Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 7
Eu me sinto diferente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739337/chapter/7

Ao entrar na sala do sítio, Ricardo deu um longo assobio, admirado o lugar.

— É bonito aqui!

— Obrigada! É casa de uma amiga.

— Você está aqui sozinha?

Júlia ficou um tanto receosa, afinal estava sozinha com um homem que mal conhecia.

— A caseira mora com o marido aí a trás.

Ele andou pela sala, admirando os detalhes, enquanto ela colocava a bolsa e a chave do carro sobre a mesa. Ricardo se sentou, confortavelmente no grande sofá de couro ecológico.

— Sempre imaginei como seria morar em uma casa, voltar todos os dias para o mesmo lugar, ter vizinhos, mas, então, eu penso se isso não seria muito chato. A vida sempre igualzinha, viver todos os dias da mesma maneira.

— Você nunca morou em uma casa?

Ela sentou-se ao lado dele, prestando atenção na conversa.

— Não, sempre morei em um circo. Meu pai é dono daquele, herdou do meu avô, minha mãe também nasceu no circo, ela era trapezista. Meu pai era domador, mas depois que acabaram com os bichos, ele foi muitas coisas, aí começou com o globo da morte, até sofrer o acidente.

— E sua mãe?

— Morreu há alguns anos, eu era pequeno ainda. Ela ficou doente, mas não contou para ninguém, por muito tempo, porque não queria que ficássemos parados no mesmo lugar para poder se tratar, e quando meu pai percebeu já era tarde, morreu depressa – Terminou sua história em voz baixa.

— Eu lamento muito

— Um dia, eu e meu irmão herdaremos o circo, como meu pai – Mudou para um tom mais animado.

— Seu pai é o apresentador?

— Sim.

— E Magda é a mulher dele?

— Isso.

— Mas você transa com ela?

— É, desde que eu tinha quase 17 anos – Ricardo coçou a cabeça, meio encabulado com a confissão.

— Mas, seu pai não sabe disso?

— Claro que não, ele nunca pode saber! Ninguém sabe disso, pelo menos, fingem não saber. Por isso vamos sempre para lugares afastados, longe do circo.

— Quantos anos você tem agora, Ricardo?

Pois apesar de ele ter olhos e sorriso de um menino, as suas feições já eram de um homem adulto.

— 19 quase 20.

— 19! Como você pode ser tão bom no globo da morte?

— Eu treino desde dos 15 anos, com o meu irmão. Antes era o meu pai que fazia o número, mas desde do acidente ele não pode mais pilotar. Quebrou a coluna. Mas, chega dessas histórias!

Ele esticou o braço e tocou a mão de Júlia e, de repente, com um rápido puxão, trouxe-a contra si. Ela caiu sobre ele, seus corpos grudando, suas bocas coladas em beijos vadios e sensuais, sentindo o desejo dele crescer contra suas coxas. Ricardo não era sutil, tinha a pressa que sua juventude ansiava, pois, para ele, a vida era urgente e rápida, com a velocidade das voltas de sua moto dentro daquele globo da morte, lutando contra a lei da gravidade, não podia parar, pois isso seria fatal. Assim ele a abraçou forte e com ardor, cada vez mais intenso, mãos rápidas dele começaram a se livrar das roupas dela, sem cuidado, tocando sua pele, quentes e ansiosas. No começo, toda aquela fúria selvagem assustou Júlia, mas corpo dela respondeu, como se tivesse há muito tempo adormecido, ela também tinha uma fome lânguida. Assim, suas mãos seguiram o exemplo das dele, livrando-se com urgência das roupas, precisa tocar aquela pele lisa, sentir seus músculos tensos, o seu cheiro de graxa, que tentava disfarçar com um perfume barato, mas que acendia ainda mais o desejo dela e, agora, os dois estavam nus no sofá. Júlia sentia o couro frio contra a sua pele quente e suada.  Ricardo tinha uma energia quase insaciável, primitiva, mal dando tempo para Júlia pensar, no certo ou errado, sua lógica entorpecida pelo desejo do seu corpo. Ele a queria de todas as maneiras e posições, e ela correspondia, entre mãos exploradas e bocas sensuais, que cobriam cada centímetro do corpo do outro, sem pudor ou vergonha, rápido e imperioso, querendo experimentar novas possibilidades, sem tempo para pensar. Júlia nunca se sentiu assim com outro homem, nem mesmo com Leandro, seu noivo, mas não pensava nele naquele momento, não pensava em nada, sem culpa ou medo.

Júlia acordou deitada, completamente nua, na cama, entre os lençóis de algodão, com o sol batendo no seu rosto, pois esquecera de fechar as cortinas. Era o anúncio que a manhã já devia estar avançada, olhou para o lado para ver Ricardo, ainda dormindo pesado e relaxado, exausto pelas loucuras da noite anterior. Ele estava deitado de bruços, nu e descoberto, revelando seu belo corpo de homem. Na calma do quarto, virou-se de lado para admirar seus braços e pernas fortes e morenos, as costas, largas, sua bunda redonda, porém o rosto dele passava uma tranquilidade o fazendo parecer um garotinho, com os cachos do cabelo escuro caiam sobre a testa. Ele abriu os olhos brilhantes e piscou duas vezes, querendo se acostumar com a claridade do dia.

— Bom dia!

— Bom dia!

— Está com fome? – ela perguntou, sabendo que Maria teria deixado o café da manhã pronto.

— Só de você! – Ele a puxou, agarrando, ela soltou uma gargalhada.

— Você nunca fica cansando?

— Não! – respondeu, com se ela perguntasse algum absurdo, acariciando- a, beijando e entrando nela.

Ainda ficaram na cama por algum tempo, até o certo momento que a fome foi mais forte. Após o café da manhã, quase na hora do almoço, Ricardo comunicou que precisa voltar, pois apesar de ser segunda e não ter espetáculo naquela noite, tinha que ajudar nos serviços diários e treinar com o irmão. Júlia ofereceu uma carona, mas ele recusou, rindo dela, preferia ir andando, pois, a distância era curta e afirmando que voltaria mais tarde para vê-la, sem perguntar se ela concordava com isso.

Quando Ricardo saiu, Júlia não se reconheceu, não podia acreditar naquilo tudo que fizera durante a noite toda, sem nenhuma reserva, imaginando o que suas amigas pensariam dela.

Foi para Bruna que Júlia ligou pelo telefone fixo da casa, precisando conversar com alguém.

— Júlia, sua maluca! Onde foi que você se meteu?! Está todo mundo preocupado. Sua mãe só falta enlouquecer. Leandro está desesperado atrás de você.

— Eu mandei um recado para minha mãe. E falei para Leandro, que precisa de um tempo pensar sobre o nosso casamento.

— O que deu em você? Pânico do casamento? Isso é muito comum, Júlia.

— Não, Bruna. Só que ...Só que eu precisava pensar um pouco sobre a minha vida.

— E onde você está, agora?

— Em um retiro espiritual, tem um guru maravilhoso aqui. Estou descobrindo coisas incríveis sobre mim mesma que nunca imaginei. Está sendo uma experiência fantástica

— É? Sua voz parece realmente diferente.

— Eu me sinto diferente.

— Puxa! Isso deve ser bom mesmo. Você tem que me dizer quem é esse seu guru, Júlia. Ele parece que pode fazer milagre.

Júlia riu.

— Pode mesmo. Você nem acreditaria. Bruna, por favor, avise a todos que eu estou bem, mas preciso de um tempo para mim mesma.

— Tudo bem. Eu darei o recado.

— Obrigada. Beijos e até breve, Bruna.

— Até breve, Júlia. Cuide-se.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Virando do avesso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.