Allons-y, Winchester! escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 3
O método Winchester


Notas iniciais do capítulo

Hello, Sweeties!

Cheguei com mais um capítulo na parada, rá!

É pela visão do Sam desta vez porque vou variar os narradores.

Obrigada às pessoinhas que estão acompanhando, comentando ou lendo como ghosts tímidos mesmo ♥

Boa leitura e allons-y!



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Mesmo para mim, um caçador com anos de experiência em bizarrices sobrenaturais, essa situação foge um pouco do padrão. Um sujeito esquisito, alegre e falante demais para o meu gosto simplesmente surgiu, há cerca de meia hora, no meio do bunker — teoricamente o lugar mais seguro do mundo —, a bordo de uma peculiar e antiga cabine da polícia londrina. 

Faz algum sentido para vocês? Pois é, para mim e Dean, também não. 

Tentando arrancar respostas do tal Doutor e descobrir o que ele quer aqui, nós o prendemos na masmorra. Mas nada do que ele disse até agora fez muita lógica. Então, seguindo o método Winchester de desvendar a verdade, decidimos passar para os testes de praxe, a fim de descobrir com que tipo de criatura estamos lidando exatamente. 

Um pouco afastado de Dean e de frente para a cadeira onde amarramos nosso peculiar visitante, abro meu cantil e lanço uma boa quantidade de água benta no rosto dele.  

O sujeito, que até então falava sem parar, afirmando ser um viajante do tempo, que veio parar no bunker por mero acaso, infla as bochechas e cospe o líquido no chão. 

— Muita gentileza sua, mas eu não estou com sede, obrigado — diz de um jeito sério e completamente sem noção para alguém que está numa situação pouco favorável como essa. 

Impaciente, Dean se prepara para o segundo teste, pegando um utensílio numa bandeja repleta de outros itens especiais, num canto da masmorra.  

Quando o Doutor vê o objeto cortante se aproximando, arregala os olhos e, enfim assustado, implora: 

— Por favor, não faça isso. Como eu já disse, partir para a violência não é a solução. 

— Ei, Sammy. — Meu irmão olha para mim de soslaio e debocha: — Parece que alguém aqui tem medo de facas de prata. Por que será, hein? 

— Eu não faço ideia, mas muitas criaturas costumam ter — insinuo, convencido de que estamos prestes a descobrir o que o Doutor é de verdade. 

— Não se trata de medo... 

Dean o interrompe ao erguer um pouco a manga do sobretudo dele, deixando-o em alerta e mudo. Sem cerimônia, faz um corte no antebraço do sujeito enquanto mantém o olhar cravado nos seus olhos esbugalhados.  

No entanto, para nossa surpresa e certa frustração, a prata não reage com sua pele como esperávamos que acontecesse. Ao invés disso, um filete de sangue, aparentemente normal, escapa do ferimento, e o Doutor limita-se a fazer uma careta de desconforto. 

Intrigado, troco um olhar com Dean, que também parece bem confuso com o resultado decepcionante e nada conclusivo. 

É neste momento que algo estranho acontece e tornamos a olhar para o nosso prisioneiro. Isso porque uma luz intensa e um tanto amarelada emana do corte que, em questão de segundos, está cicatrizado.  

Eu e Dean nos entreolhamos mais uma vez. 

— Você é algum tipo de anjo? — meu irmão indaga, inclinando-se na direção do Doutor enquanto o analisa atentamente. 

— Oh, obrigado! São seus olhos! — a criatura brinca, mas quando ambos fechamos a cara, ele apressa-se em esclarecer: — Não, não, não... Eu não sou um anjo, apenas posso me regenerar. É uma longa história, fica para outro dia. Eu só mostrei que posso fazer isso, na esperança que vocês entendam que estou falando a verdade. Regeneração é uma característica dos Senhores do Tempo. 

Acho que sem entender mais nada, Dean se endireita e se afasta um pouco. Cruza os braços e questiona firme: 

— Eu só vou perguntar mais uma vez. Quem diabos é você? 

Depois de olhar dele para mim, o sujeito responde: 

— Eu já disse, eu sou o Doutor! Alienígena, último Senhor do Tempo, dois corações... Por que é tão difícil acreditar em mim? 

Solto um riso incrédulo e retruco: 

— Sem ofensa, Doutor, mas nada do que você disse até agora fez muito sentido.  

— E acredite — Dean toma a palavra e acrescenta: —, nós já vimos muitas coisas estranhas por aí. Mas isso? Sem chance, você não vai nos convencer de que é primo do ET de Varginha.  

— Ótimo, porque eu não sou parente dele mesmo. Nossa única semelhança é que ambos não somos deste planeta, só isso — o suposto alienígena diante de nós esclarece, parecendo falar muito sério. 

Confesso que seu tom inocente me intriga. Primeiro penso que ele está nos testando e tentando nos fazer desistir, porém, depois sinto que é como se estivesse mesmo falando a verdade sobre a existência do ET de Varginha. Ele acredita e expôs isso de uma forma natural e convicta, chegando a se comparar com uma criatura de outro planeta cuja veracidade nunca foi comprovada. E o Doutor fez isso porque realmente acha que também não é da Terra.  

Sinceramente, não sei se eu e Dean estamos diante de uma potencial ameaça ou apenas de um pobre coitado maluco. O fato é que, em virtude de tamanha insanidade que ouvi até agora, procuro manter o foco minimamente racional e retomo o interrogatório: 

— O que você quis dizer com último Senhor do Tempo?  

— Outra longa história. 

— Você é o último da sua espécie? — presumo e, quando seu olhar vacila, evidenciando certo desconforto e até tristeza, insisto: — O que aconteceu com os outros como você? Supondo que seja mesmo um ET e que eu acredite nisso, de onde você é?  

— Gallifrey — responde de um jeito certeiro. 

Penso um pouco, franzo o cenho e replico: 

— Eu nunca ouvi falar desse planeta. 

— Nem poderia. Mesmo hoje, com a tecnologia terráquea relativamente avançada, a humanidade não seria capaz de localizá-lo. Gallifrey ficava num sistema solar binário, dentro da costelação Kasterborous, a bilhões de anos-luz daqui. 

Diante de sua explicação e de algo específico que deixou escapar no meio dela, repito: 

— Ficava? — Após uma breve pausa, aguardando sua resposta sem sucesso, inquiro: — Então o seu planeta natal não existe mais? O que aconteceu? 

Ao meu lado e exalando impaciência, meu irmão avisa: 

— Se você disser "longa história" de novo, eu juro que quebro os seus dentes. 

Nosso prisioneiro ainda hesita mais um pouco, parecendo mesmo desconfortável e triste, como se estivéssemos tocando em uma ferida, em um assunto delicado que ele prefere evitar. Sem escolha, enfim se pronuncia: 

— A Guerra do Tempo. Foi isso o que aconteceu. E eu sei que não posso exigir muita coisa, mas agradeceria muito se vocês me poupassem de entrar em detalhes. Por favor. 

Um silêncio sepulcral se instala na masmorra enquanto reflito sobre tal pedido. E, apesar de não saber no que acredito ou não, decido acatar e mudo de assunto: 

— Quantos anos você tem? 

Soando receoso, uma vez que nada do que contou até agora nos convenceu, o Doutor rebate com outra pergunta: 

— Ãn... Se eu falar mais de 900 anos, o que vocês me dizem? 

— Que você está bem conservado para um maracujá de gaveta — Dean retruca na lata, com seu característico tom de deboche. — Qual é o segredo? Peeling? Plástica? 

— Regeneração.

— Oh, certo! Regeneração. Desculpe, eu tinha esquecido dessa parte. 

Pigarreio a fim de chamar a atenção do meu irmão e me volto mais uma vez para o prisioneiro: 

— Se você é um alienígena, não deveria ter uma nave ou algo assim? 

Depois de soltar um riso incrédulo, Dean protesta: 

— Sammy, por favor... Isso é ridículo. 

Sem se intimidar com a descrença dele, o Doutor prontamente explana: 

— Oh! Eu tenho uma. Inclusive, vocês a viram na sala.  

— Aquilo? — Meu irmão parece ainda mais descrente. — É só uma caixa azul estúpida criada com algum tipo de bruxaria, feitiço ou poder oculto. É isso o que deuses pagãos fazem, criam coisas, ilusões. 

Respiro fundo e o corrijo: 

— Não é uma caixa azul, Dean, é uma cabine da polícia londrina da década de 60. 

Antes que ele me xingue — provavelmente de Bitch —, o Doutor expõe: 

— Os dois estão certos, e os dois estão errados. A olho nu, a TARDIS é mesmo uma caixa azul e uma cabine de polícia. É o que ela aparenta ser por causa de um defeito no sistema de camuflagem, que travou assim. Mas, na prática e na realidade, ela é algo muito maior do que isso: uma nave. Precisamente, a minha nave. 

— TARDIS? — repito com curiosidade e sem entender muito bem. 

— Time And Relative Dimension In Space — explica. — É um acrônimo. T A R D I S. 

Meu irmão revira os olhos e resmunga: 

— Eu sei o que é um acrônimo. Obrigado por esclarecer o óbvio. 

Cada vez mais curioso e, confesso, inclinado a acreditar em pelo menos alguma parte dessa maluquice toda, observo: 

— Ela parece muito pequena para uma espaçonave. 

Não sei o que eu disse de tão extraordinário, todavia o Doutor fica extremamente animado com algo implícito em minhas palavras. Sorridente, ele confidencia com uma empolgação tangível: 

— Bem, na maior parte do tempo, eu prefiro ouvir isso do que dizer, mas... ela é maior por dentro do que por fora.  

O Doutor ainda arremata o discurso com uma piscadela e um sorriso orgulhoso, como se eu devesse captar algo importante e elementar. Porém, a verdade é que me sinto mais perdido do que o Capitão América no século XIX. Simplesmente não entendi a referência; o que faz o sorriso animado do alienígena se esvair completamente em questão de segundos. 

— Confiem em mim — limita-se então a balbuciar, visivelmente frustrado. 

— Oh, eu confio! — Dean ironiza. — Com todo o meu coração e de olhos fechados, eu confio em você, Doutor.  

— Dê uma olhada, fique à vontade — ele o desafia, soando bem resoluto. — Só não toque no painel de navegação ou poderá parar em outro lugar e tempo. Cuidado. 

Após uma breve pausa, durante a qual parece ponderar a sugestão, meu irmão toma a decisão e se prepara para deixar a masmorra. No último instante, o alcanço e toco em seu ombro, fazendo-o se virar para mim de pronto. 

Num volume baixo, exponho minha opinião: 

— Dean, pode ser uma armadilha. Enquanto a cabine, digo, a TARDIS estiver longe dele e de nós, acho que estaremos seguros, e ele continuará preso aqui. 

— Então como vai ser, Sammy? Checamos essa história com mais calma na volta? Nós devíamos estar a caminho de Lawrence agora mesmo, lembra? 

Antes que assimile suas perguntas e formule o que responder, nosso prisioneiro se intromete: 

— O que tem em Lawrence? Posso ajudar? 

Em resposta, Dean lhe lança um olhar duro e o corta de pronto: 

— Calado. A conversa não é mais com você, velhote.  

Quando ele torna a se concentrar em mim, questiono num volume mais baixo: 

— Nós vamos deixá-lo aqui até voltarmos sabe-se lá quando?  

— Nós temos um caso a investigar. 

— Eu acho que temos dois — contraponho, acrescentando o Doutor nas tarefas diárias. 

— Um caso a investigar? — o próprio se intromete mais uma vez, mostrando que tem ouvidos bem apurados e nenhum senso de privacidade ou educação. — Desculpe, sobre o que exatamente? Alguma pista? Porque eu aposto que foi por isso que a TARDIS me enviou até vocês. Agora tudo faz sentido! Eu vim para ajudar! Às vezes, ela não me envia para onde eu quero ir, mas sempre me leva aonde eu preciso estar. Deve ser uma dessas situações agora. Brilhante!  

Confesso que fico um pouco zonzo com a velocidade com que ele dispara a falar de repente e, obviamente, com o conteúdo do seu discurso inflamado.  

Em contrapartida, Dean não o leva a sério já que, mais uma vez, o corta: 

— Calado. Nós não precisamos da sua ajuda. — Voltando-se para mim, retoma aos sussurros: — Eu não gosto dessa situação, mas a masmorra é segura, ele não vai a lugar algum. Quando nós voltarmos, teremos tempo e cabeça para lidar com isso, checar toda essa loucura e decidir o que fazer com ele. 

Juro que, pela visão periférica, vejo o misterioso e inconveniente Doutor engolir em seco ao ouvir as últimas palavras do meu irmão. 

— Me deixar preso aqui não seria muito gentil, rapazes — pronuncia-se, nos levando a olhar em sua direção. — Eu entendo a desconfiança, mas asseguro que não sou uma ameaça. Eu não sou inimigo de vocês, não vim para machucá-los.  

Franzo o cenho, enquanto Dean simplesmente cai na risada e rebate afiado: 

— Nos machucar? Bitch, please! Nós somos os Winchester. Você precisa comer muito hambúrguer para conseguir puxar o cabelo do Sammy ou mexer na minha torta. 

— Mas se eu estou aqui é porque alguma coisa vai — o sujeito insiste, deixando-me intrigado com o súbito tom preocupado. — Machucá-los, é claro. Não puxar o cabelo ou mexer na torta de alguém. 

Demonstrando segurança, Dean abre um pouco os braços e retruca cheio de si: 

— Então deixe essa tal coisa tentar. Eu me garanto e cuido do meu irmão. É o meu trabalho. — Antes de cruzar a porta, ele conclui: — Aproveite a estadia, Doutor. E não mexa em nada. Oh! Desculpe, esqueci, você não pode. 

Meu instinto natural seria segui-lo imediatamente, afinal está claro que não vamos conseguir arrancar nada do suposto alienígena agora. Além disso, algo igualmente misterioso está acontecendo em Lawrence. Pessoas desapareceram sem deixar vestígios, outras podem estar em perigo e nós temos que cuidar do assunto antes que mais gente se machuque. 

Apesar de consciente do meu dever como caçador, vejo-me hesitante em deixar a masmorra. E apesar de todas as loucuras que ouvi do nosso peculiar visitante, de alguma forma, ele me pareceu sincero. Especialmente quando se mostrou preocupado com uma possível ameaça em Lawrence. 

Sei que isso vai totalmente contra a relação entre prisioneiro e o detentor de sua liberdade, mas quando dou por mim, já retornei alguns passos e parei em sua frente.  

Cruzo os braços, para não parecer tão suscetível a acreditar nele, e pergunto como se não fosse nada de mais: 

— Nós não vamos demorar, mas enquanto isso... você vai ficar bem? Digo, precisa de água? De alguma coisa assim? 

O que diabos eu estou fazendo? O que estou pensando? No conforto do meu refém? 

— Eu vou ficar bem — o Doutor responde, sorrindo levemente, com certa surpresa e tangível satisfação. — E pode ficar tranquilo, eu não vou tentar fugir. Prometo que só vou sair dessa masmorra, quando vocês me desamarrarem por livre e espontânea vontade, quando confiarem em mim o suficiente para isso. 

Sabem o que é mais surpreendente? O Doutor soa bem sincero quando se compromete assim. Não que ele possa fugir da masmorra, mas não demonstrar qualquer intenção de que vai ao menos tentar é muito estranho e improvável. 

Antes que a situação fique ainda mais esquisita, viro-me e caminho até a saída. Contudo, sou obrigado a me deter na soleira quando ele acrescenta: 

— Por isso, eu espero muito estar enganado sobre o perigo lá fora e desejo que vocês dois voltem logo. Sãos e salvos, Sammy. 

Um pouco irritado pelo meu momento de fraqueza ter lhe dado muita segurança para tomar essa liberdade e cogitar que podemos ser amigos, olho para trás e digo duramente: 

— Não abuse, é Sam. 

Por fim, cruzo a porta dupla e começo a fechá-la, fazendo um ranger pesado e metálico se propagar pelo antigo calabouço. 

Tento, mas não consigo deixar de fitar o Doutor uma última vez pela fresta que se estreita cada vez mais.  

Sua expressão é enigmática e séria, mas juro que, no último instante, percebo um leve sorriso em seus lábios. 

*** 

Agora eu devia simplesmente procurar por Dean, me acomodar no Impala e pegar a estrada. Porém, novamente, hesito. Desta vez, quando estou cruzando a sala e caio na idiotice de bater o olhar na tal nave espacial, TARDIS. Nem sei por que faço isso, mas quando percebo já caminhei até ela. Observo cada detalhe do seu exterior e posso assegurar que ela é apenas uma cabine de polícia.  

Sendo assim, eu devia me dar por satisfeito e me afastar sem olhar para trás, certo? Bem, não é o que faço. 

Tomado pela curiosidade e pelo desejo de descobrir se o Doutor mentiu ou estava falando a verdade sobre ela, e também sobre cada maluquice que nos contou durante o interrogatório, esbarro os dedos em sua pequena maçaneta. Seguro-a. Preparo-me para abrir a porta de uma vez, rápido e incisivo.  

— Vamos, Sammy! O dever nos chama. 

Sou interrompido no último segundo quando Dean surge na sala dizendo isso. Afasto-me rápido da TARDIS, mas assim que me viro em sua direção, vejo que ele percebeu o que eu pretendia fazer.  

Dean analisa o flagrante por um longo momento até que recorda: 

— Foi você que disse que isso pode ser uma armadilha. Vamos. 

Em seguida, ele caminha rumo à saída do bunker, subindo os degraus devagar, de certo esperando que eu faça o mesmo e lhe alcance logo.  

Confesso que ainda demoro alguns instantes para aplacar a curiosidade em relação à cabine azul atrás de mim e seguir meu irmão. Ainda olho uma última vez para ela antes de cruzar a porta da fortaleza. 

*** 

Já no carro, estranho quando Dean não dá a partida de uma vez. Ao invés disso, ele simplesmente me encara com um olhar estreito e desconfiado. Por fim, indaga: 

— O que está acontecendo? 

Não adianta negar ou desconversar, ele notou algo em minha postura. E já que é inútil lhe convencer a deixar isso para lá, resolvo expor o que estou pensando: 

— Eu sei que nada disso faz sentido, mas e se o sujeito lá dentro estiver falando a verdade? Alguma parte pelo menos? 

— Sério? Então, você acredita no ET de Varginha? 

— Não foi isso que eu quis dizer, Dean, é só que... — Expiro com força e tento explicar melhor: — Bem, nós já vimos coisas bizarras, inacreditáveis e que, para a maioria das pessoas, não passa de lendas. Então, por que é tão difícil acreditar na existência de um alienígena, da espécie Senhor do Tempo, de um planeta distante, Gallifrey, que não existe mais e, desde então, ele viaja a bordo de uma cabine de polícia, na verdade uma nave, chamada TARDIS?  

Assim que paro de falar e penso em minhas próprias palavras, noto que meu irmão está me olhando como se eu fosse o verdadeiro extraterrestre aqui. E o pior é que não dá para julgá-lo por isso. Nada do que o Doutor disse é viável, convenhamos. Soa como ficção científica das mais inconcebíveis, mesmo para nós, caçadores. 

— Tudo bem, esquece — assinto antes que Dean faça alguma piada. — É que, por um momento, me pareceu que o Doutor, ou seja lá qual for o seu verdadeiro nome, estava sendo sincero. 

— Pareceu. Porque é isso que os vilões fazem, Sammy. Parecem sinceros, nos manipulam e então dão o bote. Você não lembra da Ruby? 

Ouvir esse nome, depois de tanto tempo e assim, de repente, é como receber um choque. De todos os exemplos que meu irmão poderia usar para contrapor meu ponto de vista, esse não deveria nem sequer passar pela sua cabeça. Não consigo disfarçar o quanto isso me desagrada quando cuspo minha resposta cheia de mágoa: 

— Não, eu não lembro dela. Valeu, Dean. Por um momento, eu tinha esquecido do meu grande e imperdoável erro do passado, que arruinou tudo e deu início ao apocalipse. 

— Ei, foi mal — ele apressa-se em se desculpar, tocando meu ombro. — E não foi imperdoável. Foi erro dos grandes, mas não imperdoável.  

Rio sem humor e digo com escárnio: 

— Valeu mesmo. 

— O que eu quis dizer é que você já se redimiu. Há muito tempo, aliás. É isso que importa — articula, visivelmente arrependido por ter mexido numa ferida antiga. 

Posso até ter me redimido e Dean pode até ter me perdoado, já que isso tudo aconteceu há muitos anos e, de lá para cá, eu tentei acertar as contas com ele, com o mundo e comigo mesmo. Mas nada disso muda o fato de que, um dia, eu preferi confiar em um demônio do que no meu próprio irmão.  

Dói relembrar isso. Dói saber que a Ruby sempre será uma mancha no meu passado e na minha relação com Dean. Dói perceber que, talvez lá no fundo, ele nunca mais confiou plenamente em mim depois daquilo. 

— Foi mal, Sammy — ele lamenta de novo. — Eu nem sei por que desenterrei isso agora. Eu só não quero que você confie na criatura errada de novo. Nós vamos descobrir a verdade sobre esse Doutor, não se preocupe. Mas, por ora, um problema por vez. 

Penso um pouco e, embora eu saiba que não posso ficar chateado com Dean apenas por ter desenterrado um assunto vergonhoso que eu gostaria muito de esquecer, mas que é, de fato, consequência de escolhas que eu mesmo fiz, ouço-me sugerindo: 

— Quer saber? Eu acho que você devia ir sozinho. Eu fico e pesquiso sobre o nosso hóspede. Ou, se não confia em me deixar sozinho com ele no bunker, você fica e eu cuido de Lawrence. 

— Ei! — Dean segura o meu rosto com uma das mãos. — Eu confio em você. É no Doutor que eu não confio e era na Ruby que eu não confiava, só isso.  

Quando assinto, vencido e sem querer realmente prolongar uma discussão, Dean recua um pouco e diz com determinação: 

— Nós dois vamos cuidar de Lawrence porque Lawrence é pessoal para nós. E depois vamos desvendar a verdade sobre o Doutor. Nós vamos fazer as duas coisas, Sammy. Juntos. E de preferência, sem brigar por pequenas coisas. Estamos entendidos? 

Reviro os olhos e resmungo com desdém: 

— Sim, senhor. 

— Bitch — ele me xinga, ajeitando-se no banco e girando a chave na ignição.  

— Jerk — é tudo o que digo em resposta, pouco antes do Impala ganhar movimento. 

Uma nuvem de poeira se ergue atrás de nós e, então, estamos na estrada. 


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Notas finais do capítulo

Sim, rolou um pouquinho de drama no finalzinho porque drama é vida. Oi?

No próximo capítulo, finalmente conheceremos o vilão da história/inimigo/ameaça sobrenatural. Quem viver, verá!

Bjs e querendo comentar, estou aqui o/

Curiosidade: Comecei a escrever essa fic em terceira pessoa, mas gente... acho que deu bug no meu cérebro porque desaprendi, achei estranho e mudei tudo pra primeira pessoa. O engraçado é que as minhas fics de SPN (lê-se Saga Destino) são todas em terceira pessoa e eu achava supernatural hahahahah Foi com Trapaças do Destino que eu mudei de lado. Oi? Agora só consigo escrever em primeira pessoa e, às vezes, isso é frustrante.