Prov Naruto

Eu poderia jurar que meu rosto estava em brasa. E, sentindo um nó na garganta, comecei a gaguejar. Mas, ou eu fazia isso naquele mesmo dia, ou eu poderia me considerar o mais covarde dentre os homens. Então, em um impulso, parei diante daquela pequena que descia alegremente as escadas.

— Hanabi, eu vim claro ver a Hina-chan. Mas, por acaso o seu pai não estaria em casa?

Foi quando a vi arregalar aqueles pequenos olhos perolados ao máximo. Hanabi por um momento perdeu a cor, mas em seguida seu semblante se iluminou de tal forma que não conseguiria descrever.

— Entendi, Naruto! Nem acredito - deu pulinhos, enquanto eu a olhava estático. - Oto-san está andando pelo clã como faz todas as manhãs antes dos treinamentos, vou chamá-lo - em um minuto, ela já estava longe.

Aproveitei para conhecer um pouco mais o local. Já tinha visitado o clã Hyuuga nos últimos dias, mas nunca havia entrado. Era uma casa realmente imponente e com uma decoração impecável. Tudo muito diferente do que minha casa já foi. "Como pode uma menina que herdará tudo isso se apaixonar por um cara como eu?" Pensei instintivamente. Mas é claro que Hyuuga Hinata não é desse tipo de garota que se importava com beleza, riquezas ou coisas fúteis. Ela é incrível por fim.

Dei algumas voltas na sala e não consegui conter um risinho besta ao ver uma foto da Hina pequenininha. Era tão linda!

— Como eu não reparei nessas bochechas vermelhas antes? Eu realmente sou um idiota! 

— Não importa se não reparou antes, Naruto-kun. Terá o tempo que quiser para repará-las.

Aquela doce voz sempre me paralisava. Ainda não tinha me acostumado em como existia uma pessoa tão doce e gentil nessa terra. Virei devagar e não acreditei muito no que vi. Pisquei várias vezes e podia jurar que dessa vez quem estava incrivelmente corado era eu. Hinata estava simplesmente deslumbrante, com um vestido rodado, um decote discreto, mas que ainda ressaltava.... digamos, seus atributos. A cor lilás realmente lhe caia bem. E aqueles cabelos que de tão pretos pareciam azulados, estavam estonteantes nessa manhã. Perdi-me em vários pensamentos, alguns que nem deveria. Balancei a cabeça em negativa e, embora tentasse fechar, ainda mantinha a boca entreaberta.

— O que foi, N-Naruto-kun? Vou começar a ficar assustada - falou com um semblante preocupado.

— Não é nada. Digo, é tudo. Estava olhando como eu tenho uma namorada tão linda! Ultimamente, toda vez que eu te vejo, parece que estou te vendo a primeira vez - sorri. Caminhei lentamente, peguei em sua mão para que descesse os últimos degraus. Dei um leve beijo em sua testa. - Isso é para você, Byakugan-hime! 

Eu vi os seus olhos se arregalarem e um enorme sorriso abrir em seus lábios. 

— C-como v-você sabia?

— Sobre os girassóis? Não há nada que eu não saiba sobre você daqui por diante, Hinata! 

— Naruto-kun, são maravilhosas! - e deu um pulo em meu pescoço com um beijo perfeito. Não podia ter um bom dia mais especial, pensei.

Ficamos parados ali, curtindo aquele momento. Eu poderia ficar o dia inteiro beijando a Hinata. Por mais que não fosse o cara mais experiente nesses assuntos, era realmente uma das coisas mais maravilhosas que já experimentei na vida. Mais que Ramen. Vocês devem pensar que eu só beijei o Sasuke, né? Qual é! Nos dois anos após a guerra, embora eu estivesse estudando bastante para me tornar Chuunin e depois Jounin, para um dia finalmente eu poder ser um Hokage, eu admito que andei beijando umas fangirls. 

— Pirralho, você mente muito mal até para si mesmo! Pegou duas daquelas meninas, mas se sentiu tão vazio que foi um beijo em cada uma só! ehehhehe Você nunca percebeu de idiota que é, mas sempre amou a Hyuuga. Rúm 

— Kurama, ninguém te perguntou NADA!

— Naruto-kun, já tomou café da manhã? - Assenti com a cabeça respondendo sua pergunta. - Então, podemos ir?

— Espere, Hinata! Estou esperando a Hanabi voltar. Há algo que eu preciso muito fazer. - Ao falar isso ela me olhou com uma cara de interrogação. Sorri coçando a cabeça.

— Esse gesto. Você está nervoso com o que? Não me diga que....

— Tchanran. Trouxe sua encomenda, Naruto! - Hanabi disse segundos antes daquela figura entrar.

Claro que já tínhamos trocados algumas palavras durante a 4ª Grande Guerra Ninja. Principalmente após aquele momento.... Neji! Mas, ainda assim senti calafrios ao encarar aquele homem: longos cabelos castanhos, postura impecável, confiança inabalável, olhos perolados incrivelmente cerrados, semblante fechado. Com certeza aquele era o líder dos Hyuuga, Hiashi. Senti imediatamente encolher.

— O-Oto-san?... - Hinata deu um passo instintivamente para trás, visivelmente surpresa e levemente corada. Olhou de Hanabi para Hiashi algumas vezes. E várias de mim para Hiashi. 

— Vou deixar vocês sozinhos. - Hanabi deu uma piscadela para mim.

— Não. Você fica, Hanabi. Tem que acompanhar todo e qualquer tipo de assunto que tenha relação com o clã - disse em tom forte e com uma sobrancelha erguida.

— Com o clã? - questionou Hanabi.

— A julgar pelas flores e pela cor de sua irmã, presumo que isso tudo tem muito a ver com a nossa família, não é mesmo Naruto? - Disse fechando ainda mais o semblante. Poderia jurar que vi as veias dos seus olhos saltarem. E senti que seria morto ali mesmo sem nem ver o golpe.

Limpei a gargante e tentei impostar um pouco a voz. - Podemos dizer que sim. - dei um leve sorriso tentando parecer simpático.

— Podemos nos dirigir a sala de reuniões dos Hyuuga. Os quatro - passou encarando Hinata.

O silêncio por aquele longo corredor foi sepucral. Se não fosse muito exagerado diria que além das nossas respirações, os únicos barulhos que conseguiam ser ouvidos era dos nossos corações. O meu e de Hinata. Só não sabia qual estava mais alto. Já de Hiashi, acredito que não daria para ouvir mesmo. Pela sua cara, deve haver uma pedra no local.

Aquela procissão, que parecia mais que estávamos seguindo à forca, foi interrompido pelo barulho de porta abrindo. Entramos e eu me sentei de frente para Hiashi. Teria que encará-lo. Hinata se posicionou ao meu lado direito. Hanabi se posicionou ao lado do pai e falou em leitura labial "Não perco essa cena e sua cara por nada!".  Mandou uma careta! 

— Então... o que traz o herói da Guerra a minha casa? Ou melhor, o que de tão importante tem para me dizer para um reunião repentina como essa?

Fiquei um momento em silêncio olhando para o tatame. Então, respirei fundo. Se fosse para falar, deveria falar tudo de uma vez.

—Hiashi-sama.... - fiz uma pequena reverência. - Obrigado por me receber. Mas, a verdade é que eu não sei muito bem como começar isso, não sou muito bom com palavras... e....

— Pelo começo seria uma boa maneira - disse me fitando, sempre sério.

— O começo.... claro. Eu não sei o que ou até onde o senhor sabe sobre a missão da Lua. Mas eu poderia dizer que foi uma das  missões mais importante que eu poderia ter realizado. - me senti vermelho, mas prossegui pausadamente. - Nessa missão, eu descobri uma das melhores coisas da vida-dattebayo. O senhor, como líder de um clã tão importante como os Hyuuga, obviamente sabe da minha condição. - dei um sorriso que até eu percebi que era triste - Mas, embora isso tenha me feito muito mal no passado, hoje não me traz vergonha ou dor alguma - suspirei e parei por um tempo.

— Prossiga, Naruto, por favor.

— Cresci sem conhecer o pai ou a mãe. Aliás, descobri apenas há dois anos filho de quem eu era, o que me deu um orgulho enorme. Diria que foi o combustível da minha alma para aguentar a Guerra. Eu consegui vencer muitos obstáculos, a rejeição da Vila foi uma delas. Conquistei amigos. Tive o Iruka-sensei, o meu mestre Jiraya, a vovó Tsunade, o Kakashi-sensei. Conquistei muitos amigos. Consegui trazer o teme do Sasuke de volta.  Eu conquistei tantas coisas e estava muito feliz com isso. Comer ramem no Ichiraku desde sempre me deixou muito feliz. Completar minhas missões sempre me deixou muito feliz. Eu realmente me sentia feliz com a minha vida.

— Para quem disse que não é bom com palavras, você é ótimo em discurso. Mas onde você quer chegar com tudo isso, embora eu tenha um palpite?

— Papai, você é sempre muito rigoroso! Dá um tempo para ele. - escutei Hanabi sussurrar.

— Bem, o que estou tentando dizer é que..... embora eu sentisse felicidade em todos esses momentos, com todas essas pessoas, sempre que eu chegava em casa.... - suspirei e engoli cedo - ela ainda estava ali.

— Ela? Alguma mulher em especial você está falando, Naruto?

— Não, Hiashi-sama. Falo da solidão que sempre me perseguiu. Falo em olhar para o lado e não ver ninguém. Em querer conversar e só ouvir o eco da minha voz. Em dizer, "voltei!" e não obter resposta. Falo em vazio, mesmo.

— ...

— Mas, desde que voltei da última missão eu sinto que nunca mais vou me sentir assim. Voltar em casa e ser recebido. Em calor, ao invés de frio. E mais um monte de sensação que eu estou experimentando e que ainda não consigo entende-las muito bem, mas que..... - virei-me para a direita e me vesti com o meu melhor sorriso - somente Hinata poderá me ensinar o que são. Ela e mais ninguém. 

— E o que isso significa? - os olhos se estreitaram mais ainda, mas agora uma sobrancelha estava arqueada.

— Significa que estou pedindo a permissão para namorar a sua filha, com a certeza de que isso significa também que - sem muita demora - pedirei permissão para ser para sempre. Porque eu quero que isso seja feito da forma correta, como o homem que eu me tornei e o que eu ainda quero me tornar.

Podia jurar que ouvi Hinata e Hanabi soltar um gritinho.

— Uzumaki Naruto. Filho de Namikaze Minato e Uzumaki Kushina. Será que você sabe as regras desse clã?

— Conheço algumas ditas pelo Neji. E posso assegurar que não gosto de nenhuma delas. E reafirmo a promessa que fiz a ele, quando eu virar o Hokage elas irão acabar.

Hiashi fez uma careta de desgosto.

— Imagino que haja algo como a pureza do clã. Sei da importância e os segredos do Byakugan. Mas, irei protegê-los como a minha própria vida, porque eu sinto que Hinata é a minha própria vida. 

— Profundo isso para um jovem da sua idade, não acha?

— Com os anos a gente acaba assumindo algumas responsabilidades e temos que arcar com todas elas, além da suas consequências, não acha Hiashi-sama? Após uma guerra aos 16 anos, acredito que não poderia ser diferente.

— Sabe que se fosse alguns anos atrás não haveria se quer a possibilidade desse diálogo ter se iniciado?

— Sei. Sei que assim como toda a vila me rejeitava e me evitava, os Hyuugas com toda a sua imponência e importância não eram diferentes. Exceto uma pessoa: Hyuuga Hinata. 

— E como você pode dizer que sente todas essas coisas? Voltaram da última missão há menos de uma semana e, até onde estou sabendo, o cortejo a minha filha começou após o rapto da Hanabi.

— Hinata nunca me rejeitou. Ela nunca me evitou, embora parecesse. Hoje sei que isso era apenas por conta de sua timidez, algo que a torna única e linda. Ela foi a primeira em toda vila que me aceitou como eu era e pode enxergar tudo que eu mesmo jamais enxerguei. Por todos esses anos, ela amou um cara como eu. Idiota e desajeitado. Embora todos a mandasse ficar longe, ela sempre tentou se aproximar e cuidou de mim de longe. Existe alguma possibilidade de não querer viver isso para sempre, Hiashi-sama?

Um ar surpreso se formou naquele rosto rígido e sério. Aos poucos ia me sentindo à vontade, não estava sendo tão ruim quanto eu imaginava. "Pelo menos ele ainda não me mordeu", me diverti com esse pensamento.

— Acredito que não. Mas acredito que você não saiba as condições de Hinata no clã.

— Eu não me importo com qualquer posição da Hinata. E qualquer problema que ela possa ter eu, definitivamente, irei ajudá-la a solucionar. Hinata é a mulher mais gentil, mais doce e absurdamente forte que eu conheci. O senhor pode não ter percebido, mas a beleza da filha do senhor está na união da delicadeza com o espírito inabalável. Hinata nunca vai se importar com o que realmente está sentindo. Ela vai guardar esse sentimento, vai superá-lo e vai se tornar ainda mais forte, nunca desistindo.

— Naruto-kun... - e lágrimas desceram.

— Hinata, o que você fez por mim na Guerra. O que você fez por mim na invasão de Pain. Não, o que você fez por mim na vida, só um idiota como eu mesmo demoraria para reconhecer. Andei muito tempo me importando com outras coisas. Teve o lance com o Sasuke, com a Akatsuki, com o Ero Sennin. E, você sabe, não soube diferenciar o amor que você disse sentir pelo amor que eu tenho por ramem. - fui obrigado a rir da minha própria burrice - Eu nunca conheci o amor. Nunca, até agora. E eu não quero perder isso. Eu odeio perder! O que eu quero dizer é que, nesse momento estou pedindo ao seu pai para namorar com você. Mas, Hinata, agora eu sei que eu quero ficar com você para o resto da minha vida, de agora para sempre, até eu morrer. E eu espero do fundo do meu coração, que quando isso acontecer, eu esteja bem velhinho e eu vá antes de você. Porque não suportaria te perder nem por um minuto. Não de novo. Eu demorei muito para perceber o porque de eu ter libertado o Kurama daquela vez do Pain.... doeu - estremeci relembrando a cena - doeu profundamente quando eu vi que havia te perdido. Eu poderia perder qualquer um, mas não você. Não antes de eu recuperar todo o tempo perdido, não antes de retribuir todo o amor que você me deu.

— Isso...foi....perfeito! Uaaaaaaaaaaaaaau, eu estou chocada com você Narutoo! - gritou estridentemente a Hanabi - Pai, por favor... por favor! A Onee-chan merece.

— Uzumaki Naruto. Herói da Guerra. Futuro Hokage. Quem diria. Bom, parece que você realmente conhece mais a minha filha do que eu. Eu lhe dou a permissão para namorar a Hinata. Mas, saiba, eu sempre estarei de olho e nada escapa ao meu Byakugan.

Se eu não estivesse tão radiante, eu teria engolido seco com aquele olhar penetrante. Mas tudo que eu conseguia vir na minha frente era aquele rosto delicado, aqueles olhos perolados que, ao invés de sugar toda as minhas energias, me davam mais força. E, quanto ao Hiashi, a pessoa que fora pintada para mim como um pai rigoroso e um líder impiedoso, acabara de me conceder um dos dias mais felizes de minha vida. E, bem, até mesmo um idiota como eu consegue perceber que por trás dessa carcaça há um homem orgulhoso que ama e admira a filha maravilhosa que tem.