Allons-y, Winchester! escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 2
Doutor quem?


Notas iniciais do capítulo

Hello!

Eu disse que as atualizações seriam semanais, mas não resisti. O prólogo foi curtinho, o primeiro capítulo já estava revisado, entonces... por que não postá-lo?

Está aqui, o começo oficial da história em si.

Vou deixar um link nas notas finais de um grupo que criei para reunir os meus leitores amadinhos ♥

Boa leitura!



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O vibrar do celular sobre o criado-mudo e Immigrant Song me despertam aos poucos. O ruído e minha banda favorita parecem bem mais altos com a acústica do bunker e o silêncio da manhã. Instantes se passam até que finalmente estico a mão na direção do pequeno móvel e percorro a superfície em busca do maldito aparelho. Aperto qualquer parte da tela, apenas para que o barulho e o Led cessem.

Sonolento, estreito o olhar e checo a hora, embora me lembre muito bem do horário programado para o alarme despertar. São oito horas da manhã, retornei de mais uma viagem de caça com o Sammy durante a madrugada e minhas quatro horas de sono diário chegaram ao fim. Triste, mas a verdade.

Depois de tomar um banho rápido e trocar de roupa, encontro meu irmão na sala principal do bunker. Entretido com uma ligação, Sam não me vê passar por ele e ir direto para a cozinha. Quando retorno, trazendo um gorduroso café da manhã para nós, ele já encerrou a conversa telefônica e seu olhar está concentrado na tela do notebook sobre a mesa.

— Nós acabamos de voltar. — Puxo uma cadeira, sento e dou uma generosa mordida no meu amado X-Bacon, enquanto empurro um segundo prato e um copo com suco para ele.

— Eu sei — assente, sem desviar o olhar da leitura.

Curioso, inquiro:

— Desembucha logo. Do que se trata? Tem que ser algo extremamente relevante para me fazer pegar a estrada de novo tão cedo. A propósito, eu já disse que nós acabamos de voltar?

— Sim, disse. — Sam dá um meio sorriso em concordância, e então revela: — Era o Craig no telefone. Pessoas estão desaparecendo em... Lawrence. Ele está do outro lado do país, seguindo um rastro para um ninho de vampiros, e pensou que nós poderíamos checar, já que estamos bem mais perto e disponíveis.

Tento ignorar a menção à cidade onde nascemos e vivemos até o dia em que nosso lar foi consumido por chamas e me concentro no nome que Sammy disse: Craig. Certo, Craig Walker, caçador, velho amigo do nosso pai e de Bobby. Ao lembrar disso e assimilar o que meu irmão relatou, peço mais detalhes:

— Explique desaparecendo.

Pela primeira vez, Sam desvia o olhar do notebook e me encara. Então dá de ombros e resume:

— Num instante elas estão lá; no outro, não.

— Engraçadinho. Valeu por esclarecer. — Estreito o olhar e tomo um gole do suco. Faço uma careta pois o gosto está horrível. Como água de esgoto. Não que eu tenha tomado água de esgoto alguma vez na vida, mas aposto que deve ter esse sabor.

Enquanto coloco o copo de lado e dou mais uma mordida no lanche, Sammy explica melhor:

— Tudo bem, não foi bem assim, mas o fato é que moradores estão sumindo, há duas semanas, sem deixarem rastros, pistas, nada, simplesmente evaporaram.

Após pensar por alguns instantes, arrisco:

— Alguma possibilidade de ter uma explicação racional? Sequestros, por exemplo?

— Não, sem chance. Você acha que a polícia já não considerou isso? — Sam rebate prontamente. — Craig não ligaria se houvesse qualquer indício de que são apenas crimes. Tem alguma coisa acontecendo em Lawrence, sim. E eu sei que... Bem, vai ser estranho voltar lá de novo, mas é o nosso trabalho, certo? Nós não escolhemos os casos, as pistas simplesmente aparecem em qualquer lugar e é nosso dever checá-las.

Observo meu irmão por alguns instantes. É nítido que ele não gosta dessa situação, assim como eu. Mas ele está certo. Não importa o lugar, se tem algo inexplicável acontecendo, algo sobrenatural, então é nosso dever ir até lá e resolver o problema. É o negócio da família, afinal. Nossa herança, nosso legado, nossa última ligação com o papai.

É estranho olhar para trás e relembrar cada caso que solucionamos depois que caímos na estrada pela primeira vez, ainda crianças. Cada criatura que despachamos, cada pessoa que salvamos. É um trabalho sem fim, que ninguém em sã consciência quer, mas que todo mundo, eventualmente, pode precisar.

Ainda estou refletindo sobre isso, quando Sammy gira o notebook em minha direção e mostra o que parece ser uma relação de pistas que levantou, enquanto eu preparava nossa primeira refeição do dia. Ele limpa a garganta, antes de retomar:

— Além disso, eu descobri que houve incidentes semelhantes em cidades vizinhas nos últimos meses. Seja lá o que for que está levando essas pessoas embora, está se movimentando continuamente e seguindo certa lógica. E agora está em Lawrence.

Segundo a pesquisa do meu irmão, quatro pessoas desapareceram na nossa cidade natal nas duas últimas semanas. A última delas, uma jovem garçonete chamada Rebecca. Bem gata, por sinal.

Buscando uma explicação, listo:

— Fadas? Deus pagão? Algum ritual de bruxaria? Demônios fazendo coisas de demônios?

— Talvez. — Sam desliza o computador para a posição inicial, apoia os braços na mesa e indaga: — Então, o que você me diz? Vale a pena checar, certo?

Dou mais uma mordida no meu X-Bacon e respondo de boca cheia mesmo:

— Oh, você me conhece, se existe a menor possibilidade de encontrar um monstro, eu já estou lá para chutar o traseiro do desgraçado. Claro que se não for nada sobrenatural e eu tiver me deslocado à toa, bem...

Sammy revira os olhos e completa meu raciocínio:

— Entendi, uma rodada de cerveja por minha conta.

— Fechado. — Sorrio, evidenciando minhas bochechas cheias de comida, a ponto de explodir.

Pensativo, Sam pondera:

— Eu nem sei por que nós fazemos esse tipo de aposta. Nossos cartões de crédito são falsos e nosso pouco dinheiro, ilegal.

— Ei! — protesto, meio ofendido. — Tudo o que fazemos é pedi-los, não é nossa culpa se nos mandam os cartões. E nosso dinheiro é conquistado com muito talento e charme no pôquer, obrigado.

— E com isso infringimos leis e sonegamos impostos. Louvável — meu irmão acusa, arqueando as sobrancelhas e rindo um pouco.

Dou de ombros e argumento:

— Que diferença faz? Para todos os efeitos, nós estamos mortos há anos mesmo. O que os olhos não veem, os cofres do governo não sentem.

Com isso, parece que venço o embate e o assunto é encerrado. Acho que, no fundo, Sam nem estava falando sério, apenas gosta de levantar essas reflexões sobre os bastidores da vida que levamos. Não é fácil, muito menos glamourosa, então é bom fazer piada de nós mesmos de vez em quando.

Finalmente, Sam aproxima o prato de si e, depois de hesitar um pouco, decide experimentar a bomba calórica preparada por mim. Parecendo surpreso e satisfeito com o sabor delicioso, engole rápido e elogia:

— Cara, isso está muito bom.

Cheio de mim, assinto:

— Eu sei.

— Mas é puro veneno — ressalva, comendo mais devagar e soando arrependido.

Sem me importar com a crítica ao meu estilo alimentar, articulo:

— Caçadores não morrem em virtude de colesterol alto, problemas cardíacos ou doenças gerais, Sammy. Portanto, relaxe e aproveite enquanto temos tempo.

— Animador... — murmura com ironia.

Em seguida, ele pega o copo sobre a mesa, leva a bebida aos lábios, toma o primeiro gole e quase cospe de volta no mesmo instante. Fazendo um esforço e uma careta, critica aos risos:

— Cara... Isso está horrível.

Desgostoso, porém resignado, admito:

— Eu sei. Provavelmente venceu há alguns dias.

— Eu diria semanas — supõe, deixando o copo de lado. — Parece água de esgoto.

Vou soltar um comentário sobre essa observação, quando um ruído súbito e meio mecânico se propaga no ar, espalhando uma leve brisa pela sala e deixando nós dois em alerta imediato.

O barulho áspero de engrenagens cresce a cada instante e, apesar de não ver nada que possa justificá-lo, olho para a frente ao ter certeza de que ele está vindo do centro da sala.

Essa certeza se confirma quando o som cresce ainda mais e algo começa a surgir diante de nós. Uma imagem meio transparente que, aos poucos, vai tomando forma. Algo azul e grande o suficiente para ser notado, embora não faça o menor sentido em estar aqui.

— Que diabos... — Estico a mão e pego uma arma presa embaixo da mesa. Levanto-me, alarmado e confuso.

Sam faz o mesmo, e ambos apontamos as armas para a coisa que termina de se materializar no centro do bunker.

— Isso é... — começo a dizer, quando o barulho cessa e posso ver a coisa com mais clareza. — Uma caixa azul?

Após avaliá-la por alguns instantes, Sam me corrige:

— Na verdade, parece uma cabine da polícia londrina dos anos 60.

Meio humilhado, reviro os olhos e resmungo:

— Que ótima hora para bancar o inteligente, Sammy.

Sem se importar com a minha provocação, afinal estamos diante de algo bem mais importante no momento, meu irmão inicia uma pergunta:

— Como ela...?

Mas acho que esquece o que ia dizer quando notamos uma movimentação na madeira que constitui a misteriosa cabine.

— A porta está abrindo.

Sem pensar duas vezes, empunho a arma na direção dela e concordo duramente:

— Claro que está.

Sam me imita no exato instante em que a porta finalmente é aberta. Apreensivos e totalmente na defensiva, observamos um homem não muito alto saltar do seu interior com uma estranha animação no rosto e fechar a porta logo em seguida.

Definitivamente baixo e com os cabelos castanhos ligeiramente espetados, ele tem um estilo peculiar de se vestir. Calça e terno azuis, gravata, um enorme e desalinhado sobretudo bege caindo sobre o corpo meio franzino e, para arrematar, tênis vermelhos do tipo All Star. Que criatura estranha.

— Olá! — o intruso nos cumprimenta, animado e sorrindo para nós dois.

Sem entender nada do que está acontecendo aqui, e enquanto Sammy franze o cenho igualmente confuso, fecho a cara, semicerrando o olhar, seguro a arma com mais determinação e ordeno seco:

— Não se mova.

A recepção nem um pouco amigável parece não ter importância para o visitante. Com um olhar meio perdido e lambendo os lábios por um instante, ele olha tudo em volta, percebendo algo. Então, visivelmente decepcionado, murmura para si mesmo:

— Não, não, não, não... Eu não devia estar aqui!

Zonzo com a situação, Sammy concorda:

— Não mesmo.

Ignorando nossa presença, o homem volta-se para a sua cabine e gesticula em tom de bronca:

— Oh, não... Você fez de novo, não foi? Sua menina levada! Por que me enviou para cá, hum? Eu tenho certeza que ajustei as coordenadas corretas desta vez. Mas cá entre nós, isso aqui não parece em nada com o antigo Egito. Eu queria tanto desvendar o mistério de Tutankamon...

Pisco algumas vezes e indago:

— Ele fala com a cabine?

— Você fala com um carro — Sam pontua na lata.

Um pouco irritado com o comentário, esqueço-me por um instante do visitante misterioso e retruco firme:

— Não é um simples carro, Sammy, e você sabe disso. É a Baby!

— Com licença... — O homem volta-se para a gente e faz menção de se aproximar.

— Eu disse não se mova! — Meu berro o faz estancar no lugar prontamente e erguer as mãos para o alto. — Quem é você?

Deixando a tensão de lado e sorrindo largamente, ele se apresenta:

— Eu sou o Doutor!

Sem entender o que isso quer dizer, repito:

— Doutor?

— Quem? — Sam emenda, igualmente desorientado.

— Apenas o Doutor. E vocês são...?

Impaciente e com raiva, rebato:

— Muito engraçado, você invade nossa propriedade e não sabe quem nós somos? Quem diabos é você, afinal?

— Eu já disse, eu sou o Doutor! — reforça.

Perdendo o resquício de calma que me resta, olho de soslaio para meu irmão e digo com sarcasmo:

— Oh, claro! Que falha a minha! Sammy, ele é o Doutor! O Doutor Quem!

Com um sorriso torto, ele também é irônico:

— Isso diz muita coisa, não?

Um instante depois, torno a ficar sério e oriento:

— Reviste o filho da mãe.

Imediatamente e sem abaixar a arma, Sam dá alguns passos na direção do misterioso e abusado visitante e o segura pelo braço com força. Na sequência, empurra o sujeito contra a cabine, levando-o a reclamar:

— Oh! Ai! Rapazes, eu asseguro que não é preciso partir para a violência! Au!

— Quieto! — Sam ordena, fazendo uma rápida, porém eficiente, revista.

Ele não está armado, mas meu irmão encontra um estranho objeto no bolso do seu terno. Analisa o que parece ser uma ferramenta, por um momento, depois a aproxima do rosto do Doutor e indaga:

— O que é isso?

— É uma chave de fenda sônica — responde tranquilamente, como se fosse elementar.

— Certo. — Sam revira os olhos e entrega o objeto para mim.

— Leve o engraçadinho para a masmorra. Oh! Desculpe, o Doutor — oriento na sequência, frisando a última palavra e fingindo um sorriso simpático.

Prontamente, Sam segura o braço do intruso de um jeito ainda mais firme e começa a conduzi-lo pelo caminho que leva aos fundos do bunker, enquanto eu os sigo em alerta constante.

Sem qualquer noção do perigo, o Doutor murmura todo sorridente:

— Oh! Uma visita guiada? Allons-y!

Em resposta, não abaixo a guarda nem abandono a postura séria. Bancar o sem noção não irá ajudar esse sujeito em nada. E espero que ele pare com isso logo porque já está me irritando.

Tento manter a calma e o foco, apesar de tudo, porque sei que perder a cabeça também não vai me ajudar em nada.

Só quero descobrir quem este homem é de verdade, o que ele é, de onde veio e por que diabos está aqui. Apenas "o Doutor" não é uma resposta satisfatória para os Winchester.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do primeiro contato entre boys e Doc? Meigo e civilizado, não? Hahahahahah

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Os próximos capítulos serão postados sempre às sextas.

Bjs!