estivesse interessado e animado com o mini-caos que provavelmente o rei havia passado. Quase. 

— Não sei, faz... parte do trabalho. Eu quero deixar esse reino melhor, por mais que nossa mãe com certeza vá reclamar daqui a pouco sobre... "um rei não pode empalar aquele que não segue as leis". — Era engraçado como a serpente mortal que o rei tamanho era a poucos minutos atrás lentamente se transformava em uma naja domável pelo doce som de uma voz. Ainda muito mortal, com certeza, perigosa, dona de seu próprio lugar, mas totalmente atenciosa. — Creio que ela logo vá gritar pelo castelo atrás do rei e do príncipe, é só o que ela faz todos os dias além de reclamar sobre a nossa geração acabar em mim por não arrumar ninguém com quem me casar e ter um herdeiro. 

— Ela fez o mesmo discurso ontem. — Jorah deu de ombros, recordando. Era preocupante para muitas pessoas que o grande Rei Hyde Oakenridge não havia se casado ainda, e definitivamente uma dessas pessoas não eram os irmãos. 

— E hoje cedo, mas você não estava conosco. Fazendo algo importante? Provavelmente as mesmas coisas que nunca entendo. - Hyde suspirou. - Sabe, eu tenho saudades da época que eu era a pessoa que mais andava entre nós dois.  

— Alguém está triste por agora ter que passar a maior parte do dia sentado em um trono entediante? - O irmão mais novo levantou uma das sobrancelhas e abriu um mínimo sorriso sarcástico. 

— Não, nossa, você não sabe como eu amo aquele trono. 

Queria estar falando com muita ironia, mas a pior parte era que não. Hyde deu um passo adiante, mas não, Jorah recuou. No meio daquela face despreocupada simplesmente olhou o irmão de cima a baixo, como se fosse muito que necessário. Sangue, é, talvez um pouco demais por toda aquela túnica e a face do rei. 

— Me limpar, é mesmo. — Lembrou, abaixando a cabeça e limpando suas mãos nas vestes já pouco suportáveis. Levantou todo aquele ar majestoso e também analisou o irmão, nem um pouco surpreso por ele estar perfeitamente atraente, com uma túnica um pouco mais escura. O rei mostrou uma face divertida, dando um passo discreto. — Talvez você queira vir comigo. 

E Jorah fingiu uma bela face de com certeza, como sempre conseguia fazer, enganar, debochar, que fosse, o ar irônico, sarcástico.  

— Nossa, sim, meu rei, com tanto prazer, em plena luz do dia.  

— Idiota. — Hyde deu de ombros, rindo, totalmente diferente de alguns minutos atrás. Mordeu os lábios, olhando os longos corredores dourados e seu reflexo nas paredes, vendo realmente como estava imundo. "Deuses, como sangue se espalhava rápido" Pensou. 

— Sinto muito, irmãozinho, eu tenho que ir dar uma volta. — E ele seguiu assim, sem mais nem menos, imprevisível. O rei não sabia quando seu irmão voltava, não o tinha sob seu controle como todo o reino, e alguns momentos odiava essa ideia. Mas ali, como o vento livre que sempre era, Jorah havia sumido, então Hyde nada mais fez que dar de ombros e seguir para seus aposentos, despreocupado, não fosse por sua mãe, que apareceu antes mesmo de se virar para andar. 

— Deixe-me adivinhar, você deixou seu irmão sair de novo, sem dizer para onde, para fazer o que for. Espero que ele esteja indo atrás de continuar a linhagem da nossa família, ao contrário de você, que nem isso faz. Pelos deuses, Hyde, que roupa são essas? O que eu já te disse sobr... 

— Sim, Jorah saiu, não sei o que foi fazer, e eu estou indo trocar de roupa, está bem? — O rei nem fez questão de parar para ouvir, ignorando a voz da mãe o máximo que conseguia, por mais que ela continuasse com seus belíssimos discursos.  

— Um rei que não ouve sua própria mãe nunca consegue manter um reinado próspero para o reino, Hyde. Espero que não tenha matado mais alguém hoje.  

— O corpo dele ainda pode estar lá na sala do trono, se quiser ver. 

— Deuses, Hyde, que tipo de rei pretende se tornar? 

O rei revirou os olhos, em uma imagem repleta de desdém. Infelizmente, teve que parar e olhar para a senhora, respirando fundo para manter a calma e dizer o que devia. Todas aquelas cobranças por compaixão, nunca havia entendido o porquê. Se alguém fazia um mal tão grande aos outros, porque não acabar com sua vida para provavelmente poupar outras? Esse era um ponto que Hyde não entendia em sua mãe na maior parte das vezes. 

— Eu sei o melhor para o meu povo, aquele homem merecia a morte pela lança, nada mais justo para alguém que matou pessoas de seu próprio povo, sua própria família. Os deuses não disseram nada, era a minha decisão, e eu realmente espero que a alma dele já tenha começado a sua jornada no sofrimento eterno, porque eu vi muito bem aqueles olhos, e não, não havia perdão algum neles. Eu estou apenas fazendo o que deve ser feito. 


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Notas finais do capítulo

Iai gente, o que vocês acharam deste capítulo? Não se esqueçam que estamos esperando as suas opiniões! Elas são muito importantes, até aquele mero "continua" .

Beijos e até o próximo ♥



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