Shit, my glasses! escrita por gaby


Capítulo 2
Capítulo um


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Tudo bom, galero? Finalmente estamos aqui com o primeiríssimo capítulo de SMG! e eu estou muito animada pra saber o que vocês vão achar dele ♥
Talvez tenha ficado um pouquinho maior do que eu tinha planejado heheh, espero que não se importem! Juro que os próximos serão menores!

Sem mais delongas, boa leitura :D



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 Shit, my glasses!

Capítulo um

 ***

 

[SEGUNDA-FEIRA (12/06) – EDIFÍCIO LUMUS SOLEM – LONDRES]

— Droga!

James praguejou ao encarar as horas, assim que acordou; estava atrasado para o trabalho. De novo.

Largou o celular em cima da cama e colocou os óculos no rosto. Vestiu a calça e a camisa ao mesmo tempo que escovava os dentes. Tropeçou no gato, enfiou as lentes da câmera dentro da mochila, calçou o tênis e saiu praticamente correndo do apartamento. Apertou o botão do elevador, tamborilando os dedos na alça da mochila, e então pôs a mão no bolso, percebendo que não tinha pego sua carteira. Tomou fôlego e voltou para buscá-la.

Encarou o relógio em seu pulso. Não, não tinha tempo para comprar um café; resmungou, insatisfeito. A porta do elevador abriu. Ele xingou internamente ao lembrar que seu carro ainda estava na revisão e que precisaria pegar um táxi; inferno!

— Bom dia, Sr. Potter – o recepcionista cumprimentou, com um sorriso simpático.

— ‘Dia, Filch – ele respondeu, com seu típico mau-humor matinal, antes de sair pela porta de vidro. Uma chuva rala caía, claro, era o que faltava, reclamou mentalmente.

Táxi, táxi, táxi? Táxi!, avistou o veículo preto no final da rua e correu para a beira da calçada, esbarrando em alguém durante o trajeto. Gritou um pedido de desculpa para seja lá quem fosse e continuou acenando. Enxergava embaçado, por conta das gotas de chuva que escorriam pelas lentes dos óculos; irritado, tirou-os do rosto.

O táxi parou e James correu para chegar até a porta. Obviamente, não seria tão simples. Ele acabou pisando no próprio cadarço desamarrado, caindo com um splash na poça a sua frente. Os óculos, antes em sua mão, voaram para debaixo do veículo a sua frente. O motorista deu ré para conferir se estava tudo bem com o rapaz e, o que antes eram óculos, viraram um monte de plástico e vidro triturados sob o pneu do carro. James gemeu, esmorecido.

 

[SEGUNDA-FEIRA (12/06) – PRÉDIO DO PROFETA DIÁRIO]

— Bom dia, Evans. É Evans, né? – uma moça morena, alta, tinha parado em frente a sua bancada, com um sorriso simpático.

— Isso, Evans – respondeu, retribuindo o sorriso. – Lily Evans – estendeu a mão para a outra, que a cumprimentou na mesma hora.

— Bem-vinda! Meu nome é Gwenog Jones, mas prefiro Guga— acrescentou. – Sou da fotografia, junto com o Clearwater e o Potter. Isso, o Potter!— disse, como se tivesse lembrado de alguma coisa. – Preciso que ligue pra ele. Está atrasado, como pode perceber. Perdeu a reunião – ela olhou para o relógio, Lily acompanhou o movimento. – Temos que saber se ele vai sair com o Frank hoje ou se vamos ter que substituí-lo – naquela hora alguém chamou a morena. – Tenho que ir. O número dele tá na lista – apontou para um caderno.

E seu trabalho começa agora, a ruiva pensou, tirando o telefone do gancho e discando o número do rapaz.

***

Assim que se pôs dentro do pequeno edifício em que trabalhava, o celular de James começou a tocar. Enfiou a mão em todos os bolsos antes de encontrar o objeto; atendeu imediatamente, sem ao menos olhar quem poderia ser, não que eu fosse enxergar alguma coisa, afinal, refletiu.

Sr. Potter?

— Alô? – contraiu o cenho. Era uma voz feminina. 

Bom dia. O sr. está uma hora atrasado. Precisamos saber se teremos que substituí-lo hoje.

— Desculpa, mas quem seria você? – encarou o elevador, estava parado no quarto andar; merda, correu pelas escadas, só precisava chegar no terceiro.

Eu sou a nova secretária do Profeta Diário — James se perguntou se já a tinha visto ou se era o primeiro dia dela ali, não recordava. – Sr. Potter?

— Ah, eu já cheguei, na verdade.

Tudo bem. Obrigada — e desligou.

Ofegante, o rapaz alcançou o terceiro andar em menos de um minuto. Estava encharcado, com as palmas das mãos ardendo por causa do asfalto, e não enxergava mais que quarenta centímetros a sua frente. Seguia rapidamente até sua mesa quando esbarrou em outra pessoa, essa usava alguma coisa laranja-avermelhada na cabeça; achou um tanto extravagante, mas não ficou encarando. Disse outro pedido de desculpas e saiu murmurando, estressado, até a cafeteira. Em poucos minutos acompanhava Frank, um dos repórteres e amigo, para uma rua não muito distante dali.

 

[SEGUNDA-FEIRA (12/06) – EDIFÍCIO LUMUS SOLEM]

O cérebro de James parecia estar sendo esmagado, tanto que sua cabeça doía por ter forçado a visão o dia todo. Merlin, o gato, veio logo roçando em suas pernas, pedindo por comida, assim que a porta se abriu. Eu tinha guardado os óculos velhos em algum lugar, James pensou, enquanto enchia o pote de ração do felino, no armário do banheiro ou na gaveta da escrivaninha? Procurou em ambos; nada.

Vasculhou o armário de roupas, até mesmo o da cozinha, mas também não estavam lá. Desistiu de procurar para tomar um banho – realmente precisava de um. Colocou uma música pra tocar e enfiou o corpo embaixo da água morna do chuveiro. Amanhã tenho que buscar o carro, checar as fotos e comprar o caralho de um óculos novo, listava internamente, estressado. Eu tenho certeza que guardei os antigos!

Acabou encontrando-os dentro da gaveta da mesinha de cabeceira. Eram, muito possivelmente, os óculos mais ridículos que já usou; pareciam não encaixar no seu rosto. Além disso, sua miopia tinha aumentado desde que deixou de usá-lo; por mais que fosse melhor que ficar sem, não ajudavam em muita coisa. Desanimado, tomou um comprimido para dor de cabeça e pediu comida japonesa, se jogando na cama, com o notebook em mãos, pronto para editar mais um monte de fotos que tinha tirado em seu tempo livre.

 

[SEGUNDA-FEIRA (12/06) – EDIFÍCIO SALVIO HEXIA]

— E então, como foi o primeiro dia? – Marlene arrancava os sapatos quando perguntou.

A loura já havia avisado que, algumas vezes, chegaria um pouco mais tarde. Era farmacêutica e, como em toda farmácia, tinha dias de plantão. Nesses dias, Lily não a esperaria para jantar; tinham combinado assim.

— Tranquilo – respondeu, espreguiçando-se no sofá. A TV mostrava um documentário sobre a reabilitação de pessoas alcoólatras. – Ligações, agendas, papéis – disse, como se fosse a melhor coisa do mundo. – Ah, e teve um cara engraçado que esbarrou em mim.

— Engraçado? – Marley gritou do quarto. – Ele não tinha olhos? – Lily girou os seus.

— Ele estava encharcado e com cara de quem levantou com o pé esquerdo. Provavelmente um mau dia – lembrava-se do rapaz.

— Pelo amor de Deus, tira essa coisa depressiva da TV – declarou, parando atrás do sofá e tomando o controle remoto. Trajava, agora, apenas um lingerie preto simples; Lily encarou-a com uma das sobrancelhas arqueadas.

—Marley? – "hum?", a garota fez. – A janela.

— O que tem?

— Está aberta.

— E daí? – Lily piscou os olhos, depois riu, balançando a cabeça em negação, enquanto a outra rumava para a cozinha. Marlene sendo Marlene.

 

[TERÇA-FEIRA (13/06) –  PRÉDIO DO PROFETA DIÁRIO]

No dia seguinte, James conseguiu não se atrasar, finalmente – boa parte disso graças ao seu carro. Assim que chegou no escritório, se reuniu com os outros dois fotógrafos, o Clearwater e a Jones, e eles definiram quem acompanharia os repórteres pela manhã. James acabou ficando no escritório. Aproveitou para tomar café.

 O líquido quente caía na xícara quando alguém surgiu no cômodo – não sabia se podia chamar aquilo de cozinha – e o barulho dos saltos lhe despertou curiosidade. Virar o rosto para o lado fez seus olhos pousarem sobre uma moça que usava uma camisa de botão e uma saia colada; mas não foi o fato de estar bem vestida que o fez se perder, e sim os cabelos avermelhados dela, além de suas írises verdes.

— Bom dia – ela disse.

James reconheceu de imediato: era a voz do telefone, do dia anterior. A ruiva o encarava com um olhar divertido, talvez por causa dos óculos feios, ou então porque ele estava com a boca levemente aberta, prestes a babar. Tomaram um susto quando o café começou a entornar da caneca cheia, se derramando no chão.

— Meu Deus! – a moça, ágil, apanhou uma toalha qualquer que estava ali e jogou sobre a poça que se formou no piso. – Que desastre – deu uma risadinha. James ainda a encarava, mudo. – Oi? – ela contraiu o cenho.

— Oi – pigarreou. – Bom dia – estendeu a mão para ela. – Potter, James.

— Evans, Lily – sorriu, ainda com seu olhar divertido.

— Eu não te vi aqui ontem – sua voz saiu mais como um flerte do que qualquer outra coisa. Ela arqueou uma sobrancelha.

— Mesmo? – foi a vez de ele franzir o cenho. O tom de voz dela era um tanto sugestivo.

— Na verdade, eu não vi muita coisa ontem – ela não disse nada, esperando que ele explicasse. – Meus óculos quebraram no caminho.

— James?

— Bom dia, Amélia – Amélia Bones era a redatora do Profeta Diário.

— Dá uma ajuda aqui com as fotos?

— Claro – descansou a xícara na bancada. – A gente se fala depois – dirigiu-se a Lily; acabou batendo o ombro na porta enquanto deixava o local, soltando um gemido de dor que fez a ruiva segurar a risada.

***

Eles não tiveram a oportunidade de continuar a conversa durante o expediente. James precisou ajeitar umas coisas no computador e depois saiu correndo com uma das repórteres para fotografar uma notícia. Por sorte conseguiu uns minutos da hora do almoço para comprar os óculos novos.

No final da tarde, juntou suas coisas e já ia deixar o escritório, quando viu a ruiva ajeitar a bolsa sobre o ombro e conferir se não tinha esquecido nada na bancada. Fingiu procurar alguma coisa em sua gaveta até que ela estivesse saindo.

— Ei, Evans – sorriu, quando ela se aproximou.

— Potter, ainda aqui? – os outros fotógrafos já tinham ido embora. Abriu a porta para ela passar.

— É, acabei ficando um pouco mais pra editar umas fotos. – passou uma das mãos pelos cabelos, ela acompanhou o movimento com os olhos, curiosa.

— Óculos novos?

— Muito melhores, não? São iguais aos que quebraram... – ela o encarou um pouco. – Você é daqui, de Londres? – entraram no elevador.

— Uhum. Me mudei pra fazer a faculdade, mas voltei esse final de semana. Por quê? – arqueou uma sobrancelha. James arrumou os óculos no rosto.

— Não, nada. É que tenho a sensação de que já te vi antes, não sei... o cabelo – analisava a garota, que, novamente, tinha aquela expressão de divertimento.

— Você não enxerga nada mesmo sem os óculos, huh? – deu uma risadinha.

— Bem, enxergo borrões, o que não é muito – a encarava, desconfiado. Por que ela o olhava daquele jeito? Não teve tempo de perguntar, logo estavam na porta de entrada do prédio.

— Até mais, Potter – ela disse e, com um aceno, seguiu para o lado oposto ao que ele iria. James a observou por alguns instantes antes de entrar no carro.

***

Pelo resto daquela semana, os dois não conversaram nada que não fosse "bom dia" ou "olá, como vai?". O jornal teve muito o que relatar depois de outra ação terrorista realizada pelos chamados Comensais da Morte; os fotógrafos sempre tinham que sair correndo para conseguir as melhores imagens.

Apesar do cansaço, James agora tinha um pretexto pra chegar mais cedo no trabalho, podendo assim encontrar a ruiva, mesmo que por poucos minutos – as vezes nem cinco. Toda vez que ele a via, tentava se lembrar de onde a conhecia. Não é possível! Posso jurar que já vi esse cabelo antes, sua mente teimava, mas nunca chegava a uma conclusão.

Lily achava engraçado o fato de ele ser tão míope a ponto de não a reconhecer, e sempre acabava soltando uma risada contida quando ele derrubava as colheres ou esbarrava nas coisas ao seu redor. Como alguém consegue ser tão estabanado?, ela se perguntava, pouco antes de se dar conta que o estava encarando e então se repreender.

 

 [QUINTA-FEIRA (22/06) – PRÉDIO DO PROFETA DIÁRIO]

— Não que eu deteste trinta por cento cacau, mas o setenta por cento é muito melhor – Lily dizia depois de começarem um assunto sobre chocolates por causa dos presentes de aniversário que Guga ganhou em sua comemoração surpresa. James meneou a cabeça, avaliando a opinião dela.

— Wow, não percebi que tínhamos ficado tanto tempo – o rapaz falou, assim que saíram do prédio; já havia anoitecido.

— Merda! Merda, merda, merda — o rapaz contraiu o cenho enquanto ela procurava algo na bolsa. Logo tirou o celular de lá. – Merda!

— Algum problema? – ela o encarou, corando um pouco, como se tivesse esquecido que ele estava lá.

— Estou atrasada para um compromisso – respondeu, sem graça.

James murchou um pouco. Sabia que ela não tinha namorado – ao menos era o que suas redes sociais diziam –, e isso significava que estava disponível para encontros. Não que ele tivesse alguma coisa a ver com isso, quero dizer, eu mal a conheço, pensava, como quem quer se convencer de alguma coisa.

— Corre lá, então – sorriu como se alguma coisa incomodasse em seus dentes. Ela sorriu de volta, desejando uma boa noite, sem perceber a careta dele.

 

 [QUINTA-FEIRA (22/06) – EDIFÍCIO SALVIO HEXIA]

Lily quase correu o trajeto para casa. Odiava, realmente odiava, estar atrasada. Independentemente das circunstâncias, estar atrasada nunca era bom. Para sua sorte, não precisava andar muito para estar no apartamento. Ofegante, abriu a porta e deu de cara com um peitoral masculino.

Num primeiro momento, ela congelou; socorro, alguém invadiu a casa!, foi a primeira coisa que veio a sua mente. Então a ruiva o examinou; se vestia bem, tinha cabelos negros e longos, traços bem marcados, uma das sobrancelhas arqueadas perfeitamente, um sorrisinho de lado e olhos cinzentos intensos que fizeram suas bochechas esquentarem. Já tinha o visto antes, por fotos.

— Desculpa o susto – disse ele, com uma voz que atendia as expectativas –, acontece, quando não estão preparados pra tanta beleza – piscou para ela.

— A Lily chegou? – ouviu Marlene gritar, antes que pudesse responder ao moreno. – Aleluia! – comemorou quando a viu estacada na porta.

— Maravilha. Agora vamos, eu tô morrendo de fome – o rapaz tornou a falar. Lily ainda o encarava com cara de interrogação, Marlene aparentemente percebeu.

— Ah, Lily, esse é o Sirius – apresentou-o “formalmente”. – Sirius, essa é a-

— Lily, já sei – ele rolou os olhos. – A gente se vê, ruiva – esfregou a mão nos cabelos dela, como se fosse uma pirralha, e passou pela porta.

— Não precisavam ter me esperado – Lily falou para a outra, ajeitando o cabelo.

— Eu queria que se conhecessem logo – respondeu e saiu do apartamento. – Não faça nada que eu não faria! – gritou da escada.

Marlene provavelmente não sairia de casa numa quinta à noite para ir a um clube de leitura, mas isso não parecia ruim para Lily. Tomou o banho mais rápido da sua vida – considerando que já estava suficientemente atrasada – e saiu às pressas.

 

[QUINTA-FEIRA (22/06) – EDIFÍCIO LUMOS SOLEM]

Você tá a fim de alguém que conheceu a menos de duas semanas? 

— Quê? Não, Remus! – James repunha água para Merlin, ao mesmo tempo que falava ao telefone com o amigo. – Ela só é legal.

Isso você já disse— abafou o telefone, mas James ainda pode ouvi-lo dizer "boa noite, como vai?". – Não se liga pra alguém só pra dizer que uma garota é legal, Prongs.

— Ok, Ok. Ela é legal e eu quero chamá-la pra sair, melhorou?

Claro. Mas o que diabos eu tenho a ver com isso?

— Preciso de opiniões. Sirius saiu com Marlene, e Peter, você sabe, não é muito bom com relacionamentos...

E o que te faz pensar que eu sou uma boa opção?

— Sei lá, você vive lendo essas coisas de romance. Tem uma certa... sensibilidade, eu diria.

Obrigado, eu acho— houve mais uma pausa na qual James podia ouvir vozes distantes do outro lado da linha. — Vou ter que desligar, cara. O pessoal tá chegando aqui.

— Tranquilo, eu ligo outra hora. Valeu, Moony.

James se jogou na cama, soltando todo o ar que tinha nos pulmões. Ok, realmente fazia pouco – pouquíssimo – tempo que a conhecia; na verdade, mal tiveram uma conversa decente. A verdade era que ela lhe despertava o interesse. Talvez porque parte dele queria descobrir de onde já a tinha visto, ou porque ela parecia ser uma pessoa legal, ou então porque era - bastante - atraente; e não só no físico. Ele queria saber mais sobre a ruiva, conhecê-la fora daquele prédio, ou da calçada.

***

No decorrer dos dias, os dois se tornaram bons colegas de trabalho. James estava indo bem na missão não-chegar-atrasado, e sempre tinha uns minutos para tomar café, que era quando conversavam pela primeira vez; durante o dia, as vezes se viam, as vezes não, mas acabavam se encontrando – não por coincidência – no elevador, ao fim do expediente.

Em três semanas, Lily sabia muito sobre James Potter. Ele vinha de uma família de empresários bem-sucedidos, tinha três amigos que pareciam legais, um gato, um apartamento que ganhou dos pais e um quarto onde revelava suas próprias fotos – o que ela achava demais –, além de várias outras coisas que só o faziam mais interessante. Após um tempo, a ruiva acabou por perceber que os olhos do rapaz não eram castanhos, como havia pensado; quando a luz do sol era refletida nas irises dele, via-se um tom esverdeado bem sutil, como se fosse pintado à mão. Ela quase podia perder o fôlego se os encarasse demais.

James também a conhecia melhor. Ela contou que fez faculdade de administração, em Cambridge, que adorava qualquer coisa que precisasse do mínimo de organização; nunca teve animais de estimação porque a irmã tinha alergia, era apaixonada por séries policiais, nunca havia ido à London Eye e não era adepta ao álcool. Apesar de tudo isso, ele ainda não tinha encontrado uma oportunidade de chamá-la para sair e cada informação sobre ela o deixava mais ansioso para que esse momento enfim chegasse.

 

[SEXTA-FEIRA (30/06) – PRÉDIO DO PROFETA DIÁRIO]

— Você ficou sabendo do show de The Weird Sisters no British Summer Times? – ela perguntou animada, quando saiam do elevador. – É no próximo sábado.

— Ah, eu soube. Inclusive, vou estar lá como fotógrafo pra coluna de entretenimento do Profeta – Lily boquiabriu-se.

— Tá brincando?! – James sabia o quanto a garota gostava da banda e uma luz se acendeu imediatamente em sua cabeça.

— É sério! Amélia me disse ontem. Ainda não esgotou, você podia vir comigo... – os olhos dela brilharam, mas seu sorriso murchou em segundos.

— Não vai dar – suas bochechas avermelharam. James contraiu o cenho.

— Já tem algum compromisso? – sua curiosidade era quase palpável.

— Não, não – ela parecia um tanto envergonhada. – Não é isso. É que... Eu não posso me dar ao luxo de gastar tanto. Estou ajudando Marley com o aluguel e com as compras, sabe? É minha primeira vez fora de casa...

— Aaah – aliviou-se por não ser outro motivo. – Bem... nada me impede de comprar seu ingresso – sorriu pra ela.

— Que? Claro que não, James!

— Por que não? O jornal vai bancar minha entrada, e você sabe que eu posso... – tentou dizer como se não parecesse um “riquinho mimado”, não queria que o visse desse jeito. Ela pareceu pensar, encarando o pneu do carro do rapaz, agora que estavam na calçada. – Vamos! Vai ser bom ter companhia lá.

— Tudo bem, você venceu, Potter – disse, depois de um suspiro, mas logo o acompanhava com um sorriso, revelando sua empolgação. – Nos vemos segunda – falou, antes de acenar e sair.

 

[SEXTA-FEIRA (30/06) – EDIFÍCIO SALVIO HEXIA]

— Você acha?

— Lily, o cara vai te comprar uma entrada pro show de The Weird Sisters, impossível não estar a fim de você – Marley alegou, convicta.

— Não sei não. Ele pode só ser muito legal.

— Aham, claro. E eu sou virgem – rolou os olhos. – Aliás, quando vai deixar de bobeira e me dizer o nome dele?

— Pra você fuçar todas as redes sociais do coitado e eu correr o risco de você enviar alguma coisa pra ele?! – perguntou, retoricamente.

— Eu jamais faria isso! – disse, com falsa voz afetada.

— Conta outra – soltou um suspiro. – De qualquer forma, eu não estou a fim dele, Marley.

— Tá sim – concluiu a loura, depois de encarar a amiga.

— Eu-

—Fala sério, Lily, eu te conheço – interrompeu-a. – Se não rolasse algum interesse, você nem falaria nele.

A ruiva não disse nada, apenas levantou do sofá e pegou sua toalha. Se enfiou debaixo do chuveiro para um daqueles banhos em que o real foco é se perder em pensamentos e analisar cada microssegundo do passado; nesse caso, o passado não era tão distante assim.

 

[SEXTA-FEIRA (07/07) – PRÉDIO DO PROFETA DIÁRIO]

— ... e meu pai, quando era mais novo, inventou um tônico capilar que ficou bem famoso naquela época.

— Wow! – disse. – Alguma coisa sobre você vai ser minimamente desinteressante?

— Hm, certamente não – passou a mão pelos cabelos. – Eu sou um poço de informações interessantes – falou, convencido; Lily riu.

— Perto da sua, minha vida é um completo tédio. Impossível competir.

— Vamos tentar! Posso te fazer algumas perguntas?

— Por que não? – sorriu.

— Ok. Já fugiu de casa?

— Não! Por que eu faria isso?

— Rebeldia adolescente, oras! – ela balançou a cabeça em negação. – Já foi pra diretoria?

— Uma vez.

— Só uma? Não acredito nisso. E por quê?

— Não fiz a lição de casa – ele parou de andar por uns segundos, incrédulo.

— Meu Deus, você é muito nerd! Moony vai adorar você.

Moony?

— Um dos meus amigos. Outra: você, por acaso, já beijou? – ela o encarou; uma das sobrancelhas arqueada. – O quê? Pelas outras respostas, parece que não!

— Hahaha, engraçado, Potter – seguiram em silêncio, até que ele pensou noutra pergunta.

— Essa é boa: por que você não bebe? Quero dizer, a maioria na nossa idade bebe. Eu posso até imaginar: ficou de porre e traumatizou. Acertei?

Os dois caminhavam lado a lado na calçada, no fim de mais um dia de trabalho; o pôr do sol deixava as ruas bem mais bonitas do que eram. James virou-se para encará-la depois de alguns segundos sem uma resposta. Ela de repente parecia bem mais séria que antes, os olhos fixos na calçada, como se estivesse perdida em pensamentos. O moreno contraiu o cenho, se perguntando se ela o tinha ouvido.

— Lily? – ela olhou-o; parecia desconfortável. – Não precisa falar, se não quiser – adiantou-se em dizer. Ficaram num silêncio estranho por um tempo.

— Por que está andando?

— Amm... pra isso que servem as pernas, não? – ela sorriu, James sentiu um peso sair de seu peito. Não queria tê-la deixado desconfortável, nem nada do tipo.

— Digo, por que não está de carro? E por que está vindo pra cá? Geralmente você vai pro outro lado – parecia curiosa, ele sorriu.

— O pneu do carro furou.

— Céus, você é muito azarado! – riu.

— Obrigado, obrigado – disse, com fingido lisonjeio. – E, além do meu triste azar, estou indo encontrar uns amigos num pub aqui perto – indicou o final daquela mesma rua.

— Ah, bem, divirta-se então – falou. – Eu vou por aqui – James olhou para a placa que dizia "Rua Fidelius". – Boa noite.

— Boa noite. Nos vemos amanhã – seu sorriso mostrava todos os dentes. Ela já ia se virar quando ele lembrou. – Aah, tome o seu ingresso antes que eu perca – tirou-o da carteira, deixando cair algumas moedas, e estendeu a ela.

— Obrigada mesmo, James! – o jeito como o rosto dela se iluminava quando estava entusiasmada era contagiante. O rapaz teve certeza que se perdeu nos olhos dela por uns instantes. Pigarreou quando percebeu.

— Por nada, eu... Já vou então – disse, sem jeito.

— Boa noite, James – ela ainda sorria.

— Boa noite.

Então, quando ele se virou para continuar sua caminhada até o pub, deu de cara com um poste. Segurou os óculos a tempo de caírem.

— Meu Deus, você tá bem? – se aproximou, apoiando uma das mãos no braço dele.

— Tudo bem... eu acho – esfregava o maxilar. Certificou-se que não tinha nada no caminho antes de voltar a andar.

— Cuidado com os postes! – ela gritou, enquanto ele se afastava.

James balançou a cabeça, passando a mão pelos cabelos, com um sorriso que mal cabia em seu rosto. Lily mordeu o lábio inferior e soltou o ar dos pulmões antes de rumar para casa.

 

[SÁBADO (08/07) – EDIFÍCIO SALVIO HEXIA]

Lily jogou uma pilha de roupas sobre a cama e montou diferentes combinações, na tentativa de escolher alguma coisa que pudesse usar no show. Nada parecia suficientemente bom.

— Você podia me ajudar, né? – resmungou para Marlene.

— Ajudaria, se não estivesse atrasada – a loura tinha uma festa de aniversário para ir, seu quarto parecia o que restou de um furacão. – Já disse que pode pegar alguma coisa do meu armário.

— Eu tenho coisas, só não sei como usar!

— Põe um vestido e tá tudo certo. Estou indo, beijos – gritou de algum lugar e a porta bateu em seguida.

— Beijos – respondeu, se jogando sobre as roupas espalhadas.

Após alguns minutos repensando todas as peças que tinha, se lembrou de uma camisa antiga de The Weird Sisters; mais alguns minutos e encontrou-a no meio da bagunça – que, aliás, já a estava incomodando. Juntou uma calça jeans rasgada, um tênis, uns acessórios.

— Sei lá... Tá faltando alguma coisa – analisou, ao se ver no espelho. Então teve uma ideia.

Pegou uma tesoura e despiu-se da camiseta para cortar um grande decote em V nela. Perfeito, pensou quando vestiu-a novamente, agora com um sutiã rendado que aparecia parcialmente. Quando finalmente terminou de se arrumar – o que incluía cabelo e maquiagem – faltavam ainda vinte minutos para a hora marcada. Vasculhou a geladeira a procura de algo para comer, encontrando apenas uma maçã. Ligou a TV e, quando restava metade da fruta, se lembrou de um detalhe importante. Buscou o celular, rolando a lista de contatos.

Alô?

— James?

Lily?

— Ei.

Ei! Você tem meu número?— os olhos dela se esbugalharam e sentiu o sangue subir para suas bochechas.

— É... Eu... Tenho o número do pessoal do Profeta... Pra caso de emergência, sabe? — mentiu. Tinha pego o número dele na agenda do Profeta, só o dele.

Ah, sei— disse, num tom de voz duvidoso.

— Enfim, eu liguei pra perguntar se você vai passar pra me buscar... Nós não combinamos essa parte, então...

Ah, claro, claro— ela ouviu alguns barulhos e um miado. – Eu passo aí sim— "sai, Merlin!", ele dizia ao gato.

— Certo. Pode ser na esquina de ontem...

Certo. Nos vemos lá daqui uns vinte minutos, contando meu atraso— ela riu de leve.

— Ok, até logo.

Até.

***

— Você tá...

— Arrumada? – riu e fechou a porta do carro.

— Bonita. Tipo, mais que o normal – era diferente vê-la fora das roupas sociais que usava no trabalho e sem o típico coque formal. – Seu cabelo fica melhor assim – as maçãs do rosto dela avermelharam levemente.

— Obrigada.

Conversaram sobre coisas banais – músicas, filmes, fotos etc – durante o trajeto até o Hyde Park, onde muitas pessoas aguardavam pelo show de The Weird Sisters. Ao sair do conforto do Jeep Renegade de James, a ruiva se arrependeu de não ter pego um casaco, visto que a noite estava um tanto gelada, mas logo estaria tão animada que não se importaria com isso, ao menos era o que esperava.

O local de onde veriam a apresentação não podia ser melhor, James não conseguiu conter o sorriso ao ver a garota quase aos pulos de alegria. Os olhos verdes dela, realçados de alguma maneira, brilhavam intensos.

Como já era de se esperar, a banda atrasou alguns minutos, nada muito desesperador, e o público foi à loucura quando as luzes do palco se acenderam. O rapaz se pôs a capturar as melhores imagens e, a todo momento, se flagrava observando a dança louca e cantoria desafinada de Lily Evans.

— Você não contou que era uma fã – falou perto do ouvido dela, para que o ouvisse. A ruiva o encarou, assustada no primeiro momento; suas bochechas coraram levemente. Estavam muito próximos.

— São muitas as coisas que eu ainda não te disse – gritou para ele num tom de voz sugestivo, e então voltou para sua dança maluca.

James piscou os olhos algumas vezes, desacreditado que ela tinha acabado de flertar tão diretamente com ele, antes de tornar a tirar fotos.

Faltavam apenas duas músicas para o final do show quando começou a chover. Lily praguejou; com certeza era pra ter levado um casaco. Tremia de frio quando o rapaz que a acompanhava pôs a própria jaqueta sobre os ombros dela.

— Você vai pegar um resfriado – gritou pra ele.

— Provavelmente sim – ele riu. – Vou sobreviver – acrescentou, quando ela ia retrucar.

Se encararam por um tempo. Os cabelos dele estavam grudados na testa e das lentes de seus óculos escorriam algumas gotas d’água; tinha tudo para ser uma visão engraçada, mas não quando o foco de Lily era a boca do rapaz. Avermelhada num tom convidativo e úmida por conta da chuva, assim como todo o resto. James também tinha se perdido, e aquela música não estava ajudando, aparentemente era a mais lenta da banda. Para sua sorte, ou pela falta dela, começou uma queima de fogos, para onde a atenção de todos se deslocou.

— Nós vamos encharcar o seu carro! – ela disse, enquanto corriam pelo estacionamento.

— Bom, é isso ou ir embora na chuva – tirou a chave do bolso quando chegaram até  o Jeep.

Lily notou um alívio enorme ao adentrar um lugar seco e quente. Sentia seus pés ensopados e soltou um muxoxo quando viu que seu tênis, antes branco, estava completamente imundo.

— Tudo bem?

— Acho que meu tênis nunca mais será o mesmo.

— Nem o meu cabelo, aparentemente – se olhava no espelho. Tirou os óculos, tentando enxuga-los na camisa, o que só piorou a situação, já que essa também estava molhada. Suspirou, impaciente.

— Posso? – estendeu a mão, ele lhe entregou o objeto; quando devolveu, estava seco e usável.

— Como fez isso? – deu a partida e o painel do carro acendeu.

— Um mágico nunca revela os seus truques – respondeu, fingindo mistério, enquanto guardava um lenço na bolsa.

— E o que essa maga achou do show? – riu.

— Foi incrível! – afirmou, cheia de animação. – Como pôde perceber, eu sou um pouquinho fã deles. Sempre quis assistir um show.

— Você nunca tinha ido num show deles?

— Não! E aqui em Londres, no British Summer Times? Céus! Não podia ser melhor – soltou o ar que tinha nos pulmões. O rapaz sorria com a entonação dela. – Foi demais, James. Obrigada, sério...

—Bom... você tem o meu número.

— Você também tem o meu agora – pararam num semáforo; se observaram pelo que pareceu a milésima vez naquela noite.

— Parece que tenho... – passou a mão pelos cabelos molhados, arrepiando-os.

Lá estavam os dois, diante de um sinal vermelho, completamente molhados, olhos nos olhos, respirações pesadas e um misto de ansiedade e curiosidade que desapareceu no instante em que o espaço entre eles deixou de existir e seus lábios se juntaram.

Um arrepio percorreu a espinha de Lily quando sentiu a mão de James em suas costas, numa tentativa frustrada de juntar seus corpos – o rapaz nunca amaldiçoou tanto o câmbio e o cinto do carro, mas o beijo era tão intenso que não foi difícil ignorá-los; apenas se entregou ao momento.

A ruiva não conseguia pensar em muita coisa além de o quanto aquilo era melhor do que tinha imaginado; James estava na mesma. Podiam ter passado muito tempo ali, finalmente satisfazendo aquele desejo, se o carro de trás não tivesse buzinado quando o sinal ficou verde.

— Droga – James reclamou, assim que se afastaram.

— O que foi? – parou de respirar por um instante.

— Meus óculos.

— O que tem eles?

— Estão embaçados, não dá pra enxergar.

— Me dá aqui – ele o fez e, em segundos, estavam limpos novamente.

— Obrigado – respondeu, um pouco desajeitado agora, se dando conta do que tinha acabado de acontecer. Permaneceram em silêncio até o seu primeiro destino.

— Obrigada... mais uma vez – falou, evitando olhá-lo nos olhos. Suas bochechas estavam extremamente avermelhadas.

— Acho que você já agradeceu o suficiente – claramente se referia ao beijo. A ruiva soltou um sorrisinho entre o tímido e o maroto que fez James querer puxá-la para si novamente; infelizmente ela saiu do carro antes que pudesse fazê-lo.

— Nos vemos segunda.

— Com toda certeza.

James a observou entrar no prédio. Sentiu suas entranhas se contorcerem um pouco e suspirou pesado antes de manobrar e seguir para seu apartamento.

***


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Notas finais do capítulo

♡ Não seja um leitor fantasma, comente! ♡

Aaaaa, to muito feliz com essa fanfic ♥ sério! As ideias estão fervendo e mal posso esperar para escrever e postar tudo pra vocês!
Não sei se todo mundo percebeu, mas sim, os edifícios tem nomes de feitiços hahaha. E a fanfic vai ser assim, cheia de referências, como podem notar. Espero que gostem ♥

Agora confessem: o que vocês tão achando? Quero saber de tudo! Teorias, primeiras impressões e o que mais tiverem pra contar! Quero ver se alguém chega perto do plot hahaha.

No mais, obrigada por lerem ♥ Vejo vocês no próximo, certo? :)

*Agradecimentos especiais à SrtaProngs, minha beta maravilhosa ♥

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Se gostaram da fanfic, adicionem aos favoritos e indiquem a um amigo; façam uma ficwriter feliz :D

xx