Vossa Majestade escrita por Arabella McGrath


Capítulo 1
Capítulo Único




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― Vossa Graça ― chamou uma voz com desgosto mesmo que com urgência ―, Vossa Graça!

Arthur FitzRoy simplesmente ignorou-a.

― Vossa Graça, por favor, tenho uma mensagem de extrema importância!

Resolveu virar, por fim, mesmo que fosse para que a mulher calasse a boca.

Era uma mulher sardenta de quarenta e poucos anos. Tinha cabelos loiros e crespos e olhos azuis. O longo vestido azul escuro não fazia nenhuma maravilha ao seu corpo, apesar de evidenciar seu status social.

Arthur novamente questionou-se como era possível alguém sentir atração por uma mulher.

― Sim, senhora?

― Vossa Graça, meu marido, o conde de Rolinchester, pediu-me para avisá-lo que Vossa Majestade está esperando-o em seus aposentos para discutir alguma coisa importantíssima!

― Certo. Obrigado por avisar. Até nunca mais.

A mulher curvou-se rapidamente e logo fugiu da sua vista.

Arthur não se importou, todavia. Sabia que mais da metade da população não gostava dele por ser um filho bastardo. Quando acabava demonstrando seus pensamentos o atual rei e o seu irmão mais novo, Henry, simplesmente ria, dizia que ele nunca fora um de se importar pelas opiniões alheias e que não era sua culpa ser filho ilegítimo.

Dirigiu-se aos aposentos do rei e abriu a porta sem avisar. Ao avistá-lo Henry dispensou os servos e fechou a porta para então olhá-lo novamente e sorrir.

― Irmão, que saudades!

― Creio que não estava com saudades minhas pois Vossa Majestade resolveu tomar o caminho mais longo para voltar ― respondeu Arthur enquanto retribuía o abraço com um pequeno sorriso.

― Ora, não foi minha culpa. ― Henry sentou-se na cama. ― Sabe como Mary é. Não aguentava a trajetória mais rápida somente porque tinha mosquitos. Honestamente...

― Honestamente, Vossa Majestade, meu rei, não creio que há necessidade de focar em Vossa Majestade a Rainha Mary agora quando poderíamos fazer coisas muito mais proveitosas. Principalmente porque eu mesmo, Vossa Majestade, terei que viajar amanhã.

Henry deu um sorriso sacana.

― Desde que não me chame de Vossa Majestade, irmão. Não há necessidade para tais formalidades na cama, sabes bem disso.

Arthur retribuiu com o mesmo sorriso. Os dois eram bastante parecidos, de fato, tinham pegado as aparências físicas do pai. Cabelos castanhos claros, apesar dos de Henry serem quase loiros, e olhos pretos; também tinham o mesmo porte físico: muscular pelo tanto de treinamento que tiveram que endurecer desde que podiam segurar o cabo de uma espada.

Deslizando na cama juntamente ao seu irmão, Arthur começou a despir Henry lentamente. Primeiro foi a grande camisa branca; depois a calça do mesmo tipo. A noite com certeza seria proveitosa.

 

*

 

Meu querido irmão, Vossa Majestade,

Desde já gostaria de afirmar que cheguei em segurança. Os soldados que aqui estão todos preparados para que comecemos a encaminhar os preparativos da batalha. Entretanto, estarei enviando duas cartas ― uma somente a respeito dos nossos avanços militares, então não irei discorrer sobre isso nessa. Tenho o objetivo de perguntá-lo, irmão, se há algum perigo real nessa tal Doença do Suor. Caso não saibas, e disso duvido muito pois és Vossa Majestade e conheces teu reino melhor que qualquer um, nessa síndrome o adoentado começa a sentir-se enfermo e suar até alguns dias depois morre-se de febre.

Veja, Vossa Majestade, muitos nobres e soldados ouviram vários relatos dessa doença nos campos, mas estão bastante preocupados se esse mal poderia acometer a população geral. Imploro, portanto, que respondas para que assim eu consiga acalmar Vossos súditos.

Não há muito mais que falar no momento, mas sempre tentarei escrever para Vossa Majestade, que espero que esteja de boa saúde.

Saudações do seu fiel irmão e súdito,

Arthur Fitzroy.

 

*

 

Após enviar a carta pelo mensageiro, Arthur ainda ficou alguns bons minutos sorrindo para o nada. Lembrou-se de quando tinham acabado de entrar na adolescência e perceberam que gostavam um do outro. Não foi fácil começar o relacionamento; afinal, homossexualidade e incesto eram duas abominações aos olhos da Igreja e ambos foram criados firmemente na fé.

De começo os dois irmãos somente arriscavam alguns olhares um para o outro, porém, com a idade e o desejo que só continuava a crescer em proporções devastadoras os olhares transformaram-se em tímidos toques até que, numa noite em que ambos estavam bêbados após uma vitória numa batalha, finalmente consumaram todo o amor reprimido. Passaram alguns dias sem se falarem depois dessa primeira noite, mas por fim decidiram viver o relacionamento em segredo.

Por horas Arthur pensava nos pecados que cometia, entretanto, logo lembrava-se da felicidade e êxtase que passava ao lado de seu irmão Henry e concluiu que... bem, pelo menos ele iria para o inferno feliz.

― Vossa Graça? ― chamou um dos soldados na entrada da tenda de Arthur.

 

*

 

Meu caro irmão,

Seguindo seu exemplo, anexei outra carta a respeito dos seus avanços militares.

Agora, a respeito da Doença do Suor, mais e mais pessoas estão sendo infectadas e mortas por causa dessa terrível praga. Não temos basicamente quase nenhuma informação quanto a ela, tirando o básico. Porém, alguns médicos começaram a criar alguns remédios que podem ajudar a remediar ou combater esse mal que nos aflinge. Pelo tempo que a carta chegar aí provavelmente já estarão perto de entregar esses tais remédios.

Em Londres vários casos estão aparecendo, mas até agora nenhum foi reportado na corte. Uma boa notícia, enfim.

Desejo-lhe boa sorte nesses terríveis conflitos, meu caro irmão, e que nenhum dos seus soldados sofra dessa praga.

Seu irmão Henry.

 

*

 

Já fazia quase três semanas que Henry tinha enviado sua última carta e até agora sem nenhuma resposta. Havia vários rumores do que estava acontecendo na fronte de batalha naquele momento, mas até agora nada havia sido confirmado. Com metade da Inglaterra sofrendo com a Doença do Suor também não ajudava muito.

― Vossa Majestade! ― exclamou Mary, sua esposa, do seu lado. A corte toda estava presente no atual banquete.

― Sim? O que houve agora?

A rainha imediatamente apontou para um dos servos que estava ensopado de suor e desmaiado no chão. Todos imediatamente pularam de susto e arregalaram os olhos.

― Levem-o daqui agora! O castelo não está mais seguro contra a praga! ― afirmou o rei. A corte concordou lentamente, ainda abatidos. Poucos minutos depois mais da metade que estava presente no banquete saiu correndo. ― Mary ― chamou Henry ―, terei que continuar aqui por um tempo, mas quero que vá a um dos castelos seguros e o mais longe o possível de Londres. Por favor, meu amor.

Mary imediatamente assentiu. Seus olhos castanhos claros cheios de medo, apesar de sua postura e aparência em si ― longos cabelos loiros cacheados que chegavam a sua cintura ― demonstrarem confiança.

― Sim, claro, irei imediatamente, meu rei.

Henry deu um último sorriso e beijo na bochecha. Era um casamento por conveniência, é claro, mas realmente amava Mary como uma irmã.

― Até mais então.

 

*

 

Vossa Majestade!

Peço imenso perdão pela falta de notícias, mas tivemos várias batalhas consecutivas aqui. Felizmente o problema já foi resolvido e saímos vitoriosos com poucas perdas.

Imploro por sua permissão para voltar à corte.

Com amor,

Arthur Fitzroy.

 

*

 

Vossa Majestade,

Acabei de ser informado que Londres está em estado de calamidade devido a Doença do Suor. É com meu coração na mão que novamente imploro por sua permissão.

Sou obrigado a dizer, meu irmão, que estou disposto a voltar sem tua carta se não responderes em tempo hábil. Desde já peço o seu perdão.

Saudades do seu fiel irmão e súdito,

Arthur Fitzroy.

 

*

 

Meu querido irmão,

Devido a falta de resposta estou voltando à Londres imediatamente.

Arthur Fitzroy.

 

*

 

Os pulmões de Arthur doíam pela corrida que fizera pelo castelo. Atravessar o país de cavalo não foi fácil, principalmente ao perceber que a cada vilarejo e condado que passava havia uma pilha de mortos... e que só continuou a aumentar quando chegava perto de Londres.

Porém, quando enfim entrou no castelo...

― O que aconteceu com meu irmão? O que aconteceu com Vossa Majestade?

― Vossa Graça, ele... ele está doente. Muito, muito doente. Dizem que Vossa Majestade não irá... que provavelmente não irá aguentar mais um dia.

Antes mesmo que o servo terminasse seus resmungos Arthur estava disparando em direção aos aposentos reais de Vossa Majestade. Ao chegar lá os guardas imediatamente deixaram-o passar e o que sentiu quando enfim viu seu irmão na cama... Foi horrível.

Henry estava ensopado de suor e extremamente pálido e duro. Seu peito... não... não subia.

― Ele está morto?! ― sussurrou Arthur.

O médico ao seu lado foi rápido para responder: ― Não, Vossa Graça. Mas Vossa Majestade está com muitas dificuldades para respirar, senhor. E, bem, é muito provável que o rei não consiga sobreviver, senhor.

Arthur respirou fundo. Então seu irmão ainda estava vivo. Isso era bom... certo? Mas ele parecia estar sofrendo. Arthur não queria que seu irmão, sua única família, seu amante, o amor da sua vida sofresse.

― Como-quando saberemos se ele irá sobreviver ou não?

― Nessa noite, Vossa Graça. Teremos uma longa noite pela frente.

O irmão bastardo somente assentiu com a cabeça. Era a única coisa que poderia fazer no momento. Isso e sentar-se numa cadeira ao lado do leito de Henry.

 

*

 

Foi uma longa noite.

Várias vezes Arthur jurava que Henry tinha morrido, mas então ele começava a respirar novamente ou virava-se abruptamente.

Foi uma longa espera que Arthur esperava nunca mais sentir.

Durante aquele tempo ele só conseguia remoer todos os seus arrependimentos em relação a Henry. Deveria ter contado que amava-o mais. Deveria ter- feito alguma coisa, qualquer coisa.

A noite passou e quando Arthur piscou seus olhos estava de tarde. E... não havia ninguém na cama do rei.

Arthur sentiu seu coração disparar e tentou pensar direito, mas simplesmente não conseguia. Henry deve ter morrido enquanto ele dormia. Só podia ser isso, pois ele lembrava muito bem que antes de piscar que seu irmão estava respirando. E... agora ele o perdeu.

― Arthur, por favor não tenha um ataque de pânico agora.

Essa era a voz de... não, não podia ser. Essa era a voz de Henry.

― Irmão... ― murmurou Arthur e olhou na direção da voz. Era Henry, ele estava perto da porta em pé ao lado do médico. ― Irmão!

Henry quase gemeu pela força do impacto quando Arthur jogou-se em seus braços.

― Eu estou vivo. Não precisa se preocupar ― disse com um sorriso e olhou de relance para o médico, que imediatamente assentiu, curvou-se e saiu do quarto junto com os guardas.

― Vivo? Você está realmente vivo? ― Para responder a pergunta Henry somente colocou a mão de Arthur no seu peito. ― Vivo!

― Sim. Felizmente agora consigo respirar direito.

O sorriso que Arthur lhe deu foi o sorriso para que o seu próprio coração batesse mais rápido.

― Vivo. Definitivamente vivo, irmão.


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Notas finais do capítulo

Espero que minha amiguinha tenha gostado. ♥



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