A Canção de Fogo - Faíscas escrita por Sapphire


Capítulo 18
Quor III


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, esse capítulo flui de mim com uma facilidade que eu nem sei, foi bem gostoso escrever cada cena, e eu estou bem ansioso para que vocês possam ler também!



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O dia amanheceu mais triste do que de costume, parece que o cosmos decidiu piorar tudo na vida de Quor. Primeiro foi atacado pelo próprio dragão, ficou adormecido durante dias, quando acorda descobre que os dragões de seus irmãos foram presos, agora até mesmo o céu estava nublado, o chão enlameado pela chuva da madrugada... Uma chuva que pareceu alimentar cada vez mais a tristeza do jovem.

Naquele dia, o que o príncipe menos queria ver eram pessoas. Seu corpo despertou antes que os primeiros raios de luz tampados pela nuvem pudessem aparecer. Ele entrou na carruagem e não conseguia olhar nos olhos do seu guarda, não queria ele o visse chorando.

O Ágil foi cobrado muito pelo rei quando permitiu que Ferco atacasse o filho. Porém felizmente ele foi defendido pela Rainha Penny, impedindo que algo muito pior acontecesse com o Guarda Real. Quor desejou estar acordado naquele dia para que pudesse defender o homem designado a o proteger.

— Não é sua culpa – Deu uma pausa antes de fitar os olhos do homem sentado na sua frente. - Você sabe né?

— Eu deveria ter feito algo – Seus cabelos ondulados pretos caíam sob os ombros.

— Como o que? Matar Ferco? Você morreria - O Príncipe deu uma risada baixa, e seu coração se acelerou quando começou a falar as próximas palavras. - E eu fico feliz que não tenha.

As pessoas começavam a sair nas ruas, mas nenhuma delas parecia estar assustadas com o que tinha acontecido, porque Lortar, o conselheiro do Rei, fez com que todos aqueles que foram alcançados pelo acesso de fúria dos Dragões Tass recebessem uma boa quantia em dinheiro, junto com uma carta real pedindo o sigilo do acontecimento.

Com o casamento de Hélius e Jane se aproximando cada vez mais, a Coroa mantinha todos os esforços para que nada saísse do controle, talvez tenha sido só por isso que os dragões tinham que ser presos, mas até quando?

Os três primeiros Tass a pisarem em Hangarus anos atrás domavam dragões. Animais tão majestosos quanto eles. O futuro rei de Aksum, Adônis Tass I, montava em Hadúr “a grande sombra” . Nenhum outro dragão chegou perto do que ele foi, tanto em tamanho quanto em força, suas escamas eram tão negras que durante a noite era impossível os inimigos vê-lo antes que suas chamas o atacassem, elas eram uma mistura de preto e vermelho vivo.

Quando Quor era uma criança, a Velha Ellen contava histórias para ele sobre seus antepassados e os seus dragões, ela dizia que Hadúr era tão grande que Palácios inteiros tremiam em sua sombra. Uma vez, Ferco fora comparado a tal dragão por um nobre de Karlee, e isso causou a fúria de Hélius, seu irmão mais velho e futuro Rei.

Alice Lehon Tass era uma nobre do Reino Rom, se casou com Adônis uns anos antes de partirem para Hangarus. Ela era totalmente diferente dos outros Tass, dizem que era branca e tinha cabelos tão loiros quanto os dos Pachini. Totalmente diferente da outra esposa de seu marido, Alice era uma guerreira nata, gostava de ver o sangue dos corpos de seus inimigos. Seu dragão se chamava Jumala, e não era tão grande quanto Ferco, mas era enorme, suas escamas brancas como a neve que cai no Norte, e as chamas um azul que reluzia. Ele foi o dragão que mais viveu em Hangarus, sendo montado até mesmo pela sua bisneta: Atena Tass.

Afrodite Tass, esse era o nome da irmã e segunda esposa de Adônis. Velha Ellen contava que a beleza da mulher era tão linda que ela poderia dominar uma cidade apenas com seu olhar. Era mais divertida e psicologicamente agradável do que a outra, gostava de dançar e cantar músicas sobre romances que nunca deram certo. Seu dragão se chamava Pekko e ele era verde, assim como suas chamas que antes de serem lançadas, a enorme boca do animal liberava um gás verde, que ajudava o fogo a se alastrar muito mais rápido, além de ser totalmente tóxica.

A Conquista dos Tass em Hangarus só aconteceu porque Broinder Parsons, um amigo de Adônis mandava várias cartas explicando sobre como os Kisandra, a antiga dinastia que controlava Aksum, eram perversos e ameaçavam todas as famílias, da mais rica a mais pobre. Depois de muito tempo, Adônis respondeu as preces do amigo, e junto com suas esposas e um pequeno exército, ele conquistou todo um continente.

Porém se não fosse por seus enormes dragões, Hadúr, Pekko e Jumala, os Tass teriam caído facilmente. E agora, diante daquela ordem, parecia que todo aquele passado não importava mais, já que prender os dragões era uma solução para os problemas do reino.

A Subida pela colina da Caverna dos Dragões fez Quor voltar a realidade, ele olhou pela janela só para ver o Sol brilhando atrás da Fortaleza Flamejante e, aos poucos, as nuvens de solidão iam se afastando, dando lugar a um céu limpo.

— Chegamos – A Voz de Sor Lemi soou.

O príncipe desceu da carruagem e olhou em volta, haviam poucos guardas ali, pelo que parece a prisão dos dragões aumentaram a segurança por si só. Os seus passos lentos caminhavam atentos até os enormes portões da Caverna. O som da respiração dos dragões era nítido. No interior da "caverna" existiam várias celas abertas, elas eram enormes, todas elas podiam acomodar um dragão adulto, mas apenas duas delas estavam trancadas por fortes grades estampadas no meio pelo símbolo dos Tass.

— Acho mais seguro você ficar do lado de fora – O príncipe impediu que o Guarda entrasse.

Quor se aproximou de uma dessas que estava trancada e viu Egres deitado no chão, dormindo. Uma enorme corrente jazia presa no seu pescoço, piorando ainda mais a situação. Tal prisão parecia ter diminuído o tom amarronzado que cobria todas as escamas do dragão. O garoto respirou fundo e se afastou, seguindo até o fim da construção.

Ferco estava na última cela, a mesma ainda estava aberta e a corrente solta do seu lado. Ele dormia em um sono profundo em volta de ossos carbonizados, ossos que Quor esperava que fossem apenas de animais. Suas escamas negras que eram seguidas por uma pitada de avermelhado pareciam mais fortes a cada dia que se passava, assim como o seu tamanho. O garoto começou a se perguntar se ficar preso ali não alteraria o tamanho dos animais.

Uma vez ele perguntou para a Velha Ellen até quando um dragão cresce, ela lhe respondeu que desde que ele tenha espaço e comida conseguiria chegar ao maior possível. Talvez por isso os dragões de Adônis Tass I eram tão grandes, desde que a Caverna dos Dragões fora construída, o tamanho só diminuía, agora com eles presos assim? Preocupante.

A cada passo que Quor se aproximava da corrente, era uma dor diferente. Sua mente o levou a quatro anos atrás, quando ganhou Ferco de presente no dia do nome de seu irmão. Aquela comemoração trouxe pessoas de toda Hangarus, ele lembrou do seu sentimento de animação quando viu um pequeno dragão olhando para ele.

Pensou também nos Parsons que se sentaram perto dele e de Valquíria durante o dia, e o que ele diria para eles no casamento de Hélius, quando perguntassem sobre os dragões, "foram presos".

E pensar que a semanas atrás tudo estava bem, e de repente o mundo do garoto fica de cabeça para baixo. Quor fez o mínimo de barulho para que a corrente pesada não acordasse Ferco, o que poderia tornar tudo muito pior. As mãos dele tremiam a medida que aproximava a gargalheira grossa do pescoço dele, e quando fez, sentiu as lágrimas crescer em seus olhos e o seu corpo inteiro parecia sentir um enorme calafrio.

O dragão fez um movimento quando ele finalmente foi preso pela corrente, mas nada muito precipitante. As lágrimas aos poucos caíam pela bochecha do Príncipe de Aksum e ele se afastou lentamente a medida em que o dragão ameaçava acordar.

Ele seguiu até a alavanca giratória e fez força para que as grades de ferro com o símbolo dos Tass surgissem, separando ainda mais Ferco da liberdade. Quando estava completamente preso, Quor deu as costas e começou a andar. O movimento brusco das correntes despertou Ferco, e quando se deu conta que estava preso, o dragão negro começou a gritar.

O maior virou seu pescoço para trás o máximo que pode, e cuspiu uma boa quantidade escura de fogo, "até quando para o fogo se tornar tão quente a ponto de derreter paredes e correntes?" Pensou Quor ao ouvir o barulho.

O som que escapava de sua garganta acordou os outros dois adormecidos e, a medida em que o Príncipe se afastava, as lágrimas pareciam responder os dragões por ele. A cada passo que ele dava em direção a saída, o garoto deixava para trás uma das coisas mais importantes de sua vida.

O guarda real contou que Licko havia sido mais difícil, o dragão branco do príncipe herdeiro Hélius Tass matou um grupo de seis guardas, já que o mesmo não se deu ao trabalho de sair do próprio quarto para dar conta do próprio dragão.

Egres já foi bem mais fácil, Selene entrou em profunda tristeza e não foi capaz de prender seu dragão. Após encaminhar o dragão meio dourado para sua cela, ela esperou ele se alimentar dos porcos deixados ali para morrerem carbonizados e quando estava bem alimentado, ele caiu no sono, mas antes de ao menos tentar, Selene ordenou que seu guarda real, Sor Jun Taka "o jovem", tomasse aquele fardo e prendesse Egres.

Valquíria contou que Quor seria o único capaz de prender Ferco. Durante a caçada do mesmo, cerca de quinze guardas foram encaminhados na tentativa de aprisiona-lo. Dos cinco que sobreviveram até o fim do dia, apenas um tinha a mínima chance de ter uma vida normal. Depois disso, nem mesmo os mais corajosos se ofereceram para prender a "Sombra Alada", fora assim que as pessoas começaram a chamar Ferco depois de seu ataque à capital.

— Venha! - Sor Lemi pegou em seu braço e correu ao mesmo tempo que se abaixava.

Enquanto Quor pensava em seus atos, Licko e Egres se preparavam para cometer o mesmo ato de Ferco, lançando fogo para todos os lados possíveis, tentando se libertar.

Antes de sair dali, ele virou para trás, apenas para ver Ferco no fundo da Caverna dos Dragões, implorando para ser liberto. Em prantos, o garoto viu os guardas fecharem os portões do edifício, mas antes que a passagem se fechasse totalmente, Quor disse da maneira mais triste possível:

— Desculpe.

As lágrimas caíam ao mesmo tempo em que ele olhava para a vista, conseguia ouvir o barulho dos dragões no edifício que se afastava cada vez mais. Viu o corpo do guarda se posicionar ao seu lado e, sem pensar direito, o príncipe encostou a cabeça em seu colo sentindo as lágrimas tocarem a armadura negra. Naquele exato momento, sentiu uma pontada no seu coração ao perceber que Sor Lemi Horan não era apenas seu guarda.


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Notas finais do capítulo

Iai gente? O que acharam? Não esqueçam de dizer, estou bem ansioso para saber!!



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