A Canção de Fogo - Faíscas escrita por Sapphire


Capítulo 15
Valquíria II




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O Sol estava coberto por poucas nuvens, tão claras quanto o primeiro raio de luz matinal. Os passarinhos cantavam uma música que deveria ter algum significado para eles, mas a garota estava pensativa demais para que pudesse se concentrar no som. Seus cabelos ruivos não estavam totalmente soltos, pois uma pequena trança na altura lateral da testa, formava uma espécie de coroa que se iniciava na frente e se encerrava na parte de trás. 

 As outras damas de companhia da rainha, Penny, Tass e Konorra, eram tão lindas quanto Valquíria. Ao todo eram cinco, todas elas jovens, formosas e populares no Reino de Aksum, por pertencerem a famílias influentes em toda Hangarus. A única dama que não pertencia a uma dessas famílias era a própria Valquíria, que desfilava seus dedos pelas pétalas de uma linda flor amarela, quando virou para trás presenciou a rainha Penny cabisbaixa, sentada em um banco. 

— Oh minha rainha, por que te abates? - Uza Sunrise perguntou. A garota pertencia a uma das famílias mais ricas de todos os reinos, estando acima até dos Pachini, o que é uma ironia, já que eles são os reis de Livada, o mesmo reino da família Sunrise. Ela tinha lindos olhos verdes, que combinavam perfeitamente com sua pele escura, e um cabelo cacheado preto. - O príncipe vai ficar bem! 

Até onde Valquíria saiba, sua preocupação era a mesma da rainha. Já ia completar quatro dias desde que o príncipe Quor Tass foi acidentalmente ferido pelo próprio dragão, Ferco. Desde esse dia o garoto permanece em sua cama sem acordar. O caso é que a rainha tem mostrado um comportamento muito triste depois daquilo, e o sentimento de tristeza parecia aumentar, isso preocupava Valquíria totalmente, se ela, por ser uma amiga próxima do príncipe, sentia aquilo, imagine o tamanho do sentimento da própria mãe? 

 - Não seja tão estúpida, Uza – Asami Taka desviou seu olhar das flores e se encaminhou lentamente até o banco onde a rainha e a outra estavam. A garota era da mesma família que Jun, e foi por causa dela que o garoto começou como escudeiro e depois se tornou membro da Guarda Real. - Como se sentiria se seu filho fosse atacado pelo próprio dragão? 

 - Quor não foi atingido por Ferco - Valquíria recebeu os olhares das três damas de companhia presentes. O número total das damas eram cinco, mas Joana Mascur recebeu permissão para que pudesse ter seu bebê em casa, sendo que logo depois voltaria para a Corte, da mesma forma que aconteceu com Asami. – O dragão de Quor é extremamente fiel a ele, algo aconteceu para que os dragões se deturpassem tanto.   

— Como e quem faria isso? Se ele fez isso com o próprio domador, não imagino o que não faria caso fosse alguém desconhecido – Asami defendeu sua ideia. A irmã de Jun tinha uma aparência meio parecida com a dele, olhos pretos, uma pele consideravelmente parda e cabelos pretos. A diferença é que o de Jun era bem curto, já os de sua irmã eram longos e ondulados. 

— Será que podemos mudar de assunto? – A voz de Isla soou. - Devemos respeitar a nossa rainha. 

Na concepção de Valquíria, aquela era a dama mais linda de toda a corte. Isla Dubois era a filha do meio de uma família muito poderosa no Reino de Karlee, sendo uma forte aliada dos Konorra, a dinastia do reino, a mesma família de onde a rainha Penny nasceu. Os seus cabelos eram bem escuros e muitas das vezes tinham um lindo ondulado que poderia começar da metade do cabelo ou da raiz, dependendo do dia e de como ele era arrumado. Seus lábios carmim e seu rosto branco apresentavam um contraste maravilhoso, mas o que chamava mais atenção em seu rosto eram os olhos violetas, mostrando um olhar que cativava atenção por onde passava. Normalmente as damas de companhia deviam ter a mesma idade da rainha, mas a beleza da garota era tamanha que desde sempre ela era observada pela nobreza. Valquíria se sentia mais a vontade com Isla do que com as demais damas, que eram mais velhas. 

Assim como toda garota bela de uma família nobre, Isla já estava prometida para alguém, e esse alguém era Stunie Konorra, príncipe de Karlee, sobrinho da Rainha Penny. O único motivo dela ainda ser dama de companhia era que seu futuro marido estava em uma viajem em busca de apoio mercante para seu reino. A primeira coisa que irá acontecer quando ele voltar será o casamento, então Valquíria adorava aproveitar a companhia dela. 

— Minha rainha, não quer entrar? Parece estar muito abatida para passear pelo jardim – Valquíria perguntou. 

— Acredite minha querida, eu estaria pior dentro de um cômodo – A Rainha respondeu. 

Valquíria suspirou em um tom de tristeza, aquilo tudo era tenso demais. Em uma hora os dragões estavam todos normais e na outra estavam atacando as pessoas, isso não era normal, e a dama gostaria que estivesse lá na hora que tudo aconteceu, mas ela havia chegado muito depois.  

Ainda conseguia sentir a respiração quente de Licko na sua cara, se ela fechasse os olhos ainda conseguia lembrar do dragão branco fitando Valquíria com seus olhos azuis penetrantes, mas sem fazer nada, como se estivesse reconhecendo ela de algum lugar. Foi quando um grito de dragão muito forte a fez olhar para o lado, apenas para ver Quor sendo atingido por Ferco. "Cuidado!" A última palavra que trocou com o príncipe ficava rondando sua cabeça. 

Um membro da Guarda Real estava parado observando em volta, talvez tentando não prestar atenção na conversa das damas. Ele era Sor Edward Pachinio dourado”, o guarda recebeu esse nome porque antes de abrir mão de sua vida para seguir a Dinastia Tass, ele era o herdeiro do trono de Livada, sendo o filho mais velho dos Pachini. 

A atenção de Valquíria se desviou dele para um homem correndo na direção da rainha, quando ele se aproximou, ela percebeu que era Kairó, o mensageiro real. O garoto devia ter a mesma idade do príncipe Hélius, tinha o corpo magro, talvez por viver correndo pelo palácio entregando mensagens reais. 

— Me deixe passar! – Sua voz soou de forma nervosa quando Sor Edward ergueu a espada impedindo sua passagem. - É urgente! 

Assim que ouviu sua voz, a rainha se voltou para trás vendo a cena dos dois, era até engraçado levando  em 

 consideração o fato que Sor Edward era bem mais alto que o garoto. 

 – Deixe o mensageiro passar – Ela disse. 

 – Obrigado minha rainha – Kairó fez uma reverência quando conseguiu se aproximar o suficiente.  – Sinto em atrapalhar seus afazeres, mas trago uma mensagem de urgência. 

 – Faça seu trabalho – Penny soou olhando para o garoto que se levantava. 

 – É o Príncipe Quor, minha rainha, ele despertou de seu sono. 

Valquíria arregalou seus olhos, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, viu a rainha se levantar e andar o mais rápido possível na direção do palácio, onde finalmente encontraria seu filho com os olhos abertos. Sor Edward acompanhou Penny, deixando as damas de companhia apenas com os guardas normais.  

— Me sinto mais aliviada – Uza sorriu. - É sempre tenso quando alguém da família real morre... eu lembro de quando o rei Lóres Pachini morreu, o reino de Livada inteiro caiu em profunda tristeza. 

A ruiva nem gostava de pensar em como a vida seguiria se Quor morresse, para alguns isso significaria um dragão sem dono pelo mundo, mas para Valquíria seria o fim de algo muito maior do que apenas uma amizade, uma irmandade. 

 - Creio que qualquer espécie de perda é algo triste – Isla disse olhando para as meninas. - Não sei o que faria se perdesse alguém especial.  

Por alguns instantes Valquíria havia pensado nas pessoas importantes que ela perdeu, seu pai havia morrido muito antes da garota nascer, e mãe morreu dando a luz. Ela nunca os conheceu, mas quando se pensa em alguém especial que havia indo embora pensava nos seus pais.  

Quando era criança, Valquíria havia pedido para conhecer seus avós, mas por algum motivo a Rainha Penny não a deixava sair de Aksum, quando ficou velha o suficiente para entender, ela contou a história de seus pais.  

Peônia Grigori era uma dama de companhia de Penny quando ela ainda era uma princesa do Reino de Karlee, os Grigori não eram uma família tão poderosa, mas tinham certa influência comparada a muitas outras, então quando ela se casou com um simples servo do rei eles enlouqueceram, e se não fosse por Penny ter trazido Peônia e Abrom consigo para Aksum, talvez Valquíria não tivesse nascido. E é este o motivo, Peônia tinha medo de que se Valquíria vivesse no meio dos Grigori ela acabaria sendo tratada como lixo, e isso seria algo que ela não queria que sua filha vivesse. Mas mesmo com tudo isso a dama ainda tem esperança de que um dia conheça os verdadeiros Grigori. 

 - Quando a minha irmã foi embora eu fiquei durante muito tempo me perguntando se eu podia ter feito algo diferente... - Uza engoliu um seco. 

 - Não sabia que você tinha uma irmã e que ela tinha morrido – Asami fitou a mulher.  

— Ela não morreu – Uza respirou fundo. - Ela fugiu.  

— Como assim? - Valquíria juntou as sobrancelhas. 

  - Bem, quando ela descobriu que já estava prometida para Nólus Kálel, um nobre de Livada, ela enlouqueceu... E quando percebeu que não tinha outra alternativa a não ser se casar, simplesmente desapareceu.  

— Desapareceu? - Asami perguntou.  

— Ela fugiu – Isla poupou a amiga de continuar falando sobre o assunto. - Ninguém nunca mais a encontrou.  

Todas ficaram em estado de silêncio, aquilo era uma coisa que talvez a maioria das mulheres de Hangarus tinham vontade de fazer, mas nenhuma delas havia tido coragem o suficiente.  

— Ela foi forte em tomar essa decisão - Uza ajeitou seu corpo no banco. - Só espero que Lana, se esse ainda for seu nome, esteja feliz seja onde estiver. 

Valquíria respirou fundo olhando para os lados. Em breve ela se casaria com algum nobre de Aksum ou outro reino, e ela só esperava que o noivo fosse bom o suficiente para que ela não precisasse fugir do Reino e de sua família. 

— Me deem licença - Fez uma reverência e entrou pelo castelo, procurando por Quor. 

Ao que parecia até aquele momento, apenas a Rainha Penny havia sido contatada do despertamento do príncipe, porque a única presença no quarto do garoto além dele, era a de Sor Lemi "O Ágil" e a das curandeiras. 

As mulheres vestidas de branco abriram espaço para que Penny pudesse ver seu filho, o garoto estava sentado em sua cama, bebendo alguma substância em um pequeno jarro. Ela desfilava seus dedos entre os cabelos do garoto, e quando viu Valquíria entrar, disse: 

— Deixem-nos a sós – Naquele momento todos começaram a se mover para fora do quarto.  

Valquíria ajeitou seu vestido e virou para a porta que estava aberta, nem havia chegado direito e já iria sair, mas antes que pudesse passar pela saída, sua rainha disse:  

— Valquíria, pode ficar. 

A dama deu um sorriso e se aproximou novamente: 

  - Obrigada, minha rainha – Disse andando até o outro lado da cama de Quor, apenas para fitar o rosto do garoto mais uma vez. Nenhum machucado, talvez as curandeiras tenham feito um trabalho milagroso 

— O que aconteceu? - Quor perguntou, sua voz estava baixa seus olhos se concentravam na substância no jarro em suas mãos. 

 - Você não lembra? - A Rainha perguntou, ele negou com a cabeça, então ela passou a contar. - Os dragões se enfureceram e começaram a avançar violentamente contra a cidade... Sor Lemi me contou que você tentou acalmar Ferco, mas um soldado lançou uma lança no dragão e em um momento de dor ele sem querer te machucou.   

— Acho que estou lembrando... - Após alguns minutos em silêncio, o garoto olhou para a Valquíria. - Como fez para Licko não te atacar?   

A ruiva esperava que o rapaz não lembrasse deste fato. O Dragão branco que pertence ao Príncipe Hélius Tass ficou frente a frente a garota naquele fatídico dia, mas algo aconteceu, pois, segundos antes que ele pudesse queima-la, aquelas os olhos azuis penetrantes a encararam e não passou disso. Por que? Talvez Valquíria nunca fosse entender o motivo de não ter sido queimada por um dragão que mal foi domado pelo seu dono. 

 - Eu não sei... - Seu olhar se elevou e a moça viu a Rainha olhando em sua direção com uma feição preocupada, talvez.   

 - E onde eles estão? - Quor perguntou. 

 - Quem? - Sua mãe olhou em sua direção. 

 - Ferco e os outros dragões.  

Valquíria olhou para a sua rainha e engoliu um seco. Ela sabia que aquele momento ia chegar, e para ser sincera? Era a pior coisa que se seguiria naquela conversa. Implorou mentalmente para que a rainha não escolhesse a garota para introduzir aquele assunto, e felizmente não fez.  

— Como você sabe, o casamento de Hélius está muito perto... os convites já foram enviados... a Organização está em sua fase inicial... - Ela respirou fundo. - E o Grande Conselho decidiu que seria melhor manter os dragões presos pelo menos até o casamento de seu irmão passar. 

 A menina lembrou de ter confortado Selene, foi difícil para ela prender o próprio dragão, mesmo depois da bagunça causada, por isso ela esperou Egres adormecer de barriga cheia, e depois ordenou que Sor Jun o prendesse. Era engraçado para a ruiva pensar em Jun como um guarda real, depois de tantos anos como amigos, agora cada um tinha uma ocupação na corte dos Tass, e ela não sabia definir se isso era bom ou ruim.  

 Hélius nem teve a prontidão para ir até a caverna e prender o próprio animal, seis soldados morreram tentando prender o dragão, e a única solução foi fazer a mesma coisa que Selene fez, esperar o dragão se alimentar e, por fim, quando estivesse dormindo, prendê-lo.  

A Princesa Tass e seu dragão, Egres, passavam grande parte do dia juntos, agora que ela não podia voar pelo céu com ele, Valquíria não sabia como seria a rotina de Selene...talvez ela estivesse aprendendo a bordar e a cantar como todas as princesas normais. 

 - Egres e Licko já estão acorrentados..., mas ninguém conseguiu chegar perto de Ferco... - Os olhos de Quor estavam parados. Mesmo depois de tantos anos de amizade, ela não conseguia definir o que o garoto estava pensando ou sentindo. - Você sabe como ele pode ser agressivo e instável. 

De fato, Ferco foi o mais difícil de todos os três, tanto que ele continuava solto. Mais de quinze soldados corajosos se ofereceram para a missão, e dos cinco que sobreviveram, apenas um tinha uma certa chance de ter uma vida normal. 

O silêncio se instalou no quarto, e durante muito tempo o único som que dava para se ouvir era o dos passos do lado de fora do quarto. 

 - Filho... - Antes que a Rainha terminasse, Quor disse de forma calma. 

 - Me deixem sozinho, por favor. 

 

 


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