"Naquela época eu não tinha nada, além de dor. Não importava para onde eu olhasse, o caminho que eu via era escuridão. Muitas e muitas vezes, eu pensei em transitar por linhas tortas. Acabar, única e exclusivamente, com toda aquela dor. Eu odiava sentir aquilo! Mas, muito mais forte do que a voz que ecoava mandando eu acabar com tudo que me trouxesse sofrimento, era a luz que eu via no fim. Então, sempre após dormir com lágrimas nos olhos, eu resolvia acordar com um sorriso no rosto. Eu estava desesperado, por fim.

Eu dormia sozinho e acordava sozinho. Entre aquelas paredes, papéis no chão, roupas bagunçadas. Na geladeira, macarrão instantâneo e leite. Eu tentava fingir que aquilo me bastava, eu me bastava. Não ter quem me desse bom dia, desejasse-me boa noite, dissesse-me um bem-vindo ou "não volte tarde da rua!". Eu simplesmente fingi por anos a fio não me importar, já que ninguém se importava mesmo.

Qualquer lugar que eu estava, era vazio. Eu podia gritar, mas só tinha o eco da minha voz. Eu sei que você passou a me entender após um certo período.

Mas, então, em uma insistência incomum, Iruka-sensei apareceu como um pingo de esperança. Desesperadamente eu consegui chamar atenção de alguém. Finalmente, tinha quem pudesse me dar broncas, me dar conselhos, se preocupar comigo e me dizer o que fazer quando eu me sentia perdido. Aos poucos, consegui ter alguns amigos. Pensando bem, Shikamaru e Chouji nunca me ignoraram por completo. E, apesar das brigas, você também não.

E, aí, veio toda aquela confusão em que acabei me tornando Gennin. A felicidade era imensa quando eu descobri que, de fato, jamais estaria sozinho de novo ou seria ignorado, quando separaram os grupos e eu acabei no Time 7. Kakashi-sensei, Sakura-chan e Sasuke. É como se eu tivesse uma família completa. E na luta desesperada por reconhecimento, eu não conseguia enxergar outras coisas importantes que passavam por mim. Eu precisava me tornar Hokage.

Trocamos algumas palavras pelo caminho, mas como eu nunca tinha notado aquele sorriso? As palavras que me encorajavam durante o medo? Falha orgulhosa, eu? Eu realmente servia de exemplo para alguém, mas os anos de rejeição não me deixaram entender isso. Eu apenas me levei por aquelas palavras e quis lutar por elas, sem ao menos perceber. Aliás, o Exame Chuunin foi por ela. Não fui eu que venci Hyuuga Neji. Não, mesmo. Foi ela!

Pensando melhor agora, quando eu poderia começar a entender todas essas coisas, veio a Akatsuki e Uchiha Itachi reapareceu de um grande nada. E, na sequência, eu senti novamente uma dor profunda ao ver as lágrimas nos olhos da Sakura-chan. Não ter mais perto de mim aquilo que eu acreditava chegar mais perto de um irmão. Eu vi o Time 7 se desfazendo e, comigo, a frustração de estar perdendo tudo que conquistei.

Eu não tive tempo de assimilar aquele sorriso gentil, aqueles olhos tímidos, aquela beleza absurda. Pelo menos, eu consegui dizer durante várias vezes o quanto ela era incrível. Eu realmente achava isso.

Pena que não tive tempo antes de reparar além. Eu tive que sair às pressas com Ero-Sennin. Precisava ficar forte para trazer meu irmão de volta, proteger minha vila, meus amigos, a mim mesmo. Três longos anos de treinamento. E quando eu retornei, não só a Vila tinha mudado ou eu tinha ficado forte. Ela estava ainda mais incrível. Por que eu fui tão burro de não perceber antes aquela vermelhidão toda, que a deixava ainda mais linda?

Ela era tímida e eu... bom, eu era burro!

Precisava parar Orochimaru. Precisava resgatar o Gaara. Veio a morte do Ero Sennin e... eu me acabei. Precisava treinar muito, muito, muito mais para proteger tudo que era precioso para mim. E veio o Pain....

Eu conheci uma dor ainda maior vendo ela sendo arremessada para longe de mim. Aquela menina incrível não se intimidou pela força absurda do Pain e caiu bem diante dos meus olhos. Quase morreu para que eu pudesse realizar meu sonho de ser Hokage. Tem ideia disso?

Como eu tenho vontade de bater no Kurama. Idiota! Senti tanto ódio em ver aquela garota incrível ser derrotada daquele jeito que meu coração voou direto para o poço de ódio que o Kurama costumava ser. Kuramaaaa, como pode me roubar aquela lembrança? Eu era amado, cara!

Veio a guerra. E ela continuou ao meu lado, tentando me salvar. Mas, meu foco era outro. Eu não conseguia enxergar!

Ah, a gente sempre se liga nas coisas mais erradas desse mundo e não dá chance para as coisas mais sutis, onde realmente está a felicidade. Anota isso aí mentalmente!

Precisei de dois anos e hoje eu sou o cara mais feliz do mundo. E percebo que, todo o reconhecimento jamais seria completo se não tivesse conhecido esse sentimento tão incrível quanto ela.

A força da Hinata de nunca desistir de mim é o que sempre me salvou! E eu quero com ela cumprir os ensinamentos que minha mãe e o meu pai me deixaram antes de morrer. E quero que seja tão forte quanto o amor que Konoha presenciou entre Minato e Kushina.

Assim como a mãe fez com o pai, essa mulher não somente fez de mim um homem completo, como é ela que fará de mim o Hokage! É nela que eu consigo encontrar toda a força que me falta para evoluir ainda mais. Porque ela sempre pensou e ainda pensa em mim.

Eu te disse uma vez, lembra? Ero Sennin me ensinou: "Um lugar onde alguém pensa em você, esse é o seu lar". Eu tive para onde voltar, teme! Sempre tive um lugar para voltar, onde me dizem olá ou volte logo.

E, como daquela vez, eu te digo novamente: você tem um lugar para voltar, teme! E não importa o quanto o tempo passe, essa casa fica ainda mais forte a sua espera.

Isso tudo é para dizer que eu queria muito que você conhecesse essa felicidade toda. Porque assim como eu, você sabe qual é a dor de ser e existir só. Que você abra logo esses olhos e se permita a sentir um mundo totalmente diferente do que conhecemos. Ela está aqui te esperando. Sempre esteve e eu não gosto de vê-la sofrer.

Você sabe que eu sou péssimo e nunca tinha escrito tanto, em toda minha vida. Mas, eu acho que irmãos dividem esse tipo de coisa, não acha, Sasuke?

Ass. Naruto!"

— Rúm! É um dobe mesmo! Escrever algo tão grande com uma letra tão horrível. Eu quase não consigo entender. _ disse, enquanto desfrutava de um descanso e almoço embaixo daquela cerejeira. Sentiu aquele cheiro, que lhe era familiar. _ Dobe, acha que eu sempre escolho uma dessas para descansar por qual motivo? Talvez, você tenha razão e eu precise voltar. Mas ainda há algo que preciso resolver. Mas, quem sabe eu não pense melhor sobre o assunto e dê um jeito nisso?_ Suspirou profundamente. - Naruto, você merece ser feliz! - pensou, enquanto olhava as flores rosadas caírem na grama verde e umedecida pelo orvalho.